domingo, 29 de dezembro de 2013

Eclipse de Colombo - Como conhecimento de astronomia pode salvar sua vida


Os eclipses no passado eram considerados fenômenos assustadores e incompreensíveis. Eram tidos como presságios de grandes catástrofes ou de mau agouro. Povos da antiguidade observavam os céus com um misto de fascinação e terror. Existe uma teoria de que a avançada astronomia dos Incas e Maias só foi alcançada porque os governantes desejavam saber de antemão quando haveria um fenômeno celestial a fim de manter seus súditos tranquilos. 

Mas nem todos os povos da antiguidade tinham esse conhecimento e para eles um eclipse era um mistério contemplado com inenarrável terror.

Foi graças ao seu conhecimento de astronomia que o grande navegador genovês Cristovão Colombo se salvou da morte certa. 

No dia 12 de Outubro de 1492, como todos os alunos do ensino fundamental devem saber, Colombo alcançou uma ilha a Nordeste de Cuba, marcando daquela maneira a Descoberta da América. Mais tarde deu-lhe o nome de São Salvador. O que nem todos sabem, é que durante os dez anos seguintes, Colombo fez outras viagens ao "Novo Mundo", tentando provar sua convicção de que tinha chegado ao Oriente navegando para Oeste.

Foi na sua quarta e final viagem, enquanto explorava a costa da América Central, que Colombo se viu em maus lençóis. Sua esquadra deixou o Porto de Cádiz, Espanha, em 11 de Maio de 1502, com os navios Capitana, Gallega, Vizcaia e Santiago de Palos. Infelizmente, graças a uma praga de cupins que atacaram as embarcações, Colombo foi forçado a abandonar dois dos seus navios e finalmente teve que dar como encalhadas as suas duas últimas caravelas na costa norte da Jamaica a 25 de Junho de 1503.

Inicialmente, os nativos da Jamaica receberam os náufragos de braços abertos, providenciando-lhes comida e abrigo, mas à medida que os dias se transformaram em semanas, as tensões escalaram. Finalmente, após terem estado encalhados durante mais de seis meses, metade da tripulação de Colombo se amotinou. Os homens pilharam um depósito de comida, raptaram mulheres e assassinaram homens. Furiosos, os nativos, em maior número, mataram os amotinados e capturaram os demais espanhóis que juravam não ter participado do levante.

De nada adiantaram as explicações de Colombo, todos foram colocados em uma tenda para aguardar a decisão do chefe tribal, de como seriam executados.

Colombo em meio ao desespero formulou um plano engenhoso.

Quem veio em seu auxílio foi Johannes Müller von Königsberg (1436-1476), um importante matemático, astônomo e astrólogo  alemão conhecido pelo nome latino de Regiomontanus. Antes da sua morte, Regiomontanus publicou um almanaque contendo tabelas astronômicas cobrindo os anos entre 1475 e 1506. O Almanaque de Regiomontanus veio a revelar-se de grande valor, pois as suas tabelas astronômicas continham informações acerca do Sol, Lua e planetas conhecidos, bem como as mais importantes estrelas e constelações essenciais para a navegação. Depois de ter sido publicado, nenhum marinheiro se aventurava ao mar sem uma cópia do almanaque. Com a sua ajuda, exploradores foram capazes de traçar rotas comerciais e de se aventurar em mares inexplorados à procura de Novos Mundos.

Colombo, claro, tinha uma cópia com ele enquanto estava preso na Jamaica. Estudando as tabelas, descobriu que na noite de Quinta, 29 de Fevereiro de 1504, um eclipse total teria lugar pouco tempo depois do nascer da Lua.


Armado com o seu conhecimento, três dias antes do eclipse, Colombo pediu uma reunião com o Chefe e anunciou que o seu Deus estava enfurecido com os nativos por manter os marinheiros cativos. Sua cólera era tamanha que Ele estava prestes a mostrar um claro sinal de Seu descontentamento: dali a três noites, obliteraria a Lua nascente, tornando-a "vermelha como sangue". O líder tribal deve ter olhado para seus feiticeiros apreensivo - a Lua de Sangue (o eclipse total lunar) era tido como um dos presságios mais temidos. Mesmo assim, o chefe ordenou que os marinheiros permanecessem presos até sua decisão final.

Na noite prevista, à medida que o Sol se punha a Oeste e a Lua começava a emergir para lá do horizonte a Leste, era óbvio para todos que algo estava terrivelmente errado. Quando a Lua subiu totalmente acima da linha do horizonte, ela estava incompleta!

E, apenas uma hora mais tarde, à medida que afundava na escuridão, a Lua exibia uma aparência incendiária e "ensanguentada": no lugar da normalmente brilhante Lua Cheia de Inverno, agora pairava uma ténue bola vermelha nos céus.

