sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Lugares Estranhos: A Macabra Ilha das Bonecas no México


Há alguns lugares neste mundo que parecem mergulhados em uma densa névoa quase tangível de mau pressentimento. São lugares que conseguem nos afetar em um nível quase primal e inconsciente. Eles nos prendem como cordas de terror da qual não conseguimos nos desvencilhar, e nos assombram com pesadelos que são difíceis de despertar. Existe um desses lugares genuinamente macabros na Costa do México, uma ilha aterrorizante chamada coloquialmente de "La Isla de las Munecas", a imensamente sinistra e alegadamente fantasmagórica Ilha das Bonecas

La Isla de las Munecas está localizada na área de Xochimilco, uma região dentro do Distrito Federal Mexicano historicamente posicionada no que antigamente era o grande Lago de Xochimilco. Xochimilco é um lugar bastante conhecido pela existência de um sistema de vias fluviais, que constituem uma relíquia dos tempos de colonização do Vale do México, interconectados por uma rede de canais e lagunas navegáveis. 

A ilha em si é o que os nativos chamavam de chinampa, uma ilha artificial construída em áreas mais rasas do lago durante o período de ocupação pré-espanhola como uma forma de aumentar a produção agrícola. As chinampas são montes de terra e lamaremovidos das margens erguidos e conectados com as massas de terra por vias estreitas. Muitas dessas ilhas eram criadas para serem temporárias, afundando em determinadas épocas do ano, contudo, algumas acabavam se juntando criando estruturas maiores e sustentáveis fixadas no fundo do lago. Nessas ilhotas retangulares, os nativos cultivavam  uma variedade de plantações que eram muito importantes para complementar as necessidades da população.


A produção dessas ilhas artificiais eram tão abundantes que elas eram chamadas de "jardins flutuantes" e constituíam um recurso valioso para a economia do Império Asteca. A quantidade de Ilhas formadas, eventualmente, acabou contribuindo para o encolhimento do Lago Xochimilco e na sua transformação em um sistema de canais. 

Em tempos modernos, a maioria das chinampas se deterioraram e caíram em estado de abandono, mas cerca de 5 mil delas ainda existem e são visitadas por turistas, que navegam pelos canais em gondolas chamadas trajineras. De fato, pela sua conexão histórica com o México pré-Espanhol, Xochimilco, com suas ilhotas criadas pelos Astecas é considerada um patrimônio universal. 

La Isla de las Munecas é uma chinampas, um lugar infame em face de sua bizarra origem e da fama como um dos um dos sítios mais assombrados do México. A história começa em 1950 com um eremita chamado Julian Santana Barrera, que decidiu fixar residência em uma chinampa abandonada onde construiu uma rústica cabana. Ele então começou a decorar o lugar de maneira peculiar, não com flores e plantas ornamentais, mas com coisas que pareciam saídas de um pesadelo.


Depois de testemunhar uma criança morrendo afogada em um canal próximo, Barrera se convenceu de que o fantasma da menina passou a assombra-lo. Ele afirmava ouvir o espírito da menina cantando, rindo e chamando por ele. Em mais de uma ocasião disse que viu a forma espectral da menina chamando-o para a água. Outras vezes, era acordado pelo som de batidas e por objetos caindo no chão ou sendo atirados de um lado para o outro de sua habitação. Outras pessoas também viram o fantasma e pescadores evitavam a área. Nas comunidades ribeirinhas circulavam lendas sobre uma menina lamentosa flutuando nas águas ou observando parcialmente oculta atrás das plantas aquáticas.

No entanto, Barrera era a principal vítima da aparição. Ele acreditava que a menina o culpava pelo afogamento e por ele não ter prestado ajuda, algo de que ele se arrependia, embora não soubesse nadar. Perturbado por essas visitas cada vez mais frequentes, o comportamento do eremita se tornou cada vez mais errático.

Certo dia, Barrera viu uma velha boneca ser trazida pela maré e ficar presa nas pedras da praia. Ele retirou a boneca da água e a colocou na frente da porta de sua casa, acreditando que o brinquedo pudesse de alguma forma afastar o fantasma da menina. Ao que tudo indica o plano funcionou e Barrera passou a acreditar que a boneca mantinha o espírito longe de sua casa. Segundo a lenda, o sujeito ficou obcecado com a ideia de espalhar o maior número possível delas pela ilhota. Ele chegava a viajar para o continente e lá trocava os poucos vegetais e frutas que cultivava por brinquedos. Barrera passou a colocar bonecas em todo canto, deixando-as sobre os muros, amarradas aos galhos de árvores e nas pedras da praia. Para mantê-las em posição, as amarrava com arame ou linha de pesca. Eventualmente ele juntou centenas delas e as dispôs pela chinampa como pequenos amuletos de proteção contra o fantasma da menina. Dizem que ele costumava dar nome a cada boneca, que conversava com elas, trocava-as de lugar e até escovava seus cabelos e beijava suas faces. Para a maioria das pessoas, o homem havia enlouquecido.


