sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Asenath e Ephraim Waite - Pai e Filha unidos pelo Mythos


Na noite em que Asenath Waite veio ao mundo na propriedade da família, em Innsmouth, uma violenta tempestade irrompeu sobre a cidade portuária.

Enormes ondas rebentaram no cais, destroçando os barcos de pesca, enquanto raios reluziam no horizonte cinzento. Tamanha foi a borrasca que alguns acreditaram se tratar do fim do mundo. A mãe de Asenath, uma mulher estranha que vivia praticamente reclusa no escuro palacete, morreu de complicações do parto. Apenas cinco dias mais tarde, Ephraim Waite, o viúvo, surgiu para comunicar as circunstâncias do falecimento da esposa. Poucos sequer sabiam que ela estava grávida.

Ephraim era um sujeito muito respeitado em Innsmouth; homem taciturno de poucas palavras e personalidade forte, havia sido marinheiro e se tornou capitão antes dos 25 anos, embora ninguém recordasse o nome das embarcações por ele comandadas. Tinha viajado ao redor do mundo, como era comum aos estoicos homens nascidos em Innsmouth que, segundo alguns, tinham água salgada correndo em suas veias. Ephraim esteve no Extremo Oriente, envolvido ativamente no comércio de pérolas e no transporte de carga preciosa.

Nativo de Innsmouth, ele sempre soube de sua herança de sangue, tendo participado de rituais de iniciação na Ordem Esotérica de Dagon que o vincularam aos abissais habitando aquelas águas turvas. É provável que ele fosse um híbrido que jamais manifestou a aparência batráquia dos moradores do assentamento. Ephraim era alto e empertigado, muito energético e com cabelo claro, além de um largo bigode emoldurando sua face comprida.

Algumas pessoas acreditam que Waite conheceu sua noiva nas Ilhas Andaman, no Oceano Índico e que ela foi trazida até Innsmouth no porão de seu navio. Os poucas que a conheceram, diziam que era uma mulher feia, de baixa estatura e cabelos muito escuros, praticamente o oposto do noivo. É quase certo que ela era uma híbrida humana e abissal, manifestando os primeiros estágios de transformação. Isso explicaria porque ela era mantida escondida dos olhares de curiosos. 

Após núpcias muito discretas, Ephraim abandonou a vida no mar e se tornou Oficial Portuário, um cargo importante em Innsmouth. Ele também se converteu em figura proeminente na Ordem de Dagon. Embora não fosse um sacerdote, gozava de intuição mágica e se tornou um notável feiticeiro.


Sua filha única recebeu o nome bíblico Asenath e foi batizada diante da Congregação reunida na Ordem Esotérica de Dagon. Desde muito jovem a menina de pele alva e cabelos negros chamava a atenção pelo seu interesse nos segredos ancestrais do Mythos de Cthulhu. Ephraim se converteu em seu preceptor, revelando a ela os mistérios ritualísticos dos abissais e de sua pérfida feitiçaria.

Muito jovem a menina nadava entre os Abissais e auxiliava Ephraim em seus ritos blasfemos. Ela também se sobressaiu aprendendo as minúcias da arte do hipnotismo e do controle mental. Apesar de suas inegáveis habilidades, e do potencial de superar o próprio pai em aptidão mágica, Asenath sempre foi fanaticamente devotada a ele. Essa fidelidade seria colocada a prova quando o velho Ephraim urdiu um sinistro estratagema para se perpetuar pela eternidade. 

Asenath deixou a pequena e decrépita Innsmouth e se transferiu para Arkham onde passou a residir em uma casa alugada a oeste da Bishop Street. Ela cursou brevemente a Universidade Miskatonic e participou de palestras abertas como o controverso curso de Metafísica Medieval. Foi nessas ocasiões que Asenath teve contato com estudantes que compunham um infame círculo boêmio. Dado a festas escandalosas e comemorações extravagantes, os membros desse grupo atraíam para si olhares de reprovação dos residentes.

