terça-feira, 2 de novembro de 2021

Mistérios Oceânicos - Quando restos de Monstros Marinhos surgem ao redor do mundo


O Santo Graal da Criptozoologia sempre foi encontrar evidências físicas reais e concretas de suas teorias. Provas incontestáveis de que criaturas estranhas, lendárias ou bizarras de fato existem e habitam o mundo em que vivemos. Com uma infinidade de lendas sobre monstros misteriosos supostamente rondando por aí, seria de se esperar que existisse algo além de relatos de testemunhas oculares e fotos borradas. 

Contudo, de tempos em tempos surgem casos em que evidências físicas vem à tona, criando uma dúvida razoável à respeito da veracidade de certas lendas. No que diz respeito aos supostos monstros que habitam mares e lagos, não faltam relatos de avistamentos e carcaças misteriosas lançadas no litoral que despertam um misto de surpresa, choque e empolgação. Seriam essas as tão cobiçadas provas de que tais seres de fato existem?  

Vejamos alguns exemplos de monstros marinhos inexplicáveis:  

Em 1883, um homem identificado apenas como "Sr. Hoad" estava passeando por uma região rural chamada Brungle Creek, na Nova Gales do Sul, Austrália, quando tropeçou em algo bizarro. A descoberta causaria enorme controvérsia e escreveria o incidente entre os mais peculiares casos da Criptozoologia moderna. De acordo com a narrativa, Hoad encontrou os restos de uma criatura estranha medindo cerca de 10 metros de comprimento, com uma cauda curva de lagosta e no lugar onde a cabeça deveria estar apenas o que parecia ser um sinuoso tentáculo vermelho-alaranjado. O animal, que estava obviamente morto, rescendia a peixe podre e estava sendo devorado por gaivotas. Supostamente ele havia sido varrido para a praia após uma forte tempestade em alto mar e uma sucessão de ondas violentas que provocaram uma imensa inundação. 

O lendário Bunyip australiano

Na época, os jornais afirmaram com enorme sensacionalismo que a carcaça pertencia a uma criatura do folclore australiano, um ser bizarro chamado Bunyip. O Bunyip é um monstro anfíbio feroz que segundo a tradição aborígene vive em charcos e pântanos do país, escondido à espera de uma presa que se aproxime do covil para ele atacar. Sendo um carnívoro, o Bunyip costuma caçar animais de pequeno e médio porte, mas as lendas afirmam que por vezes eles atacam também homens. Sua tática envolve arrastar a presa para o charco alagadiço e ali afogá-la. As lendas citam entre as características principais do Bunyip, seu grito aterrorizante, que os nativos afirmam ser capaz de paralisar as pessoas com um medo primitivo.

A notícia da misteriosa descoberta chegou até mesmo ao "Pai da Criptozoologia", o autor norte-americano Charles Fort que anos mais tarde escreveu à respeito da descoberta em seu livro Lo!

"Os restos de um animal estranho, que não parece ser nativo deste mundo foi encontrado na margem de um riacho na Austrália. Segundo o jornal Adelaide Observer de 15 de setembro de 1883 - o Sr. Hoad encontrou em uma margem do Riacho Brungle, o tronco sem cabeça de um animal imenso, com um apêndice que se curvava para dentro, como a cauda de um lagosta. O animal estava morto e não se assemelhava a nenhuma criatura nativa da exuberante natureza australiana".

Animais pré-históricos poderiam ser os monstros marinhos das lendas?

Para tornar as coisas ainda mais confusas há relatos de outro homem com o nome de Henry Wilkinson, que também se deparou com a "carcaça de um animal estranho", com uma aparência incomum e um "apêndice terminal que se enrolava para dentro, lembrando o rabo de uma colossal lagosta". A descoberta, feita quatro anos depois, em agosto de 1887, também ocorreu nas margens do Riacho Brungle. Esse monstro era menor, medindo pouco menos de dois metros de comprimento, mas tendo em comum várias características como a cauda de lagosta. 

A notícia recebeu enorme destaque, sobretudo porque a criatura supostamente ainda estava viva quando encontrada. Várias pessoas teriam visto o estranho animal, e conseguiram trazê-lo para o vilarejo afim de preservá-lo. Infelizmente a coisa não viveu tempo o bastante, à despeito de ter sido movida para uma cisterna. 

