sexta-feira, 16 de setembro de 2022

A Cabana Negra - O Horror da mais sangrenta das casas continua


Após os trágicos acontecimentos ocorridos na Cabana Negra, não é de se estranhar que o lugar tenha ficado deserto por algum tempo.

O fato de ser isolado e afastado de qualquer rota também fez com que ele caísse rapidamente em um estado de progressivo abandono. Havia rumores de que nativos americanos usavam o local, mas junto com esses rumores circulavam histórias de que as tribos locais consideravam as terras onde a cabana foi construída como amaldiçoadas. Mencionava-se que ali era um "território de caça" de espíritos, os Manitu, entidades que segundo os mitos nativos se apossavam de pessoas e as obrigavam a atos de violência para saciar seus desejos. Para alguns, isso explicava, ao menos em parte o que poderia ter motivado o massacre ocorrido na Cabana Negra.

Após a morte de Brunckow, a cabana seria adquirida por um homem chamado Milton B. Duffield. Este entraria para a história do Arizona por ser o primeiro Delegado nomeado para aquele território. Reformado da carreira militar, Duffield  arrendou a região em 1873 tencionando montar ali sua própria operação de mineração de prata. 

Havia a crença de que as montanhas próximas eram ricas em metais preciosos e que seria questão de tempo até alguém encontrar um veio que justificasse o investimento. Milton Duffield tinha esperança de ser esse alguém e tratou de negociar concessões para explorar a área em larga escala. Seu plano era usar o Assentamento Brunckow como sede para estabelecer sua operação, pois ali estaria próximo das montanhas e a meio caminho dos povoados. 

Mas as coisas não saíram como esperado. Infelizmente para Duffield, outro homem chamado James T. Holmes também afirmava ter comprado aquela propriedade e alegava ser dono do Assentamento Brunckow. Em ao menos três ocasiões, os ânimos tiveram de ser acalmados já que os dois lados diziam ser os legítimos donos daquelas terras e estava claro que nenhum deles cederia um centímetro daquilo que afirmavam ser seu por direito. 

Em 5 de junho de 1874, Duffield obteve documentos oficiais que apontavam seu direito sobre o Assentamento, embora Holmes tivesse se estabelecido lá algumas semanas antes. Acompanhado de alguns empregados e amigos, o delegado foi até lá reivindicar as terras. Todos sabiam que isso era uma temeridade já que Holmes tinha fama de ser briguento e de andar armado até os dentes. Chegando na cabana, o grupo foi avisado por um empregado que Holmes não estava na casa. Na verdade, ele estava escondido dentro da cabana ouvindo tudo o que era dito.

Depois de avisar que Holmes deveria sair, o grupo se preparava para retornar quando o homem saiu pelos fundos, contornou a cabana e os pegou de surpresa. Armado com uma espingarda 12 Holmes os emboscou disparando repetidas vezes enquanto gritava como um louco. Duffield foi o primeiro a cair morto alvejado na garganta, mais três pessoas de seu grupo foram feridas. Os demais montaram nos cavalos e fugiram às pressas. Uma vez tendo derrubado quatro homens, Holmes apanhou uma faca e degolou um por um em novo banho de sangue. Quando as autoridades chegaram, Holmes se entregou sem reagir e foi levado para a cadeia.

Mais tarde, em testemunho oficial ele disse não se recordar do que havia acontecido. Contou que não se recordava da visita de Duffield e do que havia acontecido. Disse no entanto que havia sido dominado por uma fúria que o cegou por completo. Tomado por esse ódio, ele investiu contra o desafeto e assassinou com frieza aqueles que estavam feridos. Na época circularam vários boatos, sendo que o mais fantástico mencionava que Holmes havia sido possuído por um espírito sanguinário que o compeliu a matar os invasores. O fato dele afirmar não se recordar do ocorrido e de dizer ter sido tomado por "um ódio incontrolável" parecem ter convencido muitas pessoas de que o crime foi incentivado de alguma forma por entidades sobrenaturais.

Holmes chegou a ser julgado e condenado por assassinato, mas nunca foi preso. Ele conseguiu escapar e se perdeu no mundo, supostamente migrando para o leste onde se estabeleceu sob nome falso.  Duffield foi enterrado diante da cabana e dizem que seu fantasma podia ser visto de tempos em tempos no mesmo lugar onde caiu alvejado por Holmes. Também se falava que sangue brotava do solo onde seus restos mortais foram sepultados.  

Mas a história da Cabana Negra não terminaria nessa tragédia.

Pelos idos de 1875, um tal Sidney DeLong reivindicou a propriedade na companhia de seus parceiros comerciais Tom Jeffords e Nick Rogers. O objetivo deles novamente era estabelecer uma operação de mineração no local. É claro, eles sabiam do passado da Cabana, mas não se importaram muito com os rumores sobre coisas horríveis acontecendo ali. O grupo não ficou muito tempo na propriedade, poucos meses depois de se estabelecer eles se viram cercados por guerreiros Apaches. Os nativos exigiam que eles deixassem a região que era nas palavras deles "um lugar maldito".

