sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Poço dos Shoggoth - Uma terrivel ruina criada pelos Seres Ancestrais

 

Em nosso planeta, há lugares estranhos e perdidos que repousam sob a sinistra sombra do Mythos. Quase todos eles são recônditos proibidos e afortunadamente jazem esquecidos pelos homens. Ainda que tenha  havido uma época na qual sua mácula era conhecida e temida. São querências escuras, que repelem os sensitivos fazendo com que eles sintam a presença de algo que não é natural e que precisa ser evitado à todo custo.

Não por acaso, esses lugares se tornavam tabu para os homens primitivos. Os povos antigos que tinham familiaridade com o mundo paranormal sabiam de sua existência e os detestavam. Coisas ruins e desagradáveis aconteciam nas proximidades e a própria luz parecia ser consumida pela escuridão pujante.

Nas densas florestas do continente norte americano encontra-se um desses lugares malditos. Engolido por florestas implacáveis, imerso num vasto mar de árvores ancestrais que jamais viram a lâmina de um machado, esse antro perdura como um grande mistérios. Alguns bruxos e feiticeiros sabem de sua pérfida existência, muitos tentaram encontrá-lo, mas poucos conseguiram explorar os seus segredos. Para a maioria desses ousados exploradores, loucura e morte foram a única recompensa. A história desse lugar está registrada nas páginas amareladas de uns poucos tomos de conhecimento arcano. 

O Pnakotika, compêndio de saber reunido pelos Yithianos e cuja versão mais antiga foi escrita em grego clássico, cita textualmente a existência desse monumento:

"Erguido antes mesmo do tempo da Grande Raça; resiste inquebrantável diante da passagem das eras, o fosso que rescende com a ímpia escuridão viva. (...) lá em recessos profundos habitam aqueles que foram escravos da raça primordial que desceu das estrelas e conquistou o planeta, quando ele ainda era jovem."

Mas é o registro de Abdul Al-Hazred lavrado no blasfemo Necronomicon o trecho mais completo sobre esse lugar, diz ele:

"Pois sabemos que os poderosos escravos que um dia serviram a Raça dos Anciões habitam cavernas profundas sob as montanhas, mas também os corredores de vastas ruínas abandonadas. O tempo não os consome, pois nada na criação é capaz de interferir na sua existência profana. Eles são imortais, e existirão perpetuamente. Eu tive visões despertas através da fumaça do alcatrão da papoula, e em meus devaneios vi um recesso rochoso de profundeza vertiginosa. Lá, ao fim de uma escadaria de seis mil degraus, estende-se uma caverna infindável, e a caverna se abre em câmara e a câmara em um majestoso subterrâneo. Esse lugar lhes serve de covil. Nela se arrastam os medonhos Shoggoth; seus grotescos corpos não são sólidos, tampouco aquosos - sendo ambos! Amalgamados à escuridão estígia eles dão forma a um pesadelo vivo e pulsante."


Em face desta descrição feita pelo escriba iemita, alguns teóricos do Mythos, passaram a chamar esse lugar legendário de Poço dos Shoggoth. Muitos se questionam qual seria a sua origem e propósito.

Embora seja virtualmente impossível saber ao certo, há aqueles que acreditam que esse lugar tenha sido construído pelos Seres Anciãos durante seu longo reinado na Terra milhões de anos atrás. 

Para alguns, seria uma espécie de depósito no qual a matéria protoplásmica que constitui os Shoggoth era criada e estocada. Uma hipótese é que o lugar seria utilizado como viveiro, ou tubo de ensaio para o material genético das temidas criaturas. No interior do poço, o resíduo protoplásmico seria moldado conforme os misteriosos métodos de criação conhecidos apenas pela Raça Ancestral. A instalação contaria com laboratórios e alas de contenção nas quais as criaturas seriam mantidas cativas por seus criadores. 

