terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

True Detective - Recap do Episódio 5: "Se você tem fantasmas"


Toda série fechada possui um episódio em que o desenvolvimento dos personagens acaba se tornando mais importante aquela altura do que a própria trama. Geralmente são episódios que tratam especificamente do protagonista e se afastam um pouco da linha central, deixando-a momentaneamente de lado, para abordar a vida dos protagonistas. Esse é o caso de "If you have ghosts" (Se você tem fantasmas), o quinto episódio da terceira temporada de True Detective.

O episódio alterna momentos de narrativa entre grandes trechos de desenvolvimento de personagem, no caso Wayne e Roland, que finalmente aparece na terceira linha cronológica da trama. Como aconteceu na primeira temporada, na qual essa busca se espelhar, a linha fixada nos anos 1980 parece estar chegando ao fim, algo que vai acontecer em determinado momento com a dos anos 1990, deixando espaço para que a de 2015 feche a trama.

Há um senso de dejá vu em alguns momentos, com as brigas do detetive Hays e sua esposa e um trecho longo centrado nos anos 1990 a respeito de um constrangedor jantar na casa de Roland, no qual o clima entre o casal esquenta e por pouco não descamba para algo pior. Ao menos as crianças estão lá para ajudar a contornar a situação e evitar que os pais digam verdades inconvenientes um para o outro. A discussão como sempre, gira em torno do Caso Purcell, com Amelia tentando obter mais informações para seu livro, informações estas que Wayne não quer compartilhar. A suspeita dele começa a ser de que eles estão juntos apenas para que ela possa absorver dele informações a respeito do caso. "Desculpe se eu aspiro ser mais do que uma dona de casa", ela diz em meio a briga. Wayne não deixa barato e sugere que o interesse exclusivo dela parece ser o livro a respeito dos crimes.


Com a relação deteriorada e gasta como está nos anos 1990, parece uma suposição válida a de que o casamento só se mantém por conta do livro.

Mas o episódio não é apenas a respeito de relacionamentos amargurados e lavação de roupa suja. 

O arco dos anos 1980 se fecha com a explosiva troca de tiros na casa do índio catador de lixo, algo lembrado como "Woodard Altercation" no quadro de evidências 10 anos mais tarde. Na prática, a "altercação" poderia ser chamada de banho de sangue. Woodard havia se refugiado em casa para se proteger dos rednecks que o haviam ameaçado. Armado até os dentes, ele prepara armadilhas com minas explosivas e dá início a um verdadeiro massacre no qual dois policiais e vários civis perdem suas vidas. É ali que Roland leva o tiro que o deixa mancando nas demais linhas cronológicas.

A cena é muito bem feita, uma sequência com tiroteio, explosões, gente voando, paredes caindo e cabeças estourando. True Detective parece ter uma tradição de mostrar um tiroteio em algum momento de sua trama e este não fica devendo nada aos seus predecessores. No fim, cabe a Wayne tentar convencer Woodard a baixar o fuzil de assalto e se render, mas ele mesmo sabe que é virtualmente impossível ele se entregar depois de ter cruzado essa linha. O veterano dá três segundos para Wayne decidir o que fazer, e ele só precisa de dois para tomar sua decisão.


Com Woodard morto ficamos sabendo o que Wayne e Roland queriam dizer quando mencionaram que uma pessoa inocente havia levado a culpa pelo assassinato/sequestro em 1980. Nós não sabíamos, entretanto, que esse alguém era Woodard. Após a troca de tiros, uma revista na cabana do catador revela uma mochila que supostamente pertencia a Will e um casaco meio queimado que era de Julie. Wayne, dez anos mais tarde, investigando esses detalhes conclui que certamente, tanto a mochila quanto o casaco, teriam sido plantados com o intuito de incriminar Woodard e arranjar um bode expiatório. As provas teriam sido encontradas por um policial chamado Harris James que posteriormente morreu em circunstâncias misteriosas conforme a entrevistadora em 2015 conta a Wayne.

