Não há nada mais assustador do que uma assombração agindo sem controle. Estar à mercê de forças sobrenaturais invisíveis que não se pode tocar ou mesmo compreender pode ser um evento chocante e transformador. A sensação é similar a um caso grave de stress pós-traumático (PTS), no qual frustração, medo e confusão tornam a vida daqueles expostos, num verdadeiro inferno.
Ainda mais aterrorizantes são os casos que vão além de mera assombração, abrangendo forças malévolas de natureza decididamente demoníaca. Quando o mal em estado puro visita uma casa, sua marca pode se manter por muito tempo. Um caso assim ocorreu em uma cidade tranquila da Pensilvânia, onde uma família teve sua vida pacífica naquela que seria a casa dos seus sonhos transformada em um pesadelo, atormentada por um demônio cruel que parecia ter rastejado de algum reino infernal.
Em dezembro de 1988, Bob Cranmer e sua família compraram o lar dos seus sonhos, uma bela casa vitoriana de 105 anos em um bairro tranquilo na Brownsville Road, 3406, em Pittsburgh, Pensilvânia. Bob há muito desejava morar numa casa semelhante e quando conseguiu comprá-la pagou um valor incrivelmente atraente. De fato o vendedor aceitou a oferta sem negociar ou barganhar o preço. Não havia nenhum lance e, ao que tudo indica, todos ficaram muito animados quando finalmente viram a casa. Era quase bom demais para ser verdade, e talvez fosse, pois logo ficaria claro que havia algo muito errado com o lugar. A história evoluiria para uma experiência perigosa de terror sobrenatural como ninguém poderia imaginar.
De acordo com Cranmer, os incidentes estranhos começaram antes mesmo da família se mudar para a casa. Seu filho de cinco anos chorava sem parar sempre que eles se aproximavam da casa para trazer seus móveis e objetos. Na época, Bob havia considerado que não era nada de mais, mas as coisas ficaram cada vez mais bizarras após a mudança. Tudo começou com uma sensação inabalável de estar sendo observado o tempo todo e um pressentimento difícil de explicar. Era como se algo simplesmente não estivesse certo. A casa parecia, à primeira vista, normal, mas havia a sensação de que algo crescia e se agitava sob a bela fachada, e todos sentiam isso. Bob Cranmer diria sobre esse pressentimento estranho e sinistro:
"Desde o início, minha esposa Lea e eu tivemos a sensação de que não estávamos sozinhos naquela casa, que estávamos sendo observados por alguém ou por alguma coisa. Lembro-me dessa sensação com muita clareza. Mas por achar que era ridículo não comentávamos um com o outro preferindo guardar segredo. Mas era inegável que sentimo-nos cercados por alguma coisa antiga e maligna, como se fôssemos apenas "visitantes temporários", tolerados, que eventualmente seriam expulsos da casa."
Essa situação logo evoluiu para atividade paranormal de fato, que começou de forma bastante inócua, com luzes acendendo e apagando sozinhas, objetos estranhamente deslocados e outras pequenas esquisitices, como uma corda de luminária sempre encontrada enrolada em vez de pendurada. Era estranho, mas aquelas pequenas anomalias poderiam ser atribuídas à imaginação, exceto pelo fato de continuarem ocorrendo com incrível frequência.
Mas a coisa se tornou realmente apavorante quando as meras estranhezas se intensificavam. De repente havia batidas fortes no assoalho e nas paredes, além de passos pesados percorrendo os corredores da casa quando ninguém estava lá. Ainda mais assustadores eram os casos em que itens eram encontrados amassados ou quebrados, incluindo um crucifixo torto e deformado que foi encontrado jogado no chão.
Além disso, parecia haver algo muito errado com um cômodo da casa que a família apelidou de "Quarto Azul", assim chamado porque tinha papel de parede e tapete dessa cor. As crianças que dormiam lá, reclamavam constantemente de um frio excessivo e de um cheiro desagradável de carne podre empesteando o ar. Elas sentiam como se algo estivesse lá constantemente com elas. Espreitando nos cantos e olhando para elas com um misto de rancor e cobiça. A força sobrenatural se fazia sentir sempre que uma das crianças ficava sozinha e o medo era palpável.
