sábado, 14 de setembro de 2013

O Apocalipse Continua - Entrevista com Alexandre Callari autor da Trilogia Apocalipse Zumbi


Nosso incansável colega Clayton Mamedes (sempre ele!) perseguindo tudo relacionado ao universo dos mortos vivos, seja no cinema, na literatura ou na cultura pop em geral conseguiu novamente.

Dessa vez ele realizou uma entrevista com o autor brasileiro Alexandre Callari responsável pelo sucesso "Apocalipse Zumbi: Os Primeiros Anos", lançado pela Editora Évora.

A história avança com a sequência "Apocalipse Zumbi: Inferno na Terra" que narra os acontecimentos posteriores a crise global que ficou marcada pela proliferação de zumbis surgindo em hordas e espalhando o caos pelo mundo.

A resenha do primeiro livro, escrita pelo Mamedes pode ser encontrada no link:

Resenha Apocalipse Zumbi: Os Primeiros Anos


O Autor (Biografia da Página da Editora Évora):

Alexandre graduou-se em Letras. É escritor, tradutor, palestrante e aficionado por cinema, teatro, televisão e quadrinhos. No passado, também trabalhou com música e artes marciais.

É autor de vários livros, dentre eles Apocalipse Zumbi - os primeiros anos, Desvendando Nelson Rodrigues e a aclamada série Quadrinhos no cinema. Traduziu para o português obras como Conan - o Bárbaro, Nos bastidores do Pink Floyd e Branca de Neve - os contos clássicos, publicadas pela editora Generale.

Proprietário de uma coleção de mais de 13.000 quadrinhos antigos, Callari viaja pelo país fazendo exposições das suas edições raras. É editor e apresentador do site Pipoca & Nanquim, com Bruno Zago e Daniel Lopes, em que faz o que realmente adora: falar de cinema e quadrinhos. Atualmente, é um dos editores das revistas DC no Brasil.

ENTREVISTA

Mundo Tentacular - Olá Alexandre! Primeiramente gostaria que você se apresentasse brevemente para os leitores do Mundo Tentacular.

Alexandre Callari - Olá a todos. Sou um grande fã de cultura pop em geral e um apreciador de cinema e quadrinhos. Atualmente trabalho como editor das revistas da DC Comics no Brasil, sendo responsável por títulos como Batman e Liga da Justiça. Meu trabalho como tradutor inclui mais de 30 livros, com destaque para a biografia Alan Moore – O Mago das Histórias (Myhtos), Conan – o Bárbaro (Generale), Nos Bastidores do Pink Floyd (Generale), Batmóvel (Panini) e Branca de Neve (Generale), que além da tradução de várias versões da fábula da Branca de Neve, contém uma recriação de minha autoria. Como escritor, sou co-autor da série Quadrinhos no Cinema, atualmente no seu terceiro volume, e de Apocalipse Zumbi, o primeiro livro do gênero escrito por um brasileiro e cuja continuação saiu este mês. Também sou editor do blog Pipoca e Nanquim, especializado em cinema e quadrinhos.

MT -Você se recorda de quando virou um fã inveterado de zumbis? O primeiro filme que assistiu?

AC - A Volta dos Mortos-Vivos, em 1985. Foi definitivamente o que me fez apaixonar-me pelo gênero. Só fui conhecer Romero depois.

MT - Falando em influências zumbis e não-zumbis, qual a sua favorita e mais importante para a sua obra? Filme? Livro? Autores favoritos?

Sem sombra de dúvida a trilogia inicial de George Romero, no sentido de que ele faz uso dos zumbis como pano de fundo para discutir a condição humana. Mas fui bastante influenciado pelo filme Extermínio, já que na minha obra, os zumbis vêm de contaminação (não mortos-vivos) e acredito que, até hoje, o longa-metragem de Danny Boyle é seminal para esta vertente. Obviamente as centenas de filmes e quadrinhos que li também me influenciaram de algum modo, com destaque para as HQs de The Walking Dead, mas provavelmente foi num nível mais inconsciente.

MT - Quando e como surgiu a idéia de escrever Apocalipse Zumbi? Já pensava desde o início em uma trilogia?

AC - Sim. Nós só não sabíamos se o livro funcionaria. Por ser o pioneiro, estávamos pisando em ovos. De fato, tínhamos a sensação de que zumbis se tornariam uma febre (fiz a proposta do livro em 2009, antes mesmo da série The Walking Dead sair), mas não era certeza. Assim, criei um livro que desse o gancho para a continuação da história que eu queria contar, mas que fosse, ao mesmo tempo, autocontido – caso resultasse num fracasso e eu não pudesse escrever os restantes.

MT - Apocalipse Zumbi: Os Primeiros Anos foi um sucesso de público e crítica, se destacando mesmo nesta época em que temos o medalhão The Walking Dead. Você esperava de alguma forma, esta recepção?

