terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Galeria do Medo II - Mais Quatro Pinturas Assombradas


E vamos dar sequência em nossa Galeria do Medo, com mais quatro pinturas e obras de arte consideradas malditas, assombradas ou amaldiçoadas.

Notem que muitas vezes as obras não são bizarras ou assustadoras, na maioria das vezes elas são até bastante inocentes. Mas é a história por de trás de cada uma dessas pinturas, o background no qual elas foram concebidas e a biografia de seus criadores que realmente importam e constroem o mito aterrorizante.

Vamos a elas...

Love Letters, por Richard King


Aqui está um perfeito exemplo de uma pintura que à primeira vista nada tem de assustador ou maligno. Qualquer um poderia pendurar essa tela na parede de sua casa e jamais desconfiar de sua reputação sinistra.

A pintura chamada de Love Letters (Cartas Amorosas) foi feita por Richard King, um artista que ganhou certo renome na época da Guerra Civil Americana e que era um profundo crítico do conflito. Segundo alguns o quadro retrata a imagem de uma menina, a filha de um amigo de King que servia no Exército Confederado e que foi tragicamente morto na sangrenta Batalha de Gettysburg. Segundo alguns especialistas, a carta nas mãos da menina seria o informe oficial da morte de seu pai que ela alegremente se preparava para entregar à sua mãe. O teor da carta torna a aparente alegria da criança retratada e sua expressão de satisfação algo lúgubre e cheio de mau agouro. O quadro foi mencionado várias vezes por organizações contrárias à guerra e que usaram a imagem como uma forma de denunciar a tragédia da Guerra que ainda estava sendo travada e devastava a vida de incontáveis famílias.

Ok, até aí tudo bem, mas é claro, tem mais...

A pintura de King foi comprada pelo Hotel Driskill estabelecido na cidade de Austin, Texas. O Driskill é considerado por muitos parapsicólogos como o Hotel mais assombrado dos Estados Unidos, um lugar onde se registrou atividade paranormal em vários quartos, em que alguns aposentos, acredita-se, apresentam drásticas variações de temperatura, onde sombras e fantasmas são frequentemente vistos, em que gritos e sons guturais quebram a rotina e onde os próprios funcionários colecionam histórias perturbadoras. 

Além disso, o Driskill se incendiou três vezes (sendo que, em pelo menos duas ocasiões não houve uma explicação de como o fogo se iniciou), ele foi palco de pelo menos um grande massacre (na década de 60 gangsters usaram um quarto para eliminar quatro membros de uma quadrilha rival que foram esquartejados), vários suicídios ocorreram em seu interior e a fama de lugar amaldiçoado só cresceu com a passagem do tempo. O primeiro dono do Hotel, o Coronel Jesse Driskill perdeu todas suas economias e a posse do próprio Hotel nas mesas de pôquer. Alucinado, ele teria cometido suicídio no próprio hotel jurando que seu fantasma iria assombrar o lugar. Alguns acreditam até que o Driskill foi erguido sobre o terreno de uma antiga reserva indígena, possivelmente sobre um cemitério que o contaminou com uma maldição perpétua.

Verdade ou mero boato, "Love Letters" rapidamente se incorporou às lendas macabras do Hotel.

A história mais popular afirma que uma menina chamada Samantha Morton se hospedou no Driskill acompanhando seu um Senador dos Estados Unidos em viagem. O ano era 1887, e a menina ficou encantada pelo quadro pendurado no alto de uma escadaria que levava para o Salão de Jantar do Hotel. A razão para a menina se apaixonar pelo quadro era simples, todos que conheceram a menina afirmavam categoricamente que ela era extremamente parecida com a criança retratada na pintura - além da mesma idade, o tom da pele, a cor dos olhos e cabelos, tudo era muito semelhante, quase como se a pintura tivesse sido feita com Samantha servindo como modelo.

Certo dia, Samantha estava descendo as escadas para se juntar ao pai para o desejum quando inadvertidamente escorregou no alto da escadaria. A criança despencou, antes de chegar ao último degrau já estava morta: o pescoço quebrado pela queda, torcido em um ângulo absurdo. O incidente recebeu grande destaque na imprensa que classificou o ocorrido como uma das mais pesarosas tragédias de Austin. A perda foi demais para o Senador. Após o enterro da menina, ele cometeu suicídio disparando um projétil contra a cabeça. A mãe de Samantha enlouqueceu e foi internada em um asilo onde morreu.