A coisa chegou ao ponto que as crianças se recusavam terminantemente a dormir no quarto, ou às vezes até mesmo a chegar perto dele, reclamando que havia algo ruim lá dentro. A princípio era uma presença invisível, mas o que quer que fosse, essa coisa começou a se revelar como uma entidade sombria envolta no que parecia uma névoa com um pronunciado fedor de podridão.
"Era o mal! Eu não sei explicar, mas consigo dizer que era algo mal!" diz Bob Cranmer sobre o horrendo inquilino que compartilhava de sua casa. "É difícil de categorizar esse sentimento. Talvez seja como uma sensação de ser odiado e de se estar sob constante ameaça. Era um ódio que nos deixava aterrorizados".
Um dos encontros mais assustadores com essa estranha aparição ocorreu quando o genro de Cranmer os visitou certa noite. Enquanto ocupava o quarto azul, ele viu uma enorme sombra pairando sobre o teto. Ao ser percebida, a sombra escorreu pela parede entrando em um vão escuro onde desapareceu. A experiência foi tão traumática que a testemunha saiu da casa e disse que não retornaria sob nenhuma circunstância. Em outra ocasião, o filho de Cranmer viu a mesma entidade e começou a chorar sem parar. A criança inconsolável gritava: "Monstro, o monstro vai me pegar! Ele estava olhando pra mim".
As aparições se multiplicavam com a sombra se deixando perceber pelos moradores. A presença se manifestava repetidas vezes pairando sobre as pessoas ou vagando sobre a parede como um miasma maligno feito de fumaça escura e vapor fétido. Essa situação continuou por meses até que ela se tornou ainda mais ousada e violenta. Antes ela ficava contida no quarto azul, mas agora aparecia em outras áreas da casa e podia até ser ouvida rastejando pelas paredes e vãos. O cheiro ocre que a acompanhava era nauseante e todos sentiam aquela sensação de ameaça.
O terror físico teve inicio quando membros da família começaram a sofrer ataques ferozes de mãos invisíveis, especialmente nas proximidades do Quarto Azul. As investidas deixavam arranhões e hematomas arroxeados na pele. Uma das crianças foi empurrada e se chocou contra a parede quebrando dois dentes. Lea, a esposa de Bob, foi puxada com tanta força que teve uma torção no pulso. Em um dos ataques mais medonhos, uma das crianças terminou com marcas claras de mordidas no estômago.
A princípio Cranmer acreditava se tratar de um fantasma, mas logo ele se convenceu que era algo muito pior. Um amigo sugeriu que o fedor constante na casa era de enxofre e que aquela era a marca deixada por mas um Demônio. A família tentava ler a Bíblia e pendurar imagens sacras para afastar a entidade, mas isso pareceu deixá-la ainda mais furiosa. Cranmer afirma que ela arrancava a Bíblia de suas mãos, arranhava seu pescoço, destruía rosários, torcia e deformava crucifixos Ela também parecia detestar completamente o filme "A Paixão de Cristo", desligando a TV e fazendo barulho sempre que o filme passava na televisão. Em certa ocasião, uma pesada bandeja de madeira foi arremessada contra a TV quebrando o aparelho.
Familiares que usavam crucifixos na vã tentativa de manter a aparição sob controle às vezes os encontravam dobrados ao meio, como se "tivessem sido colocados em um torno e torcidos com um alicate". Para tornar tudo ainda mais assustador, um quarto escondido foi encontrado atrás de uma parede, obviamente selado por razões desconhecidas. Quando abriram a divisória que o escondia, foram achados vários brinquedos das crianças que ninguém sabia explicar como haviam chegado lá. O fedor no aposento secreto era tão forte que ele foi lacrado novamente.
Os fenômenos seguiram por anos, com a situação afetando a família. "Eles se intensificavam, então vinha uma pausa de alguns meses, para recomeçar tudo novamente. Era enervante não saber quando o pesadelo recomeçaria". Os Cranmer tentaram ver em outra casa e descobriram que a entidade os acompanhava onde fossem, levando o mesmo terror a outros lugares. "Não é algo simples de explicar! Aquela coisa nos acossava e perseguia. Ela era uma manifestação inteligente, não uma coisa irracional".
