quinta-feira, 17 de junho de 2021

"Era uma vez... o terror" - Contos de fadas obscuros e Apavorantes


"Era uma vez..."

Muitas histórias começam dessa maneira. São contos que tem o poder de transportar as crianças que ouvem para um mundo de fantasia e faz de conta.

Todos conhecemos o poder dos Contos de Fada, muitos crescemos com eles, ouvindo-os de nossos pais, avós, tios etc... O que muitas pessoas não sabem, ou descobrem apenas depois de se tornar adultos, é que grande parte das fábulas foram concebidas originalmente para transmitir uma forte mensagem moral. As histórias possuem um desfecho que ressalta a necessidade de um determinado comportamento como forma de evitar graves consequências.

Em Chapeuzinho Vermelho, a moral é não se desviar do caminho e não falar com estranhos. Em João e Maria é obedecer aos pais e não entrar na casa de uma pessoa desconhecida. Em Pinóquio, a mensagem é clara, ouvir a consciência e dizer a verdade, são virtudes que todas crianças precisam ter. Escutando os contos, as crianças assimilam o ensinamento contido neles e concluem que se tiverem uma conduta correta, não irão correr os mesmos perigos dos personagens.

Outro detalhe interessante é que as histórias, como conhecemos hoje, foram muito diluídas. Muitas delas envolviam doses generosas de crueldade, pouco adequadas ao público infantil. Para deixar claro o risco que as crianças poderiam correr se tivessem comportamento similar ao dos heróis das fábulas, estas aceitavam um pouco de tudo. Havia violência, perversidade, conotações sexuais e pasmem, até mesmo canibalismo.

Os famosos Irmãos Grimm, talvez sejam os autores mais conhecidos de contos de fada. Eles ganharam fama mundial através de sua adaptação de Chapeuzinho Vermelho, mas também foram autores de inúmeros outros contos de fada, alguns deles bastante obscuros.

Estes certamente dariam ótimos filmes de terror se adaptados para o cinema.

Aqui estão três histórias escritas pelos Irmãos Grimm em que elementos perversos e grotescos, se juntam, resultando em algo que faria crianças (e alguns adultos) perderem o sono.
     
A Noiva do Ladrão 
(Der Räuberbräutigam)


O que a história tem: Roubo, assassinato, canibalismo, desmembramento, mutilação e execução.

Essa é possivelmente uma das histórias mais perturbadoras escrita pelos Irmãos Grimm, inspirada em lendas e contos mais antigos, em especial o do diabólico Barba Azul. Ela faz parte da coleção que tem por título "Fábulas caseiras para crianças" escrita em 1812. 

Um humilde moleiro desejava casar a sua bela filha, e quando um pretendente rico aparece, ela é prometida a ele. A jovem não gostava do sujeito e toda vez que ele a visitava, a menina tinha uma sensação estranha de ameaça a medo. Certo dia, o pretendente convida a jovem a retribuir a visita em sua casa numa floresta escura e isolada. Depois de muito relutar à respeito, a menina acaba concordando. 

Como não sabia onde ficava a casa, o pretendente avisa que iria deixar um rastro de cinzas para que a moça pudesse encontrar o lugar. Ela decide ir mais cedo e enche seus bolsos com ervilhas e lentilhas, para marcar uma trilha até a casa.  

Quando chega ao local se depara com uma casa escura e silenciosa, onde havia um pássaro numa gaiola que lhe grita: "Volte, por onde veio. Não entre, ó jovem bonita. Dentro desta casa você não deve permanecer. É aqui que coisas perversas acontecem e você não há de querer ver". A menina entra assim mesmo, ignorando o aviso da ave (grande erro!). Lá dentro, uma mulher idosa, que cuidava da cozinha, percebe que há um estranho na casa e corre para avisá-la que as pessoas que moram lá são perigosas. 

A velha aceita esconder a menina atrás de um barril, justamente quando o bando de ladrões retorna ao covil rindo e discutindo uns com os outros ruidosamente. Eles trazem consigo uma outra jovem que foi raptada. De seu esconderijo, a filha do moleiro assiste os bandidos matarem e esquartejarem a menina, para preparar um jantar com seu corpo. Quando um dos ladrões corta um dedo para pegar o anel de ouro que havia nele, o dedo e anel caem no colo da moça escondida. A velha desencoraja os ladrões à procura-lo, porque "nem o dedo nem o anel poderiam fugir, e deveriam ser encontrados na manhã seguinte". Aterrorizada, a moça reconhece seu noivo, entre os ladrões que se deliciam ao devorar vorazmente a pobre vítima. A pobre moça, devorada pelos rufiões, foi capturada para que lhe roubassem o anel e posses, a serem usados no noivado e para pagar o dote da filha do moleiro.  

