terça-feira, 13 de setembro de 2022

A Cabana Negra - A estranha história de um lugar marcado por sangue e morte


Perdida em um descampado poeirento no sudoeste do Condado de Cochise, Arizona, encontram-se os restos esquecidos de uma antiga cabana. Resta pouco para se ver, apenas fundações e paredes, mato sufocado por ervas daninhas e lembranças amargas. Essas ruínas decrépitas à primeira vista não parecem nada além de alguns resquícios de um passado esquecido, abandonado no deserto, algo pelo qual se poderia passar direto sem nem mesmo perceber a presença. No entanto, esta cabana tem um lugar na história do Arizona, um passado sombrio e assustador. É um lugar assombrado e maldito, muitas vezes referido como "a cabana mais sangrenta do Oeste", ou ainda "A Cabana Negra".

A história desse lugar começa com o imigrante alemão Frederick Brunckow, que veio para os Estados Unidos em 1850 para se juntar à Sonora Exploring and Mining Company. Ele planejava ir para o oeste e trabalhar em extração de minérios. Eventualmente, em 1858, deu início a uma operação de mineração chamada San Pedro Silver Mine no Arizona. Para auxiliar nos trabalhos, ele coordenou a construção de um pequeno acampamento e assentamento, junto com alguns trabalhadores mexicanos contratados, um químico chamado John Moss, seus primos James e William Davis, além de um cozinheiro alemão chamado David Bontrager. O lugar era rústico, mas servia como abrigo fornecendo proteção contra o clima, animais selvagens e tribos hostis. Fazia parte do assentamento uma modesta cabana de adobe, com um simples telhado de zinco e uma lareira que serviria como depósito de suprimentos. 

A princípio, tudo estava bem para eles, mas logo as coisas dariam uma guinada acentuada na direção do horror e da escuridão. E haveria muito sangue...


Em 23 de julho de 1860, William Davis partiu para a cidade com o objetivo de buscar farinha e outros suprimentos. Era uma viagem de três dias por um terreno selvagem, por isso ele levou um rifle para se proteger. Davis chegou em segurança na cidade, negociou os suprimentos com seu fornecedor e começou a retornar pela trilha. No dia 26 ele avistou o assentamento perto do entardecer. Ele sentiu que alguma coisa estava errada quando percebeu que a lareira da cabana estava apagada e a chaminé não cuspia fumaça. O lugar estava muito quieto. Quieto demais!

William amarrou as mulas, apanhou seu rifle e entrou no assentamento cautelosamente. Perto da cabana a visão que teve o deixou petrificado. O corpo de seu irmão, James estava caído no chão em uma poça de sangue. Sua cabeça havia sido estourada com um tiro de espingarda à queima roupa que espalhou seus miolos pelas paredes e teto. O lugar havia sido saqueado, portas e gavetas estavam abertas, objetos jogados no chão e tudo em completa desordem. 

Ele chamou pelos demais, mas ninguém respondeu. Davis sentiu um arrepio. O correto seria verificar os outros cômodos em busca de feridos, mas algo o impediu de adentrar na cabana em busca de sobreviventes. Mais tarde ele diria que sentiu algo desagradável, não como se o assassino estivesse no local, mas algo pior... uma presença que o fez sentir arrepios e que o obrigou a sair de lá o mais rápido possível. William Davis correu até a guarnição de soldados estacionados à cerca de 25 quilômetros dali. Os homens da cavalaria o acompanharam até o assentamento e quando estavam à caminho encontraram o corpo do químico, John Moss no deserto. Sua garganta havia sido cortada e ele andou por cerca de 200 metros antes de perder os sentidos e morrer.