Desde o início Bob Cranmer procurou a Igreja Católica para tentar resolver o problema espiritual que o atormentava. Ele pediu e de fato, implorou que intercedessem por ele. Ele sempre falava a respeito de um exorcismo, mas o processo era burocrático e exigia que um Bispo concordasse com a medida. Além disso, não havia uma pessoa possuída, mas sim uma casa, que contrariava dogma do Exorcismo que se refere a um indivíduo. A casa era uma espécie de antro dominado por essa manifestação maligna.
Ao longo de dois anos, Cranmer tentou provar o que se passava na casa, mas a entidade insidiosa parecia se calar quando um religioso os visitava. "Era desalentador... a coisa não se manifestava quando havia algum observador da Igreja presente". Eventualmente dois padres visitando de surpresa no meio da madrugada testemunharam a atividade paranormal e ficaram impressionados com a intensidade dela. Eles registraram crucifixos sendo torcidos, o fedor nauseante que emanava do chão e até mesmo um arranhão que um deles sofreu no pescoço.
A essa altura Investigadores paranormais também já haviam visitado a casa e reconhecido a atividade sobrenatural. O episódio mais notável envolveu o renomado parapsicólogo Ryan Buell, que afirmou durante sua investigação ter visto um crucifixo dobrar ao meio bem diante de seus olhos. Ele também testemunhou sangue aparecer e escorrer pelas paredes. Amostras levadas à laboratório revelaram que se tratava de sangue verdadeiro cuja origem jamais foi determinada.
Apenas em 2006 a casa foi finalmente considerada apta a receber um Ritual de Purificação, uma espécie de Exorcismo mais raro voltado para um Covil Diabólico. Na ocasião o próprio Bispo de Connecticut visitou a casa acompanhado de três padres que realizaram o complexo ritual. Na ocasião os vizinhos registraram muitos gritos, sons de batidas secas e algazarra pela casa. Ao fim de dois dias de orações e bênçãos, a casa foi declarada livre da presença demoníaca que a habitava.
A Família Cranmer continuaria morando lá e Bob escreveria um livro intitulado "The Demon of Brownsville Road" descrevendo os 18 anos de experiências sobrenaturais na casa. A publicação, segundo ele, foi repleta de contratempos e dificuldades, como se algo não quisesse que o livro fosse escrito. A Igreja também se negou a fornecer dados sobre o Ritual censurando o autor por transformar o ocorrido em um livro.
Durante suas pesquisas Bob Cranmer afirmou ter descoberto vários detalhes sinistros sobre a casa na Brownsville Road que ajudariam a esclarecer o que a afligia. Ele descobriu que um massacre ocorreu na propriedade na década de 1700, quando uma mulher e seus quatro filhos foram impiedosamente massacrados por nativos americanos. Os corpos foram enterrados onde a casa estava localizada. Ele também afirmou que um trabalhador imigrante que ajudou a construir a casa foi morto pouco depois dela ficar pronta. Segundo boatos o cadáver teria sido jogado no concreto e literalmente emparedado no quarto azul. Finalmente havia o rumor de que um médico havia operado na casa realizando abortos ilegais ao longo de muitos anos. Esse médico tinha interesse em ocultismo e se envolveu com rituais de invocação que abriam as portas da casa para o demônio que vivia no local.
Esses elementos mergulhavam ainda mais a casa na escuridão, validando sua fama como a morada em que um demônio poderia se instalar. A entidade seria uma força que se viu atraída pela casa como se dela emanasse uma escuridão irresistível. De fato, o conceito de Covil Diabólico é exatamente esse, um lugar tão maligno que um ser diabólico se sentiria em casa nele.
De fato, Cranmer defendia que seu hóspede indesejado era um demônio, e não um fantasma, dizendo:
"Fantasmas, se você acredita neles, geralmente são almas que sofreram algum evento trágico. Um demônio é o oposto de um anjo. A existência dessa coisa se manifesta de uma maneira muito diferente da de um fantasma. Um fantasma geralmente está revivendo algum tipo de evento que ocorreu durante sua vida. No nosso caso, era um espírito demoníaco, maligno e malicioso que interagia conosco regularmente e queria nos machucar. Queria acabar com a unidade de nossa família."