Um dos membros desse círculo era Edward Pickman Derby, um poeta de criatividade prodigiosa que havia composto soturno sonetos reunidos na coleção Azathoth e outros. Derby se inspirou em livros achados na Biblioteca Orne - tomos ancestrais repletos de conhecimento arcano. Derby era afetado por esse saber profano, mas na mesma proporção que estes lhe causavam pesadelos, o deixavam fascinado.

Foi em uma soirè na Sociedade Ocultista de Arkham que Derby conheceu Asenath. Ele ficou impressionado com o magnetismo da jovem, que demonstrava suas habilidades hipnotizando voluntários. Asenath era considerada esquisita, mesmo para os padrões do Círculo Boêmio, mas essa estranheza cativou o jovem Derby. 

A corte desajeitada do poeta foi assunto de escárnio entre seus colegas, ninguém esperava que Asenath retribuísse as atenções do rapaz. Entretanto, eles passaram a ser vistos cada vez mais juntos, compartilhando de aulas e reuniões sociais, o que tornava evidente que haviam se tornado um casal. A relação, no entanto era peculiar, já que o tímido Derby parecia ser dominado, controlado e até emasculado pela geniosa Asenath.


Encantado por Asenath, Edward a pediu em casamento. Na ocasião ele ficou sabendo que o pai da jovem, Ephraim, havia falecido de um mau súbito. Apesar de protestos velados do seu lado da família e da suspeita de amigos, o casamento acabou ocorrendo com a lua de mel se consumando em Innsmouth.

Ao retornar, o casal ocupou a magnífica mansão de Crownshield Manor em Arkham, servidos por três criados soturnos trazidos de Innsmouth. O casamento não foi exatamente um mar de rosas para Derby, cujo encanto pela esposa parecia ter arrefecido. Amigos percebem mudanças em seu comportamento, algumas delas bastante acentuadas.

Tais mudanças eram reflexo do plano de Ephraim que prevendo sua morte transferiu sua consciência para o corpo da própria filha. Esse seria o primeiro estágio de uma mudança permanente visando habitar o corpo de Edward Derby. Waite provavelmente aprendeu a técnica de transferência mental durante seus estudos arcanos e seu plano era continuar vivendo após o declínio de seu corpo. Contudo, assumir a forma delicada de Asenath não era satisfatório já que ele desejava o vigor de um corpo masculino.

Aos poucos Asenath/Ephraim ampliou seu controle sobre Derby, dominando-o por períodos cada vez mais longos. Ele o usou como veículo para suas ações nefastas explorando as florestas fechadas do Maine em busca de ruínas ancestrais e participou de vários rituais. O que ele pretendia atendendo a estas cerimônias, não se sabe, mas ao que tudo indica, o feiticeiro estava em busca de outros poderes do Mythos.

Por fim, o plano dos Waite acabou sendo frustrado pela diligência de Daniel Uphan, um fiel amigo de Edward Derby que descobriu a verdade sobre a trama que se desenrolava. Após dar cabo do cadáver decrépito que hospedava a mente de Derby, ele baleou também seu corpo, sabendo que na verdade estava matando o feiticeiro que o habitava.


Não há como saber se Ephraim já havia realizado o ritual de transferência de mentes em outras ocasiões, mas essa possibilidade de fato existe. Talvez, a mente que habitava seu corpo fosse muito mais velha do que se pode imaginar. O que se sabe é que ele foi um bruxo bastante poderoso e um adversário perigoso disposto a tudo para cumprir seus objetivos - mesmo que isso envolvesse dispor de sua filha.

Da mesma forma, não há como saber se Asenath tinha total conhecimento dos planos de seu pai. Uma vez que ele reclamou seu corpo, a consciência da jovem foi catapultada para um cadáver, experiência da qual ela não conseguiu se recobrar. Por mais leal que pudesse ser, é difícil acreditar que ela aceitou de bom grado o destino que a aguardava. É possível que Ephraim a tenha ludibriado, contudo é óbvio que ela participou do plano para se aproximar de Derby, casar com ele e prepará-lo para a transferência mental visando ajudar o pai.

