domingo, 16 de abril de 2023

"Todos eles, bruxos" - Músicos que afirmam ter usado Magia Negra e Feitiçaria


O mundo da música tem uma longa história de cultura ao redor do mundo. Mas ela também é terreno fértil para lendas e histórias muito, muito estranhas...

Repleta de indivíduos peculiares, alguns até excêntricos, as personalidades que transitam na indústria musical contribuem para histórias realmente bizarras. Nos tempos modernos, músicos ganham as manchetes com comportamentos que vão do controverso até o absurdo. Há ainda aqueles envolvidos com magia negra e que descambam para o mundo da feitiçaria.

O guitarrista principal e co-fundador da banda de trash metal norte-americana Megadeth, David Mustaine, já deu declarações curiosas sobre seu interesse em ocultismo e bruxaria. Ele teria dito ser um interessado nos temas e alguém disposto a acreditar no poder do sobrenatural. É curioso que ele tenha crescido em uma família de rigorosos Testemunhas de Jeová e que só na adolescência tenha se rebelado contra sua educação. Ele contou a respeito de seu interesse no ocultismo em uma entrevista concedida à Joe Rogan em seu podcast.

"Quando você vive em um ambiente restritivo, você quer sair de lá de qualquer maneira e testar os limites de sua liberdade recém conquistada. Aí, acaba indo a extremos. Quando eu escapei do controle da minha mãe, uma Testemunha de Jeová fervorosa, eu fugi para o Idaho indo morar com minha irmã mais velha. Ela tinha se metido com magia e para mim aquilo foi um choque. Mas eu também me interessei e acabei fazendo mais do que ela ousava tentar, experimentei com coisas bem pesadas da magia negra clássica. Coisa que me deixa arrepiado. Hoje não faria, mas eu queria testar os limites".


Mustaigne deixou claro que aquele era um assunto sério para ele e que não estava mentindo ou bancando o poser. Ele foi além em seu relato afirmando que utilizou suas habilidades recém descobertas para conseguir vantagens e amaldiçoar pessoas que ficavam em seu caminho. Ele contou a respeito disso:

"Eu usei magia negra em duas pessoas. Quando estava no colégio, eu sofria bully nas mãos de um babaca mais velho e muito mais forte. Eu apanhei várias vezes e tinha que fugir pelos corredores perseguido por esse sujeito. Os professores e adultos faziam vista grossa e eu soube que precisava lidar com isso com o que tivesse nas mãos. 

Eu conhecia algo sobre maldições, minha irmã havia emprestado livros sobre o assunto e eu imaginei que usar aquilo como arma poderia ser a solução.

O ritual que realizei envolvia criar um foco, uma espécie de boneco no qual você direciona energias negativas e deseja o mal. Eu encarei aquilo com seriedade, achava que era a única forma de me ver livre do sujeito. Eu fiz o ritual acreditando que ia ter sucesso e realmente funcionou. Ele sofreu um grave acidente menos de uma semana depois, ficou muito ferido, quase morreu e chegou a perder o braço direito. Justamente a parte do boneco que caiu quando eu fiz o feitiço. 

Eu me senti poderoso! Como se pudesse fazer qualquer coisa! Hoje não faria isso, quando você fica mais velho pondera sobre seus atos. Eu debati muito comigo mesmo e sei no meu intimo que infelizmente causei aquilo."

Mustaigne relatou ter realizado um segundo feitiço de magia negra, quando tinha 18 anos direcionado a uma garota, um tipo de magia de amor, que segundo ele, também funcionou:

"Eu era um moleque ruivo e magrelo, jamais teria chance com aquela garota por isso usei um feitiço para conseguir o que seria impossível de outra forma. Eu fiz um ritual, escrevi nossos nomes em um pergaminho e os queimei numa fogueira cheia de ingredientes. 

Dessa vez eu achei que era bobagem, mas acabou funcionando melhor do que eu poderia imaginar. Criou um tipo de magnetismo animal, algo inacreditável. Nem todos acreditam nessas coisas, a maioria acha que é bobagem, mas no meu caso funcionou".


Magia Negra também teve uma importância central na carreira do músico. Ele contou que inseriu em algumas músicas trechos de invocações ocultas nas letras de suas músicas, inclusive no mais famoso de seus álbuns "Peace Sells...But Who’s Buying?", em especial na música "The Conjuring". 

