A visão de um velho castelo construído no topo de um monte é um clássico do imaginário do horror gótico. Algo nessas majestosas obras medievais feitas de pedra bruta transmite uma aura que evoca mistérios e segredos ancestrais. Mas alguém já imaginou como essa associação direta entre assombrações e castelos teve início?
É possível que muito da noção sobre Castelos serem considerados antros assombrados se deva a um lugar em especial, o macabro Castelo de Chillingham no extremo norte da Inglaterra, na região da Northumbria. Em uma província erma e escura, coberta de vegetação selvagem e ravinas, a construção se destaca na paisagem tristonha como um baluarte de proteção que inspirou medo por gerações.
O Castelo é amplamente considerado como um dos, senão, o mais assombrado da Inglaterra. Tendo mais de 800 anos, a construção foi erguida com um único propósito e um propósito apenas: morte.
A Northumbria era a última linha de defesa da Inglaterra contra os escoceses, prevenindo os povos do norte de cruzar a fronteira e invadir o reino. Chillingham tem uma história verdadeiramente horrível, e é por conta dela, que é tido como um dos lugares mais fantasmagóricos do mundo. A história está intimamente ligada a intimidação uma vez que o Castelo além de ser uma posição defensiva, era onde os rebeldes escoceses terminavam os seus dias.
A masmorra é um pequena sala com marcas riscadas na argamassa aonde prisioneiros contavam quantas dias ainda tinham para viver. O lugar inteiro irradia uma aura pesada de medo e desespero. Tamanho é o sentimento impregnado nessas paredes que algumas pessoas mais sensíveis sofrem de ataques de ansiedade, vertigens e palpitações, meramente entrando no local. Os prisioneiros desse calabouço medonho podiam esperar um tratamento severo por parte de seus captores. Muitos deles sofriam torturas, tendo braços e pernas quebrados antes de serem jogados 6 metros abaixo, num buraco conhecido como o Oubliette. Aqueles que não morriam na queda podiam padecer por dias de inanição ou sofrer pelos ferimentos impostos.
As histórias sobre o sofrimento em Chillingham são lendárias e alguns podem até imaginar que um tanto exageradas. Contudo, historiadores encontraram documentos e registros de época atestando que as torturas eram uma constante nesses porões escuros. De fato, há extensivos registros com o nome das vítimas e os procedimentos aos quais elas foram submetidas.
Logo diante das grades fica a Câmara de Tortura, em uma posição estratégica que permite aos prisioneiros que assistam o sofrimento imposto aos seus companheiros. Praticamente todos os dispositivos de tortura medievais estavam presentes nessa sala, cada um deles tão doentio e cruel quanto os outros. A infame mesa de estiramento, a trave de madeira, uma série de braseiros de ferro, assentos com pregos e sistemas de polias eram usados com habilidade pelos torturadores. O piso tinha forma de declive, assim o sangue naturalmente escorria e se concentrava de um lado do cômodo.
Para milhares de Escoceses, esse foi o último lugar que eles viram. Nas celas frias e úmidas, homens, mulheres e até mesmo adolescentes de 13 anos de idade, sofreram enormemente antes de suas vidas serem abreviadas pelo girar de uma engrenagem ou pelo golpe de um machado. Algumas vezes prisioneiros enlouquecidos devoravam uns aos outros e até seus próprios corpos, numa tentativa fútil de prolongar suas vidas.
O carrasco mais conhecido e temido em Chillingham era um homem chamado John Dragfoot Sage. Alto, perverso e um verdadeiro mestre no seu ofício, ele era uma espécie de celebridade do seu tempo. A tortura era uma atividade comum na época medieval, e os homens capazes de extrair a verdade das vítimas, de empregar dor na medida certa sem matar ou de matar quando necessário sem pestanejar eram contratados à peso de ouro. Sage era notório pelo sadismo e por fazer coisas inimagináveis.
