Nosso incansável colega Clayton Mamedes (sempre ele!) perseguindo tudo relacionado ao universo dos mortos vivos, seja no cinema, na literatura ou na cultura pop em geral conseguiu novamente.
Dessa vez ele realizou uma entrevista com o autor brasileiro Alexandre Callari responsável pelo sucesso "Apocalipse Zumbi: Os Primeiros Anos", lançado pela Editora Évora.
A história avança com a sequência "Apocalipse Zumbi: Inferno na Terra" que narra os acontecimentos posteriores a crise global que ficou marcada pela proliferação de zumbis surgindo em hordas e espalhando o caos pelo mundo.
A resenha do primeiro livro, escrita pelo Mamedes pode ser encontrada no link:
Resenha Apocalipse Zumbi: Os Primeiros Anos
O Autor (Biografia da Página da Editora Évora):
Alexandre graduou-se em Letras. É escritor, tradutor, palestrante e aficionado por cinema, teatro, televisão e quadrinhos. No passado, também trabalhou com música e artes marciais.
É autor de vários livros, dentre eles Apocalipse Zumbi - os primeiros anos, Desvendando Nelson Rodrigues e a aclamada série Quadrinhos no cinema. Traduziu para o português obras como Conan - o Bárbaro, Nos bastidores do Pink Floyd e Branca de Neve - os contos clássicos, publicadas pela editora Generale.
Proprietário de uma coleção de mais de 13.000 quadrinhos antigos, Callari viaja pelo país fazendo exposições das suas edições raras. É editor e apresentador do site Pipoca & Nanquim, com Bruno Zago e Daniel Lopes, em que faz o que realmente adora: falar de cinema e quadrinhos. Atualmente, é um dos editores das revistas DC no Brasil.
ENTREVISTA
Mundo Tentacular - Olá
Alexandre! Primeiramente gostaria que você se apresentasse brevemente para os
leitores do Mundo Tentacular.
Alexandre Callari - Olá a todos. Sou
um grande fã de cultura pop em geral e um apreciador de cinema e quadrinhos.
Atualmente trabalho como editor das revistas da DC Comics no Brasil, sendo
responsável por títulos como Batman e
Liga da Justiça. Meu trabalho como
tradutor inclui mais de 30 livros, com destaque para a biografia Alan Moore – O Mago das Histórias (Myhtos),
Conan – o Bárbaro (Generale), Nos Bastidores do Pink Floyd (Generale),
Batmóvel (Panini) e Branca de Neve (Generale), que além da
tradução de várias versões da fábula da Branca de Neve, contém uma recriação de
minha autoria. Como escritor, sou co-autor da série Quadrinhos no Cinema, atualmente no seu terceiro volume, e de Apocalipse Zumbi, o primeiro livro do
gênero escrito por um brasileiro e cuja continuação saiu este mês. Também sou
editor do blog Pipoca e Nanquim, especializado em cinema e quadrinhos.
MT -Você
se recorda de quando virou um fã inveterado de zumbis? O primeiro filme que
assistiu?
AC - A Volta dos Mortos-Vivos, em 1985. Foi
definitivamente o que me fez apaixonar-me pelo gênero. Só fui conhecer Romero
depois.
MT - Falando
em influências zumbis e não-zumbis, qual a sua favorita e mais importante para
a sua obra? Filme? Livro? Autores favoritos?
Sem sombra de
dúvida a trilogia inicial de George Romero, no sentido de que ele faz uso dos
zumbis como pano de fundo para discutir a condição humana. Mas fui bastante
influenciado pelo filme Extermínio, já
que na minha obra, os zumbis vêm de contaminação (não mortos-vivos) e acredito
que, até hoje, o longa-metragem de Danny Boyle é seminal para esta vertente.
Obviamente as centenas de filmes e quadrinhos que li também me influenciaram de
algum modo, com destaque para as HQs de The
Walking Dead, mas provavelmente foi num nível mais inconsciente.
AC - Sim. Nós só não
sabíamos se o livro funcionaria. Por ser o pioneiro, estávamos pisando em ovos.
De fato, tínhamos a sensação de que zumbis se tornariam uma febre (fiz a
proposta do livro em 2009, antes mesmo da série The Walking Dead sair), mas não era certeza. Assim, criei um livro
que desse o gancho para a continuação da história que eu queria contar, mas que
fosse, ao mesmo tempo, autocontido – caso resultasse num fracasso e eu não
pudesse escrever os restantes.
MT - Apocalipse
Zumbi: Os Primeiros Anos foi um sucesso de público e crítica, se destacando
mesmo nesta época em que temos o medalhão The
Walking Dead. Você esperava de alguma forma, esta recepção?
AC - Como disse
acima, tudo indicava que o livro seria bem recebido – mas nunca é uma certeza.
Na minha mente, The Walking Dead deflagraria
uma febre e os fãs da série buscariam, necessariamente, mais produtos do
gênero. Foi exatamente o que aconteceu. Muitas editoras lançaram livros de
autores estrangeiros, mas a Generale, com quem sempre tive um bom
relacionamento, decidiu apostar num autor nacional. O que foi ótimo pra mim
(He-he-he). Na esteira, outras editoras fizeram o mesmo e, agora, temos outros
autores no mercado que lançaram livros bem bacanas também.