O Hotel contratou um artista para fazer um retrato em homenagem a Samantha. Quando ficou pronta a pintura foi colocada no final do lance de escadas onde ela se acidentou. A semelhança com a menina no quadro de King não passou desapercebida e foi motivo de grande discussão. Curiosamente, a pintura não ficou muito tempo em exposição. Certa noite, o retrato de Samantha Morton foi destruído, a tela retalhada violentamente. Ninguém soube quem foi o responsável pela destruição da pintura. Posteriormente, um novo quadro foi encomendado, mas o artista chamado para concluir a obra contraiu uma doença mortal e morreu antes de completar a tarefa. Mais ou menos nessa época, o Driskill - que já tinha fama de ser assombrado, foi parcialmente destruído em um incêndio e ficou fechado por quase dois anos.

Ao ser reaberto, várias pessoas funcionários e hóspedes começaram a afirmar ter visto uma menina com um vestido cor de rosa circulando pelas escadarias do Hotel. A menina, extremamente semelhante a Samantha Morton sempre parecia sorridente, mas quando alguém se aproximava para falar com ela, corria e sumia em algum corredor como se jamais tivesse existido. Visitantes afirmavam que o quadro exercia uma forte influência sobre pessoas mais sensíveis e que alguns sentiam vertigem e náusea diante da pintura. Alguns acreditavam que a menina na pintura era capaz de se comunicar e que sua expressão mudava de tempos em tempos. Pessoas disseram ter ouvido risadas infantis nos corredores do Hotel e o som de batidas secas nos degraus da escadaria. 

As lendas parecem exageradas, mas o fato do quadro ter sobrevivido a repetidos incêndios sem jamais ter sido danificado acrescenta um detalhe de estranheza. 

Na década de 70, Love Letters foi removido e passado para outro Hotel da Companhia que passou a administrá-lo. Durante a inauguração do Hotel, em Phoenix, houve um incêndio e três pessoas morreram queimadas na sala em que o quadro era mantido. É claro, a pintura sobreviveu ao incidente sem sofrer nenhum dano. 

Depois disso, ele retornou ao Driskill, onde se encontra em exposição até hoje. 

Man Proposes, God Disposes por Sir Edwin Landseer




No Royal Holloway College na Universidade de Londres, pode ser encontrada uma pintura de Edwin Landseer chamada "Man Proposes, God Disposes", datada de 1864. O curioso a respeito dessa obra é que em geral, uma bandeira da Grã-Bretanha cobre a tela impedindo que ela seja apreciada. Isso por que alguns estudantes acreditam que seu mero vislumbre pode pode causar confusão e até loucura só de olhar para ele.

O tema da pintura é realmente sinistro, beirando o macabro. Ela é baseada em um acontecimento notório da História das Explorações, a fracassada Expedição Franklyn ocorrida em 1845. Foram os rumores a respeito do desfecho dessa missão que inspiraram a tela e posteriormente o terror nos alunos.

A pintura de Landseer invoca toda a aura de tragédia que cerca o destino da Expedição em um panorama de pessimismo niilista tamanho que chega a soar sufocante e claustrofóbico. A pintura em si mostra dois ursos polares selvagemente atacando um dos navios da Expedição, bem como os restos mortais da tripulação que embarcou na missão liderada por John Franklin, que buscava a Passagem Norte. Descobrir essa passagem era essencial para a Grã-Bretanha e para os marinheiros do século XIX uma vez que ela ligaria os Oceanos Atlântico e Pacífico reduzindo de maneira considerável distâncias e tempo em viagens marítimas.

"Man proposes, God disposes" revela o quanto os Vitorianos se mostravam angustiados pelo fracasso da expedição científica e o destino da tripulação.

Franklin era um explorador experiente que já havia se aventurado nos mares gelados do Ártico. A Expedição partiu em 1845 composta por dois navios da Marinha Britânica, com 129 homens e suprimentos para três anos. A Expedição partiu cercada por expectativa e excitação. Em 1848, quando nenhum sinal da expedição foi ouvido, várias missões de busca e resgate foram organizadas com o intuito de descobrir seu paradeiro. Em 1854, John Rae liderou uma expedição que conseguiu obter algumas pistas através de tribos de esquimós Inuit que afirmavam ter encontrado restos dos navios nas calotas de gelo. Os tripulantes teriam abandonado os navios encalhados e seguido para terra com o objetivo de montar um acampamento e sobreviver até o degelo no ano seguinte. Os Inuit afirmavam categoricamente que ninguém conseguiria sobreviver ao inverno severo sem as devidas provisões e que certamente todos estariam mortos.