AC - Como disse acima, tudo indicava que o livro seria bem recebido – mas nunca é uma certeza. Na minha mente, The Walking Dead deflagraria uma febre e os fãs da série buscariam, necessariamente, mais produtos do gênero. Foi exatamente o que aconteceu. Muitas editoras lançaram livros de autores estrangeiros, mas a Generale, com quem sempre tive um bom relacionamento, decidiu apostar num autor nacional. O que foi ótimo pra mim (He-he-he). Na esteira, outras editoras fizeram o mesmo e, agora, temos outros autores no mercado que lançaram livros bem bacanas também.

MT - Como você vê o surto pop dos zumbis? Antes eles eram rotulados como algo mais Cult e até mesmo Trash. Hoje estão na moda. É saudável ou até mesmo perigoso?

AC - Saudável. É uma forma de extravasar, de se divertir, de encontrar os amigos e discutir algo que todos gostam. Não é diferente dos fãs de Star Wars, Senhor dos Anéis, Harry Potter ou Star Trek. Claro que, se a pessoa perder a medida da realidade, pode se tornar perigoso – mas isso ocorre com tudo. Há relatos de atores que interpretaram vilões em novelas de Globo e passaram a ser injuriados na rua. Há histórias trágicas no mundo da música, literatura e dos games. Mas o problema são as pessoas – o desequilíbrio delas – e não os produtos em si.

MT - Quanto tempo você levou para escrever Apocalipse Zumbi: Os Primeiros Anos e a sequência, Inferno na Terra? Como é a sua rotina criativa?

AC - Tenho uma forma muito particular de escrever. Na verdade, não consigo redigir nem uma única linha se eu não estiver com toda a narrativa delineada na minha cabeça. Não sou aquele tipo de escritor que começa uma história, compõe uma página e se deixa levar por ela, pensando: “Ok, vamos ver aonde esta linha narrativa vai me levar”. Acho isso perigoso para o processo criativo. O que o autor pode ganhar na espontaneidade, pode perder no ritmo, sequência dos fatos, verossimilhança dos personagens, etc. Meu processo é mais cerebral – o que não quer dizer que seja certo ou errado. É apenas meu processo. Por exemplo, para escrever o primeiro livro, matutei a história por 6 meses antes de escrever uma única linha (o que deve ter dado um frio na espinha do meu editor). Porém, quando comecei a escrever, foram só 3 meses de redação, pois a história já estava inteira “escrita” na minha cabeça.

MT - No evento de lançamento de Inferno na Terra, você comentou comigo sobre Lovecraft e os Mitos de Cthulhu. Apesar dele nunca ter escrito algo com zumbis (o mais perto disso foi em Cool Air e The Case of Charles Dexter Ward), existe alguma influência dele em sua obra?

AC - Não, creio que não. Lovecraft vai numa direção muito oposta à do meu trabalho. Mas, curiosamente, é um dos autores que mais gosto do gênero. Acho seu trabalho infinitamente superior aos chamados “mestres” do terror da atualidade. Eu tinha algumas versões antigas do seu trabalho que saíram em banca nos anos 1990, com uma tradução um pouco sofrível, mas desde que a editora Hedra passou a publicar todo seu material, enfim os leitores brasileiros têm a oportunidade de ler esse grande autor como se deve.
MT -   Quais foram as maiores dificuldades que você encontrou para publicar os seus livros? E as maiores vitórias? Você pode dar umas dicas para quem deseja publicar?
     AC - No meu caso, como já tinha acesso à editora por causa das traduções, não foi questão de escrever o livro e sair batendo de porta em porta. Nós discutimos juntos a proposta, concordamos que seria uma boa aposta e, deste ponto em diante, foi uma questão de arredondar o projeto. Devo ter feito 4 ou 5 versões do projeto até chegarmos no estágio final – aquele que seria um provável “produto vencedor”. Recentemente eu dei um curso na Livraria Cultura sobre como publicar seu livro, como escrever esse projeto e abordar as editoras. É uma inocência achar que basta você escrever um livro, enviar o manuscrito ou o pdf para 30 editoras, e apenas aguardar telefonarem. Isso simplesmente não acontece – a mesa de qualquer editor o afoga de tantos manuscritos que ele recebe semanalmente. O melhor caminho hoje em dia é tentar estabelecer relacionamentos com as editoras via mídias sociais e apresentar, no devido tempo, um projeto sólido e consistente.

   MT - O que você pode falar sobre o terceiro e último volume da série (sem spoilers!)? E sobre seus futuros projetos?

     AC - O terceiro volume deve sair com um intervalo menor de tempo que o do primeiro e segundo. Será a conclusão da saga – o que não necessariamente implica no fim deste universo. Manterei as portas abertas para voltar a ele, pois é algo que gosto muito de escrever. Sobre a história, posso dizer que será apoteótica, mas creio que o próprio nome do livro já dá uma dica do quanto. Tenho outros projetos em andamento – estou escrevendo roteiros de cinema para dois cineastas (por ora é segredo), um almanaque nos moldes de Quadrinhos no Cinema que, acredito eu, será muito bacana e tenho planos para outros dois romances para 2014 e 2015, dentro do universo da cultura pop, mas fora do gênero zumbis. O que falta é tempo pra dormir (He-he-he). Um abraço a todos!

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