domingo, 14 de fevereiro de 2021

Anjo da Morte e os Gêmeos - As Experiências bizarras de Josef Mengele


Atenção: O Artigo a seguir contém descrições gráficas e conteúdo chocante para pessoas sensíveis. Recomenda-se discrição.

Um dos Campos de Pesquisa considerado importante para a ciência médica envolve o estudo de gêmeos e estes estudos são realizados em todo mundo. Gêmeos são vistos como vitais para o estudo da genética comportamental e uma vasta gama de outras áreas como doenças hereditárias, a genética da obesidade, a base para formação de doenças comuns e muito mais. Ainda assim, apesar de todos os benefícios que o estudo dos gêmeos pode proporcionar, existiram médicos inescrupulosos que realizaram pesquisas aterrorizantes que até os dias de hoje nos causam horror. Os mais misteriosos e perversos desses estudos foram conduzidos por médicos operando sob a égide Nazista no auge do regime.   

Durante a horrível mácula na história que foi a existência dos nazistas e seu papel marcante na Segunda Guerra Mundial, um local maligno se tornou o centro de um horror inenarrável, o infame Campo da Morte de Auschwitz, na Polônia. A ordem de construção do campo se deu em abril de 1940, por ordem do figurão nazista Heinrich Himmler. O Campo cresceria então rapidamente, expandindo em três campos principais e mais 45 campos auxiliares até o término do conflito. Este verdadeiro Inferno na Terra seria o destino final para um número estimado de 1,1 milhões de judeus, ciganos, homossexuais, criminosos, deficientes físicos e mentais, oponentes políticos e prisioneiros de guerra, transportados em vagões de gado como animais. O campo se tornou um dos mais medonhos centros de assassinato criados pela humanidade, um sinônimo do Holocausto sistemático e da maldade em geral, com a morte chegando para os que lá viviam de muitas maneiras, seja pela fome, trabalho forçado, doença, tortura e é claro, execuções em massa, nas câmaras de gás

Entre os muitos horrores cultivados em Auschwitz encontra-se os numerosos experimentos médicos conduzidos pelos cientistas Nazistas Carl Clauberg e Josef Mengele. Os experimentos cobriam diversas áreas de pesquisa, incluindo encontrar maneiras de esterilizar as mulheres judias, determinar os efeitos de várias substâncias no organismo humano e encontrar um método de produzir um exemplar genético do que eles consideravam o "perfeito ariano". Frequentemente, os escolhidos para esses experimentos eram indivíduos com características físicas desejáveis para os médicos, como a cor dos olhos, da pele ou dos cabelos. Estes eram separados para que os médicos pudessem realizar seus estudos, usando essas pessoas como cobaias. Tamanho era o desprezo de Mengele pelos indivíduos que logo ele recebeu um apelido condizente: "O Anjo da Morte".

Crianças em Auschwitz em 1941

Certamente uma das mais infames linhas de pesquisa, levadas à cabo por Mengele, envolvia experimentos com gêmeos. De fato, o médico tinha um fascínio quase doentio por gêmeos, e ele acreditava que eles eram a chave para preservar a raça ariana se as mulheres fossem condicionadas a produzir apenas bebês gêmeos de olhos azuis e cabelos loiros. Mengele fazia uma triagem de todos os prisioneiros que chegavam, tentando separar os "espécimes" que melhor se encaixavam em seus procedimentos. Ele buscava especificamente por gêmeos, que eram imediatamente separados da multidão e preservados do trabalho pesado e regime de fome. Por alguns dias estes recebiam rações maiores e tratamento diferenciado em instalações especiais, contudo, mal sabiam que estavam marcados para um destino ainda mais terrível.