Antes de se tornar torturador ele foi um dos homens de confiança do Rei Edward, presente no campo de batalha em várias oportunidades. Sage foi ferido um dia enquanto lutava com os escoceses e teve sua perna mutilada, o que lhe impedia de continuar a servir o Rei como soldado. Ele implorou para que o rei o mantivesse em alguma ocupação, pois seu ódio pelos escoceses o consumia e se fosse impedido de matá-los, ele próprio morreria de frustração. E assim lhe foi oferecido o papel de carrasco do castelo. Sage era um homem brutal, que detestava os escoceses na mesma proporção que adorava o seu ofício. As dores frequentes que sentia em sua perna eram um lembrete constante de que um escocês fora o culpado por seu sofrimento. Dizem que em noites frias, quando a perna latejava, ele descontava sua dor, impingindo as torturas mais inomináveis. Sage até chegou a desenvolver alguns dispositivos, ele mesmo.
Além de manipular os aparelhos de tortura grandes e pesados, Sage se notabilizou pelos instrumentos mais simples. Um pote podia ser usado para ferver óleo, colheres eram usadas para arrancar os olhos, barris recebiam pregos no interior e prisioneiros amarrados eram postos dentro deles e rolados pelo chão. Haviam tubos enfiados no estômago ou no ânus dos prisioneiros para que em seguida ratos famintos fossem colocados dentro. A única forma para o rato sair era abrir o seu caminho por dentro da vítima, comendo-lhe de dentro para fora. A mórbida criatividade do torturador era infame e segundo seus contemporâneos, ele passava horas pensando em diferentes maneiras de atormentar as vítimas que passavam pelas suas mãos. Ele torturou uma média de 50 pessoas por semana pelos três anos em que esteva à frente do trabalho. Suas vítimas eram ladrões de estrada, mulheres acusadas de bruxaria, desertores e rufiões, mas ele se esmerava em prolongar o suplício de rebeldes - era com eles que Sage libertava seus piores instintos.
Mas a guerra com os Escoceses finalmente estava chegando ao fim e uma série de acordos colocaria fim às disputas territoriais que duravam séculos. Isso preocupava John Sage, pois colocar as vítimas em liberdade podia se voltar contra ele. Seu plano era se livrar de todos os prisioneiros do castelo, então ele juntou todos os homens, mulheres, e adolescentes, levou-os ao pátio, cobriu-os com piche e ateou fogo. As crianças eram mantidas no quarto Edward de onde provavelmente podiam ouvir os gritos e sentir o cheiro de seus parentes sendo queimados vivos. Sage ponderou sobre o que fazer com as crianças: se as soltasse elas voltariam quando adultas para buscar vingança. Então, ele tomou sua decisão: apanhou um pequeno machado e foi até o quarto onde elas estavam, as matou e depois esquartejou. Segundo relatos, foram oito as vítimas, algumas com menos de um ano de idade, feitas em pedaços. O machado pode ser visto hoje em dia na parede da escada de Chillingham. Ele continua afiado.
O quarto Edward na Torre diante do pátio é um dos aposentos mais famoso de Chillingham, batizado em homenagem ao Rei que empreendeu a perseguição mais austera aos escoceses. De tempos em tempos, o rei se hospedava nesse aposento e dizem, gostava de visitar a masmorra para ver os trabalhos de seu torturador mor. O local também era usado para receber prisioneiros nobres e de maior importância. Após o brutal assassinato das crianças no seu interior, o quarto passou a ser considerado um dos mais assombrados. As pessoas que o visitam frequentemente diziam, e ainda dizem, que se ouve o som de choro e gritos de crianças, além de se ver o lustre do teto movendo-se e sentir um fedor de carne queimada. Décadas atrás, o quarto passou por manutenção e marcas de arranhões deixados pelo machado foram encontradas no piso e nas paredes.
Mas ao menos, todo o horror promovido com sádico deleite pelo carrasco John Sage não ficou sem punição. A trégua com os escoceses não durou muito, e mais uma rebelião se formou obrigando a masmorra a ser reativada.
