quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Bokrug - O Grande Lagarto, Deus da Vingança e Reparação

Conhecido na Terra dos Sonhos como o "Senhor da Vingança", o "Reparador das Afrontas" e "Causador da Calamidade", Bokrug é uma divindade obscura até para os padrões do Mythos de Cthulhu.

Raramente citado nos tomos de conhecimento esotérico, a entidade ganhou fama pelos seus feitos quase sempre envolvendo alguma destruição, catástrofe ou cataclismos que atinge alguma civilização conduzindo esta à inevitável decadência. Os poucos textos que se referem a ele, mencionam povos do passado que foram riscados da existência e levados à derrocada por terem de alguma forma desagradado a esse Deus Irascível. Bokrug parece se envolver diretamente nas vinganças, acatando os pedidos de povos injustiçados ou vítimas de atos terríveis. Por outro lado, é possível que Bokrug simplesmente atenda as súplicas daqueles que lhe rendem homenagens, sem se importar realmente com suas motivações.

O Deus é famoso pela sua intervenção junto aos Thuum-Ha, os seres anfíbios da devastada Cidadela de Pedra Cinzenta de Ib, aniquilados pelos humanos de Sarnath. Após massacrar os Habitantes de Ib, seguidores fiéis de Bokrug, os guerreiros de Sarnath tomaram como troféu de sua vitória uma estatueta do Deus Réptil que foi levada ao Templo para dessacralização. A afronta de alguma forma parece ter sido registrada por Bokrug que se vingou imediatamente do sumo-sacerdote Taran-Ish. Este foi morto dentro do próprio templo enquanto a estatueta desapareceu sem deixar vestígios. Taran-Ish provavelmente recebeu algum tipo de visão profética na qual testemunhou a derrocada de Sarnath mil anos no futuro, portento que o enlouqueceu e custou sua vida. Antes de morrer, ele deixou no altar uma marca de "Maldição" na qual alertava que o fim de Sarnath havia sido decretado.

Cultos devotados a Bokrug são muitíssimo raros e ao que tudo indica ficaram na maioria das vezes confinados na Terra dos Sonhos. Após a Aniquilação de Sarnath, povos humanos de Mnar reconheceram o poder de Bokrug. Exploradores recolheram a estatueta que representava a divindade e a levaram até a Cidade de Ilarnek onde ele se tornou o Deus principal. O Templo em Ilarnek, originalmente dedicado a outros deuses, é o maior santuário do Deus Reptiliano. Visitado em datas festivas, ele recebe peregrinos vindos de todos os Reinos oníricos e visitantes do mundo desperto. Outro centro de culto parece ser a cidade pré-humana de Lh-Yib.


No Mundo Desperto, Bokrug jamais possuiu um culto organizado e dedicado aos seus interesses. Contudo, sabe-se de pequenas seitas quase sempre envolvidas com a exploração onírica que tomaram conhecimento de sua existência e elaboraram um tipo de doutrina religiosa. Esta quase sempre envolve o caráter vingativo de Bokrug, invocado como forma de trazer a aniquilação de inimigos e infiéis. 

Na antiga Suméria, surgiu a mais antiga seita dedicada a Bokrug, tendo como sede a Cidade de Nipur. A pequena facção, formada por feiticeiros, teria descoberto o Deus após visitar a Terra dos Sonhos e travar contato com os Seres de Ib, Sarnath e demais cidades de Mnar. Eles levaram esse conhecimento para a antiga Suméria e o copiaram em tábuas de argila. Posteriormente a seita foi desmantelada pelos acádios. Parte de seu conhecimento sobreviveu até os dias de hoje, tendo sido encontrado por arqueólogos que escavaram Nipur entre 1889-1900. Duas placas atualmente se encontram no Oriental Institute em Chicago. Outra placa contendo o feitiço "Portal de Oneiros" estava em poder do do Museu de Mosul, mas este foi saqueado em 2003 durante a Guerra do Iraque e o artefato desapareceu.