Essa teoria esbarra em alguns pontos contraditórios. É sabido que a Raça Ancestral idealizou a engenharia por trás dos Shoggoths para cumprir funções básicas. Eram tarefas atribuídas a eles construir as magníficas cidades de pedra e empreender guerra em nome de sua civilização. Os Shoggoth constituíam as ferramentas mais versáteis à serviço da Raça Ancestral, podendo cumprir dezenas de funções graças a sua notável adaptabilidade. Contudo, também é sabido que os Shoggoth por serem demasiadamente poderosos só eram criados na segurança das cidades, para que o segredo de sua gênese jamais caísse nas mãos de inimigos em potencial.

Havia um temor, que mais tarde se provou justificado, de que os Shoggoth pudessem ser copiados ou ainda corrompidos para se voltar contra seus mestres. Talvez os geneticistas da Raça Ancestral soubessem disso, ou ao menos desconfiassem dessa possibilidade e por isso preferiam destruir os Shoggoth ao invés de perdê-los para oponentes como os Mi-Go ou os Xothianos.

É possível, entretanto, que o Poço cumprisse outros propósitos. Há conjecturas de que ele teria sido um tipo de instalação militar na qual uma "tropa de choque" de Shoggoths teria sido reunida com o intuito de atacar e tomar posições dos inimigos. Sabe-se que na antiguidade os continentes foram usados como campo de batalha e que viram inúmeros embates entre Shoggoths e outras aberrações atávicas como as Crias Estelares de Cthulhu, ou então falanges aladas dos Fungos de Yuggoth. Aqueles que creem ter sido o Poço uma instalação para reunir os shoggoth, acreditam que uma batalha em larga escala possa ter ocorrido naquela posição.


Finalmente, há uma terceira e ainda mais controversa possibilidade, a de que o Poço fosse usado como um tipo de prisão para os Shoggoth dissidentes que se provaram uma ameaça aos da Raça Ancestral.

O Necronomicon contém farto material relatando a audaciosa rebelião dos Shoggoth que quase levou à aniquilação da magnifica civilização da Raça Ancestral. Em algum momento, os Shoggoth, fartos de sua condição servil , se ergueram contra seus criadores empreendendo contra eles, uma sangrenta guerra parricida. Apenas pela vantagem de armas de fissão atômica a revolta foi debelada. 

Os anais da história da Raça Ancestral menciona que alguns Shoggoth teriam despertado uma consciência rudimentar e que foram estes que lideraram a revolta. Os defensores dessa hipótese acreditam que o Poço teria sido o destino final dos líderes que uma vez vencidos foram capturados. Incapazes de serem destruídos, o encarceramento teria sido a opção mais adequada.

É possível que estes Shoggoth tenham desenvolvido ao longo das eras capacidade mental que os tornavam especialmente perigosos. Se por um lado a paranoia da Raça Ancestral é bem conhecida, por outro, também o é, a profunda curiosidade científica. Eles poderiam ter isolado os Shoggoth que apresentaram uma singularidade mental com o intuito de estudá-los e compreender os meandros de seu desenvolvimento intelectual.

Após a rebelião, a Raça Ancestral continuou dependente dos Shoggoth e precisou criar novos indivíduos para assumir o lugar dos que foram destruídos. O estudo criterioso dos indivíduos inteligentes justificaria mantê-los vivos e aptos para a dissecação. Os cientistas precisariam sem dúvida de uma instalação de máxima segurança para fazê-lo, sem mencionar que, quanto mais longe de suas cidades, melhor.


No fim das contas, não há como saber exatamente qual o propósito exato do Poço dos Shoggoths e esse mistério parece fadado a permanecer sem solução. Mas se os motivos para a criação do poço nos ilude, sua existência parece ser um fato concreto.

O Poço se localiza na porção setentrional do território que hoje corresponde ao estado do Maine nos Estados Unidos. Sua localização exata é desconhecida, mas é provável que ele se encontre nas densas florestas de pinheiros que cobrem quase 90% do estado. A vegetação nativa é tão densa e as matas tão fechadas que se faz quase impossível explorar certas áreas. Tribos ancestrais que habitavam essa região podem fornecer pistas sobre a localização aproximada na forma de áreas consideradas proibidas desde os primórdios da sua ocupação. A Floresta de North Woods se apresenta como uma das mais prováveis localizações sendo ela vasta, insalubre e absolutamente inexpugnável.