MT - Como
você vê o surto pop dos zumbis? Antes
eles eram rotulados como algo mais Cult
e até mesmo Trash. Hoje estão na
moda. É saudável ou até mesmo perigoso?
AC - Saudável. É uma
forma de extravasar, de se divertir, de encontrar os amigos e discutir algo que
todos gostam. Não é diferente dos fãs de Star
Wars, Senhor dos Anéis, Harry Potter ou Star
Trek. Claro que, se a pessoa perder a medida da realidade, pode se tornar
perigoso – mas isso ocorre com tudo. Há relatos de atores que interpretaram
vilões em novelas de Globo e passaram a ser injuriados na rua. Há histórias
trágicas no mundo da música, literatura e dos games. Mas o problema são as
pessoas – o desequilíbrio delas – e não os produtos em si.
MT - Quanto
tempo você levou para escrever Apocalipse Zumbi: Os Primeiros Anos e a
sequência, Inferno na Terra? Como é a sua rotina criativa?
AC - Tenho uma forma
muito particular de escrever. Na verdade, não consigo redigir nem uma única
linha se eu não estiver com toda a narrativa delineada na minha cabeça. Não sou
aquele tipo de escritor que começa uma história, compõe uma página e se deixa
levar por ela, pensando: “Ok, vamos ver aonde esta linha narrativa vai me
levar”. Acho isso perigoso para o processo criativo. O que o autor pode ganhar
na espontaneidade, pode perder no ritmo, sequência dos fatos, verossimilhança
dos personagens, etc. Meu processo é mais cerebral – o que não quer dizer que
seja certo ou errado. É apenas meu processo. Por exemplo, para escrever o
primeiro livro, matutei a história por 6 meses antes de escrever uma única
linha (o que deve ter dado um frio na espinha do meu editor). Porém, quando
comecei a escrever, foram só 3 meses de redação, pois a história já estava
inteira “escrita” na minha cabeça.
MT - No evento de lançamento de Inferno na Terra,
você comentou comigo sobre Lovecraft e os Mitos de Cthulhu. Apesar dele nunca
ter escrito algo com zumbis (o mais perto disso foi em Cool Air e The Case of
Charles Dexter Ward), existe alguma influência dele em sua obra?
MT - Quais foram as maiores dificuldades que você
encontrou para publicar os seus livros? E as maiores vitórias? Você pode dar
umas dicas para quem deseja publicar?
AC - No meu caso, como já tinha acesso à editora por causa
das traduções, não foi questão de escrever o livro e sair batendo de porta em
porta. Nós discutimos juntos a proposta, concordamos que seria uma boa aposta
e, deste ponto em diante, foi uma questão de arredondar o projeto. Devo ter
feito 4 ou 5 versões do projeto até chegarmos no estágio final – aquele que
seria um provável “produto vencedor”. Recentemente eu dei um curso na Livraria
Cultura sobre como publicar seu livro, como escrever esse projeto e abordar as
editoras. É uma inocência achar que basta você escrever um livro, enviar o
manuscrito ou o pdf para 30 editoras, e apenas aguardar telefonarem. Isso
simplesmente não acontece – a mesa de qualquer editor o afoga de tantos
manuscritos que ele recebe semanalmente. O melhor caminho hoje em dia é tentar
estabelecer relacionamentos com as editoras via mídias sociais e apresentar, no
devido tempo, um projeto sólido e consistente.
MT - O que você pode falar sobre o terceiro e último
volume da série (sem spoilers!)? E sobre seus futuros projetos?
AC - O terceiro volume deve sair com um intervalo menor de tempo que o do primeiro e segundo. Será a conclusão da saga – o que não necessariamente implica no fim deste universo. Manterei as portas abertas para voltar a ele, pois é algo que gosto muito de escrever. Sobre a história, posso dizer que será apoteótica, mas creio que o próprio nome do livro já dá uma dica do quanto. Tenho outros projetos em andamento – estou escrevendo roteiros de cinema para dois cineastas (por ora é segredo), um almanaque nos moldes de Quadrinhos no Cinema que, acredito eu, será muito bacana e tenho planos para outros dois romances para 2014 e 2015, dentro do universo da cultura pop, mas fora do gênero zumbis. O que falta é tempo pra dormir (He-he-he). Um abraço a todos!
AC - O terceiro volume deve sair com um intervalo menor de tempo que o do primeiro e segundo. Será a conclusão da saga – o que não necessariamente implica no fim deste universo. Manterei as portas abertas para voltar a ele, pois é algo que gosto muito de escrever. Sobre a história, posso dizer que será apoteótica, mas creio que o próprio nome do livro já dá uma dica do quanto. Tenho outros projetos em andamento – estou escrevendo roteiros de cinema para dois cineastas (por ora é segredo), um almanaque nos moldes de Quadrinhos no Cinema que, acredito eu, será muito bacana e tenho planos para outros dois romances para 2014 e 2015, dentro do universo da cultura pop, mas fora do gênero zumbis. O que falta é tempo pra dormir (He-he-he). Um abraço a todos!
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