Há três anos, o diretor Zach Cregger estreou no cenário do terror com um filme chamado "Noites Brutais" (Barbarian/2022). Na ocasião de seu lançamento ninguém esperava muito, mas o filme atraiu a atenção da crítica. Sua trama era simples, mas muito inteligente, amparada por um elenco convincente, crítica social e uma direção extremamente competente.
O resultado foi sucesso imediato!
Com isso, o nome de Cregger ficou conhecido entre os fãs do terror e criou certa expectativa sobre seu próximo projeto que conforme ele alardeou em entrevistas também seria na seara do horror.
A espera finalmente acabou, com a recente estreia de "A Hora do Mal" (título um tanto esquisito para o original Weapons que significa apenas "Armas"). Mas escolhas de títulos à parte, A Hora do Mal, sem dúvida, desponta como um dos melhores Filmes de Horror de 2025.
Desde o inicio, a produção gerou repercussão, com a distribuidora New Line divulgando teasers, trailers e material de marketing incrivelmente assustadores que provocavam a curiosidade do público sem revelar excessivamente seu mistério. E essa foi uma tática extremamente eficiente para gerar burburinho ao redor do filme.
Todos elementos do filme foram mantido sob estrita confidencialidade ao ponto de que astros, equipe e envolvidos não podiam dizer nada à respeito dele. Para que as reviravoltas e surpresas da trama não vazassem até memso termos de confidencialidade teriam sido assinados. E digo em primeira mão que esse foi uma jogada muito acertada, pois quanto menos você souber à respeito da trama de A Hora do Mal, mais assustadora será sua experiência ao assistir.
Não é, portanto, tarefa fácil falar à respeito de um filme cuja premissa central, como eu acabei de dizer, carece de segredo, mas vou tentar. Não se preocupem, não vai haver spoilers aqui e tudo o que será comentado pode ser visto no trailer.
A Hora do Mal gira em torno de um incidente traumático ocorrido em um lugar chamado Maybrook, uma típica cidadezinha do meio oeste dos Estados Unidos. O inexplicável visita a comunidade quando exatamente às 2h17 da madrugada de uma noite como qualquer outra, um grupo de crianças de uma única sala de aula acorda repentinamente e desaparecem na noite. As crianças parecem fugir, sem motivo, sem razão. Diante da confusão, os pais das crianças desaparecidas rapidamente se juntam para tentar entender o que ocorreu. Sem uma explicação razoável eles acusam a professora Justine Gandy, de ter alguma ligação com o incidente. No entanto, quanto mais aprofundada a investigação do Caso Maybrook, mais sinistra a verdade se torna, à medida que as histórias de vários personagens se entrelaçam para revelar uma explicação aterrorizante
E é isso tudo o que posso dizer sem transitar no perigoso terreno do spoiler. Mas mesmo esse pouco já cria uma sensação inquietante de curiosidade à respeito do filme. O que motivou essas crianças a fugir? Por que justamente elas? Por que apenas uma das crianças dessa classe não desapareceu com as demais? Quem está por trás desse mistério?
As perguntas são muitas, mas o filme consegue responder cada uma delas de maneira muito eficaz graças a maneira como o roteiro vai desenvolvendo a trama.
A Hora do Mal se concentra nos personagens envolvidos direta ou indiretamente no mistério, concentrando-se no ponto de vista de cada um deles e de sua percepção dos acontecimentos. Dividido em pequenos episódios focados nesses personagens o enigma vai sendo descortinando pedaço por pedaço revelando um pouco da trama de cada vez. O espectador vai tentando juntar as pontas soltas em um exercício angustiante de compreender o que se passou.
Essa forma de contar a história se mostra muito engenhosa e cheia de suspense já que cada segmento oferece as peças para montar o quebra-cabeça geral. Cada episódio isolado deixa o expectador mais curioso para saber mais. A Hora do Mal consegue manter o público envolvido, ao mesmo tempo em que brinca com a tensão concluindo cada segmento com uma espécie de cliffhanger.
Muito do mérito do filme repousa na criação dos personagens e em suas motivações. É fácil se conectar com eles e entender seus dramas pessoais. A professora interpretada por Julia Gardner é o infeliz alvo da ira dos pais que não se conformam com o inexplicável incidente. Você realmente sente compaixão por ela, mesmo sem saber se ela está ou não envolvida no desaparecimento. Ao mesmo tempo que ela quer salvar as crianças, ela entra em uma rota autodestrutiva.
Archer Graff, vivido por Josh Brolin é outro personagem bastante interessante. Ele representa os pais das crianças desaparecidas de Maybrook, transbordando terror e frustração diante da situação inesperada. Decidido a não ficar de braços cruzados ele decide mergulhar no caso e investigar cada indício. Há também o policial que claramente tem boas intenções, mas que se deixa dominar pelas suas ações impulsivas e um bandidinho raia miúda que quer se dar bem com a tragédia. Esses personagens são propositalmente imperfeitos e isso os torna mais humanos graças as camadas que o roteiro confere a eles.
No entanto, em termos de atuação, são o jovem Cary Christopher, que interpreta Alex, a única criança da turma que não desaparece, e a veterana atriz Amy Madigan que mais se destacam. Os dois são os fios condutores da história, Alex como o narrador e Amy... bem, quanto menos se falar a respeito dela melhor. Então, vou deixar por isso mesmo.
Cregger dirige A Hora do Mal com confiança, criando uma atmosfera arrepiante e uma sensação de ameaça permanente. Você sente que algo está muito errado nesse pesadelo suburbano, mas não consegue juntar fatos suficientes para dizer o que é. Um dos meus aspectos favoritos nesse filme é como a direção consegue evitar sustos rápidos, e em vez disso, foca numa aura de pavor que parece pairar sobre o filme. Vários detalhes são incrivelmente assustadores, como a maneira como foram coreografados os movimentos de alguns atores e o uso de imagens desfocadas em segundo plano na qual você percebe algo, mas não os detalhes. Cregger consegue fazer com que alguém simplesmente correndo pareça uma ameaça teleguiada, um perigo conduzido por uma força arrebatadora.
A trilha sonora também desempenha um papel de grande importância ajudando a construir a sensação de que algo maligno está sempre observando. A música transmite uma vibe anos 80 que combina perfeitamente com incontáveis clássicos de terror. É algo cativante que define o clima sinistro ao longo da trama. Mas o pavor não está apenas na música, mas em momentos torturantes de absoluto silêncio que permeiam sequências de tirar o fôlego.
Existem alguns furos na trama, provavelmente. Não é fácil construir uma história desse tipo sem recorrer a um pouco de suspensão de crença, mas isso não chega a atrapalhar ou comprometer o resultado final.
A Hora do Mal é assustador, bem atuado, bem filmado, bem editado e bem escrito. Meu conselho a quem for assistir é se deixar levar pela história e mergulhar de cabeça. Larguem o celular, mantenham os olhos na tela e prestem atenção a tudo que acontece. Há alguns momentos divertidos que quebram o horror, sobretudo no final que me fizeram rir de nervoso, mas a conclusão é de cair o queixo.
No geral, Hora do Mal está na minha lista de ótimos filmes de horror do ano, graças a sua imaginação e criatividade. Se vale a pena assistir? Com certeza!
Trailer:
Nenhum comentário:
Postar um comentário