Quem diabos era esse cara e quem poderia ter pago a ele para introduzir as pistas que apontavam para Woodard. De fato, tudo parece muito superficial, mas como o próprio Wayne comenta posteriormente, o escritório da promotoria queria resolver o caso de uma forma ou de outra. Com Woodard enlouquecendo e morrendo, viram ali a oportunidade perfeita para fechar o caso e jogar nos seus ombros a culpa pela tragédia.


Fica a dúvida de quem teria matado Harris James e até que ponto ele estava metido no caso. Uma queima de arquivo parece bem provável, com o verdadeiro criminoso eliminando todas testemunhas. Eu ainda aposto as minhas fichas na Hoyt Foods, embora não tenha como saber ainda os motivos.  Em 2015, quando a entrevistadora pergunta a Wayne se ele conhecia o oficial James, ele parece confuso e exclama um "Quem?" que parece sincero. Porém, mais tarde percebemos que Wayne sabe de quem ela estava falando. Veremos mais a respeito disso mais tarde nesse recap.

Com a ação praticamente fechada na década de 1980, a história passa a se concentrar em 1990, nas ações da Força Tarefa chefiada por Roland. O objetivo principal da investigação é determinar se a menina ainda está viva e qual o seu paradeiro.

Em um enorme descuido, Tom Purcell, o pai das crianças, acaba entrando na sala de reuniões da força tarefa e vê uma foto da mulher que possivelmente é a sua filha. Confuso com o que ele acabou de ver, ele é questionado se aquela pode ser a sua filha, mas ele mesmo não tem certeza. Em seguida, ele faz um apelo na televisão no qual implora que ela contate a polícia. As buscas e questionamentos revelam que a mulher que pode ou não ser Julie, andava por aí entre vagabundos e viciados, possivelmente se prostituindo. Um morador de rua que reconhece a fotografia diz que ela se apresentava com o nome Mary July, que dizia ser uma princesa e viver em um "quarto cor de rosa". Que diabo? Ela também teria dito que foi separada de seu irmão mais velho, o que se encaixa perfeitamente na história da menina.


Quando eventualmente "Julie" responde ao apelo do pai, em um telefonema, suas palavras são surpreendentes. Ela se dirige de maneira confusa ao "homem que apareceu na televisão dizendo ser o meu pai", afirmando que sabe muito bem o que ele fez e que aparentemente não o perdoou. Será que Julie teria conhecido seu "verdadeiro pai"? Será que o sequestrador que matou Will a adotou? Se isso for verdade, Julie pode estar sofrendo de algum tipo de Síndrome de Estocolmo, na qual passou a acreditar que seu sequestrador é uma boa pessoa. E a aparição de Tom na televisão apenas a deixou mais confusa.

Estou começando a imaginar que o sequestrador era alguém interessado em reaver Julie e que acredita ser ela sua filha. E que pode muito ser realmente o pai biológico dela. Sabemos que Lucy Purcell, mãe das crianças trabalhou na Alimentos Hoyt e morreu alguns anos depois de overdose em Las Vegas. Há uma boa suspeita de que ela pode ter sido eliminada por saber demais. Em 2015 Wayne finalmente lê o trecho do livro de Amelia e fica sabendo da conversa que ela teve em 1980 com Lucy na qual ela mencionava a mesma frase que o sequestrador supostamente enviou na carta após o sequestro - de que "as crianças deveriam poder rir". Wayne se convence de que Lucy provavelmente foi quem escreveu a carta, como uma forma de confortar Tom e fazê-lo aceitar que a menina não voltaria mais. Isso se encaixa bem.