Asenath era descrita como uma moça culta que com apenas 20 anos dominava as reuniões boêmias com sua presença cativante e opiniões fortes. Na Miskatonic se destacava pela obstinação com que defendia seu ponto de vista chegando a discutir com mais de um professor. Muitos a classificavam como brilhante, ainda que odiasse ser contrariada. Quando tal coisa ocorria mordia o lábio inferior com tanta força que este chegava a sangrar.

Diferente de sua mãe, Asenath era atraente e desde sua chegada à Miskatonic atraiu muitos galanteios no campus. De fato, alguns reputavam a ela uma certa fama, típica de moças modernas, intensificada pela forma como ela dirigia seu automóvel pelas ruas da cidade. As más línguas davam contas de que ela esteve envolvida em mais de um affaire. A jovem tinha cabelos pretos cortados à moda flapper e uma pele tão branca que alguns supunham jamais ter sido tocada pelo sol. Vestia-se de preto, dos pés à cabeça mesmo depois do casamento. Seus olhos azuis eram descritos como um tanto grandes, mas seu sorriso compensava a estranheza inicial, ainda que ela o reservasse para algumas poucas ocasiões. Lembrava o sorriso satisfeito de um felino, prestes a brincar com uma presa capturada.

*     *     *

ASENATH WAITE


"Ela era morena, baixa e de muito boa aparência exceto pelos olhos protuberantes, contudo algo em sua aparência afastava as pessoas mais sensíveis."

"A Coisa na Soleira da Porta", H.P. Lovecraft

Ocupação: Estudante
Local de Nascimento: Innsmouth, Nova Inglaterra
Idade: 23

FORça               12          DEStreza           13          INTeligência     18
CONstituição     14         APArência         15          PODer               18
TAManho          10                                                  EDUcação         21
HP: 12, 
Bônus de Dano: +0

Habilidades Principais: Arte (Literatura) 43%, Arte (Dança) 40%, Arte (Retórica) 65%, Charme 69%,  Nível de Crédito 45%, Dirigir Automóveis 70%, Escutar 36%, Esquiva 35%, Furtividade 55%, História 38%, Lutar (Briga) 50%, Mythos de Cthulhu 22%, Natação 70%, Ocultismo 59%, Persuadir 44%, Usar Biblioteca 47%

Idiomas: Inglês 75%, Árabe 10%, Latim 32%

Feitiços: Hipnotismo, Névoas de R'Lyeh, Contatar Abissais, Beijo das Profundezas

EPHRAIM WAITE


Ocupação: Capitão, Oficial da Marinha
Local de Nascimento: Innsmouth, Nova Inglaterra
Idade: 70

FORça               12          DEStreza           08          INTeligência     18
CONstituição     10         APArência         10          PODer               20
TAManho          15                                                  EDUcação         16
HP: 12 
Bônus de Dano: +1d4

Habilidades Principais: Antropologia 10%, Contabilidade 30%, Direito 40%, Furtividade 25%, História 50%, Lutar (Briga) 38%, Mythos de Cthulhu 67%, Mundo Natural 47%, Natação 85%, Navegação 40%, Nível de Crédito 50%, Ocultismo 51%, Persuasão 80%, Pilotar (Barco) 62%, Psicologia 42%   

Idiomas: Inglês 80%, Árabe 50%, Latim 48%, Hindi 62%

Feitiços: Alterar Clima, Maldição de Azathoth, Transferir Mente, Hipnotismo, Névoas de R'Lyeh, Secar Membro,  Invocar Abissais, Contatar Pai Dagon e Mãe Hidra, Contatar Cthulhu, Contatar Shubb-Niggurath e mais quaisquer magias que o Guardião julgar adequadas.

2 comentários:

  1. Excelente como sempre! Acho que deveria ter mais matérias com as estatísticas dos personagens para serem usados nas mesas de RPG, como na matéria sobre a cidade de Innsmouth, poderia ter as estatísticas do principais NPCs e das ocupações como os agentes do Delta Green. :)

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