Chegando no assentamento, os soldados se espalharam e começaram a buscar pelos arredores algum sinal do que havia acontecido. Não demorou a encontrarem, perto da entrada da cabana outro corpo, dessa vez pertencente a Brunckow. Ele estava enfiado em um poço de mineração, aparentemente assassinado com golpes de picareta. O cadáver estava tão mutilado que foi difícil conseguir uma identificação e esta só foi possível através de um sinal que ele tinha no braço. O corpo havia sido mergulhado de cabeça no buraco e as pernas pendiam de forma macabra para o lado de fora. 

Dos trabalhadores mexicanos não havia sinal. Também haviam sumido cerca de três mil dólares em mercadorias que foram levadas. Ninguém tinha ideia do que havia acontecido ao certo, mas a suspeita era de que os trabalhadores haviam roubado e matado seus patrões. Enquanto investigavam o local, o cozinheiro Bontrager surgiu. Ele contou que estava vagando pelo deserto e alegou ter escapado do massacre quando os trabalhadores mexicanos atacaram. Contou ainda que conseguiu fugir em disparada quando ouviu gritos de alerta. O cozinheiro ficou nos arredores, mas não viu o alegados assassinos, cinco empregados da fazenda e mais o capataz, um sujeito chamado Jaime, deixando o lugar do massacre.  

Os soldados decidiram enterrar os cadáveres ali mesmo e partir atrás dos assassinos quando raiasse o dia. A suspeita é que eles tentariam atravessar a fronteira e chegar ao México onde poderiam desaparecer facilmente. Conforme planejado o grupo de soldados, composto de sete homens e mais um oficial, além de Davis partiu da cabana nos primeiros raios de sol. Eles deixaram Bontrager e um dos soldados, um homem chamado Sam Knowles, para trás.


A cavalaria seguiu a trilha deixada pelos assassinos por cerca de um dia, mas antes de chegar na fronteira se depararam com um novo mistério sangrento. Encontraram um acampamento desfeito e marcas de luta com sinais inequívocos de violência. Buscando nos arredores descobriram três cadáveres brutalmente assassinados com golpes de porrete, faca e machadinhas. Davis reconheceu os três corpos como mexicanos que trabalhavam no assentamento, de Jaime e dos outros nem sinal.

A suspeita é que o bando tivesse se desentendido e que brigaram entre si. Esse tipo de coisa acontecia, e não era exatamente incomum, mas algumas coisas não se encaixavam no cenário geral. O produto do roubo havia sido deixado no acampamento. As mercadorias roubadas estavam em sacos e caixas espalhadas pela clareira e William reconheceu que não faltava nada. Talvez os homens tenham se desentendido sobre a chacina e os que prevaleceram partiram sem levar nada. Isso não explicava entretanto porque cantis, suprimentos e comida necessários para chegar à fronteira foram deixados. Mais estranho, os soldados buscaram por rastros que pudessem indicar para onde eles haviam seguido, mas não acharam nada. Era como se o restante do grupo tivesse desaparecido no ar.

Sem ter uma trilha a ser seguida, os soldados decidiram voltar para a cabana e lá traçar seus próximos planos. Mas o inesperado agiu novamente! Ao chegar na Cabana se depararam com mais um mistério que os deixou sem palavras. Bontrager e o soldado Knowles não estavam mais lá. Era como se tivessem evaporado no ar pois o cavalo continuava amarrado no mesmo lugar, a lareira estava acesa e uma caneca com café foi deixada sobre a mesa, dos homens, nenhum sinal. 


Por mais misterioso e violento que fosse tudo isso, as autoridades não podiam fazer muita coisa. Uma ordem de busca foi expedida contra o capataz e os mexicanos que haviam sumido, supostamente responsáveis pelo ocorrido. Também foi mandado um retrato do cozinheiro. O soldado foi tratado como desertor e seu nome enviado para todo território. Nenhum deles jamais foi encontrado e o paradeiro deles permanece como um inexplicável mistério. Contudo, esse não seria o fim das coisas inexplicáveis ocorrendo naquele lugar maldito.

Ao longo dos anos, outras histórias macabras ocorreriam na Cabana Negra como veremos na continuação desse artigo. 

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