Os hábitos do excêntrico eremita ganharam fama e a maioria das pessoas passou a evitar ainda mais a ilhota e a sinistra coleção de assustadoras bonecas dispostas em todo canto. É claro, os boatos tomaram forma e histórias passaram a ser contadas pelos vizinhos supersticiosos. Diziam que as bonecas ganhavam vida nas noites de lua cheia e vagavam pela ilha matando todos animais que conseguissem encontrar. Outros afirmavam que o som de risadas infantis podia ser ouvido de longe enquanto elas matavam sem dó nem piedade. Barrera também teria perdido o pouco da razão que ainda lhe restava: vagava pela ilha cantando canções de ninar, embalando seus bebês de plástico como se fossem crianças de verdade. Certa vez, Barrera expulsou o pároco local - chamado às pressas para interceder - dizendo que a ideia de remover as bonecas estava fora de cogitação. 

Algumas pessoas passaram a acreditar que as bonecas de alguma forma eram parte de um ritual maligno criado por Barrera com o intuito de protegê-lo dos fantasmas. Mais ou menos nessa época, passou a circular o rumor de que Barrera não havia sido uma inocente testemunha do afogamento da menina. Ao invés disso, ele teria afogado a criança propositalmente. Estes afirmavam que a aura que pairava sobre a ilhota era tão terrível que pessoas sensíveis desmaiavam apenas de olhar na sua direção.


Os rumores circularam por anos até que um dia Barrera desapareceu. Algumas pessoas se juntaram para procurar o homem, já idoso, mas não encontraram sinal dele. Segundo a lenda, muitas bonecas estavam quebradas ou jogadas no chão, como se alguém tivesse tido um ataque de raiva, descontando suas frustrações nelas. Para outros, era óbvio o que havia acontecido! As bonecas haviam atacado Barrera e ele se defendeu como pode, mas no fim, elas acabaram predominando.

Dias mais tarde, pescadores encontraram o corpo inchado do velho boiando num canal. 

Dizem que o local onde ele foi içado da água era bem próximo de onde a menina havia se afogado. Além disso, as pessoas que resgataram o cadáver ressaltaram dois detalhes perturbadores: a face do velho estava transfigurada em uma máscara de inenarrável terror e que haviam sinais bem evidentes de pequenas mãos em todo seu corpo, como se ele tivesse sido forçado debaixo da água. A causa da morte foi afogamento.


Meses depois dessa trágica descoberta, alguns pescadores afirmaram ter visto o fantasma da menina uma vez mais vagando pela chinampa, dessa vez de mãos dadas com um velho de aspecto amedrontado.

A Ilha das Bonecas continua no mesmo lugar, despertando medo e desconfiança. As tristes bonecas que são as únicas habitantes do lugar continuam espalhadas em todo canto, com seus olhos vidrados mirando sem vida a extensão dos seus domínios. Ao longo dos anos elas se deterioraram, tornando-se coisas sujas e decrépitas, o que contribui para deixá-las ainda mais assustadoras. 

As superstições e o folclore associados com a ilha não demonstraram nenhum sinal de diminuir com a morte de Barrera. Na verdade, sua morte, cercada de incertezas apenas ajudou a sedimentar a má fama do lugar que ele construiu. As pessoas dizem que ao visitar a ilha pela primeira vez, é bom levar uma oferenda; uma boneca para ser deixada na ilha afim de acalmar os espíritos. Assim que uma nova boneca chega, alguns acreditam, é incorporada pela magia da ilhota e se torna parte do lugar. 


As histórias sobre atividade paranormal na Isla de las Munecas capturam a atenção das pessoas, sobretudo daqueles que procuram evidências de que o mundo é um lugar muito mais estranho do que podemos supor. Alguns anos atrás, uma equipe do programa televisivo Destination Truth realizou uma expedição à ilha. O sobrinho de Barrera, que é o mais próximo de um dono da chinampa, os recebeu e mostrou o lugar. Ele explicou ao grupo que as bonecas parecem realmente carregadas com um tipo de energia sobrenatural e que jamais dormiu na cabana que pertenceu ao tio por temer essa aura. 

A equipe não ficou desapontada, uma vez que se deparou com acontecimentos no mínimo estranhos durante sua estadia. Eles captaram o som de coisas raspando no teto da cabana de Barrera, bem como ruídos abafados semelhantes a vozes do lado de fora. Os sensores usados para detectar súbitas mudanças de energia também obtiveram leituras incomuns. Finalmente, uma câmera colocada do lado de fora da cabana registrou o momento em que os olhos de uma boneca se abriram e fecharam. Digam o que quiserem a respeito da veracidade da filmagem que pode ou não ter sido forjada, mas a despeito de qualquer coisa ela é realmente perturbadora.


Todas essas histórias sinistras serviram para atrair mais e mais turistas interessados em ver em primeira mão um lugar com fama de assombrado. Não por acaso, de todas as chinampas abertas a visitação, La Isla de las Munecas se converteu na mais famosa da rede de canais de Xochimilco. Anastasio Valasquez, sobrinho de Barrera mantém a ilha aberta a visitação cobrando uma pequena taxa para conhecer o lugar em uma visita guiada. Segundo ele, centenas de pessoas vem conhecer o lugar anualmente. 

Os turistas vem e vão, mas as bonecas continuam no mesmo lugar. Seus corpos retorcidos pendurados nas árvores como frutos medonhos, seus olhos abertos encarando o vazio eternamente. É provável que elas fiquem ali para sempre, ou até que seus corpos se deteriorem e se transformem em poeira. Talvez Barrera ainda esteja ali entre as bonecas que se decompõem lentamente, zelando por elas como se fossem suas filhas.

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