Batizado de "Monstro de Hoad", a carcaça foi posteriormente reclamada pelo Museu Marinho de Sydney para análises científicas, mas não há mais nenhum registro ou evidência física restante. É provável que o incidente não passe de um mero relato sensacionalista, contudo, vários moradores do vilarejo pesqueiro de Brungle juravam que a criatura de fato existia e foi vista por muitas pessoas. 

O Peixe Demônio da Ilha Suwarrow

Outro relato do século XIX vem da tripulação do navio britânico Emu, que aportou no atol do Pacífico Sul conhecido como Ilha Suwarrow para reparos em sua viagem à caminho de Sydney, Austrália. Enquanto estavam lá, os nativos contaram aos tripulantes sobre uma criatura grande e misteriosa que os aterrorizava. Um monstro imenso que eles chamavam de "Peixe Demônio". A coisa em questão tinha 18 metros de comprimento, era coberta por pelos castanhos e tinha cabeça de cavalo, com duas presas formidáveis ​​projetando-se de sua mandíbula inferior. 

Os marinheiros ficaram meses na ilha e tiveram a chance de acompanhar os nativos em uma caçada ao monstro que havia espantado a pesca e afundado uma canoa, matando seu tripulante. A caçada resultou em uma perigosa perseguição que terminou com o monstro abatido por arpões. Ele foi então amarrado e puxado para a praia afim de ser apreciado. Os marinheiros descreveram a criatura como um verdadeiro monstro desconhecido e retiraram dele o máximo de restos que puderam, incluindo o crânio da fera que foi colocado no compartimento de carga. Infelizmente o Emu afundou pouco tempo depois; os reparos aparentemente não foram muito bem feitos e o navio levou para as profundezas sua carga e os troféus que provavam a existência do Peixe Demônio. 

Há boatos que a tripulação do Emu teria identificado erroneamente uma baleia com bico, um cetáceo raro naqueles mares, mas não inteiramente desconhecido. Além disso, em alto mar, é difícil reconhecer exatamente o que se está vendo, sobretudo se for uma situação assustadora. O que a tripulação realmente encontrou na Ilha Suwarrow? Até hoje, ninguém sabe ao certo, mas é fato que o capitão do navio escreveu no diário da viagem à respeito da experiência, bem como vários marinheiros cuja narrativa parece consistente. 

Em 1930 outro relato sobre Monstro Marinho ganhou fama ao redor do mundo. Em novembro daquele ano, um baleeiro americano avistou um "animal ou réptil pré-histórico" na costa da remota Ilha Glaciar na costa do Alasca. A criatura foi descrita como tendo um corpo de cerca de 6 metros de comprimento, uma cauda de 5 metros e uma cabeça de 1,8 metros no final de um longo pescoço. Ela tinha uma boca com dentes pontiagudos e atitude feroz. Era um monstro, que alguns identificaram como um elasmossauro ou um contemporâneo extinto. 

O elasmossauro, animal pré-histórico tratado como legítimo monstro marinho.

A descoberta ganhou amplo destaque em publicações respeitosas como o New York Times e Washington Post. Uma recompensa considerável foi oferecida para qualquer um que trouxesse provas da existência da criatura. A proposta motivou um conhecido aventureiro chamado W.J. McDonald a organizar uma expedição para investigar as alegações sobre a criatura. A equipe, formada por marinheiros, exploradores e aventureiros, foi transportada até a Ilha Glaciar com o objetivo de explorar o ambiente e encontrar a criatura misteriosa. A expedição McDonald construiu um abrigo em terra e passou quatro meses na ilha, amargando enormes dificuldades, lidando com tempestades e frio congelante que vitimaram fatalmente dois de seus membros. 

Apesar dos percalços, a expedição retornou com um prêmio e disposta a reivindicar a recompensa oferecida. McDonald apresentou os restos do animal descrito nos seguintes termos: "Um ser marinho desconhecido, com corpo alongado, nadadeiras dorsais e espinha vertebral muito parecida com a dos dinossauros marinhos encontrados. Tinha ossos longos e um crânio maciço de configuração incomum". A expedição alegou que a carcaça da criatura havia sido achada em uma praia rochosa na Glaciar. O animal teria sido atirado para o litoral após uma forte tempestade em alto mar. Sendo impossível preservar a carne, a equipe recuperou os ossos e os entregou ao Museu Oceanográfico de Nova York. 