O livro foi muito popular após seu lançamento, rendendo várias entrevistas e aparições na TV. O trabalho foi amplamente elogiado como uma das mais angustiantes narrativas sobre experiência sobrenatural registrada. Contudo também houve bastante ceticismo sobre o relato. Embora alguns dos fatos descritos no livro sejam coerentes, o principal problema é que algumas das pessoas que moraram na casa antes da chegada dos Cranmer, negaram que tenha havido qualquer tipo de atividade paranormal estranha na casa. Isso parece bastante estranho, considerando que, se a história da casa fosse tão sombria a ponto de atrair um demônio, isso já deveria vir acontecendo há décadas. No entanto, não houve nada de incomum relatado. Uma ex-moradora chamada Karen Dwyer, que morou na casa por 7 anos na décadas de 1960, disse:
"Minha mãe nunca mencionou nada sobre a casa ser assombrada. Minha avó nunca disse nada sobre a casa ser assombrada. E meu avô nunca disse nada sobre a casa ser assombrada. Se o senhor Cranmer quiser escrever sobre demônios a partir de 1988 que o faça; eu não me importo. Mas se quiser falar sobre outras pessoas e coisas que aconteceram antes dele, estará mentindo. Não havia nada de diabólico em Brownsville Road".
As palavras de Dwyer fizeram muitos críticos acusarem Cranmer de inventar tudo e tentar fazer passar uma obra de ficção como um relato real para obter publicidade e fama. Cranmer rebateu, acusando essas pessoas de esconder a verdade para salvar suas próprias reputações e evitar a desvalorização da propriedade. Ele disse sobre isso:
"As pessoas sempre se preocupam com a possibilidade de serem responsabilizadas legalmente se não revelarem aos compradores problemas de natureza espiritual com uma casa. Esse lugar só foi oficialmente vendido em 1941 pelos proprietários originais e depois foi comprada por meio de um leilão. A casa ficou vazia por um longo período e tornou-se conhecida como casa mal-assombrada pelos vizinhos que sabiam bem de seu histórico".
Cranmer também se defendeu alegando que uma mulher com quem ele conversou, Barbara Wagner, lhe disse que de fato havia atividade paranormal substancial na casa antes de ela ser comprada por sua família. Vários vizinhos também confirmaram que o local era conhecido por ser mal-assombrado. Havia ainda outra testemunha idosa com quem ele conversou, que era apenas uma criança quando morava lá, mas que se lembrava claramente de ter sido aterrorizada por coisas inexplicáveis.
Mesmo diante do ceticismo e das críticas, Bob Cranmer se manteve firme em afirmar que a sinistra história do Demônio de Brownsville era uma descrição fidedigna de eventos ocorridos com sua família.
Curiosamente Bob Cranmer parece ter passado por momentos difíceis depois do lançamento de seu livro. Em 2015, seu filho David faleceu e, naquele mesmo ano, sua esposa, Lea entrou em profunda depressão, o que resultou na desintegração do casamento. os planos de transformar o livro em um filme também foram cancelados. Apesar de tudo isso, ele continuou a defender seu relato dos eventos, desafiando resolutamente os céticos.
"Eu sei melhor do que qualquer outra pessoa o que foi viver nessa casa. Ainda tenho pesadelos sobre aquela época, mas sei que apesar de tudo, nós conseguimos nos manter. A entidade que nos atormentou desapareceu e desde então temos uma vida normal".
Somos levados a ponderar muitas questões sobre essa historia macabra. O que realmente aconteceu com Bob Cranmer e sua família naquela casa? Quanto das experiências que ele relata em seu livro são baseadas em eventos factuais e quanto é inventado? Se tudo realmente aconteceu, então o que era a entidade habitando a casa? Foi um caso de fantasmas, poltergeists ou, como o próprio Cranmer acredita, um demônio real? Essas são questões pertinentes sem respostas adequadas, e o caso do Demônio de Brownsville permanece um incidente assustador sem solução.
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