Os Ctônicos são uma raça de escavadores subterrâneos que habita as profundezas de nosso planeta. Eles raramente vem à superfície, preferindo vagar pelos estratos inferiores muitos quilômetros abaixo de nossas cidades insuspeitas. Contudo pode ocorrer destas criaturas irromperem para a superfície, e quando o fazem, isso envolve algum objetivo obscuro.
Sabe-se que a cidade abandonada de G'Harne no Norte da África é um dos poucos lugares onde estes seres se reúnem convergindo em grande número. Pouco mais do que ruínas fustigadas pelo sol, G'Harne inegavelmente desempenha papel preponderante nos mitos dessa raça ancestral. Uma das teorias mais controversas à respeito dessas reuniões envolve o enigmático Shudde M'ell, a grandiosa divindade venerada pelos Ctônicos, uma entidade misteriosa e amplamente temida. Para alguns, G'Harne é o covil do Deus e seria para louvá-lo que os Ctônicos empreendem as longas peregrinações que os conduzem até as ruínas imemoriais. Muito se fala sobre o canto de Shudde M'ell, um tipo de convocação psiquica que compele seus seguidores a realizar a jornada até ele.
A congregação de Ctônicos ocorre a cada ciclo de 23 anos, e ela possivelmente tem motivação religiosa. Diferentes tribos enviam seus representantes e estes são abençoados pela presença do seu Deus. Os Ctônicos não veneram outras entidades do Mythos considerando o conceito de servir outras deidades diferentes deles, algo, imponderável.
Shudde M'ell é um Deus de grande poder e crueldade - sua ira é legendária. Os ditames dele devem ser obedecidos à risca e suas ordens incidem sobre cada aspecto da existência dos ctônicos, desde as migrações, passando por onde ataques devem ser realizados, a criação de terremotos e até mesmo os períodos de reprodução. Cada ordem é tratada como dogma e não há espaço para livre interpretação. Quando insatisfeito, Ele pune os dissidentes de seu povo extirpando-os de Seu círculo e decretando caçadas de sangue contra os que ousam contestá-Lo. No passado mais de uma tribo sofreu com essa cólera divina e as lendas mencionam os terríveis cismas que alijaram tribos um dia importantes. O controle de Shudde M'ell é tão grande que ele não distribui sua autoridade a nenhum sacerdote. Suas ordens são transmitidas através de seu canto que ecoa pelo solo e reverbera nas profundezas insondáveis, sendo captado por todos os membros da espécie. Uma vez transmitidas as ordens, elas são cumpridas com os Ctônicos realizando a vontade tão logo ela é comunicada.
Acredita-se que Shudde M'ell habite uma série de túneis e recessos subterrâneos exatamente abaixo de G'Harne e que ele tenha sido aprisionado nesse local pelo mesmo encantamento que previne o Grande Cthulhu de deixar a cidadela cadavérica de R'Lyeh. Uma vez que Shudde M'ell também é um dos Grandes Antigos, essa hipótese é bastante razoável. Sendo verdade, o Deus está compelido a ficar em uma área delimitada, possivelmente hibernando em alguma câmara que lhe serve de covil. O alinhamento correto de estrelas, predestinado como "o dia do despertar dos Antigois" permitirá ao Deus Ctônico obter sua liberdade. Assim como Cthulhu, ele é capaz de ecoar suas emanações psíquicas e contatar os Ctônicos onde bem entender. Não parece haver um limite para o alcance dessas ondas mentais.
Os Fragmentos de G'Harne contém a maioria das informações disponíveis sobre o culto de Shudde M'ell e a relação com seu povo. Elas instituem que o Deus dos Ctônicos é o maior e mais poderoso de todos os escavadores abaixo do solo, que sua autoridade é inquestionável e que ao romper seu confinamento o mundo inteiro irá tremer com a sua passagem. Várias profecias feitas por povos primitivos que preveem o fim do mundo através de terremotos, maremotos e outras hecatombes decorrentes de tremores sísmicos parecem se encaixar nos mitos de Shudde M'ell. Povos no Oriente Médio, nas Américas e no grande platô asiático compartilham de agouros similares e suas crenças podem ser traçadas até uma origem comum - o Mito "daquele que faz o chão tremer".
Entre os humanos, Shudde M'ell foi reverenciado em poucas ocasiões. Nos tempos hiborianos alguns sacerdotes do sinistro Reino da Estigia o louvavam sob o nome de Shuddam-El. Os rituais blasfemos desse culto incluía trancafiar vítimas de sacrifício em caixas e joga-los em fendas ou ainda abandoná-los no interior de cavernas naturais. Acredita-se que a seita tenha sobrevivido até chegar ao Egito antigo onde ela inspirou os mitos da Serpente Apophis. Além destes, os construtores megalíticos na Inglaterra e alguns místicos no Oriente Médio também o conheciam e a ele serviam.