Dizem que na câmara de tortura havia uma mesa de estiramento que o carrasco costumava usar nas escapadelas com sua amante, uma mulher chamada Elizabeth Charlton. Certa noite, eles faziam sexo no aparelho de tortura quando Sage começou a estrangula-la para aumentar o seu prazer sexual Infelizmente ele foi longe demais e acabou esganando-a. O pai de Elizabeth era um membro de um clã local chamado de Border Reivers. Essa bando congregava foras da lei que haviam se aliado aos ingleses e que serviam a coroa como uma espécie de polícia. Não eram o tipo de pessoas com quem se meter, e claro, quando ficaram sabendo do que Sage havia aprontado, exigiram que ele fosse executado.
Os Border Reivers eram um grupo influente e importante para os governantes ingleses. É registrado que os Reivers se encontraram pessoalmente com Edward Longshanks e deram a ele um ultimato. Se ele não executasse Sage eles se uniriam aos Escoceses e lançariam um ataque massivo ao castelo para fazer justiça com as próprias mãos.
Como o Rei dependia dos Reivers e não podia se dar ao luxo de perder aliados valiosos, ele acabou concordando. Sage foi capturado e mandado para a mesma masmorra em que matou e torturou impunemente, para aguardar a chegada de um novo carrasco. Embora tenha sido mantido em separado numa cela, ele foi alcançado e surrado repetidas vezes pelos prisioneiros que desejavam vingança. Por milagre ele conseguiu sobreviver, mas quando o novo verdugo chegou, dizem as lendas, ele estava ferido e completamente insano.
Sage foi arrastado para o pátio externo e pendurado para ser enforcado na frente de uma multidão enorme que veio assistir a execução. Enquanto ainda sufocava na ponta da corda, a multidão começou a pegar souvenires, cortando dedos, os testículos e o nariz do torturador que ainda se agitava. Não se sabe o quanto um homem forte como Sage, suportou pendurado até morrer, mas dizem que foi por muito tempo.
É claro, o fantasma de John Sage acabaria se tornando uma das assombrações mais conhecidas em Chillingham. Mas diferente do imponente e temido John Sage que era visto causando dor e sofrimento nas vítimas, o espectro visto é uma figura mutilada e covarde que chora e se lamenta pelos pecados cometidos. Ele sobre e desce as escadas que levam para a masmorra, manquitolando com sua perna coxa, clamando por piedade. Dizem que o demônio o liberta do inferno de tempos em tempos, prometendo que ele será liberado de seu suplício se conseguir alguém que o perdoe pelo horror que causou. A lenda afirma que ele jamais irá encontrar alguém tão piedoso e que a eternidade no inferno será sua única recompensa.
Mas esse fantasma não é o único a rondas as câmaras, salões e corredores do Castelo de Chillingham. Supostamente existem muitos, muitos outros.
Uma das lendas assombradas mais famosas menciona a grelha de ferro cobrindo o Oubliet, o infame fosso através do qual vítimas mutiladas e torturadas eram lançadas para morrer. Dizem que se você olhar para baixo através da grelha cobrindo o fosso é possível ver uma jovem garota olhando de volta para você. Ela seria a última pessoa morta ali. Muitos visitantes experimentam sensações estranhas nesse lugar, globos de luz tem sido vistos e fotografados e algumas pessoas efetivamente sentiram as emoções negativas que a sala emana. Todo o lugar tem uma atmosfera depressiva que parece contaminar as pessoas.