Alguns corpos foram encontrados ao lado de equipamento que serviu para reconhecer aqueles homens como membros da Expedição de Franklin - inclusive o telescópio do comandante visto na pintura. O mais tenebroso, no entanto, foram os inequívocos indícios de que os homens da Expedição sofreram horrivelmente em seus momentos finais no desolado deserto de gelo. Os ossos pertencentes aos tripulantes contavam uma história de horror, loucura e morte, marcada por sinais de violência e canibalismo.

o retornar para a Inglaterra com um relato tão medonho, Rae causou grande controvérsia. Os-vitorianos acreditavam profundamente em sua superioridade moral como a sociedade mais civilizada e avançada da época. Eles não podiam acreditar que ingleses, cristãos poderiam chegar ao ponto da completa barbárie e recorrer ao tabu definitivo, a antropofagia.

Com uma história tão macabra é surpreendente que Thomas Holloway, o fundador da Instituição que levava seu nome, tenha encomendado uma pintura baseada nesse incidente, ainda mais para adornar a parede de sua faculdade, um lugar destinado a Ciência e instrução. O resultado foi essa impressionante tela que realmente não é para os que tem espírito fraco. O objetivo de Edwin Landseer, o artista que a criou, era apresentar uma obra que mostrasse todos os perigos envolvendo a exploração das fronteiras do planeta e como a humanidade em seu desejo de desvendar os mistérios do mundo podia vir a se arrepender de tamanha ousadia.

O próprio título da obra, "Man Proposes, God Disposes" (algo como "O homem propõe, Deus dispõe") alude para todo o perigo manifesto pela ousadia científica de se tentar ir longe demais, embarcando em um caminho sem volta no qual a morte e o esquecimento são as únicas recompensas.

Durante a cerimônia de apresentação da pintura no Salão de Honra da Universidade de Londres muitos convidados se sentiram ultrajados pelo teor da obra. Imaginem só a reação dos parentes e familiares de membros da expedição que estavam presentes à cerimônia e que viram em primeira mão uma interpretação do que havia ocorrido com seus entes queridos. Os jornais da época noticiaram vaias, discussões e até desmaios na ocasião. Diante da reação, a direção da Faculdade decidiu mover o quadro para uma sala de aula ao invés de deixá-lo no Hall de entrada como haviam planejado inicialmente.

Com toda história macabra cercando a pintura, não demorou até começar a surgir rumores a respeito da natureza assombrada do quadro. Alunos e empregados do Holloway se sentiam incomodados pela presença da pintura em uma das salas de aula. Alguns alegavam não serem capazes de suportar a visão, outros simplesmente não conseguiam desviar seus olhos da sangrenta cena ali retratada. Alunos afirmavam sentir dores de cabeça, náusea, vertigem e até mesmo calafrios ao contemplar a obra.

Mas o pior ainda estava para vir.

Em 1886 um aluno que estava fazendo uma prova na sala em que a pintura fora colocada sofreu um ataque epilético causado pelo simples terror de ver os detalhes mórbidos do quadro. O estudante caiu no chão durante uma prova e teve de ser socorrido às pressas, segundo boatos, ele jamais retornou ao Holloway alegando ser incapaz de ficar próximo ao medonho quadro. Na mesma semana, outros estudantes se queixaram da pintura e logo a coordenação de ensino estava sendo abarrotada de cartas de alunos pedindo (de fato, implorando) que "Man Proposes, God Disposes" fosse removido o quanto antes, visto que estava provocando "reações peculiares" em alguns estudantes que experimentavam pesadelos com a horrível pintura.

Certo dia, um dos professores entrou na sala e descobriu que a obra havia sido coberta com uma bandeira da Grã-Bretanha. Ninguém sabe ao certo quem foi o responsável por fazê-lo, mas dali em diante, passou a ser uma tradição no Holloway College que a pintura de Landseer permanecesse coberta por uma bandeira, algo que no entender dos alunos era suficiente para conter a "maldição".

Ainda hoje, a pintura se encontra na sala de aula e é uma tradição que ela permaneça coberta durante o ano letivo sendo exibida, entretanto, em duas ocasiões anualmente: na data em que a Expedição Franklin partiu para sua derradeira missão e na data de aniversário de seu líder John Franklin. 