A velha decide servir aos ladrões um vinho forte e após a ceia eles acabam pegando no sono. As duas mulheres então escapam do covil para a floresta. O vento havia soprado as cinzas para longe, mas as ervilhas e lentilhas haviam brotado na trilha, indicando o caminho de volta. Dias mais tarde, chega o dia do casamento, os convidados estão reunidos e é tradição que se compartilhe histórias. O noivo, gentilmente pede à jovem para que ela também conte uma história. 

Ela então narra ter ido ao covil de ladrões onde viu coisas aterrorizantes. O homem ri e a interrompe constantemente dizendo: "Isso foi apenas um sonho, meu amor!" Quando termina a história, a moça diz que "não foi apenas um sonho", e para provar apresenta o dedo da vítima que os bandidos devoraram. O noivo ladrão e todo o seu bando são então desmascarados e capturados. 

O Pássaro de Fitcher
(Fitchers Vogel)

O que a história tem: Sequestro, assassinato e desmembramento

Parece claro que os Irmãos Grimm gostavam do tema "casamento com um noivo sinistro". A história parece ter sido adaptada de uma lenda norueguesa, com trechos sendo retirados de outros contos em especial o que envolve um objeto sujo de sangue revelando uma mentira e a ordem de não explorar o conteúdo de uma sala, sendo ignorada.

Um feiticeiro sequestra uma moça que se torna sua noiva. Ele a leva para uma casa que fica no coração de uma floresta. À princípio o bruxo a trata bem, dizendo que ela terá riquezas e fartura, e que será feliz em sua companhia desde que o obedeça.

Eventualmente, o homem diz que precisa viajar. Antes de partir deixa com sua prisioneira um molho de chaves para todos os aposentos da casa e um ovo que ela tem que tomar conta. Ele diz que ela pode explorar a propriedade, mas a proíbe de ir a um quarto em especial, dizendo que se ela entrar lá, será punida com todo rigor. A moça, uma vez sozinha, vaga pela casa vendo cada um dos quartos, mas é vencida pela curiosidade e decide investigar o lugar que lhe foi proibido. Abre a porta e encontra um aposento todo sujo de sangue - paredes, teto e chão. No centro desse aposento aterrorizante há uma pia onde corpos desmembrados boiam em seu próprio sangue. Chocada, a jovem deixa o ovo cair e este rola para dentro do aposento de pesadelos. Ela reluta, mas entra na sala para recuperar o ovo. Aliviada constata que ele não se quebrou e após pegá-lo, fecha a porta novamente.

O feiticeiro retorna no dia seguinte e pergunta se a jovem ficou bem. Ela disfarça e diz que está tudo bem. O bruxo pede que ela devolva-lhe o ovo de quem deveria ser guardiã e quando ele o examina percebe que a casca está suja de sangue. O feiticeiro conclui que a moça esteve na sala proibida e que deve pagar pela sua desobediência.

Uma segunda moça é então sequestrada pelo feiticeiro, justamente a irmã da anterior. Tudo transcorre da mesma maneira, o bruxo precisa viajar e deixa a jovem sozinha na casa com as mesmas instruções a respeito do ovo e do quarto proibido. A jovem, examina os cômodos e dominada pela curiosidade acaba indo até o cômodo que lhe foi vedado. Diferente da outra, ela deixa o ovo em um lugar seguro. Chocada ela encontra o quarto vermelho e os restos mutilados de sua irmã mais velha.

Retornando de sua viagem, o feiticeiro encontra o ovo inteiro e se alegra dizendo que irá desposar a moça, pois ela é de confiança. A jovem aceita casar, no entanto, sua única condição é que o bruxo dê à família um dote em ouro e a traga para as bodas. O homem concorda e se prepara para fazer a viagem e levar um cesto pesado com ouro até a família e escoltá-los até sua casa para o casamento.

Quando o feiticeiro parte, a moça usa mel para grudar penas em seu corpo, se disfarçando como um pássaro. Ela deixa a casa e rapidamente se dirige para onde vive sua família. No caminho, as pessoas que a encontram a chamam de "Pássaro de Fitcher", pois esse era o nome do bruxo. Eventualmente ela acaba encontrando o feiticeiro e os membros de sua família. Eles não a reconhecem, achando que ela é um pássaro mágico surgido do ovo que o feiticeiro protegia. Disfarçada, ela diz ao feiticeiro que sua noiva desapareceu e que não está em lugar nenhum. O homem se apressa para chegar à casa, acompanhado da família da jovem. Quando ele entra para procurar por ela (acreditando que ela encontrou o aposento vermelho), a moça revela aos seus parentes quem realmente é. Rapidamente ela conta sobre o horrendo destino de sua irmã e de outras moças mortas pelo feiticeiro. Os irmãos da jovem barram a porta e as janelas da casa, que à seguir é incendiada. O feiticeiro, incapaz de sair, morre queimado e a moça pode retornar para sua família.

