Existe uma fina linha entre especulação, lenda e fato no caso apresentado neste artigo.
Talvez nem tudo possa ser levado à sério como verdade incontestável, afinal, muitos conceitos e noções aqui expressas parecem absurdas, estranhos e até mesmo bizarras demais... contudo, se apenas uma parcela do que é relatado aqui for verdade, já é, no meu entender, preocupante e horrível o suficiente. Eu fiz uma pesquisa antes de escrever esse artigo, por considerar que talvez ele fosse fundado em exageros. Provável até que seja, mas muita coisa também parece corroborada por fatos. Ao leitor cabe aceitar tudo com uma dose de suspeita, mas também estar aberto ao conceito de que o mal existe e nenhum mal é pior do que aquele que as pessoas estão dispostas a praticar umas contra as outras.
Sem mais delongas, vamos começar.
Não é de hoje que pessoas muito ricas, famosas e poderosas desejam preservar a privacidade à qualquer custo. Elas protegem suas casas para que nada e nem ninguém saiba como vivem e o que fazem. Essas pessoas vivem em lugares que ninguém exceto os próprios moradores ou seus amigos mais próximos conhecem. Em mansões e palacetes cercados por luxo e privacidade, eles tem a liberdade de expressar quem realmente são, longe de olhares curiosos.
Mas na mesma medida que alguns querem apenas uma vida tranquila e um esconderijo protegido da atenção alheia, outros usam esses refúgios inacessíveis para realizar condutas imorais, absurdas ou até mesmo, criminosas. Usando esses muros altos e paredes grossas em benefício próprio, eles acreditam estar livres para fazer o que bem entender. Rituais estranhos, orgias escandalosas, cerimônias satânicas, crimes violentos e todo tipo de blasfêmia podem acontecer nesses ambientes controlados. E nada disso chega ao conhecimento público.
Escondido nas profundezas da Floresta das Ardennas na Bélgica ergue-se um destes lugares secretos. Trata-se de um castelo que dizem ter sido o palco de horrores indescritíveis e que ainda hoje hospeda práticas bizarras. As lendas são tão abundantes quanto estranhas. A construção em um local completamente isolado é tão restrita que são poucos os que ousam se aproximar dela, alguns evitam até mesmo dizer seu nome em voz alta.
O Chateau de Amerois (diz-se Ame-ro-AS) é conhecido também pelo sinistro nome de o Castelo das Mães das Trevas. Teoristas das Conspirações e Buscadores da Verdade oculta veem esse lugar como uma das sedes usadas pelo grupo conhecido como Illuminati, uma Sociedade que congrega as pessoas mais ricas e poderosas do planeta, um clube exclusivo para aqueles que de fato controlam o mundo.
Informações sobre o Castelo são vagas e imprecisas. Parece haver um manto de sigilo que busca preservar a história antiga e atual do Castelo ocultando seus segredo, sua localização e mesmo sua aparência. As poucas fotos existentes de sua fachada são antigas e desatualizadas, já do interior do castelo não há praticamente nenhuma imagem. Os atuais donos, sejam eles quem forem, preferem manter as coisas desse jeito. Tanto a BBC quanto a National Geographic tentaram reiteradas vezes contatar os proprietários do Castelo de Amerois, pedindo a eles acesso para fazer fotografias e vídeos, sabendo da importância histórica do local. Nenhum deles teve permissão para se aproximar.
Placas ao redor da propriedade avisam que invasores serão tratados com todo o rigor da lei. Há muitas placas advertindo que o acesso a propriedade é vedado e que guardas armados promovem a segurança das premissas. Há sensores de movimento, câmeras instaladas nas árvores e cercas eletrificadas em todo perímetro. As poucas pessoas que conseguiram invadir o local e fazer algumas imagens comprovam que o equipamento de segurança é de última geração e que os rumores sobre vigilância constante são reais. Em 2010 um grupo de exploradores urbanos conseguiu se aproximar a 250 metros da entrada do Castelo, quando foram cercados por guardas armados que os renderam. Após ser capturado o grupo foi processado e teve que arcar com pesadas multas.
Mas qual o objetivo dos proprietário desse Castelo? Por que elas tentam zelar por sua discrição dessa maneira? O que escondem e quais são seus segredos?
