Muitas das suas tradições dizem respeito a espíritos presos em objetos inanimados, além de uma notável coleção de entidades que coexistem no mundo espiritual e no físico. Uma das mais estranhas criaturas a figurar no folclore da Indonésia, em especial na Ilha de Java, é uma pequena entidade, um ser do tamanho de um boneco comumente chamado de Jenglot.
A descrição desses seres varia enormemente e dependendo para quem se pergunta, podem surgir diferentes interpretações de como eles são. Contudo, algumas características se mantém:
Um Jenglot é um ser pequeno, do tamanho de um bebê ou um pouco menor, nas dimensões de uma boneca. Com não mais do que um metro de altura, ele consegue se manter ereto e caminhar, ainda que de forma vacilante como se fosse uma criança aprendendo a andar. Por vezes, eles simplesmente rastejam ou engatinham, como se fossem bebês humanos. De longe ou no escuro, eles podem ser facilmente confundidos com bebês, e usam essa semelhança para sua vantagem.
Contudo, observando de perto, as semelhanças com recém-nascidos desaparecem rapidamente a medida que suas bizarras peculiaridades vão sendo percebidas. A pele do Jenglot é ressecada como se fosse couro curtido, escurecida e esticada sobre os ossos. Os membros são deformados, com braços compridos e dedos alongados, pernas muito curtas, pés pequenos e uma cabeça desproporcionalmente grande. Seu crânio é mole como a cabeça de um recém-nascido mas com estranhos cistos ósseos crescendo como uma crista que se estende até a nuca. A face é medonha, com feições humanas grosseiras onde se destacam olhos grandes e sem pálpebras, uma boca larga dotada de presas pontudas que crescem medonhamente e duas fossas escuras onde deveria haver um nariz. As orelhas são grandes e deformadas, na forma de couve-flor e com pele flácida, se agitando como as de um elefante em miniatura.
O corpo é extremamente emaciado como se fosse uma múmia viva. Do umbigo da criatura, desce uma massa de tecido pálido; o cordão umbilical de onde pinga sangue. Este se move de um lado para o outro, balançando como um pêndulo.
A despeito de outras lendas, o folclore a respeito do Jenglot se mostra bastante recente, originado entre os anos 1970 e 1990.
Há duas versões para a origem dessas estranhas entidades nenhuma delas particularmente agradável.
Na primeira eles seriam mortos vivos animados por feitiçaria invocada por xamãs que conjuram espíritos e seguem a disciplina de Ilmu Bethara Karang (um ramo de feitiçaria que busca a vida eterna). Para criar o Junglot, o xamã precisa construir um simulacro confeccionado com o cadáver de um bebê assassinado por ele próprio antes de respirar. Segundo o medonho ritual, o xamã deve capturar uma mulher grávida que esteja pelo menos no oitavo mês de gestação e prepará-la. Tal "preparação" envolve pendurar a vítima pelos pés e talhar símbolos cabalísticos em suas pele, numa espécie de contrato entre ela e o mundo espiritual. A garganta da mãe é então cortada e seu sangue recolhido numa cabaça de barro chamada Vipiluia. No final do ritual, o xamã remove do ventre da mulher o bebê que é enforcado com seu próprio cordão umbilical. O corpo é então lavado com o sangue estocado na Vipiluia e enterrado no solo, dentro de uma caixa preta de papelão.
Segundo a tradição, o xamã pode magicamente invocar um espírito para habitar o interior do cadáver que então ressurge como um Jenglot. Um mesmo xamã pode manter vários Jenglot ao mesmo tempo e até migrar seu próprio espírito para uma dessas criaturas atingindo dessa forma uma espécie de vida eterna - ainda que habitando o cadáver de um bebê morto vivo.
A segunda versão sobre a origem do Jenglot é menos sangrenta, mas igualmente aterrorizante e profana.
Nela, o xamã prepara um boneco de vime, couro, palha e outros materiais como cabelo, dentes e pele. O boneco é enterrado na mesma cova onde uma criança que não viveu mais do que algumas horas foi sepultada. O feiticeiro deve retornar ao local toda noite e recitar uma série de palavras mágicas além de verter seu próprio sangue que é bebido pelo solo. Dessa forma, o boneco e o bebê irão se fundir em um só ser: o Junglot.
O xamã usa então um segundo ritual para prender um espírito dentro dessa abominação. Uma vez animado, o Jenglot será "regurgitado da terra" irrompendo na superfície já como uma criatura à serviço do feiticeiro que a criou.