Os gêmeos, que podiam ter até 5 anos de idade, eram levados às instalações especiais e mantidos lá até apresentar uma melhora na saúde. Mengele costumava visitar esses hospitais levando brinquedos, doces e chocolate, por vezes se mostrando muito simpático e dedicado, como um verdadeiro médico. Ele se deleitava ao ser chamado por estes pacientes especiais de "Tio Mengele". As crianças não tinham os cabelos raspados, por vezes vestiam roupas normais e ficavam isentas de trabalhos pesados. O tratamento dispensado pelos guardas à serviço de Mengele também era diferenciado, raramente incluíam punições ou surras que eram extremamente comuns no restante do Campo. Parecia um verdadeiro Paraíso quando comparado ao que os demais confinados do campo tinham de passar. Entretanto, isso era apenas uma fachada para esconder a verdade, e os gêmeos não sabiam os horrores que os aguardavam.

Prisioneiros eram abruptamente retirados de seus quartos e encaminhados para uma das alas de pesquisa. Essa transferência acontecia durante a madrugada, sem explicações e sem alarde para não levantar qualquer suspeita nos demais. Uma vez que eram bem tratados e gozavam de uma estadia relativamente tranquila, eles não tinham motivos para temer o que estava por vir. Os experimentos realizados nessas alas eram bizarros e beiravam a depravação. O propósito básico dos testes era despertar os genes da "Raça Mestre", uma espécie de ser humano evoluído e superior a todos os demais, meta de todo Programa Nazista. Outros testes visavam apenas compreender o tipo de conexão estabelecida entre gêmeos, o famoso sexto-sentido que muitos parecem possuir. Finalmente, vários experimentos pareciam serviam ao único e solene propósito de satisfazer a curiosidade de Mengele e saciar os seus prazeres sádicos. 

Gêmeas fotografadas em Auchwitz

As experiências eram bastante diversificadas, mas quase sempre horrendas. Em alguns casos os gêmeos eram separados e mantidos em isolamento total uns dos outros. Em seguida, um deles era torturado mentalmente ou fisicamente para que pudesse ser medido no outro uma resposta. Os nazistas suspeitavam da existência de um vínculo psíquico entre os gêmeos e desejavam saber como ele funcionava e como poderia ser usado. Por vezes, um interno era mantido em um estado de privação total dos sentidos, enquanto o outro gêmeo era deixado numa sala adjacente. Em outros testes, substâncias desenvolvidas pelos médicos eram injetadas na corrente sanguínea das cobaias para testar os efeitos colaterais que elas sem dúvida despertariam. Apenas Mengele e alguns dos seus assistentes sabiam exatamente o que continha essas injeções, mas elas eram responsáveis por causar dor severa, doença e morte. É provável que fossem coquetéis de patógenos, perigosas substâncias químicas, veneno e drogas pesadas. Em muitos casos, apenas um gêmeo recebia as drogas e o outro era mantido como grupo de controle. 

Havia um importante programa destinado a realização de transfusão sanguínea entre gêmeos, algo que seria extremamente útil no campo de batalha, já que a ciência da transfusão ainda estava engatinhando. Outros testes envolviam dar injeções com substâncias especiais para mudar a cor dos olhos, cirurgias com anestésicos experimentais para remoção de órgãos, biopsias, castração e amputação. Em alguns casos extremos, Mengele supervisionou experimentos em que gêmeos eram costurados para criar siameses artificiais. 

Não é de se surpreender que a maioria desses experimentos, resultassem na morte das cobaias. Quando um gêmeo morria, o que quase sempre acontecia, o outro também era morto para que autópsias pudessem ser realizadas simultaneamente. Mesmo se os dois gêmeos de alguma forma sobrevivessem aos experimentos, eles seriam rotineiramente mortos e dissecados em busca de uma análise clínica completa. Quando o Campo da Morte de Auschwitz enfim foi liberado, estima-se que por volta de 900 a 1,500 pares de gêmeos tenham sofrido com experimentos nas mãos de Mengele, sendo que a vasta maioria não suportou a provação.