Nesses dias, "Man Proposes, God Disposes" pode ser visto em toda sua glória atroz atraindo multidões dispostas a encarar de frente o Horror que ele continua conjurando.

7. The Crying Boy, por Bruno Amadio


A pintura seguinte em nossa Galeria do Medo não é apenas uma obra, mas uma série de pinturas coletivamente conhecidas como "The Crying Boy" (O Menino Chorando). Em meados de 1950, o artista italiano Bruno Amadio, que também era conhecido pelo nome de Giovanni Bragolin, pintou cerca de 65 retratos de órfãos italianos chorando, que ele vendeu para turistas no final da Segunda Guerra Mundial. O objetivo de Bragolin era sensibilizar as pessoas e chamar a atenção para a triste situação de crianças que perderam seus pais nos dias mais terríveis do conflito.

Ao longo dos anos 50, as pinturas se tornaram extremamente populares na Inglaterra, sendo reproduzidas em massa e vendidas em todo país como uma obra de arte acessível para o grande público. Até os anos 1980 nenhum incidente estranho foi associado com essas pinturas. No entanto, a partir de 1985, alguns bombeiros começaram a relatar algo curioso envolvendo o Crying Boy. Diziam que diversos quadros semelhantes eram encontrados em casas e apartamentos destruídos por incêndios. Mais do que isso, as pinturas, em geral, eram encontradas em perfeito estado, não tendo sido danificadas pelas chamas e nem pela fumaça. Algumas vezes, eram a única coisa que se salvava das ruínas fumegantes. Mais estranho, os bombeiros perceberam um segundo padrão: na maioria dos casos, os lugares que se incendiavam haviam queimado até o chão e as causas para o fogo eram desconhecidas. Em várias ocasiões falava-se que o incêndio havia começado do nada, quando não havia ninguém presente capaz de produzir as chamas, fosse de modo proposital ou acidental.

Os jornais sensacionalistas começaram a investigar o caso, relacionaram mais de 50 casas que haviam sido consumidas por incêndios inexplicáveis. Em comum, o fato de que em todas elas um quadro do Menino Chorando havia sido encontrado em perfeito estado. O artigo mencionava ainda que em casas onde a pintura era exposta, ocorreram vários princípios de incêndio, a maioria sem uma explicação razoável.

Vários investigadores psíquicos sugeriram que os quadros teriam de alguma maneira concentrado uma forte carga negativa e que os incêndios estariam sendo causados por esses sentimentos ali represados. Um famoso parapsicólogo londrino afirmou categoricamente que o quadro carregava consigo uma aura responsável por deflagrar tragédias. O tabloide britânico "The Sun", publicou um artigo no qual relatava como o Orfanato em que o artista retratou as crianças na Itália havia sido destruído em um incêndio em 1984 e que tal incidente teria ligação com os incêndios que ocorriam na Inglaterra.

O resultado direto do artigo foi uma corrida das pessoas para destruir as pinturas consideradas malditas. O The Sun chegou a organizar enormes fogueiras onde os donos poderiam levar suas pinturas e destruí-las de maneira perfeitamente segura. Na época, muito se comentou a respeito do fato de que as pinturas demoravam muito tempo para pegar fogo e que apenas depois de vários minutos expostas às chamas diretamente, elas eram destruídas

Embora a maioria das pessoas não tenham levado à sério a notícia, um incidente serviria para sacramentar a "má fama" do Crying Boy. Poucos dias depois da publicação do artigo, um incêndio destruiu uma casa em Liverpool matando três de seus moradores que não conseguiram escapar à tempo. Quando o lugar começou a ser limpo, os bombeiros estupefatos encontraram pendendo em uma parede um exemplar da pintura maldita em perfeito estado. Na manhã seguinte, milhares de pessoas se livraram de seus quadros do Crying Boy.

Há uma outra versão da história do quadro que jamais foi confirmada, envolvendo sua origem.

Bruno Amadio, o artista que criou a pintura, teria fugido para a Espanha logo após o término da Segunda Guerra Mundial em busca de uma vida melhor. Em Barcelona, Amadio teria conhecido um menino órfão chamado Don Bonillo, que ficou mudo depois que testemunhou a morte dos pais em um incêndio. Amadio resolveu adotar a criança, embora ele tenha sido advertido pelo diretor do orfanato, um padre local, de que o garoto era o causador de vários incêndios misteriosos que começavam de forma inexplicável. As pessoas supersticiosas diziam que o menino era o filho do diabo.

