Por Eduardo Peret
Muitos fãs da literatura
fantástica já devem ter imaginado como seria legal viver em um mundo onde os
personagens famosos e icônicos de diferentes ficções convivessem com fatos
históricos. A “Liga Extraordinária” de Alan Moore e Kevin O’Neall captou essa
ideia ao reunir personagens de diferentes obras literárias que, não por acaso,
ocorriam simultaneamente ou pelo menos em épocas próximas à Era Vitoriana. Na
estrutura desse tipo de obra, não apenas os livros em que se basearam os
protagonistas, mas também personagens de outros romances e contos de ficção que
por alguma razão se aproximem do contexto principal, são retratados como
integrantes do mundo real.
Agora, imaginem que nosso mundo
realmente foi visitado pelos Grandes Antigos e que os cultos insanos, os
monstros e horrores da obra de H. P. Lovecraft são mais do que elementos
narrativos e coisas que pertencem ao reino dos pesadelos. O que aconteceria se
descobríssemos, a partir das confissões de um condenado, de diários pessoais e
de um relatório de investigação criminal, que os Mythos realmente povoam nossa
realidade? Essa é uma das premissas básicas do livro “Reanimators” (2013, apenas em versão eletrônica, disponível em
Kindle da Amazon), o primeiro romance de Peter Rawlik, fã ardoroso da obra de
Lovecraft, com algumas antologias de contos publicadas, além de participação em
revistas especializadas.
Tal como acontece com tantas
outras criações, “Reanimators” não
era o que o autor tinha em mente quando começou a escrever. Em recente
entrevista (link),
Rawlik explica que estava elaborando um outro enredo, envolvendo o infame Dr.
Herbert West (o protagonista de “Reanimator”)
e outros personagens das obras de Lovecraft. Foi quando ele começou a dar mais
espaço para o Dr. Stewart Hartwell, personagem secundário de “The Dunwich Horror” e a história “ganhou
vida própria”.
A maior parte da trama de “Reanimators” é contada em primeira
pessoa pelo Dr. Hartwell, uma das vítimas colaterais do horror liberado por
Herbert West e seu assistente Daniel Cain. Em sua busca por vingança, Hartwell
acaba trilhando um caminho semelhante ao de West. Ele justifica suas ações
primeiro com a ânsia por justiça e, mais tarde, com a preocupação em proteger a
Humanidade. Tal como acontece com tantos personagens cheios de boas intenções,
suas atitudes acabam causando mais problemas do que benefícios. É possível
perceber a lenta mas inexorável queda do personagem em um mundo de loucura e
amoralidade.
Porém, não se deve deixar que o
título e a imagem da capa enganem o leitor. “Reanimators” começa como uma trama de vingança, mas cresce para se
tornar muito mais. Cobrindo o período de 1905 a 1930, o livro conecta de forma
admirável diferentes personagens e eventos da mitologia lovecraftiana, tanto no
palco principal, a cidade de Arkhan, como nas infames regiões próximas de
Dunwich, Quirk e Innsmouth. Os conhecedores dos Mythos poderão se deliciar
associando nomes e datas, procurando referências diretas e indiretas e
comparando partes do texto com as obras originais. Para evitar entrar em
detalhes e dar “spoilers”, não convém citar nominalmente os personagens
envolvidos, mas quem conhece a obra do mestre não terá problemas em
reconhecê-los (inclusive a participação especial de pelo menos um Grande Antigo
e de “monstros” que são velhos conhecidos dos fãs). É interessante ver,
inclusive, algumas histórias vistas sob uma outra ótima, da mesma forma que a
trama central. Não pense, entretanto, que o autor apenas amarrou tramas; o
livro vai muito além. Só para se ter uma noção, o próprio West deve fazer parte
de cerca de um terço ou menos do livro.
Outro mérito da obra é costurar
elementos de fantasia com fatos históricos, como a I Guerra Mundial, a Gripe
Espanhola e o naufrágio do Titanic. Além disso, como foi dito no início,
personagens de outras histórias e autores diversos são citados ou até
participam da trama. Rawlik disse que, nos estudos para compor personagens e
cruzar situações, ele teve que ler ou reler clássicos da literatura cujas
histórias de alguma forma poderiam ser inseridas no livro.
Escrito em capítulos relativamente
curtos e com estruturas e vocabulário pesquisados, o texto procura se aproximar
da linguagem que seria usada nos anos 20-30. Apesar de essa iniciativa ser
arriscada e abrir espaço para erros e anacronismos, o autor se sai
relativamente bem. Para quem vai ler no Kindle, é bom manter o aplicativo do
dicionário ativo. Quase todos os capítulos têm início num ritmo descritivo e
mais lento e, várias vezes, começam com uma curta recapitulação da história até
o momento, para depois acelerar a alcançar um clímax, que geralmente abre
espaço para um novo capítulo – essa foi uma forma de homenagem de Rawlik à
literatura “noir” e “pulp”. As descrições de Arkhan e das terras vizinhas são
suficientes para se imaginar uma pacata cidade da Nova Inglaterra, assolada por
mistérios que seus habitantes ignoram quase completamente – um cenário digno de
Lovecraft.
A edição final do texto deixou
passar vários erros ortográficos e repetições de palavras, mas isso não deve
atrapalhar a leitura. De um modo geral, o livro é muito bom tanto para fãs dos
Mythos como para aqueles que querem experimentar essa leitura pela primeira
vez.
* * *
Reanimators pode ser encontrado na Amazon (nesse link) em versão impressa e e-book.
Autor: Peter Rawlik
Editora: Night Shade Books
280 páginas
Em inglês
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