Uma das poucas fotografias com experimento em gêmeos

Ainda que muitos gêmeos envolvidos nos experimentos dementes de Mengele tenham morrido, há alguns que quase como por milagre conseguiram sobreviver ao final da guerra. Foi através desses sobreviventes que a maioria das informações sobre o que Mengele estava tentando realizar, já que os nazistas sistematicamente destruíram a maioria dos seus documentos sobre o programa de gêmeos para evitar que esse material caísse em mãos inimigas. 

Um desses sobreviventes é Vera Kriegel, que conta suas memórias sobre os horrores que vivenciou nos laboratórios de Mengele. Uma de suas lembranças mais apavorantes envolve ter sido conduzida por guardas até uma ala do complexo em que as paredes eram cobertas por prateleiras repletas com vidros transparentes contendo milhares de globos oculares. Ela contou:

"Eu acordei em uma sala com vidros em todo canto, todos eles contendo olhos humanos. Paredes inteiras de olhos azuis, castanhos, verdes. Era como uma imensa coleção de borboletas guardadas em vidros para exposição. Quando vi aquilo desmaiei."   

Quando os experimentos tiveram início, Kriegel e sua irmã foram mantidas em jaulas como animais submetidas a injeções dolorosas que deveriam fazer com que os olhos castanhos mudassem de cor para o azul desejado pelos médicos. Essas injeções ocorriam frequentemente. Em certa ocasião ela foi infectada com o patógeno causador da Doença de Noma, que faz surgir enormes bolhas na boca e nos genitais. Um dos experimentos normalmente realizados segundo ela envolvia realizar cirurgias para remoção de órgãos visando transplantes. 

Uma das sobreviventes mais conhecidas que passou pelas mãos de Mengele é Eva Mozes Kor, que foi levada a Auschwitz com sua irmã Miriam Mozes, quando tinham apenas 10 anos de idade e que ficaram no campo entre 1944 e 1945. A família inteira, incluindo pais, avós, duas irmãs mais velhas, tios, tias, primos, foram assassinados no Campo da Morte. Elas foram poupadas das execuções por serem gêmeas e separadas dos demais assim que chegaram. Ela conta a respeito: 

"Quando as portas do vagão de transporte de gado se abriram, eu ouvi os oficiais da SS gritando: “Schnell! Schnell!”, e ordenando que todos descessem imediatamente. Minha mãe agarrou Miriam e eu pela mão. Ela sempre tentava nos proteger pois éramos as mais jovens. Tudo acontecia muito rápido e os soldados tratavam de separar as pessoas para que assim fosse mais fácil controlar as famílias. Meus pais e irmãs sumiram na multidão. Um homem nos viu e gritou “Gêmeos! Gêmeos!”. Um homem da SS com roupa branca se aproximou e nos examinou por um instante. Ele perguntou com certa candura à minha mãe: "Elas são gêmeas"? "Isso é bom ou ruim?", minha mãe perguntou. Ele acenou com a cabeça e disse "Elas são gêmeas. Podem pegá-las!". Imediatamente um soldado veio até nós e nos separou sem explicação ou aviso. Nossos gritos foram afogados em meio ao barulho. Eu lembro de olhar por sobre o ombro do homem que nos carregava e ver minha mãe em desespero, com os braços estendidos. Essa foi a última vez que eu a vi".

Eva Moses Kor uma verdadeira sobrevivente

Kor descreveu vários horrores que presenciou enquanto esteve no Campo da Morte. Ela viu um par de gêmeos ciganos ser costurado um de costas para o outro, com os órgãos e vasos sanguíneos conectados. Eles ficaram na jaula ao lado da sua e ela conseguiu ouvir os gritos de agonia e sofrimento deles até que a gangrena os levou três dias depois. Kor disse que os experimentos aconteciam ao longo de uma semana inteira e depois eram uma ou duas semanas de descanso para verificar os resultados. Ela se recorda de ser levada nua até uma sala branca cheia de homens de jaleco que a observavam, mediam e faziam perguntas estranhas. Então vinha novamente o período de testes em que ela recebia injeções misteriosas e quando era separada da irmã. Ela contou que chegou a ter contato direto com Mengele: 