O Castelo de Amerois foi originalmente construído em 1849 pelo Conde de Misneil, um importante nobre com ligações com a Família Real belga. Ele posteriormente vendeu a propriedade para Theodore Van der Nuit o Oitavo Marquês de Ash em 1859, ou segundo alguns perdeu a propriedade em um jogo de azar. Contudo, o castelo passaria para o Príncipe Phillip de Flandres, parente de sangue da Dinastia Saxe-Coburg, a mesma linhagem da atual Família Real Britânica. A Dinastia Saxe-Coburgo é uma das mais antigas e poderosas da Europa, com membros presentes em várias famílias reais do continente.
Acredita-se que a posse do Castelo tenha passado por diferentes membros da Dinastia e que seus atuais proprietários sejam parte da Família Soulvey que tem vínculo de sangue direto com a Casa Real da Bélgica. Os Soulvey estão entre as famílias mais abastadas da Europa com o controle acionário sobre Indústrias Farmacêuticas e Químicas. Eles são os maiores produtores mundiais de gás fluorídrico, vital para a produção de inúmeros materiais na indústria moderna, de pasta de dente e água gaseificada, até refrigeradores e sistemas de resfriamento para maquinário pesado. Os Soulvey são os Donos de um Império bilionário cuja extensão é difícil de calcular.
Embora as informações sejam fragmentadas, acredita-se que eles adquiriram o Castelo de Amerois nos anos 1940, pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial. A região havia sido severamente atingida por combates e foi o palco das Batalhas de Ardennas e Bulge que marcaram a história como algumas das mais sangrentas do conflito. Na época, em face da destruição promovida, o Castelo teria sido arrematado pelos Soulvey por um valor bem abaixo do seu preço normal.
As histórias sinistras sobre a região em que o Castelo foi construído não afastaram seus proprietários e de fato talvez tenham até os atraído. Segundo os rumores mais antigos, essa região isolada das Ardennas foi uma das últimas a ceder espaço para o cristianismo, mantendo tradições pagãs muitos séculos depois da disseminação da cristandade. Quando enfim a fé cristã conseguiu penetrar na região muitas famílias locais continuaram praticando secretamente seus costumes ancestrais, o que resultou em inúmeros rumores sobre bruxaria.
No século XIV, a região supostamente foi o lar de uma Cabala de Feiticeiras que operava clandestinamente. Elas convergiam para essas florestas escuras em busca de lugares antigos onde pedras cobertas de runas serviam de altar e árvores com galhos secos seus guardiões. Os rituais proibidos eram tratados como satânicos, mas poucas pessoas tinham coragem de censurá-las. Entre os membros proeminentes estavam nobres e ricos senhores de terras. Os historiadores afirmam que esse grupo era tão influente que agia sem temor, chamando a si mesmos de Mães das Trevas. Os rituais macabros aconteciam em datas específicas quando o demônio alegadamente respondia suas invocações. Diante dele, pactos inomináveis eram assinados com sangue. De fato, muito do poder das Mães das Trevas supostamente provinha dos acordos que elas intermediavam ou que elas próprias haviam firmado.
As Mães das Trevas teriam permanecido como uma força incontestável na região até meados do século XVIII quando passaram a ser tratadas como mera lenda. Contudo para historiadores a existência desse grupo pode ser comprovada através de relatos do período. A ligação do grupo com o Chateau de Amerois é incerta, mas presume-se que a construção do castelo não passou desapercebida. Para muitos, elas se entranharam no tecido social, disfarçando sua influência, sem jamais desaparecer por completo.
Se os atuais proprietários do Castelo de Amerois são ou não os herdeiros das Mães das Trevas é uma questão aberta a interpretação, o nome contudo se mantém. Seja como for, o passado sinistro parece encontrar eco no presente obscurecido. Não é de hoje que os boatos sobre festas e reuniões exclusivas no Chateau atiçam a curiosidade do público. Quando indivíduos poderosos, supostamente alguns dos mais influentes players do mundo se reúnem sob um mesmo teto, é difícil conter a imaginação.
Os rumores sobre festas selvagens com convidados VIP ganharam fama a partir da década de 1960. Haviam boatos sobre excessos de todo tipo: consumo de drogas, orgias sem controle, cerimônias blasfemas, práticas de zoofilia, sadismo, tortura, pedofilia e outras condutas tão atrozes que é impossível listar todas. Entre os presentes estariam políticos, celebridades, artistas, esportistas, financistas... a nata da sociedade, do jet set e da Lista dos mais ricos segundo a Revista Forbes.