Amadio se recusou a acreditar nessas histórias absurdas, o menino parecia perfeitamente inofensivo e carente de sua atenção. O artista usou o filho adotivo como modelo para sua pintura mais famosa, o Menino Chorando. Nessa época, ele começou a perceber que algo estava muito errado em sua casa. Por pouco o lugar não pegou fogo em duas ocasiões e sempre que Dom estava sozinho.

Certo dia, a sorte de Amadio terminou. Sua casa e o estúdio onde ele mantinha suas pinturas foi destruído. Lembrando dos avisos do padre, Amadio começou a se ressentir do menino acreditando que ele fosse piromaníaco. Eventualmente ele resolveu retornar a Itália, devolvendo o menino ao orfanato onde o havia encontrado. Até onde se sabe, Dom Bonillo cresceu no orfanato até atingir a maioridade e partir.

Décadas mais tarde, um incêndio destruiu um prédio nos arredores de Barcelona e se espalhou, consumindo vários andares. Miraculosamente, a tragédia causou a morte de uma única pessoa, o morador do apartamento onde ele teve início. O corpo horrivelmente queimado foi identificado como o de um homem de 30 e poucos anos de idade, chamado Dom Bonillo.

Nenhum desses fatos jamais foi confirmado. Bruno Amadio, morreu em 1981, a verdade sobre essa história se foi com ele. A única coisa que ele disse a respeito de sua pintura mais famosa é que se arrependia de um dia tê-la pintado: "Ela sempre será a minha maldição!" revelou de maneira enigmática poucas semanas antes de falecer.

8. Painting of a Headless Man, por Laura P.



Nossa obra final nessa Galeria assombrada de obras de arte é uma pintura feita com base numa curiosa fotografia. Em meados de 1990, uma artista obscura chamada Laura P. estava trabalhando em uma série de pinturas baseadas em fotografias antigas. Ela se sentiu atraída por uma estranha fotografia pertencente ao fotógrafo profissional James Kidd. A fotografia em questão mostrava uma antiquada carroça abandonada em um pátio junto com um vagão enferrujado. Até aí, não havia nada incomum, contudo, um exame mais cuidadoso revelava uma figura etérea sem cabeça que o fotógrafo insistia, não estava lá no momento em que a foto foi feita, tendo aparecido apenas no momento da revelação.


Laura não conseguia explicar o que a atraiu inicialmente na direção da fotografia, mas quando viu a imagem, sabia exatamente que era naquilo que ela desejava trabalhar. Ela sentia uma necessidade irresistível de traduzir aquela imagem fotográfica para uma tela através de desenho e tinta. Era como se algo a estivesse compelindo a fazer aquilo.

Durante o trabalho, Laura se sentia dominada por uma sensação quase palpável de horror, medo e inquietude. Ela não conseguia progredir e parecia adiar sempre que deveria iniciar a porção em que aparecia a imagem do corpo sem cabeça. Laura chegou a desistir do trabalho, trancou a tela em seu ateliê, mas sentia ao mesmo tempo um inquietante desejo de concluir a obra. Apesar de hesitar, ela acabou insistindo consigo mesma e enfim terminou a obra acrescentando a macabra forma fantasmagórica ao quadro que ela chamou de "Painting of a Headless Man" (Pintura de um Homem sem Cabeça).

Mas é claro, esse não foi o fim da história. 

A pintura foi emoldurada, vendida e pendurada do lado de fora de um escritório onde logo começou a aterrorizar as pessoas que lá trabalhavam. 

Funcionários do escritório se queixavam de dores de cabeça, sangramentos nasais, vertigens, assim que a pintura foi colocada na parede. Papéis e documentos sumiam, discussões bobas se tornavam bate boca violentos, os aparelhos de ar-condicionado queimaram e as luzes apagavam sem mais nem menos. Além disso, o quadro na parede estava sempre desalinhado, como se estivesse pendendo para o lado esquerdo. Após apenas três dias, o dono do escritório pediu a Laura que pegasse o quadro de volta pois os funcionários haviam exigido que ele fosse removido. Aparentemente dois empregados se negavam a aparecer no trabalho enquanto a pintura estivesse lá.

Laura curiosamente não estranhou o pedido, instintivamente ela sabia que aquela pintura tinha algo de estranho e perturbador. Até então achava que apenas ela estava sujeita a sua influência nefasta. Laura pegou a pintura, colocou em um estojo e levou para sua nova casa, os funcionários respiraram aliviados.