Outro Culto dedicado a Bokrug teria se formado entre os gregos no Período Arcaico, com sede em Helicarnassus e mais tarde na Ilha de Rhodes. Essa seita possivelmente também se valia de métodos para explorar as sendas oníricas e através dessas, tomaram conhecimento do Deus. O culto se manteve ativo até meados do século oitavo a.C quando perdeu adeptos em face do surgimento de outro culto onírico dedicado a Hypnos. Há boatos de que o lendário Colosso de Rodes destruído por um terremoto em 224 a.C, teria sido aniquilado por uma maldição lançada pelos membros remanescentes da Seita de Bokrug, teoria jamais comprovada.

O último culto mais ou menos organizado devotado a Bokrug de que se tem notícia, surgiu na Península da Manchúria durante a Expansão Guguryeo em meados do século VI d.C. Esse Império que teve como base a atual Coréia do Sul, conquistou boa parte da Manchúria chegando até a Mongólia. A Seita dedicada a Bokrug surgiu entre nobres e aristocratas e foi razoavelmente popular por algum tempo dando origem a mitos duradouros sobre o poder de lendários dragões marinhos. O Culto acabou desaparecendo após o período de guerra contra a Dinastia Sui da China.


O interesse do próprio Bokrug por cultos surgidos em seu nome parece ser nulo. Considerado como um dos Grandes Antigos, ele raramente responde a invocações, ainda que possa ser persuadido a se manifestar através de sacrifícios de sangue ou por ofertas de artefatos especialmente poderosos. Sua vinda é motivada por súplicas para que ele destrua ou aniquile algum oponente o que, por vezes, ele acaba cumprindo. Entretanto, Bokrug parece ter seu próprio tempo e suas próprias motivações, um pedido de vingança pode demorar anos, séculos até milênios para ser respondido, como ocorreu em Sarnath.

A descrição de Bokrug é outro ponto de controvérsia. 

Em algumas versões ele seria um ser reptiliano que se assemelha bastante a um iguana de coloração verde clara, ainda que muito maior, atingindo algo em torno de 5 metros de comprimento. Com escamas de textura metálica, olhos com um brilho amarelado e espinhas afiadas como lâminas, Bokrug surge na água, nadando com desenvoltura. Essa descrição, no entanto, é bem distante da fornecida por outras fontes, como os Cilindros de Kadatheron que conceituam Bokrug de forma bem distinta. Isso leva a crer que em algum momento, cultistas fizeram alguma confusão entre o verdadeiro Grande Antigo e uma raça de seres iguanídeos que veneram Bokrug tendo-o como sua Divindade. É possível ainda que alguns cultos tenham contatado membros dessa espécie acreditando serem eles o Destruidor de Sarnath.

A descrição de Bokrug fornecida pelos Cilindros de Kadatheron é bem mais imponente.


Nessa versão ele é uma criatura reptiliana, ainda que possuidora de características únicas, estranhas a essa classe de animais, o que denota o fato de sua origem não ser terrestre. Bokrug tem um corpo titânico e musculoso, uma criatura realmente gigantesca com mais de 25 metros de comprimento, da cabeça até a cauda. Sua grande cabeça parece ser fundida ao tronco, por sua vez equilibrado por quatro patas poderosas que sustentam sua massa corporal. Escamas verde-azuladas recobrem o corpo concedendo a ele uma blindagem eficiente contra a maioria dos ferimentos. Essas escamas são tão pesadas que tornam Bokrug lento em terra, fazendo com que ele prefira nadar ao invés de andar. Sua cauda afilada usada principalmente para auxiliar na natação, é igualmente musculosa com uma divisão em forma de tridente na extremidade. Uma crista espinhal corre pela sua coluna na forma de uma linha do dorso até a cauda. Essas protuberâncias ósseas são afiadas e responsáveis tanto por proteger o monstro quanto por provocar ferimentos em seus atacantes.

Poucas armas são capazes de atravessar a couraça escamosa e ferir o Grande Antigo. Lâminas e armas de ponta aguçada simplesmente resvalam na superfície coriácea sem provocar danos. Mesmo projéteis, exceto aqueles com enorme poder de penetração, falham em varar essa proteção natural. Explosivos de alto impacto parecem ser o que surte maior efeito, bem como eletricidade e fogo.