Apesar de muito temido, Shudde M'ell jamais contou com um culto organizado em larga escala, limitando-se a alguns poucos excêntricos que declaravam servi-lo em troca de algum benefício próprio. O Deus não atende a nenhuma convocação, ignorando qualquer tentativa de seres inferiores em parlamentar com Ele. Isso nunca impediu que Shudde M'ell recebesse sacrifícios e oferendas de seres humanos nas raríssimas instâncias em que eles puderam contemplar sua grandiosidade. Tribos primitivas se reuniam para oferecer ao Deus algum tributo pago com sangue afim de aplacar sua fúria e evitar que o Deus devastasse suas casas e vilarejos. Nas planícies do Mali e em algumas partes dos Andes peruanos até poucos séculos atrás, alguns rituais eram praticados com o intuito de acalmar o Grande Deus das Profundezas e evitar os tão temidos terremotos por ele causados. É discutível se o Deus atende as preces daqueles que lhe oferecem tributo, sendo mais provável, que não. Hoje em dia apenas os Jidhauas da Mongólia e possivelmente alguns povos que vivem próximo de G'Harne preservam essas tradições milenares.
Um dos principais temores concernentes a Shudde M'ell envolve sua capacidade de promover terremotos verdadeiramente catastróficos. Embora o Deus prefira transferir aos ctônicos a atribuição de devastar a superfície através de terremotos, é sabido que ele próprio pode causar os mais devastadores tremores de terras. Quando motivado a fazê-lo, geralmente por vingança, o Deus Escavador rasteja abaixo de placas tectônicas instáveis. Isso causa vibrações e deslizamentos que reverberam até a superfície. Com efeito, tremores maciços de magnitude espantosa podem ser alcançados. Em uma escala de intensidade, Shudde M'ell pode causar um terremoto de pelo menos oito pontos na escala Richter, ainda que teoricamente este possa ser ainda maior, com um abalo grande o suficiente para arrasar uma cidade por inteiro.
Existem conjecturas de que Shudde M'ell tenha sido responsável por pelo menos uma dúzia de grandes terremotos no passado. Alguns destes teriam devastado civilizações e causado milhares de mortes. Dois tremores especialmente devastadores na China e no Irã parecem ter sido causados por ele nos últimos séculos. Também há teorias de que um dos terremotos avassaladores que devastaram a Era Hiboriana possa ser obra desta entidade. Aqueles que defendem essa hipótese sugerem que o cismo tenha separado os continentes até então aglomerados num padrão mais próximo da configuração contemporânea. Os Fragmentos de G'Harne citam esse acontecimento chamando-o de Grande Cataclismo, embora outras fontes, como os Manuscritos Pnakóticos, não esteja tão certo quanto a essa hipótese. De toda forma, o Deus é apontado como um dos possíveis responsáveis pelo ocaso da mítica Era Hiboriana.
O Deus dos Escavadores faz jus ao seu título e a tanto outros, como "Gigante das Profundezas". De um modo geral, sua anatomia se assemelha à dos Ctônicos, fazendo com que se imagine que ele nada mais é do que um indivíduo maior e mais forte dessa raça. Alguns teóricos conjecturam que Shudde M'ell seria um título atribuído ao membro mais poderoso da espécie. No entanto, os Fragmentos de G'Harne sugerem o contrário, afirmando que sempre houve apenas um Shudde M'ell e que ele é o Deus eterno dos Ctônicos. A verdade é difícil de saber.
Seja como for, Shudde M'ell possui dimensões titânicas quando comparado aos Ctônicos que o servem. Enquanto um escavador alcança em média 8 metros de comprimento, o Grande Antigo atinge mais de 36 metros de comprimento, com uma força proporcional às suas dimensões avantajadas. Semelhante aos Ctônicos, ele possui uma infinidade de tentáculos bucais. Estes cumprem função de sondagem, manipulação e proteção. Os tentáculos se estendem a um alcance de mais de 20 metros e são usados como apêndices. Os maiores e mais fortes são resistentes como cabos de aço e podem puxar ou pressionar dezenas de toneladas.
Os tentáculos também são usados para verificar os arredores, sendo especialmente sensíveis a variações de temperatura e capazes de captar súbitos movimentos. Os Ctônicos não possuem olhos e toda leitura sensorial dos seus arredores é feita através de sensores refinados que captam o movimento no solo.
O Grande Shudde M'ell viaja através das camadas mais profundas da terra, escavando túneis com velocidade assombrosa. Substâncias corrosivas únicas, produzidas por ele, amolecem o solo e permitem que ele navegue pelos extratos subterrâneos com desenvoltura. Se ele se mantém imóvel, isso se dá apenas por conta dos efeitos restritivos que impedem os Grandes Antigos de agir livremente.
É possível ainda que ele domine métodos de teleporte que lhe garantem acesso a portais conectando pontos distantes não apenas em nossa esfera, mas em outros planetas.
Assim como os Ctônicos que o servem, Shudde M'ell exerce pleno controle sobre atividade sísmica, sendo capaz de provocar tremores de terra avassaladores. As reverberações de seus movimentos nas profundezas podem resultar em um tremor imponderável. Tudo aquilo colhido na área dos tremores acaba sendo afetado de construções isoladas a metrópoles, de planícies a cadeias montanhosas. Um cismo dessa magnitude pode alterar a configuração e geografia de uma vasta área.
De fato, um dos cenários mais dramáticos para a raça humana envolveria o despertar de Shudde M'ell e um ataque direto dele visando a superfície. Nesse panorama, seríamos confrontados com algo que não podemos lidar e diante do qual somos virtualmente impotentes.