A Árvore de Junípero
(Von dem Machandelboom)


O que a história tem: Assassinato, decapitação, desmembramento, canibalismo, abuso de menor

Essa história é outra que merecia um filme de horror, possivelmente dirigido por um Robbie Zombie da vida.

Um casal rico e sem filhos implora a Deus para que ele lhes dê uma criança. Certo inverno, sob uma árvore de Junípero, a esposa descasca uma maçã. Ela corta o dedo e algumas gotas de seu sangue caem na neve. Ela então faz um pedido de que sua criança seja tão branca quanto a neve e com lábios tão vermelhos quanto o sangue que a manchou. Pouco tempo depois, a mulher fica muito doente, desenganada, ela pede que o marido a enterre aos pés da árvore caso morra. Eventualmente ela recupera e acaba dando a luz mais tarde a um menino pálido e de lábios vermelhos. Sua felicidade é enorme, mas transitória, ela morre antes da criança completar um ano. Mantendo sua promessa, o marido a enterra perto da árvore.

Alguns anos mais tarde, o marido casa novamente. Ele e sua nova esposa tem uma menina chamada Marlinchen e são bastante felizes. A nova esposa ama a filha, mas despreza seu enteado, ela abusa dele dizendo que preferia que ele não existisse. Certo dia, a madrasta planeja atrair o menino para uma sala vazia com a promessa de lhe dar uma caixa cheio de maçãs. O menino vai até lá, se debruça sobre a grande caixa para olhar melhor as frutas. É quando a madrasta sai de seu esconderijo e violentamente baixa a tampa de mola, decapitando o garoto com um único golpe. (!!!)

Mas calma, piora...

Para que Marlinchen não conte nada do que aconteceu ao meio-irmão, a assassina coloca o cadáver sentado em uma cadeira, com a cabeça decapitada cuidadosamente equilibrada no alto do pescoço. O ferimento é escondido com um lenço. A madrasta engenhosamente deixa uma maça em cima da mesa diante do cadáver e quando Marlinchen chega em casa vê a mesa e o garoto. Ela pergunta se pode comer a maça e quando ele não diz nada, a menina considera como uma permissão. Como agradecimento, ela dá um beijo na bochecha do meio irmão. E é quando a cabeça cai e rola pelo chão.  

A mãe diz que a menina é a culpada pela morte, mas afirma que irá se livrar do corpo para que ela não seja punida. Enquanto a menina chora sem parar, a madrasta passa a tarde desmembrando o cadáver com um machado. Em seguida o coloca em um grande caldeirão onde prepara um cozido para o jantar.  Para não revelar seu terrível crime, ela conta ao marido que o enteado foi passar a noite na casa de um tio que vive muito longe. O marido não se importam, ele sente o cheiro do cozido e pede para ser servido. Depois de se refastelar, ele proclama que o jantar estava divino. 

Enquanto isso, Marlinchen recebe ordens de reunir os ossos e jogá-los para os cães, mas ela decide enterrá-los próximo da árvore de junípero. Meses depois, o menino é dado como desaparecido, mas uma névoa emerge do solo e se transforma em um belo pássaro. Ele canta para os vizinhos uma música bizarra: "Minha mãe me matou, meu pai me devorou, como sou triste". 

Cativados pelo lamento da ave um joalheiro, um sapateiro e um moleiro oferecem ao pássaro presentes: uma corrente de ouro, um par de sapatos vermelhos e uma pedra de moinho. O pássaro surge na casa onde ocorreu a tragédia, ele oferece ao pai a corrente de ouro e para Marlinchen os sapatos vermelhos. A madrasta ao ouvir o canto acusatório do pássaro fica sem ar e sai para respirar, nesse momento, o pássaro que estava carregando a pedra de moinho a solta e esta atinge a cabeça da mulher em cheio, matando-a instantaneamente. O pássaro então revela ser o espírito do menino que agora pode descansar. Ele canta uma última vez, o pai morre de tristeza e é enterrado por Marlinchen no mesmo lugar, aos pés da Árvore.   
  
Há versões em que o pássaro, depois de punir a madrasta retoma a forma de menino e vive feliz para sempre com o pai e a meia-irmã. Contudo, essa versão parece ter sido criada para tornar o final menos amargo. 

Mas há outras histórias igualmente apavorantes de outros autores. Fique conosco para conhecê-los.

4 comentários:

  1. Interessantíssimos esses Contos de Fada... A maneira como são deliciosamente sombrios.
    É igualmente intrigante que muitos dos contos atuais possuem, em sua origem, versões bem mais tenebrosas.

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  2. Eu ameeeeei. Pq ainda não fizeram filmes ou curtas desses contos?!

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