O exame dos restos, no entanto constatou que a maioria dos ossos pertenciam a diferentes baleias, enquanto que o crânio foi identificado como pertencente a um mamute lanoso. McDonald não recebeu sua recompensa e os ossos acabaram enviados ao Museu Nacional de História Natural em Washington DC, onde foram identificados como pertencentes a baleias da espécie minke e um mamute.

Passando para os anos da Segunda Guerra Mundial, temos alguns casos curiosos de monstros marinhos. Um deles gira em torno de um posto de vigilância japonês estacionado nas pitorescas Ilhas Kei, na Indonésia em 1944. Eles relataram ter encontrado estranhos homens das profundezas, criaturas conhecidas pelo folclore local, chamadas de Orank Ikan, literalmente "Homens Peixe".

Orank Ikan, o homem peixe das lendas

Eram descritos como tendo estatura média de 1,50, corpo esverdeado escamoso com mãos e pés espalmados. Suas cabeças grandes eram adornadas com espinhos proeminentes e os rostos tinham uma aparência um tanto parecida com a humana, ainda que a boca fosse alongada, com olhos grandes e arredondados. Como homens, andavam eretos, mas nadavam com maior desenvoltura, sendo perfeitamente adaptados a ambos ambientes. 

Os soldados japoneses perplexos encontraram esses estranhos habitantes das profundezas repetidas vezes durante o período em que ocuparam o arquipélago. Viram as criaturas em alto mar, nadando próximo das embarcações; na costa, chapinhando em piscinas naturais e ocasionalmente nas praias que eram patrulhadas. A população nativa das ilhas estava familiarizada com essas criaturas que eram avistadas desde os tempos de seus antepassados.

O primeiro Sargento Taro Horibe do Exército Imperial, foi chamado para inspecionar o cadáver de um destes "homens peixe" que havia sido abatido à tiros por sentinelas que protegiam uma praia no litoral sul. O sargento ficou sem palavras ao averiguar os restos mortais trazidos até ele pelos seus subalternos. Descreveu o ser como uma mistura de homem e peixe, algo que ele jamais havia visto em sua vida. Horibe ficou profundamente chocado com o que viu e despachou os restos para análise de biólogos de seu país. 

No final das contas, o sargento não obteve maiores informações sobre o caso. Após a Segunda Guerra, Horibe foi à público buscando saber quais as conclusões que os especialistas haviam chegado, mas não obteve respostas e sequer a confirmação de terem recebido os restos do Orang Ikan. Alguns acreditam que os estudiosos receberam ordens de manter a descoberta em segredo, pelo caráter perturbador das suas conclusões.

Os ossos de um plesitosauro 

Outro relato da Segunda Guerra Mundial nos leva às costas da Ilha Gourock, na Escócia, onde em 1942 um animal muito bizarro foi encontrado numa praia. Um oficial chamado Charles Rankin foi chamado ao local para medir e estudar a criatura, concluindo que não era nenhum animal conhecido por ele. A coisa tinha cerca de 9 metros de comprimento, com uma cauda larga, um pescoço longo terminando em uma cabeça pequena e achatada com arestas pronunciadas sobre os olhos que se estreitavam em uma ponta, além de uma boca grande cheia de dentes intimidadores. O animal tinha quatro nadadeiras e era coberto por cerdas parecidas com penas de 15 centímetros de comprimento, e Rankin teve a impressão geral de que sua natureza era reptiliana.

A criatura aparentava ter sido ferida pelo motor de algum barco de grande porte, o que é condizente com o grande movimento de embarcações naquela rota. Os restos estavam se decompondo, com a coluna vertebral exposta e o ar impregnado de um fedor rançoso, de modo que a carcaça precisou  ser descartada imediatamente. O local de descanso final dos restos é desconhecido. Para tornar este caso ainda mais frustrante, a área por ser classificada como de alta segurança em tempos de guerra, não permitia tirar fotografias.

Em 1950, ocorreu outro caso bastante estranho no Egito, onde em janeiro daquele ano, uma tempestade desancou sobre o Golfo de Suez, deixando, após sua passagem, uma enorme carcaça do tamanho de uma baleia na praia. Os restos em decomposição pareciam os de um cetáceo em muitos aspectos, incluindo sua forma geral e o orifício de sopro em sua cabeça, mas era anômalo em outros. Tinha por exemplo duas presas enormes saindo de sua boca, ao contrário de qualquer mamífero marinho conhecido. Além disso, não haviam olhos discerníveis e sim uma série de cílios circundando sua boca como apêndices.

