Semana passada (25 de agosto) tivemos aqui no Rio de Janeiro mais uma edição do Dungeon Carioca, evento que acontece mensalmente e reúne jogadores e mestres de RPG. Esta última edição foi especial para nós do Mundo Tentacular, uma vez que vários encontros são temáticos e este último teve como tema H.P. Lovecraft, em comemoração ao seu aniversário.
O encontro contou com cerca de 70 pessoas e várias mesas onde foram jogadas diferentes cenários ligadas ao Horror Cósmico, mas não necessariamente nas ambientações inspiradas por Lovecraft. Havia por exemplo mesas de Dungeons and Dragons onde aberrações tentaculares eram o centro das atenções, uma mesa do Mundo das Trevas em que o horror gótico dava lugar a entidades ancestrais, e assim por diante.
Como sempre, o encontro foi muito divertido, e tenho certeza que todos os presentes se divertiram bastante vivenciando típicas investigações do Mythos e se metendo com "coisas que a mente humana não está preparada para conhecer".
Aproveitei a ocasião especial para narrar um cenário diferente que eu nunca havia tentado antes. Na verdade, eu nunca havia ousado narrar essa aventura porque a proposta dela é bem diferente, cheia de reviravoltas peculiares e situações estranhas, para dizer o mínimo.
Aqueles que leram o cenário "The Burning Stars" do livro "Terrors from Beyond" devem saber a que me refiro. Essa aventura começa de forma diferente e a medida que os mistérios vão sendo revelados e a investigação vai se aprofundando, os personagens (e porque não dizer, os jogadores) começam a sentir que a coisa não vai acabar bem.
E de fato não acaba...
"The Burning Stars" (As Estrelas que Queimam) é o último cenário de uma antologia de aventuras para Call of Cthulhu clássico BRP. Ela foi escrita pelo australiano David Conyers, na minha opinião um dos melhores escritores de aventuras de CoC, responsável pelo livro Secrets of Kenya e pela coleção de contos XXX. A quantidade de detalhes dessa estória e a originalidade do roteiro me deixaram impressionado. Não é todo dia que a gente se depara com uma estória que poderia ser transformada em um roteiro de filme, e é exatamente essa impressão que "The Burnig Stars" deixa.
De certa forma, eu cheguei a me sentir um tanto intimidado por essa aventura. Cheguei a pensar que eu não conseguiria passar o clima dela, ou traduzir na sessão de jogo a sensação sufocante de um pesadelo do qual não se consegue despertar... é uma estória difícil, cheia de reviravoltas que ao meu ver precisa contar com a boa vontade e um determinado grau de envolvimento dos jogadores. Se alguma coisa sair da linha, a coisa pode dar errado e a aventura toda perde o choque, a carga dramática e o próprio sentido. Por essas e outras, eu não queria desperdiçar esse cenário...
E felizmente, peguei o grupo certo para o jogo.
Peço desculpas a todos por estar sendo tão vago nesse "report da sessão". Reconheço que em alguns momentos, escrever sobre as experiências de jogo, essas Mesas Tentaculares, acaba sendo complicado, pois tento não revelar os detalhes da trama, uma vez que pretendo narrá-las novamente. E nesse caso em especial, contar demais acabaria estragando o divertimento alheio. O que posso dizer com certeza é que "The Burning Stars" é uma das melhores aventuras que já narrei. Sem dúvida ela está no meu TOP 5 e pretendo reprisar essa estória de horror e loucura nos anos 1930.
Bem, se não posso dar detalhes sobre a trama, ao menos posso colocar aqui as fotografias de como foi o jogo e dos props/ handouts que usei na sessão.
Fotos da Sessão:
A mesa contou com cinco jogadores. Eu cheguei a achar em um primeiro momento que essa estória deveria ser jogada apenas por veteranos que conhecessem Call of Cthulhu e a proposta do jogo. Mas surpresa das surpresas, dois dos jogadores estavam em sua primeira investigação lovecraftiana e se saíram muitíssimo bem.