"Ele vinha colher as amostras de sangue pessoalmente. Ele sempre parecia simpático e bondoso, perguntava se estávamos nos sentindo bem e que o pior já havia passado. Ele retirava uma quantidade enorme de sangue cada vez e em outras injetava alguma coisa que dizia ser remédio. Nós não sabíamos o que era. Depois de receber esse "remédio" nos sentíamos estranhas, tínhamos tremores, febre e inchaço. Eu lembro que apareciam marcas no corpo todo. Nunca soube que tipo de veneno eles colocaram no meu corpo, só lembro do Dr. Mengele sorrindo e perguntando depois de tirar a agulha "não foi tão ruim assim, foi" 

Kor chegou a  receber cinco injeções em um único dia. Ela teve febre alta e tremia sem parar. Os braços e pernas ficaram inchados, o corpo coberto de bolhas. Mengele e seu assistente, o Dr. Konig vinham todo dia de manhã colher sangue e fazer a inspeção. Eles olhavam para os gráficos que acompanhava minha febre e sinalizavam negativamente com a cabeça. Certo dia, Mengele comentou com os demais médicos: "Uma pena que a febre está tão alta. Ela não deve passar de duas semanas".

Uma das fotografias do Anjo da Morte

Contrariando todas as perspectivas tanto Eva quanto a irmã Miriam sobreviveram a esses experimentos brutais. Elas estavam entre os gêmeos deixados vivos depois que as tropas soviéticas liberaram Auschwitz. Kor conta que na época era muito jovem para compreender o que estava acontecendo e que apenas depois que foram libertadas é que se deram conta de que eram prisioneiras no campo. Até então, ela foi levada a acreditar que era paciente num hospital e que estava recebendo tratamento para melhorar. Ela acreditava que aqueles "bons médicos" estavam tentando salvá-la e nem imaginava que seu sofrimento era causado por eles.

Nos anos do pós-guerra Eva Kor se tornou porta-voz do Programa CANDLES, organização que reúne os sobreviventes do Campo da Morte, sobretudo os gêmeos que passaram por experimentos médicos. Ela foi capaz de localizar 122 gêmeos residindo em dez países e quatro continentes. Eles foram essenciais para que o mundo viesse a conhecer a extensão abominável dos experimentos nazistas.

"Nós conversamos com muitos deles. O que descobrimos é que houve muitos experimentos. Muitos que ninguém conhecia. Por exemplo, os gêmeos que tinham mais de 16 anos e estavam na idade de reprodução eram usados em experiências de transfusão de sangue entre gêneros. O sangue ia de um espécime do sexo masculino para outro do sexo feminino e vice versa. Infelizmente não havia conhecimento a respeito de grupos sanguíneos e compatibilidade e muitos acabavam morrendo. Stephanie e Annette Heller, gêmeas que hoje moram na Austrália e um casal em Israel sobreviveram às experiências de Mengele. Eles foram testados com o objetivo de gerar filhos gêmeos".

A principal questão é saber quantos desses gêmeos sobreviveram. Boa parte deles obviamente morreram. Mengele também realizava estranhas experiências com o fígado. O médico havia sofrido de sérios problemas renais quando tinha 16 anos em 1927. Ele teve que se ausentar da escola por três ou quatro meses por problemas relacionados ao fígado de acordo com sua ficha pessoal nos arquivos da SS. Como resultado ele passou a se interessar pelo assunto por razões particulares. Existem pelo menos três casos de gêmeos sobreviventes que desenvolveram sérias infecções renais que não respondiam ao uso de antibióticos.   