DeLong foi o único a deixar a cabana com vida. Seus dois colegas morreram no cerco indígena que durou quatro dias. Jeffords recebeu uma flechada que infeccionou e Rogers foi capturado pelos apache quando estes investiram contra a cabana na calada da noite. DeLong fugiu quase por milagre escapando dos apaches que o perseguiram pelo deserto. Dias depois, ele retornou à cabana na companhia de soldados, encontrando o lugar incendiado e os escalpos sangrentos de seus dois colegas pendurados numa cerca. Depois disso, DeLong desistiu de exercer a posse sobre a propriedade e migrou para a Califórnia.

Em 1877 foi a vez de Ed Schieffelin, um garimpeiro conhecido como o "Pai de Tombstone" se mudar para a propriedade junto com seu irmão, Al, e um colega garimpeiro chamado Richard Gird. Eles também partiram logo depois que perceberam que os Apache não os queriam lá. O grupo chegou a reconstruir a cabana e receber por algum tempo um Cowboy fora da lei chamado Frank Stillwell que estava em fuga depois de cometer roubos em Montana. Stillwell usou o lugar como esconderijo por algum tempo, mas quando descobriu estar sendo procurado pelo famoso Wyatt Earp fugiu para Tucson, no Colorado. Ele acabou morrendo em um tiroteio numa estação de trens.


Haveria inúmeras outras disputas e massacres nas proximidades da Cabana, incluindo um tiroteio em massa. Isso aconteceu em 1897, quando o local abandonado foi usado como esconderijo por uma quadrilha de ladrões de ouro liderados por um criminoso notório chamado Sam "Flip" Tewford. O  bando usou a cabana abandonada como seu covil por pelo menos meio ano. A quadrilha acabou discutindo entre si quanto a divisão de um roubo e o bate boca descambou para violência. Quando armas foram sacadas e tiros trocados, haviam sete mortos no local. Eles acabaram sendo enterrados nos fundos da Cabana Negra. Anos mais tarde, Tewford, um dos sobreviventes do tiroteio contou uma história assustadora sobre a Cabana. Disse que os homens que lá dormiam sonhavam com massacre, assassinatos e vingança. Em certa ocasião um homem despertou de um pesadelo tão transtornado que esfaqueou outro repetidas vezes.

Na virada do século XX, a Cabana Negra já havia conquistado grande fama como lugar assombrado.

Segundo alguns, dentro dela ou próximo a ela haviam ocorrido pelo menos 22 assassinatos, conforme comprovavam algumas sepulturas espalhadas nos arredores. Até mesmo as lápides de algumas pessoas desconhecidas, que ninguém sabe ao certo quem eram ou como morreram, também jaziam cravadas na terra seca e esquecida. Os garimpeiros e mineradores das redondezas passaram a evitar a cabana maldita, tal qual evitariam a peste, mas muitos afirmavam que vultos ainda podiam ser avistados ali. 

De fato, a Cabana Negra viria a ser conhecida como um lugar intensamente assombrado, cheio de espíritos inquietos. Falava-se de figuras sombrias, aparições e o som de pás e picaretas cavando constantemente. Alguns sentiam uma sensação indescritível de pesar e depressão ao visitar a Cabana, mas outros falavam de uma raiva que era realçada pelo ambiente insalubre. Havia rumores de que a cabana abandonada e cada vez mais deteriorada seria realmente maldita. Em algum momento da década de 1930 a cabana foi incendiada, não se sabe, se por acidente ou de forma proposital. O teto desabou e o celeiro de madeira pegou fogo, as paredes de adobe no entanto, lambidas pelas chamas, aguentaram. 


Ainda hoje ela está lá, desafiadora na paisagem árida do deserto. Resta pouco para se ver, exceto algumas fundações e paredes de pedra em ruínas, mas ela ainda mantém sua reputação assustadora. Há uma sensação inquietante e um desconforto inexplicável no ar, a sensação de estar sendo observado e de ameaça flagrante. Alguns sensitivos que visitaram as ruínas disseram sentir uma aura negativa tão densa que alguns desmaiaram ou tiveram graves reações emocionais. Medo, dor e horror parecem flutuar no ar como uma miasma invisível que sufoca tudo e todos.  

O Assentamento Brunckow atualmente faz parte da área da Reserva de San Pedro e é protegido pelo Gabinete de Proteção Territorial. Ele é certamente um lugar estranho com uma história violenta impregnada de raiva e derramamento de sangue. Por que há tantas mortes associadas a este lugar? Será que os fantasmas vagam à sombra do que restou da Cabana? E finalmente, que forças sobrenaturais seriam essas que incidem sobre os homens e os obrigam a cometer homicídios? 

Seja lá qual for a verdade por traz da Cabana Negra sua lenda está fadada a continuar por um bom tempo antes de desaparecer para sempre.

3 comentários:

  1. Ótima matéria. Notei que não tem quase nenhuma história que acontece aqui no Brasil. Poderia colocar mais matérias daqui?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Opa Daniel, as histórias aparecem. Quando tem uma brasileira e é boa, sempre escrevo a respeito.

      Excluir
  2. Mais umaexcelente texto,completo claro e bom de ler.

    ResponderExcluir