Call of Cthulhu é um dos únicos RPG que eu conheço que se vale do benefício dos jogadores desconhecerem o cenário. De certa forma, quanto menos um iniciante souber a respeito do universo do Mythos melhor... ele assim não sabe o que esperar, não imagina o que vai encontrar e onde seu personagem está se metendo. Isso aumenta e muito a sensação de "soco na boca do estômago" que se experimenta em um cenário de horror cósmico - ainda mais nesse em especial.
Cinco jogadores entram, apenas um sai vivo. "The Burning Stars" é um daqueles cenários em que você sente que as coisas não vão terminar bem logo nas primeiras cenas. As ameaças que vão se avolumando são colossais e lá pelas tantas, o risco de seu personagem perder a sanidade, a vida (e a própria alma) faz com que o pesadelo niilista se instaure em todos.
Espero que o pessoal tenha gostado, da minha parte foi um prazer deixá-los loucos (com direito a insanidade total) e arrancar seus membros um a um. E acreditem, não estou falando em sentido figurado.
Props/ Handouts e Material de Jogo
Eu queria fazer algo diferente para esse cenário, investir no visual dos handouts e oferecer uma ficha que fosse específica para o jogo.
Estes personagens prontos são específicos para o jogo, eles se encaixam perfeitamente na ambientação. A introdução do cenário até permite que os jogadores criem ou usem seus próprios personagens, mas acho que para o cenário funcionar perfeitamente o grupo deve usar os personagens indicados.
É claro, eu fiz algumas mudanças de última hora. Inclui um personagem que não estava na lista e preferi cortar dois que poderiam dificultar a interpretação. No final das contas ficou na medida certa.
O grupo era formado por dois detetives particulares de uma agência de investigação de Nova York, indivíduos contratados para solucionar um estranho caso de desaparecimento. Eles eram acompanhados por um consultor, com contatos no submundo, o tipo do sujeito capaz de encontrar as pessoas certas e estabelecer uma negociação. Fechavam o grupo, o sujeito que contratou os serviços da agência, um obstinado financista e milionário americano e seu guarda costas de confiança.
Gostei das imagens dos personagens e da biografia de cada um deles. Personagens desse tipo sempre fornecem elementos para os jogadores trabalharem.
Outra coisa que eu sempre me divirto é quando os jogadores começam a ler a ficha e descobrem que seus personagens possuem habilidades combativas e farto armamento à sua disposição. "Isso não pode ser boa coisa", os mais experientes comentam.
Essa é uma daquelas aventuras extremamente investigativas. Boa parte do cenário envolve andar de um canto para o outro e coletar pistas que vão servir para entender o mistério. "The Burning Stars" faz o caminho inverso da maioria das aventuras. As pistas já foram reunidas, mas os investigadores precisam descobrir como elas se encaixam a fim de montar o quebra-cabeças.
Eu fiz várias dos Handouts usando diferentes fontes e papel de impressão de gramatura diferente para dar a impressão de que algumas delas eram jornal ou documentos oficiais.
Foi uma boa oportunidade para usar essa imagem "Fight Satanism!" (Combata o Satanismo!) que não faz parte originalmente da aventura, mas que encaixou perfeitamente num trecho que inseri na trama.
Essas cartas de tarot não fazem parte do cenário.
Originalmente eu pretendia utilizar cartas de tarot de verdade, mas no fim acabei preferindo essas aqui. Elas são do Tarokka Deck (o baralho usado pelos ciganos na ambientação de Dungeons and Dragons - Ravenloft). Eu sei, eu sei... algumas dessas cartas não existem no baralho de tarot, visto que são adaptadas para uma ambientação de fantasia. Por outro lado, esse baralho é bonito demais para ficar guardado no fundo da gaveta.
Era a chance de usá-lo novamente, depois de um bom tempo.
A aventura tinha dois props físicos que não deram muito trabalho para fazer. O primeiro era essa chave do quarto de Hotel ocupada pelos personagens.
A outra já deu um trabalhinho...