Miriam Kor desenvolveu um problema renal em face das injeções com substâncias desconhecidas recebidas na infância. Ela sofreu de vários problemas no fígado e eventualmente precisou passar por um transplante no qual recebeu um órgão novo em 1987. Ainda assim, acabou falecendo em 1993 em decorrência de problemas relacionados ao fígado. Os médicos não sabiam exatamente o que pode ter provocado a condição que a atormentou até o fim da vida. 

Irmãs Gêmeas sobreviventes do Holocausto

Até hoje há muito debate a respeito das razões para os experimentos e qual o objetivo que eles estavam tentando atingir. Uma vez que Mengele jamais foi capturado e não deixou registros sobre as metas das experiências o melhor que se pode fazer é traçar teorias sobre seus objetivos. Nãos e sabe o que os médicos injetavam nas suas cobaias humanas, mas é provável que eles tivessem acesso a laboratórios avançados e drogas de todo tipo. A Alemanha Nazista incentivou a indústria farmacêutica, o que tornou o país uma das referências mundiais no uso de substâncias químicas. Muitos dos remédios e drogas em desenvolvimento foram livremente testados em seres humanos. Da mesma maneira, cirurgias experimentais, transplantes e transfusão de sangue, ainda estavam sendo estudadas e é provável que os médicos nazistas estivessem interessados em desenvolver esses métodos para favorecer as tropas. Isso daria uma grande vantagem para o exército em futuras guerras.

Mas por que os gêmeos eram parte essencial nesse programa? 

A grande verdade é que não se sabe ao certo. Os projetos de eugenia implementados pelos nazistas levavam em conta o desenvolvimento da Raça Ariana e eles tinham um conhecimento moderado de genética. Supõe-se que os médicos estavam pesquisando formas de cultivar órgãos em laboratório e realizar transplantes. Nesse caso, eles teorizavam que o transplante entre gêmeos tinha mais chances de sucesso devido ao perfil compatível dos gêmeos. 

Outra possibilidade assustadora é que os médicos nazistas estivessem tentando lançar as bases para o processo de clonagem humana. Muitos pesquisadores defendem que a chave para a clonagem humana reside na compreensão do mecanismo genético por trás dos gêmeos. Compreender o processo e tentar copiá-lo levaria segundo estes pesquisadores ao processo mais confiável de clonagem. Sem restrições éticas, os médicos nazistas se sentiam perfeitamente livres para testar e realizar os experimentos que julgassem necessários e que promovessem progressos. É possível que eles tenham obtido uma avançada compreensão do tema, comparável apenas com o que se alcançou após os experimentos de clonagem no final do século XX.     

Fotografia civil de Josef Mengele

Mas o que aconteceu com a pessoa diretamente envolvida nessa tragédia e que poderia explicar os objetivos de suas experiências?

Quando os soviéticos se aproximaram de Auschwitz, Mengele e vários de seus assistentes concluíram que a única forma de sobreviver seria escapar para o ocidente. Se fossem capturados, melhor que caíssem nas mãos dos americanos. Infelizmente era difícil identificar alguém como Mengele, que até então não era especialmente conhecido e que não tinha a tatuagem da SS que identificava vários de seus membros. Mengele provavelmente obteve documentos falsos e à medida que seguiu para a Europa Ocidental se misturou a civis. Vários criminosos nazistas conseguiram escapar da guerra se fazendo passar por refugiados. Ele aguardou até surgir a oportunidade de imigrar junto com as massas de pessoas que pretendiam deixar a Europa no pós-guerra, pessoas que haviam perdido tudo e que não tinham perspectivas. 

Para alguém inteligente e articulado como Mengele, não deve ter sido difícil criar uma nova identidade e assumir uma nova vida.  Sabe-se que ele deixou a Europa em 1949 e imigrou para a Argentina. Lá conseguiu iludir todos os esforços para rastreá-lo depois que seu nome ganhou notoriedade mundial nas décadas que se seguiram. Joseph Mengele passou a figurar na lista dos criminosos de guerra mais procurados do mundo. Ainda assim, ele continuou a escapar da justiça mudando-se de um país para outro da América do Sul  da Argentina para o Paraguai, então Bolívia e finalmente Brasil. Mengele acabou estabelecendo várias identidades falsa e se mudou repetidas vezes. 