De acordo com o filho de Colombo, Fernando, os nativos ficaram aterrorizados com tal acontecimento e "... com gritos vociferantes e lamentações correram para todas as direções, se jogando no chão e gritando apavorados. Aproveitando a situação, Colombo ordenou que todos fossem soltos e que os navios fossem reparados e estocados com provisões. Rezando ao Almirante para interceder por eles junto do seu Poderoso Deus, o líder prometeu que a tribo iria cooperar com Colombo e com os seus homens desde que ele restaurasse a Lua ao seu estado normal. O explorador disse aos nativos que teria que retirar-se para conversar em privado com a divindade e implorar que ele se acalmasse. Fechou-se então na sua cabine durante uns cinquenta minutos.

O "Deus" que ele teria de apaziguar era na verdade uma ampulheta que Colombo virava a cada meia hora para medir os diferentes estágios do eclipse, com base nos cálculos providenciados pelo Almanaque de Regiomontanus.

Momentos antes do fim da fase total do Eclipse, Colombo reapareceu, anunciando aos nativos que havia convencido Deus a poupá-los e que iria permitir o regresso gradual da Lua a sua forma original. E momentos depois, tal e qual a palavra de Colombo, a Lua lentamente começou a reaparecer para alívio da tribo. A partir daí, trataram Colombo e os seus homens bem, alimentando-os enquanto reparavam os navios avariados. Em 29 de junho de 1504, uma caravela surgiu no horizonte para resgatar os marinheiros perdidos. Colombo e a sua tripulação regressaram a Espanha no dia 7 de Novembro com uma grande história para contar.

Num interessante pós-escrito desta história, em 1889, Mark Twain, provavelmente influenciado pelo truque do eclipse, escreveu o romance "A Connecticut Yankee in King Arthur's Court". Na ficção, o personagem principal, Hank Morgan, usa um truque semelhante ao de Colombo para vencer Merlin numa disputa de magia.

Morgan "prevê" um eclipse solar que sabe que vai acontecer. No processo, reclama poder sobre o Sol. Oferece de bom grado o regresso da estrela ao céu em troca da sua liberdade e de uma posição como "ministro executivo perpétuo" na Corte de Arthur.

O único problema com esta história é que na data citada por Mark Twain - 21 de Junho do ano 528 - nenhum eclipse teve lugar. De fato, havia já três dias que a Lua tinha passado a sua fase de Cheia, uma configuração que não pode gerar um eclipse.

Mas essa não foi a última vez que saber astronomia se provou um recurso vantajoso para exploradores em perigo. Quatrocentos anos mais tarde, em 18 de fevereiro de 1905, o Capitão Belga Albert Paulis e vinte de seus homens foram capturados em uma área da África Central, pelos Mangbettu uma tribo hostil conhecida entre outras coisas pelos seus hábitos canibalescos.

O grupo de Paulis foi torturado e sofreu horrivelmente, enquanto os nativos se preparavam para oferecê-los em um banquete em homenagem ao Rei Yembio. Enquanto esperava a inevitável execução, Paulis se pôs a folhear um Almanaque Astronômico deparando-se com um eclipse lunar que estava prestes a acontecer. Lembrando-se do truque empregado por Colombo, ele exigiu ser levado diante do Rei.

Os Mangbettu permitiram que ele falasse abertamente. O explorador pediu uma lâmina e talhou a mão afirmando que qualquer ferimento desferido em seu corpo teria reflexo na face da Lua, portanto se eles matassem qualquer um dos exploradores, estariam "matando a Lua". Os nativos o olharam incrédulos, os feiticeiros riram e disseram que ele era louco, mas o Rei ficou preocupado e mandou o explorador de volta para a prisão. Horas mais tarde, Paulis e seus homens ouviram uma enorme comoção e o Rei mandou convocá-los imediatamente.

Quando chegaram escoltados a sala do trono, perceberam que as cabeças dos feiticeiros estavam empilhadas ao lado do trono ocupado pelo Rei de Yembio. O monarca implorou que Paulis restaurasse a Lua à sua forma original uma vez que "se ela continuasse a sangrar daquela maneira, inundaria o mundo com sangue e mataria a todos afogados".

Aproveitando a situação, Paulis exigiu que o Rei prometesse libertá-los e dali em diante tratasse bem os exploradores. O Rei Canibal imediatamente concordou. Só então, do lado de fora, Paulis gritou à plenos pulmões pedindo que o Eclipse terminasse. Minutos depois, a Lua perdeu o seu halo vermelho que tanto terror despertou nos nativos, voltando ao normal. Paulis e seus homens foram libertados.

Então, em sua próxima viagem a uma terra hostil, não esqueça de levar consigo um Manual de Astronomia. 

Ele pode salvar sua vida. 

Um comentário:

  1. Fantástico, temos histórias tão insólitas que as vezes achamos que não são reais!

    ResponderExcluir