Na época, os biólogos marinhos não conseguiram classificar o animal e sem técnicas forenses modernas, tudo o que realmente temos é uma única fotografia granulada em preto e branco. O que veio a ser conhecido como "Carcaça de Ataka" se tornou motivo de acirrado debate e discussão, com muitos sustentando que se tratava de um animal marinho desconhecido, enquanto céticos afirmam que era tão somente uma baleia putrefata. Os ossos da mandíbula teriam se destacado, criando a impressão de se tratarem de grandes presas. No entanto, essa não foi a conclusão a que os cientistas da época chegaram, e ela permanece ainda hoje sem solução.

A Carcaça de Ataka

Avançando para a década de 60, em março de 1969, uma enorme carcaça misteriosa foi encontrada em uma praia de Tecoluta, no México. A criatura era enorme, com peso estimado em 35 toneladas, forma de serpente, coberta com escamas rígidas e um chifre gigante de 3 metros de comprimento brotando de sua cabeça. Na época, ele foi descrito como sendo algo "desconhecido pela humanidade". Os cientistas chamados para examinar os restos não conseguiram chegar a uma conclusão sobre a sua origem. A criatura ficou algum tempo na praia como atração, após ser eliminada e seus ossos depositados no Museu da Marinha em Tecoluta. Nos últimos anos, especulou-se que era apenas um narval ou uma baleia finback em decomposição, mas não se sabe ao certo. 

No ano seguinte, em novembro de 1970, outra curiosa criatura apareceu na Praia de Mann Hill, em Massachusetts. Fosse o que fosse, foi descrito como sendo de fato muito estranho, com 6 metros de comprimento e parecido com "um camelo sem pernas", com pescoço longo, cabeça pequena e duas nadadeiras dianteiras proeminentes. Embora nos últimos anos tenha sido descartado como nada mais do que uma identificação incorreta de um tubarão-frade em decomposição. A Carcaça de Mann Hill tornou-se um caso bastante famoso entre os alegados monstros marinhos lançados em terra.

Na década de 1980, há o caso de um estranho animal que apareceu na costa da nação africana de Gâmbia. Em 12 de junho de 1983, o naturalista amador Owen Burnham estava dando um passeio à beira-mar em uma área de resort chamada Bungalow Beach quando se deparou com uma criatura de 4 metros de comprimento com pele acastanhada, barriga pálida, pescoço curto, uma enorme cabeça com 1,50 de comprimento, preenchida com 80 dentes cônicos afiados. Embora parecesse uma baleia, ele percebeu que o animal não tinha uma abertura respiratória, mas narinas proeminentes. A carcaça estava em condições quase intocadas, apresentando pouca decomposição, e o único dano era uma barbatana traseira rasgada. 

Os primeiros fósseis de sáurios marinhos foram tratados como monstros marinhos

Burnham sabia que era uma descoberta importante, mas infelizmente os moradores locais logo apareceram para cortar o corpo, vender a cabeça como souvenir e enterrar a carcaça na areia. Desde então, os criptozoologistas tentaram localizar o cadáver sem sucesso acreditando que era algo desconhecido. As opiniões sobre o que poderia ser a criatura variam de uma espécie não catalogada de baleia a um espécime pré-histórico, supostamente extinto, como um tipo de plesiossauro de pescoço curto, zeuglodonte ou ainda mosassauro. Provavelmente nunca saberemos com certeza já que todos indícios dele desapareceram.

Os mares do planeta ainda constituem um mistério quase insondável para nós. Estamos longe de compreender seus enigmas e entender o que eles escondem em sua totalidade. De um ponto de vista biológico, é perfeitamente razoável assumir que criaturas estranhas, muitas delas ainda não catalogadas pela ciência, habitem os abismos oceânicos. Talvez sejam elas que de tempos em tempos, se desgarram do seu habitat, para surgir, causando um misto de estranheza e fascínio nos seus descobridores. Quando encontrados surgem muitas perguntas e a suspeita de que chamar esse mundo de "nosso", pode não passar de uma grande presunção.

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