Não demorou até que Laura e o marido começassem a perceber coisas estranhas acontecendo em seu lar. Havia sons anormais e soturnos, batidas rítmicas nas paredes, passos no sótão, portas batendo, ruídos de respiração e gargalhadas abafadas dia e noite. Tudo acontecia perto da pintura. A partir de então as coisas foram se tornando cada vez mais assustadoras, culminando com uma frequente atividade poltergeist: objetos flutuavam e mudavam de lugar, sumiam ou estouravam como se lançados violentamente nas paredes ou no chão. O marido de Laura foi ferido por um copo de vidro que o atingiu na testa quando ele procurava a fonte de um ruído noturno. O cão da família desapareceu sem deixar vestígios.

Laura contou a um amigo sobre esses estranhos fenômenos, mas ele se mostrou deveras cético e chegou a dar uma risada quando viu o quadro aparentemente inofensivo. De acordo com Laura, quando o amigo retornava para sua casa aquela noite, um pedaço de uma marquise cedeu e atingiu seu automóvel provocando um bizarro acidente que o deixou ferido. Coincidência ou o quadro não havia gostado das risadas?

Outro amigo veio conhecer a pintura e fez uma fotografia com lentes especiais infra-vermelhas. Na foto, a imagem do espectro sem cabeça aparecia em destaque, quase se projetando à frente do background como em uma projeção tridimensional. Atormentado por pesadelos com fantasmas e seres incorpóreos, ele decidiu jogar os negativos fora e advertiu Laura a se livrar da pintura antes que fosse tarde demais.  

Laura pesquisou a fotografia tirada por James Kidd nos anos 1940 e descobriu que o local onde a foto foi tirada era um descampado isolado em Utah onde bandidos e criminosos eram enforcados e degolados no século XIX. Segundo rumores, dezenas de pessoas foram executadas por grupos de linchamento que faziam justiça com as próprias mãos. 

Assustada com tudo o que descobriu, Laura decidiu consultar psíquicos que afirmaram que a fotografia original - e depois o quadro, havia de alguma forma captado e aprisionado um espírito maligno. Provavelmente o espírito pertencente a um criminoso executado naquele lugar maldito. Ela foi aconselhada a visitar o local e pintar um segundo quadro, dessa vez, sem a imagem fantasmagórica em evidência. Laura fez conforme indicado e apesar de ter sentido um enorme desconforto ao visitar o descampado, sentiu um grande alívio quando terminou a tarefa, quase como se um peso tivesse sido retirado dos seus ombros. 

Ela substituiu o quadro original na sua parede pela nova pintura. Depois disso, a atividade paranormal cessou em sua casa. "Picture of a Headless Man" foi colocado em uma caixa e transferido para o cofre de um banco onde permanece até hoje. 

Laura recebeu várias propostas para vender sua obra, mas se negou a fazê-lo.

*      *      *

Neste artigo e no anterior, cobrimos apenas algumas das obras consideradas assombradas ou amaldiçoadas. É incrível a quantidade de pinturas que alegadamente possuem uma aura que as torna o foco de incidentes inexplicáveis. São centenas de pinturas em todo mundo...

Será que esses trabalhos artísticos são realmente assombrados ou o receptáculo de entidades sinistras? Ou não passam de construções criativas capazes de afetar as mentes mais sensíveis? Não há dúvidas que algumas dessas obras tem histórias macabras e são capazes de provocar sensações e despertar emoções inesperadas. A arte é considerada a janela para a alma, e quando um artista pousa sobre uma superfície vazia a sua criatividade, ele permite um vislumbre de sua mente e de suas aspirações. Trata-se de uma experiência sensorial que pode ser arrebatadora em suas implicações. A abertura de um portão para emoções compartilhadas: tristeza, solidão, medo, dor, angústia... emoções capazes de influenciar os outros de uma maneira surpreendente.

Seja lá o que forem, está claro que essa coleção reúne muito mais do que simples obras de arte.

2 comentários:

  1. Extraordinária as possibilidades da percepção humana. Alguns vêem arte outros um portal para um imponderável mundo de emoções terríveis. Parabéns pelos dois artigos, um esmero primoroso e aterrador.

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  2. Excelente post, parabéns! Lembrei da série de Rod Serling, "Galeria do Terror/Night Gallery".

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