A Lenda do Jenglot é bastante popular em algumas partes da Indonésia, onde a população tende a levar sua existência muito a sério. Feiticeiros que controlam um ou mais Jenglot são considerados muito poderosos e portanto temidos como necromantes.
Um respeitado folclorista muçulmano chamado Muhammad Syakir Muhammad Azmi escreveu a respeito do Jenglot:
"Um Jenglot precisa ser animado através da invocação de um espírito, do contrário não passa de uma casca vazia e ressecada. Apenas quando magia negra é empregada, a entidade passa a ter poderes e fica à serviço de seu criador podendo ser usado como protetor, mensageiro e como uma espécie de familiar".
Uma vez animado, o Jenglot se torna escravo da vontade do feiticeiro. O folclore local atesta que eles vivem em florestas fechadas, no interior de cavernas ou troncos ocos de árvores. Para sobreviver precisam de sangue fresco. Se o xamã quiser manter a criatura sob seu comando, deverá pingar algumas gotas de seu sangue na boca do Jenglot ao menos uma vez por mês. Se não for alimentado corretamente, a criatura pode sair do controle e enlouquecer atacando quem quer que ela encontre pela frente, inclusive seu criador.
A população muçulmana da Indonésia - atualmente maioria, vê os Jenglot como abominações, entidades repulsivas que devem ser evitadas e destruídas, assim como os xamãs responsáveis pela sua criação.
Tudo isso pode soar como mera superstição e folclore, mas tal coisa não impede que Jenglots sejam encontrados à venda em mercados e bazares da Indonésia. Mesmo na Capital, Jacarta, é possível achar comerciantes operando um mercado negro especializado na negociação de Bonecos Jenglot que supostamente podem ser trazidos à vida por quem conhecer os devidos rituais.
Esses bonecos em geral tem uma aparência bizarra e são confeccionados com cabelo, dentes, pele e outros componentes orgânicos. Não raramente alguns são criados a partir do cadáver de bebês exumados para dar maior fidelidade e autenticidade. Eles são acondicionados em caixas pretas e negociados com colecionadores, caçadores de curiosidades e turistas em busca de objetos exóticos e misteriosos, existe, afinal de contas, gosto para tudo.
Por vezes, um Jenglot pode ser negociado por quantias elevadas, atingindo até 20 mil rúpias caso ele tenha sido confeccionado por um xamã de renome ou acompanhe uma descrição do ritual para animá-lo. A venda de tais objetos é proibida e combatida pelas leis da Indonésia que impõe severas penas para quem negocia esses itens. A despeito disso, eles continuam sendo negociados.
Espécimes adquiridos por museus, devidamente contrabandeados e posteriormente estudados fora do país provaram terem sido confeccionados com cabelo, dentes e pele de origem humana, mas felizmente, as peças raramente são produzidas a partir de bebês. Tratados com o nome de "gaffes", as peças falsificadas são criadas com partes de macaco, esquilo, porco e vários outros animais habilmente disfarçados.
Sejam falsificados ou autênticos, espécimes de Jenglot se tornaram bastante populares entre colecionadores de objetos sobrenaturais. Os crentes acreditam que tais bonecos, mesmo quando não animados possuem poderes já que foram criados por indivíduos envolvidos com magia negra. Não faltam histórias a respeito de bonecos que desaparecem e surgem em lugares improváveis longe de onde estavam guardados ou cuja caixa aparece estranhamente rompida e rasgada.
Considerando que não faltam histórias macabras a respeito de bonecos assombrados mundo a fora, não é difícil entender o temor de muitas pessoas diante dessas peças, sobretudo quando elas são perfeitamente autênticas. Seria essa apenas uma lenda urbana de um lugar repleto de mitos estranhos ou haveria um fundo de verdade? É difícil dizer...
E quanto a você? Teria coragem de levar uma dessas bonecas para casa e colocar em cima de sua prateleira como uma action figure?
Eu sei que, eu pelo menos, não teria...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNão levaria para casa de jeito nenhum! Que fique enterrado na Indonésia.
ResponderExcluirEntretanto, é um ótimo mote para uma aventura de Call of Cthulhu ou Rastros de Cthulhu. Imagina um feiticeiro atrás de seu jenglot que está de posse de um antiquário?
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Minha curiosidade morbida me levaria a querer uma réplica em minha casa como souvenir, mas um autentico? Seria demais até pro meu mau gosto
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