Nos últimos anos, Mustaine afirma ter se distanciado de seu passado sinistro, eventualmente até se tornando cristão e expressando arrependimento pelo seu envolvimento nas artes negras. De fato, ele se recusa a tocar The Conjuring nos shows por considerar a musica cheia de elementos malignos e malditos. Numa entrevista na Revista Total Guitar ele disse:

"Essa música (The Conjuring) é um dos sons mais carregados de energia negativa que eu compus. É algo de uma época em que eu era uma pessoa bastante diferente. Eu não a toco mais desde que prometi me afastar dessas coisas." Ele continua:

"Embora a letra possa parecer tola, há coisas ali que são sérias e que não deveriam ser exploradas dessa maneira. Quando eu mexia com magia eu fiz coisas erradas, são coisas que poderiam trazer danos muito maiores a terceiros e arruinar minha vida. Eu não me considerava uma pessoa má, mas estava envolvido em algo muito destrutivo. Não tem a ver com moral ou auto censura da banda, é apenas algo do qual quero distância para o resto da minha vida."

Mas nem todos os músicos possuem o mesmo entendimento quanto a magia negra.

O vocalista dinamarquês King Diamond é o rosto mais conhecido do Mercyful Fate, uma banda de Heavy Metal famosa pela teatralidade de seus shows. Maquiagem pesada, cenografia densa e pirotecnia fazem parte dos seus espetáculos, que são um complemento perfeito ao estilo pesado das letras e acordes dissonantes das guitarras pioneiras do Death Metal. Diamond se vale de uma maquiagem conhecida como corpse paint, que lhe rende uma aparência cadavérica de palidez mórbida. Seus trajes incluem muito couro preto, correntes e uma cartola que remete ao Barão Samedi do folclore vodu. A maquiagem tornou-se uma marca registrada ao longo de sua carreira.


Mas não são apenas as músicas compostas por Diamond e o Mercyful Fate que se voltam para o lado mais escuro já que ele próprio professa o Satanismo Laveyano. 

Anton Lavey foi o polêmico idealizador da Igreja de Satã, um ramo pseudo-religioso surgido na década de 1960, que servia de contraponto para a doutrina católica. A ideia principal de Lavey era que o satanismo permitia a plena liberdade do ser humano, sem estar ligado às amarras morais que freiam o pleno desenvolvimento do indivíduo. Tomando emprestado vários conceitos da Telema de Aleister Crowley, a Igreja de Satã se desenvolveu na Califórnia e foi adotada por inconformistas da contracultura. Apesar do nome e dos elementos sinistros, a Igreja afirmava manter distância de rituais de sangue, sacrifícios e outras condutas que "não seriam condizentes com os dias atuais". Embora os detratores de Lavey tenham tentado reputar ao seu culto um caráter diabólico e criminoso, a liberdade de culto, garantida na constituição americana sempre lhe proporcionou um eficiente guarda-chuva legal. Para muitos, contudo, a religião de Lavey não passa de uma fraude que permite aos seus membros praticar condutas consideradas chocantes por alguns - sobretudo no que diz respeito a sexo. 

King Diamond sempre se disse um interessado nas doutrinas de Lavey e em sua proposta de liberdade completa para o ser humano. Ele diz:

"Eu tenho interesse no ocultismo! Já pesquisei e li o suficiente sobre satanismo clássico para compreender as nuances do que ele realmente significa. Vejo a mim mesmo como alguém disposto a acreditar e usar isso na minha vida. Lavey escreve sobre isso, liberdade! Eu já participei de rituais - alguns deles mero teatro, mas outros absolutamente reais em seus objetivos. E feitiçaria? Ah sim, com certeza eu mexi com isso!"

Embora King Diamond diga seguir a Doutrina Satânica, ele defende que ela é mais uma filosofia do que uma religião. Fica claro que suas letras satânicas tem um significado muito mais particular para ele do que para a da maioria dos músicos de metal.

"A música me permite externar as minhas crenças. Eu não busco convencer ninguém ou trazer ninguém para o satanismo. Não sou um catequizador demoníaco, ou algo assim! Para começo de conversa eu sou ateu! Mas em minha música eu incluo parte de minhas crenças particulares."


Diamond costumava ler a Bíblia Satânica diariamente e fazer apontamentos sobre ela. Ele até chegou a participar de palestras e encontros sobre o tema na Europa e Estados Unidos. Encontros que o levaram a conhecer Lavey e sua esposa na década de 1980. Segundo pessoas mais próximas, ele seria um dos poucos artistas do cenário do heavy metal a realmente estudar e professar o satanismo ao invés de meramente usá-lo como pano de fundo para suas músicas. 