Um pote de vidro de uma espécie de empório, o Sugarcane, que negocia objetos ligados a práticas vodu. O Sugarcane realmente existe, é uma loja estabelecida em Nova York no início do século por uma suposta sacerdotiza Vodu. A loja, oferece e negocia artigos incomuns.
Dentro do pote, uma curiosa mariposa morta. Eu pensei em arranjar uma mariposa de verdade para colocar no pote, mas quem disse que a gente encontra essas coisas quando precisa?
Tive que quebrar o galho achando uma imagem condizente que imprimi, cortei e colori. No final das contas ficou perfeito. Parecia realmente um inseto de verdade no fundo do vidro e o pessoal ficou meio reticente quanto a abrir o frasco e ver o que estava dentro.
Bom pessoal, é isso...
O espirituoso Barão Samedi diz boa noite à todos e aguarda novos jogadores em breve para esse cenário.
Já me convenceu antes do post. Encomendei o livro!
ResponderExcluirMamedes
Espero que você goste Mamedes. O livro tem altos e baixos, mas essa aventura vale a compra.
ResponderExcluirBoa tarde,
ResponderExcluirO meu nome é Ricardo e desde há muitos anos que sou fã de Lovecraft. Há cerca de 2 semanas conheci um projecto de um videogame no Kickstarter que se chama U55 - End of the Line (http://www.kickstarter.com/projects/u55/u55-end-of-the-line) produzido pelos Effective Evolution. Este jogo que decorre num metro da Rússia no tempo actual, é baseado nos contos de Lovecraft.
Neste momento, a Effective Evolution juntou-se com a revista alemã Cthulhus Ruf, criando um concurso que também apoiará a criação deste videogame(http://www.cthulhus-ruf.de/undergroundengl/).
O concurso consiste na criação de uma aventura para o jogo de BRP Call of Cthulhu. Tenho estado em contacto com esta empresa de Berlin, e eles estão interessados em encontrar mais sites, fóruns e blogs de seguidores de Lovecraft para poder publicitar o seu trabalho. Posso indicar o vosso contacto a Effective Evolution?
Cumprimentos,
Ricardo Esteves
Haha, Luciano, mais uma daquelas postagens que dá "raiva" de ler. Quero saber tudo, como os jogadores reagiram,, as pistas, o desenrolar da história, as interpretações... e fico limitado a fotos e mais fotos que evidenciam a desgraça de jamais saber como as coisas foram! Um dia vou até o rio pra jogar contigo e descobrir todos esses segredos haha.
ResponderExcluirEnfim, muito bom, parece um cenário interessante, levando em conta esse monte de handouts/props e seu próprio comentário sobre o bom desenvolvimento do jogo. Quem sabe um dia desses eu não leio essa história (pena meu inglês ainda não ser muito bom, mais um motivo para investir nisso).
Abraço!
Parabéns, Luciano, aventura muito boa, e como sempre tudo feito com muito esmero!!! O carinha vodu me lembrou o feiticeiro da animação da Disney A Princesa e o Sapo (Seria Nyarlatothep?), queria saber se vc comprou o Tarokka Deck separado ou ele veio na caixa do Ravenloft original? Abraço.
ResponderExcluirRicardo, claro pode mandar o contato. Sem problema.
ResponderExcluirMortis, quando você aparecer aqui pode ter certeza que tem uma vaga esperando para jogar. ;-)
Elvys, O Tarokka Deck foi comprado à parte. É o do Ravenloft 3,5. Muito bonito por sinal.
Nada a ver com o assunto da mensagem, mas não podia deixar de comentar por aqui. Você já viu o Raiders of R'lyeh?
ResponderExcluirhttp://www.kickstarter.com/projects/1375282718/raiders-of-rlyeh-horror-adventure-rpg-and-mythos-s
Abraço!
Essa aventura cabe legal em uma sessão? Foram quantas horas de jogo?
ResponderExcluirNa realidade ela é meio extensa. A sessão começou por volta das 14:00 horas e terminou às 19:00, mas eu dei uma corrida na metade para caber tudo em uma sessão.
ResponderExcluirO ideal dela é que seja um pouco mais desenvolvida.