O Poço dos Shoggoth estaria oculto da civilização e para encontrá-lo seria necessário vagar pelas matas e seguir marcos de pedra que alguns feiticeiros supostamente ergueram pelo caminho. Em algum momento, o Poço, dada a sua importância para a historiografia do Mythos, pode ter atraído a peregrinação de estudiosos ou ter sido centro de poder buscado. Há indicações de que um bem desenvolvido Culto devotado a Shub-Niggurath se instalou nesse enclave florestal tornando-se guardião do Poço e de seus segredos.

Essa cabala de perigosos feiticeiros devotados a Deusa da Fecundidade teria se estabelecido na região no período colonial e reclamado a localidade. Eles o utilizam como sede para muitos dos seus rituais degenerados. Para defender essas florestas eles teriam invocado várias Crias Negras de Shub-Niggurath que erram pela região coibindo a presença de qualquer invasor. O Culto conhece vários segredos do Poço, e é de se inferir que eles tenham explorado seu interior e entrado em contato com seja lá o que habita suas profundezas.

Ephraim Waite, o diabólico feiticeiro de Innsmouth e sua filha, Asenath estão entre os que visitaram esse sítio na floresta e participaram ativamente da Cabala. Ephraim adotava perante os seus colegas o nome Kamog enquanto participava dos rituais. Ele teria utilizado o corpo de seu genro, Edward Pickman Derby, enquanto visitava o Poço dos Shoggoth e tomava parte em cerimônias. Em pelo menos uma ocasião Derby teria despertado momentaneamente deparando-se com alguns dos ritos selvagens dos cultistas - experiência tão chocante que quase aniquilou sua sanidade mental.


Há poucas descrições do Poço dos Shoggoth e qual a sua aparência. Muitos no entanto concordam que dada a sua antiguidade ele não passe de uma ruína de pedra bruta. Há menções de que ele teria uma estrutura externa na forma de uma construção abobadada e de um portão que permite acesso a um interior fechado. Estatuário reminiscente de eras passadas, representando indivíduos da Raça Ancestral e façanhas de sua civilização estariam espalhados pelo sítio decadente. Haveria também pilares e paredões contendo fragmentos da escrita que compõe o alfabeto da Raça Ancestral. A compreensão desses caracteres se traduziria em inestimável saber do Mythos.

Mais de uma fonte fidedigna menciona uma escadaria de seis mil degraus que conduziria às câmaras mais profundas fervilhando com os objetos de um passado distante. Lá dentro, distribuídos por passagens labirínticas construídas pela Raça Ancestral incontáveis milênios atrás, encontram-se alguns de seus maiores segredos. Talvez apenas a maior cidade dessa espécie extinta, localizada na imensidão gelada da Antártida, contém tesouros semelhantes. Alguns supõem que lá estariam os últimos laboratórios de ciência avançada dos Seres Ancestrais, repletos de segredos até hoje perdidos - talvez até aquele para a criação dos Shoggoths.

Tal lugar, entretanto, se mostra extremamente perigoso, mesmo para o mais ambicioso dos exploradores e mais mordaz dos feiticeiros. Ao fim da escadaria de seis mil degraus, os túneis se abrem em passagens e corredores escuros. Aparentemente infindáveis, eles são habitados por terrores genéticos nadando em lagos subterrâneos de matéria protoplásmica. Haveriam ainda cápsulas e tonéis que encerram a matéria viva e tenebrosa que dá vida aos shoggoth. Estes teriam se rompido liberando seu conteúdo pela instalação, criando sabe lá que reações ao longo das eras. Além disso, quando o assunto são os Shoggoth, como é possível ter certeza de qualquer coisa? Abandonados em um ambiente como esse, eles podem ter se adaptado e se transformado em algo que não estamos preparados para conhecer.   


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