Por fim, ele se estabeleceu em São Paulo em uma pequena casa cujo aluguel era pago por amigos e simpatizantes. Já bastante idoso e com vários problemas de saúde, ele acabou aceitando um convite para passar férias no Balneário de Bertioga, litoral paulista. Lá sofreu um derrame enquanto nadava e acabou se afogando no ano de 1979. Ele foi enterrado sob o nome falso de Wolfgang Gerhard, um de seus pseudônimos. Sua verdadeira identidade só foi descoberta em 1985 após uma complexa investigação empreendida pela Sociedade Simon Wiesenthal, um dos maiores caçadores de nazistas.      
Uma das únicas fotografias de Mengele no exílio nos anos 60

Pouco se sabe a respeito do que Mengele fez nos anos em que esteve em seu exílio, escondendo-se das organizações que caçavam os criminosos nazistas. Presume-se que ele se viveu em fazendas no interior dos países que escolheu residir, usando nomes falsos e levando uma vida extremamente discreta. Ele foi ajudado por simpatizantes germânicos e trabalhou como carpinteiro, vendedor e empresário. Viajou repetidas vezes para a Europa e para os Estados Unidos sem chamar a atenção. Para todos os efeitos ele era apenas um senhor distinto acima de qualquer suspeita. 

No entanto, há os que defendem que as experiências de Mengele jamais terminaram e que ele continuou realizando suas pesquisas obsessivamente, mesmo quando estava no interior na América do Sul. Mengele viveu na Argentina por muitos anos em uma estância afastada e segundo boatos realizava consultas médicas, fazendo inclusive operações. Ele era conhecido e respeitado como um médico suíço. Posteriormente ele terminou indo parar no Brasil onde passou vários anos.

Segundo o historiador Argentino Jorge Camarasa, Mengele mantinha um profundo interesse nas suas pesquisas médicas e se ofereceu para trabalhar em companhias farmacêuticas e hospitais no Brasil. Um dos principais rumores é que o criminoso teria exercido a medicina na cidade de Cândido Godoi, no interior do Rio Grande do Sul nos anos 1960. Curiosamente Cândido Godoi é uma das cidades brasileiras com maior incidência de nascimento de gêmeos no país, com um número muito acima da média nacional. 

O passaporte de Josef Mengele

Consta que esse aumento se deu sobretudo, após os anos 60, com uma quantidade notável de crianças nascidas com olhos azuis e cabelos loiros na população local. Para alguns pesquisadores, Candido Godoi serviu de laboratório para Josef Mengele que trabalhou no hospital local da cidade em conluio com outros médicos de ascendência germânica. Não há, no entanto, nenhuma prova que corrobora essa suspeita e o hospital da cidade diz que as suspeitas são infundadas e absurdas. 

Teria Mengele, o Anjo da Morte continuado a realizar seus macabros experimentos na América do Sul? Mais importante, teria ele atingido o objetivo que almejava durante o período em que comandou a Divisão Médica de Auschwitz? Ninguém sabe. A única coisa de que temos certeza é que Josef Mengele escreveu seu nome na história como um dos mais terríveis e imorais cientistas de todos os tempos. Ele será lembrado como um monstro disposto a matar e causar sofrimento em inocentes para promover os mais perversos experimentos científicos. Em um vasto rol de crimes praticados pela escória do mundo, Mengele consegue se destacar. É pouco provável que um dia venhamos a saber no que ele estava envolvido, que resultados ele obteve e se ele foi bem sucedido em algum dos seus experimentos bizarros envolvendo gêmeos. 

O que podemos esperar é que esses horrores jamais se repitam.   

Um comentário:

  1. tenebroso. gente assim faz vc querer que o inferno exista e que seja tão ruim quanto dizem ser.

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