Nos aposentos fechados, em meio ao luxo e fausto, ocorriam rituais, sendo a "Iniciação de Olhos Fechados" uma espécie de tradição imposta aqueles que visitavam o Castelo pela primeira vez. Nesta ocasião, o convidado era incentivado a praticar todo tipo de excesso sem saber que estava sendo filmado. O registro era uma maneira de controlar e de garantir o sigilo perpétuo do recém chegado. Se por acaso ele tentasse se evadir da influência do grupo ou revelar o que acontecia no Chateau, poderia ser convencido a repensar sua conduta. E se chantagem não fosse o suficiente, havia ameaça e coação. Como toda boa fraternidade secreta, os convivas do Castelo de Amerois podiam impulsionar ou destruir carreiras facilmente.
Outra prática tenebrosa que supostamente ocorria nos bosques circundantes era chamado de "O Mais Perigoso dos Jogos". Neste uma presa era escolhida, geralmente uma criança ou um jovem de acordo com o gosto dos participantes. Esta vítima era despida, com exceção de um par de calçados e libertada na mata para que tivesse a chance de correr pela sua própria vida. Atrás dela se iam os convivas, vestidos à caráter, armados com espingardas, escoltados por cães e valetes que os guiavam pela mata no encalço da presa. Como em uma caça à raposa, o objetivo era encontrar o "animal fugitivo" e extrair da experiência a satisfação que só o abate poderia proporcionar.
Nos anos 70, uma suposta sobrevivente de uma dessas caçadas teria sido entrevistada por repórteres que publicaram sua história. Houve repercussão na época, mas a matéria acabou sendo sufocada e censurada nas cortes de justiça. No fim, processos pesados garantiram que a denúncia não fosse investigada além daquele ponto.
Muitas outras histórias sinistras chegaram a imprensa, relatos que partiam de empregados, antigos funcionários e até mesmo alguns convidados que se mostraram chocados pelo horror que acontecia no interior do Castelo de Amerois. Não havia contudo provas e era difícil de provar qualquer alegação sem elas.
Outro rumor recorrente menciona a realização de missas negras ocorrendo em uma câmara subterrânea que um dia serviu como masmorra ao Castelo. Nessa câmara de pedra bruta os rituais profanos eram conduzidos por homens e mulheres vestindo mantos e capuzes negros. Em tais celebrações, que invariavelmente terminavam com uma orgia blasfema, ocorriam sacrifícios de sangue com inocentes sendo passados pelo fio de lâminas empunhadas por auto proclamados satanistas.
As ditas práticas satânicas pareciam ter ligação direta com o passado distante do Chateau de Amerois e as lendas sobre as Mães das Trevas. Para alguns a cabala teria se perpetuado através dos séculos cultivando devotos entre os frequentadores da propriedade. A camaradagem entre os membros desse culto garantia benefícios estendidos apenas aos confrades que protegiam uns aos outros.
Contudo as denúncias mais graves diziam respeito a um Círculo de Pedofilia que usava o Castelo como sede de suas repulsivas reuniões. Essas acusações datam desde o início dos anos 80 e foram incrivelmente recorrentes ao longo dos últimos quarenta anos. As reuniões seriam frequentadas por homens influentes que levavam uma vida dupla, sendo perfeitamente ilibados no dia a dia, mas que à noite se entregavam ao que podia haver de pior na companhia de seus pares.
Os rumores sobre as práticas ocorridas no Chateau de Amerois ganharam corpo depois do escândalo envolvendo as revelações do Assassino em Série Marc Dutroux preso em 1995. Dutroux foi o protagonista de uma sequência de mortes que chocou a Bélgica e ficou conhecido como um dos casos mais sombrios da história moderna do país.
Dutroux foi preso após o sequestro, estupro e assassinato de crianças e adolescentes na Bélgica entre os anos de 1995 e 1996. Seus crimes foram praticados no porão de sua casa, com a anuência de sua própria esposa Michelle Martin que participou de algumas das mortes. A palavra hediondo não é capaz de descrever o teor desses crimes que envolviam tortura e sadismo.
Em seus depoimento à polícia após ser detido, Dutroux confessou que servia como traficante, cafetão e sequestrador para indivíduos que se encontravam regularmente no Castelo de Amerois. Estes o contrataram várias vezes com o intuito de suprir o grupo com um estoque contínuo de crianças capturadas em toda Bélgica. As crianças eram usadas em orgias e em rituais de cunho satânico segundo o próprio denunciante.
