sábado, 25 de julho de 2020

Monstro de Aço - O projeto do maior tanque de guerra da história


Pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha nazista investiu recursos para a criação de armas modernas diferentes de tudo que existia ou havia sido visto até então. Era a Wunderwaffen (literalmente Armas Maravilhosas) que permitiu a cientistas, projetistas e engenheiros trazer para o mundo real ideias inovadoras, estranhas ou simplesmente inacreditáveis, com o intuito de desenvolver armamento extremamente poderoso.

Os alemães sempre tiveram interesse em construir armas de grande porte. Durante a Grande Guerra o país construiu enormes canhões capazes de disparar projéteis explosivos a incríveis distâncias. Os generais colocavam tanta confiança nessas armas que acreditavam piamente que nelas repousava o segredo para a vitória sobre seus inimigos.

Quando a segunda guerra se tornou praticamente certa e a indústria bélica alemã foi voltada para a expansão do exército. Os nazistas estavam certos de que a guerra mudaria bastante e que o tanque - que teve um papel discreto no conflito anterior, desempenharia um papel crucial nas estratégias de combate modernas. Avanço de tropas, conquistas e transposição de territórios seriam feitas por essas máquinas potentes e elas seriam essenciais na Blitzkrieg (a guerra relâmpago).


Sabendo disso, Hitler deu sinal verde para que os projetistas alemães trabalhassem na mais poderosa (e menos prática), arma do período: o Landkreuzer P. 1000 Ratte.

Pense em um veículo militar grande, poderoso e devastador. Agora multiplique isso por 1000. O Landkreuzer P. 1000 Ratte, seria o maior, mais pesado e mais bem armado tanque de guerra jamais criado. Pesando inacreditáveis mil toneladas, cinco vezes mais do que o mais pesado tanque fabricado no período, ele media nada menos do que 35 metros de comprimento. Não por acaso, ele parecia mais uma locomotiva de trem armado do que um tanque.

E de fato, tudo no projeto era megalomaníaco.

O tanque contaria com dois massivos canhões idênticos aos usados em navios de guerra, montados em uma torre móvel no topo. Estes iriam disparar projéteis de 280 milímetros com alcance efetivo de até 30 quilômetros. Uma munição destas era tão poderosa que poderia penetrar paredes, destruir prédios e com tempo suficiente reduzir cidades inteiras à escombros. Mas estas não seriam as únicas armas do tanque monstruoso que contaria com oito torres de metralhadoras Flak e quatro canhões antiaéreos, além de um canhão traseiro de 128 mm.


A proposta é que ele fosse uma verdadeira fortaleza inexpugnável móvel, por isso seu sugestivo nome que significava "cruzador de terra". Para ser operado, seria necessária uma tripulação de pelo menos 40 homens entre pilotos, engenheiros, mecânicos, artilheiros e operadores. Além disso, o veículo poderia transportar até 20 homens, um centro médico e contaria com uma equipe de reconhecimento motorizado formado por 6 motociclistas.   

Para mover esse colosso recoberto com 300 toneladas de couraça, distribuídos em camadas de 10 polegadas de aço, seria necessário um motor incrivelmente poderoso. Ele teria três lagartas de aço de cada lado, alimentadas por oito motores Daimler-Benz MB501 de 20 cilindros. A mobilidade dele seria obviamente reduzida, mas os motores à diesel poderiam atingir velocidade máxima de até 40 quilômetros por hora. 

O Landkreuzer foi desenhado por Edward Grotte, diretor da companhia de armamentos e munições  Krupp que abastecia a máquina de guerra nazista. A Krupp era responsável por diversos outros projetos de tanques, conhecida por ter desenvolvido o famoso Tiger usado pelos nazistas ao longo de toda guerra e que era a última palavra em tecnologia de veículos de combate.