Há também o fantasma conhecido como "Blue Boy" (Garoto Azul), visto frequentemente em flashes de luz azulada ou envolto numa auréola luminosa. Esse fantasma começou a aparecer depois que dois esqueletos, de um homem e de um menino, terem sido descobertos durante os trabalhos de renovação nas paredes internas do salão. Os restos estavam enfiados em um nicho que depois foi coberto com gesso, argamassa e papel de parede. Quem eles eram e por que estavam sepultados naquele espaço permanece um mistério. Acredita-se que eles poderiam ser pai e filho, um valete e seu filho que teriam sido mortos por terem testemunhado algo proibido ou sigiloso ocorrendo no Castelo. Muitas atividades ilegais ocorreram em Chillingham ao longo dos anos. Monges foram escondidos no porão na época que Henrique VIII perseguiu as ordens religiosas e dissidentes políticos também encontraram esconderijo provisório na masmorra.
Além das visões de vultos e globos, passos são frequentemente ouvidos nos quartos, além do som de risadas, choro e gritos. Visitantes reclamam de que por vezes sentem dedos e mãos invisíveis tocando-os. Um dos fenômenos mais macabros envolve ouvir o som desesperado de pessoas sussurrando e pedindo para serem salvas, um acontecimento recorrente na Câmara de Tortura. Então, quando a noite cai, as pessoas que dormem no Castelo experimentam os famosos pesadelos vívidos e apavorantes. Inúmeras pessoas disseram experimentar pesadelos nos quais estão aprisionadas na Masmorra, testemunhando torturas ou elas próprias sofrendo. Há relatos de indivíduos despertando tão apavorados que não conseguiram mais ter paz de espírito para dormir nos quartos. Existem também possessões, estas envolvendo quase sempre uma pessoa sendo dominada por um fantasma desesperado desejando ser libertado do calabouço.
Apesar de todos esses fenômenos medonhos, Chillingham abriu suas portas na década de 2000 e se converteu em um Hotel que aluga seus quartos para visitantes em busca de uma autêntica experiência sobrenatural. Os gerentes do Hotel ressaltam que não se responsabilizam pelo seus hóspedes que eles encontrarão em sua estadia. Não são poucas as pessoas interessadas em passar a noite no Castelo mais assombrado da Inglaterra e estas vem de longe em busca de arrepios e histórias macabras.
Não é estranho encontrar turistas vagando pelo castelo na madrugada, alguns deles buscando a fonte de sons e visões arrepiantes. Não é permitido fazer fotografias de dentro do Castelo ou gravar os sons em seu interior, os visitantes são no entanto aconselhados a explorar por conta própria os ambientes. De fato, há guias que conhecem as histórias, estão dispostos a contá-las e acompanhar os turistas noite e dia, onde eles desejarem ir.
Há avisos para que nada seja removido do interior do Castelo, pois supostamente há uma maldição que incide sobre aqueles que roubam algum objeto por menor que seja. Chillingham tem uma estranha reputação e dizem que pessoas que desrespeitam certas regras no Castelo acabam sofrendo com um azar crônico. Além da regra que adverte para não retirar nada, há outra que envolve evitar piadas e gracinhas dentro do castelo. Um dos guias descreve que um turista certa vez fez algumas brincadeiras e acabou tropeçando na escadaria e se machucando depois de ter rolado degraus abaixo. Ele teria dito que foi empurrado por uma presença invisível.
Os céticos acreditam que os administradores são responsáveis por estranhos sons e cheiros que se sente no interior do Castelo transformado em Hotel. Estes, no entanto, afirmam que não é preciso fingir a existência de fantasmas, pois a presença destes pode ser sentida quando eles assim desejam.
Para aqueles que estão em busca de arrepios ou de um contato direto com a história sinistra da Inglaterra, Chillingham oferece uma experiência única, senão aterrorizante. Trata-se de um lugar interessante e um típico cenário de romance gótico de horror. Embora quieto à noite, ele transmite uma sensação de estranheza que nas palavras da maioria dos hóspedes é palpável. Para quem está interessado em visitar o Castelo a taxa de visita é de 10 libras, mas para dormir num dos quartos é preciso fazer uma reserva antecipada. Os aposentos mais modestos custam 100 libras por noite, já os maiores podem custar até 300 libras, sem a garantia de ver fantasmas.
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