O testemunho de Marc Dutroux à cerca de suas atividades criminosas caiu como uma bomba no país e dada a gravidade das denúncias causou enorme repercussão. Muitos acreditavam que ele havia inventado as acusações, mas outros defendiam que muitas coisas que ele falava tinham um fundo de verdade. Jornais europeus descobriram que mesmo enquanto esteva preso Dutroux continuava a receber uma espécie de salário mensal transferido por uma fonte no Governo Belga, via offshore. Ele também tinha várias contas bancárias e imóveis em seu nome, compondo um patrimônio muito superior ao que um simples eletricista deveria possuir. A fonte de sua riqueza provinha, segundo o próprio criminoso de suas conexões com os homens do Castelo de Amerois para quem ele realizava "todo tipo de serviço".
No curso de seu julgamento, Marc Dutroux sugeriu que caso revelasse tudo o que sabia e o nome de alguns envolvidos, todo governo seria abalado e poderia eventualmente não resistir ao escândalo e ruir. Psiquiatras chamados para avaliar a sanidade do criminoso se dividiram sobre sua capacidade, alguns alegando que ele não era mentalmente capaz e que tinha propensão a mentir de maneira compulsiva. O caso causou uma repercussão tão grande na Bélgica que em 1996 cerca de 300 mil pessoas se reuniram nas ruas e praças de Bruxelas para protestar e exigir que o governo investigasse as alegações do réu, indo até as últimas consequências e prendendo os envolvidos.
No fim, Dutroux não revelou o nome de nenhum de seus supostos conspiradores e foi condenado a Prisão Perpétua em Nivelles no sul de Bruxelas. Ele foi totalmente isolado e permanece preso em uma ala de segurança máxima dedicada apenas a ele. O assassino foi jurado de morte por inúmeras pessoas. É pouco provável que ele possa vir a deixar a prisão e ganhar liberdade algum dia. Ele tem atualmente 72 anos e uma saúde bastante frágil.
Em 2009 o Wikileaks vazou um extenso dossiê à respeito da investigação secreta conduzida pela polícia à respeito das denúncias feitas por Marc Dutroux. As autoridades belgas tentaram proibir a publicação do dossiê que continha o nome de centenas de pessoas que foram investigadas após seus nomes serem citados pelo criminoso. Entre estes estavam Willy Claes, secretário-geral da OTAN, Paul Vanden Boeynants, ex-primeiro ministro da Bélgica e o Príncipe Alexandre de Saxe-Coburg-Gotha todos eles alegadamente eram participantes das reuniões e orgias que ocorriam no Castelo de Amerois e outros lugares utilizados pelo Círculo pedófilo
Investigações independentes concluíram que o caso inteiro foi conduzido de maneira leniente com o objetivo de livrar os suspeitos. Pistas não foram examinadas e provas periciais se perderam ou jamais foram analisadas corretamente. A própria idoneidade da corte de justiça foi colocada em dúvida já que Promotores e Juízes foram citados entre os envolvidos com o grupo. A teia de perversidade e corrupção parecia não ter fim, contaminando tudo e todos. Mesmo que nem todos tivessem envolvimento direto com as práticas pérfidas supostamente realizadas pelo Círculo, muitos agiam acobertando ou desviando o foco das investigações em benefício destes. Além disso, a BBC teria apurado que mais de 20 testemunhas ouvidas no correr da investigação morreram de maneira suspeita nos anos seguintes.
As conclusões finais apontavam para uma provável conspiração, mas nenhum entre as centenas de indivíduos citados no dossiê chegou a ser processado formalmente. Para muitos observadores internacionais, o governo belga exerceu pressão ilegal e protegeu os envolvidos garantindo a segurança dos suspeitos. Segundo uma pesquisa realizada e 2020, 85% da população da Bélgica acredita ter havido intromissão do Estado no Caso Dutroux.
Atualmente o Castelo de Amerois continua despertando muitos questionamentos e atraindo um sem número de rumores que não podem ser confirmados. Para muitos ele continua servindo como uma espécie de sede profana para reuniões criminosas, rituais obscenos e toda sorte de perversão inominável. Para outros ele é apenas uma lenda urbana fomentada por narrativas contraditórias e sem fundamento.
Não há como dizer ao certo qual é a verdade e provavelmente nunca saberemos ao certo.
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