O Landkreuzer P. 1000 Ratte comparado a um Panzer VIII Maus.
Além do projeto do Landkreuzer, Grotte propôs vários outros modelos de armas absurdas como o Kugelpanzer que teria um canhão de 800 mm idêntico ao lendário Gustav e o imenso avião de transporte pesado Messerschmitt Me 323.

Como muitas das armas milagrosas, o Landkreuzer se provou inviável na prática. Seu imenso peso significava que ele não poderia ser transportado sobre pontes ou estradas, uma vez que ele destruiria todas elas. Além disso, para ser carregado ao front ele teria de ser transportado por linhas férreas, sendo que os túneis representavam um enorme obstáculo para seu deslocamento. Os engenheiros tentaram contornar esse problema tornando parte dele desmontável, mas ainda assim, o trabalho de conectar as peças era longo e exigia uma equipe de mecânicos gabaritados.

O outro problema é que ele seria um alvo fácil para os aviões inimigos. Uma arma tão grande e lenta não conseguiria se desviar para escapar de bombardeios. E apesar de sua armadura, nem mesmo o Landkreuzer sobreviveria a um ataque maciço.   

A despeito de todos os seus problemas e de ter sido considerado pouco prático, o projeto contava com defensores ferrenhos, sendo que Adolf Hitler era seu principal promotor. Hitler contemplava a noção de que o tanque não seria apenas uma arma superior no campo de batalha, mas que seu uso serviria para aumentar o moral das tropas, assim como o canhão Gustav fazia na Grande Guerra.


O General Heinz Guderian, um dos líderes do Terceiro Reich e comandante de divisões motorizadas, escreveu que "A fantasia de Hitler o levou para o reino do gigantismo". 

Ele escreveu ainda que "Os engenheiros Grotte e Hacker foram contratados para desenhar um verdadeiro monstro."

É claro que o Landkreuzer, apesar de ser o projeto de estimação do Fuhrer, jamais passou de um sonho bélico. Os próprios responsáveis pelo projeto concluíram que um tanque dessas dimensões não seria útil no modelo de guerra adotado pelas tropas, que contemplava ataques e avanços rápidos. O Landkreuzer poderia ser muito mais eficiente em um cenário semelhante ao da Grande Guerra em que as fronteiras de combate eram bem demarcadas se mantendo estagnadas por meses à fio e onde a aeronáutica ainda não era usada plenamente.

Além disso, Albert Speer, o Ministro de Armamentos e Desenvolvimento de Produção, demonstrou que a construção de tal veículo acabaria consumindo enormes recursos que poderiam ser melhor aproveitados se direcionados para a produção em série dos modelos Tiger. Os comandantes das divisões motorizadas também requisitavam unidades com maior capacidade de deslocamento e que pudessem ser entregues rapidamente. O Landkreuzer portanto ia no sentido inverso ao desejado. Ainda assim, Hitler manteve a opção de retomar o projeto caso o teatro de guerra se estagnasse e permitisse a criação de um veículo móvel que carregasse um canhão de longo alcance.


Em 1941, quando os aliados já davam sinais de que acabariam virando o curso da guerra, o projeto foi abandonado de vez. 

Apesar de toda megalomania, o Landkreuzer se tornou um projeto revisitado por engenheiros no pós-guerra que estudaram os esquemas e concluíram que ainda que fosse absurdo, a arma poderia ter sido fabricada e empregada. Ao contrário de muitas armas bizarras idealizadas pela "Wunderwaffen", o Landkreuzer era viável.

Só podemos imaginar como teria sido se esse monstro de aço tivesse sido realmente construído.

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Para quem achou interessante, indico os seguintes artigos aqui no blog:

WUNDERWAFFEN - As "armas maravilhosas" dos nazistas



5 comentários:

  1. Maior não quer dizer, necessariamente, melhor.

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  2. Texto muito interessante e informativo . É sempre um prazer ler textos sobre a Segunda Guerra Mundial .

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. http://mundotentacular.blogspot.com/2020/02/horror-cromatico-anatomia-completa-da.html?m=0

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