A enorme força e potência fazem de Bokrug um oponente formidável. Sua boca é larga e repleta de fileiras de presas afiadas que agarram e destrincham suas presas, movendo-se como uma serra. Sua mordida tende a ser mortal, embora muitas vezes a bocarra cavernosa da criatura seja capaz de engolir uma ou mais presas, empurrando-as direto para a goela num único movimento. Além da mordida, Bokrug investe com suas patas frontais ciente de sua massa de várias toneladas, tentando esmagar o que estiver em seu caminho.

Na área que corresponderia a parte inferior do pescoço, o monstro possui uma profusão de tentáculos que servem majoritariamente para agarrar e conduzir presas para dentro de sua bocarra. Esses apêndices cartilaginosos estão sempre se movendo, esticando e rescindindo como se fossem estruturas independentes. Mesmo quando perfeitamente imóvel, em repouso, os tentáculos se mantém ativos como se fossem dotados de um sensor que capta movimentos próximos. Bokrug é estritamente carnívoro, embora sua dieta raramente demande que ele busque presas para satisfazer seu apetite. Contudo, ele recebe de bom grado quaisquer sacrifícios oferecidos.


A maior parte do tempo, Bokrug passa imóvel, como uma imensa estátua de pedra ocupando uma caverna ou fissura no fundo do grande lago de Mnar na Terra dos Sonhos. Ele pode ser invocado a se manifestar temporariamente em outros lugares, mesmo na Terra Desperta, geralmente próximo de lagos e rios. A invocação depende de um ritual no qual uma estatueta talhada em pedra verde deve estar presente além de uma grande quantidade de sacrifícios. Nessas raras ocasiões, propiciadas apenas por  conjunções de estrelas e alinhamentos planetários favoráveis, ele surge para receber ofertas atiradas na água e ouvir o clamor de seus cultistas. Em geral, ele sequer aparece por inteiro, preferindo manter-se sob a água e lançar seus tentáculos para colher as oferendas. O fato de ignorar os apelos de cultistas faz com que o Deus seja pouco venerado, contudo, nas vezes em que se sente especialmente benevolente, ele atende os pedidos que lhe são feitos. 

Uma divindade vingativa, Bokrug é convocado para promover grande destruição. 

Os fiéis que invocam a entidade são agraciados por visões apocalípticas nas quais enxergam a devastação que está por vir e se regozijam com a certeza de terem sido atendidos. Curiosamente, a Vingança de Bokrug pode levar séculos para se cumprir, mas uma vez prometida se torna uma certeza indelével. Há boatos de que nos dias finais do Regime Baat no Iraque, um ritual teria sido realizado em honra de Bokrug para esmagar os inimigos do estado. Segundo rumores, visões proféticas atestam que a súplica por vingança foi ouvida e que é questão de tempo até uma catástrofe atingir os Estados Unidos com força.

Quando conjurada, a destruição promovida por Bokrug assume diferentes formas, podendo se manifestar através de terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, tempestades devastadoras e como no caso de Sarnath, enchente. Em comum, o fato de que todos os cataclismos se provam devastadores com um número elevado de vítimas fatais. Seguidores creditam a ele a ocorrência de enormes catástrofes registradas na história humana, reputando ao Deus Vingativo a erupção do Vesúvio que cobriu Pompeia (no ano 79), o devastador terremoto de Lisboa (em 1755) e mais recentemente o Terremoto do Haiti (em 2010). 


Uma controvérsia surgida nos últimos séculos, levanta a hipótese inquietante de que Bokrug não seria realmente um Grande Antigo, mas o avatar de uma entidade muito mais perigosa. Se essa suspeita é verdadeira não se sabe qual a identidade real do Deus da Vingança.

6 comentários:

  1. Ótimo post, parabéns. Uma coisa que enriqueceria os textos deste blog seria as citação das referências de outros textos/narrativas relacionados ao tema do post. Vlw

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  2. Cara que massa. Quem é que pega esses trechos e ampliam tanto?

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  3. Uma coisa mais séria e certa: Jamais invoque esse desconhecido mais perigosíssimo.

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  4. excelente. já ia perguntar se o a divindade que foi mencionada nos últimos artigos ia ter o seu próprio. visualmente é conceitualmente um dos GA(talvez) mais legais, embora não tanto quanto o grande C.

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  5. Muito interessante mesmo, eu acabei de ler "A Maldição de Sarnath" e vim correndo aqui para conhecer mais sobre esse ser.

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