Em uma entrevista concedida em 2006, Diamond afirmou que não estava em busca de qualquer tipo de significado teológico. Após ter participado de uma boa quantidade de rituais de magia negra e feitiço ele se sentiu um tanto vazio e esgotado sobre o tema. Hoje ele afirma que o Satanismo é mais um modo de vida do que uma crença... seja lá o que isso queira dizer.

Para completar, temos a cantora, compositora e produtora musical americana Elizabeth Woolridge Grant, conhecida profissionalmente como Lana Del Rey. Conhecida por suas canções pop e baladas de sucesso, a música, a moda e o comportamento geral da premiada musicista não fazem ninguém pensar imediatamente que ela estaria se interessando por magia negra, mas, de acordo com ela mesma, bruxaria faz parte de sua vida. 

Tudo começou em 2017, quando o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump acabara de tomar posse. Del Rey não era fã de Trump e se mostrou como opositora dele desde o início do mandato. Naquele ano, ela postou um tweet misterioso que simplesmente trazia algumas datas e as palavras “Os ingredientes podem ser encontrados online”. 

Considerando sua base de fãs, era inevitável que as pessoas investigassem o que ela queria dizer, enquanto a própria cantora permanecia em silêncio. Descobriu-se que as datas correspondiam às luas crescentes minguantes mensais, e então descobriu-se que Del Rey estava se reunindo com um grupo de bruxas e feiticeiros que se autodenominava o “movimento”, que afirma ter mais de 3.700 membros. O plano do grupo era lançar um feitiço sobre Trump e fazer com que ele deixasse o cargo. 

Os ingredientes mencionados seriam para esse mega feitiço extraído de um tomo chamado "Magic for the Resistance: Rituals and Spells for Change", que professa “inspirar praticantes de magia socialmente conscientes a aproveitar o poder da imaginação e vontade coletiva”. Del Rey admitiria mais tarde que tentou usar magia para amaldiçoar Trump e diria sobre isso:

"Sim, eu participei. Por que não? Olha, eu faço muita coisa e tenho curiosidade sobre o tema. Estou de acordo com Yoko e John [Lennon] e a crença de que existe um poder na vibração de pensamentos dirigidos. Seus pensamentos são coisas muito poderosas e elas se tornam palavras, e palavras se tornam ações, e ações levam a mudanças. Eu realmente acredito que as palavras são uma das últimas formas de magia. E eu vi como isso pode mudar o mundo e afetar a nossa realidade."


O grupo não desistiu, tendo levado adiante seus planos em 2021 quando se reuniram para outro ataque mágico ao já empossado Presidente. De fato, ataques mágicos dessa natureza, que visam canalizar energia mental para um determinado sentido não são algo novo. Desde os tempos da Golden Dawn, os ocultistas usavam tal pensamento reunido para desencadear efeitos.

Uma mensagem do site do movimento anunciou para quem quisesse ouvir:

"Estamos trabalhando em um feitiço para amarrar Donald Trump e todos aqueles que o apoiam: Ritual dia 12 de janeiro. VINCULAÇÃO FINAL DE SUA PRESIDÊNCIA DESASTROSA: noite de terça-feira, 12 de janeiro de 2021, 23h59."

O ritual contou com a presença de aproximadamente 400 pessoas que realizaram uma mentalização com objetivo de afetar o então Presidente. Funcionou de alguma forma? Não que saibamos, mas quem pode dizer ao certo? Talvez o resultado esteja na mente de quem tomou parte do evento.

Estes são apenas alguns casos coloridos de magia e feitiçaria usados por pessoas do cenário musical.

Seriam estes artistas pessoas realmente envolvidas no universo do oculto ou seus atos não passariam de promoção e uma busca incessante por se mostrar excêntricos? 

Um comentário:

  1. Leiam " Led Zeppelin - Quando os Gigantes Caminhavam pela Terra de Mick Wall ". Page, na minha opinião, foi o único músico ( e ocultista sério ) que " esbarrou " ( talvez acidentalmente...) em algo " real " no campo do Ocultismo, Magia etc... A passagem que narra o encontro entre ele e David Bowie é no mínimo...curiosa, por assim dizer. Jimmy Page ( e a própria história da banda ) é cercada de fatos " sinistros " e coincidências bizarras que mereciam uma postagem mais meticulosa. Parabéns pelo excelente trabalho Mundo Tentacular !

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