domingo, 3 de agosto de 2014

Peça Sangrenta - Montagem de Shakespeare provoca choque e desmaios


A noite de abertura da mais nova montagem da peça Titus Andronicus de William Shakespeare apresentada no tradicional Teatro Globe de Londres terminou de forma incomum.

Pelo menos duas pessoas desmaiaram e outras tantas tiveram de deixar a platéia para tomar um ar durante a encenação da mais sangrenta obra do celebrado dramaturgo. Titus Andronicus é conhecida como a peça mais violenta de Shakespeare, uma obra onde o sangue ocupa um espaço central, e onde as ações dos personagens sempre terminam em maior derramamento de sangue. Contudo, as montagens sempre censuraram, ao menos em parte, a violência crua do texto. A nova montagem que teve sua estréia na semana passada, agiu na contra-mão a esse conceito, abraçando a brutalidade e saudando os espectadores com um show de violência como não se via desde os espetáculos do Grand Guignol.

A trama de Titus Andronicus gira em torno de um general romano que comete o erro fatal de não demonstrar piedade para o filho mais velho de Tamora, a Rainha dos Góticos, que ele havia derrotado em batalha. A crueldade do romano, será paga em espécie, com uma vingança alucinada.

Nem todas as pessoas presentes no público estavam preparadas para o que estava por vir quando a cortina foi aberta. Vários dos groundlings - os espectadores da primeira fila, se surpreenderam com a entrada da atriz Flora Spencer-Longhurst, no papel de Lavinia, adentrando o palco coberta de sangue depois de ser estuprada e ter a língua e as mãos cortadas pelos romanos. Os gritos abafados da atriz, que caminhava trôpega, esbarrando em quem estivesse próximo, deu a partida para o espetáculo visceral.


Em poucos minutos, pelo menos oito pessoas na audiência tiveram de deixar o teatro às pressas, evidenciando o impacto emocional e visual da obra. Os suspiros e arfares dos presentes continuaram durante a performance, a medida que personagens tinham suas gargantas cortadas, membros amputados e uma mulher era estuprada e morta com uma espada. O sangue cenográfico era tanto que se tornou impossível evitar que ele espirrasse nas primeiras filas, manchando os espectadores.

A produção havia alertado que o espetáculo da Companhia Lucy Bailey apresentaria cenas "grotescamente violentas e ousadamente experimentais".

Um porta-voz do Teatro Globe disse que desmaios não são incomuns nas montagens da Companhia. Em 2006, uma apresentação da mesma peça, terminou com pelo menos seis desmaios. Até mesmo a equipe de produção teve que se acostumar com o caráter brutal da peça, alguns membros da equipe não suportaram as imagens e pediram desligamento da montagem. 


"Shakespeare não fez concessões quando escreveu Titus Andronicus – trata-se de uma peça brutal em que a violência é celebrada em seu ápice e a Companhia buscou se aproximar ao máximo da visão original do autor. O objetivo é manter o impacto visual, e portanto recomendamos que pessoas sensíveis não assistam a performance".


Apesar dos avisos, a montagem está com todos os ingressos vendidos para a temporada. Após a abertura e o burburinho que se seguiu, os últimos tickets se esgotaram rapidamente.

A crítica especializada dos principais jornais londrinos escreveu resenhas positivas sobre a montagem:

"Não se trata apenas de uma orgia de sangue. A selvageria é sempre perturbadora e o sadismo realmente desperta repulsa nos espectadores mais sensíveis. Contudo, a franqueza e fidelidade ao texto de Shakespeare, amparado por performances arrebatadoras, torna a apresentação sensacional", escreveu o crítico do jornal The Guardian.

A crítica teatral do Dance and Theater, Sarah Hemming escreveu: "Trata-se de uma produção que cegamente combina detalhes psicológicos com energia extraída da selvageria e do horror, mergulhando o espectador em um pesadelo sangrento"


Emily Francis, atriz da Companhia Hither Green que assistiu a apresentação, disse ter se sentido "vagamente enjoada". Ela contou ainda: "Quando uma das personagens tem as mãos serradas, senti que poderia passar mal e precisei deixar meu assento para tomar um ar e me recuperar".

A brutalidade da peça é tão extrema - terminando com a infame cena em que uma mãe é obrigada a comer pedaços de seus próprios filhos, que a platéia ficou atordoada. Por alguns instantes, após fechar as cortinas, as pessoas não conseguiam reagir, sem saber se deviam aplaudir ou simplesmente deixar o teatro em silêncio.

Jennifer Todd, crítica teatral do London Times, relatou: "Eu jamais vi esse nível de sanguinolência num palco antes, mas a montagem buscou ser fiel aos detalhes do texto. Em se tratando de uma adaptação ela é brilhante". 

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Impossível ler esse artigo, pinçado de vários sites sobre teatro e não lembrar da peça "O Rei Amarelo" concebida por Robert Chambers para sua obra mais conhecida.

No universo lovecraftiano, "O Rei Amarelo" (The King in Yellow) é uma peça teatral tão chocante e assustadora que o público se via de um momento para o outro arrebatado por uma poderosa sensação de horror, choque e loucura. 

Nas ocasiões em que a peça é encenada, o público reage de forma impulsiva e primal: causando a destruição do teatro, agredindo selvagemente quem estivesse por perto ou simplesmente sendo tomado por um choque tão profundo que é incapaz de qualquer reação.

Sempre imaginei se uma peça de teatro, no mundo real, poderia causar tamanho impacto e gerar uma resposta emocional palpável, deixando a platéia fisicamente atordoada. Aparentemente tal coisa é possível, como vimos nesse artigo...

E isso sem recorrer ao Mythos em nenhum momento.


Achou interessante? Leia também esse artigo sobre o Grand Guignol os espetáculos sanguinolentos que faziam sucesso na Europa no início do século XX.

E porque parar por aí? Leia também a respeito dos Insanos Cabarés da Belle Epoque.

3 comentários:

  1. King, tem alguma chance de você postar aqui pra download o Cathulhu ou o Call of Cathulhu? Não quero soar como um pirata aqui mas não tenho como gastar 10 Obamas pra receber PDF de um livro que nem sei se terei a chance de jogar.

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  2. O Blog tem uma postura contra pirataria e compartilhamento de livros/material oficial de RPG.

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  3. Pesado. Nunca imaginaria que uma peca de teatro poderia ser assim. Exceto a The King in Yellow!

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