Talvez o primo de Lucy, o tal Dan que foi morto e enterrado em uma pedreira, também esteja de alguma forma metido nessa confusão. Há uma suposição de que ele estaria espiando a sobrinha por um buraco no armário o que aponta para um componente de abuso. Talvez isso tenha sido a gota d'água que fez com que o sequestrador - pai ou protetor de Julie, agisse e removesse a menina da casa que a própria Lucy dizia ser extremamente "triste".


Tudo parece muito intrigante e confuso ainda.

Em outra linha de investigação nos anos 1990, Wayne e Roland visitam Freddy Burns, o bully que atormentou Will na noite em que o menino morreu. Burns trabalha como mecânico, casou e teve filhos. Quando os detetives o questionam a respeito do ocorrido 10 anos atrás, ele sustenta a sua versão e deixa claro que não teve nada a ver com o caso. Mas como todas as pessoas tocadas direta ou indiretamente pelo Crime, a vida dele também foi parcialmente arruinada. A lembrança de ter sido interrogado e ameaçado por Hays ainda parece fresca na memória do sujeito que provoca o detetive acusando-o de ter ido longe demais em suas ameaças na época. Quando Hays diz que o sujeito estava apenas colhendo o que plantou sendo um valentão, ele vira a mesa e diz que era apenas um adolescente idiota, mas que Hays, que fez o mesmo com ele, não tem a mesma desculpa. Ele não está errado! 

Ao deixar a casa de Burns, Hays não consegue afastar as palavras de Burns, provavelmente porque sabe ser verdade o que ele falou. Por mais que Roland tente sugerir outros assuntos, seu parceiro não é capaz de deixar a coisa de lado. "Essa é uma geração de maricas" ele diz, diante da acusação de Burns de que os detetives estragaram a sua vida para sempre.


Entretanto, o momento mais importante do episódio 5 está reservado para o reencontro dos ex-detetives Wayne e Roland em 2015. Roland está bem diferente; gordo, com pouco cabelo e amargo. Ele que sempre foi uma pessoa amigável parece ter perdido todos seus amigos, nunca teve filhos e não sobrou ninguém para lhe fazer companhia a não ser os cães que ele cria. Wayne pergunta a respeito de Lori, a namorada com quem eles jantaram nos anos 1990 e o fato de Roland sequer lembrar direito dela diz muito a respeito do vazio em que se converteu a sua existência.

Os dois ex-parceiros não se viam há praticamente um quarto de século e o encontro parece incômodo para ambos. Roland se ressente de que Hays nunca o procurou para uma bebida ou para uma conversa. Mas o pior é que Wayne teria feito alguma coisa grave na última vez que os dois se encontraram - provavelmente no final das investigações da força tarefa em 1990. O problema é que a memória de Wayne anda fraquejando e ele não consegue se recordar dos detalhes. Tudo o que Roland queria é que o parceiro pedisse desculpas, mas Hays não se recorda sobre o que deveria se retratar. Na dúvida, ele pede desculpas que acabam sendo aceitas.


O que poderia ter acontecido de tão grave que abalou a parceria dos dois e que custou sua amizade? Com certeza é algo relacionado ao caso, e provavelmente tem a ver com um assassinato cometido pelos detetives e que foi devidamente acobertado. Mas a essa altura não sabemos sequer quem teria sido a vítima. Há duas possibilidades: o primo Dan (cujo cadáver foi enterrado numa pedreira em outro estado) ou o policial sujo, Harris James que também desapareceu a certa altura após o caso esfriar. Eu estou apostando em James, mas é possível que ambos sejam uma boa opção.

Finalmente Hays explica a Roland porque o procurou: ele quer solucionar o crime de uma vez por todas, antes que a sua memória se vá por completo. Talvez essa seja a única maneira dele poder realmente descansar depois que o curso da sua vida foi alterado pelo Caso Purcell. Saber a verdade é a única maneira de exorcizar os seus próprios fantasmas. Roland à princípio ridiculariza a noção, afinal, os dois já passaram dos 70 anos, não são mais detetives e não possuem a energia necessária para prosseguir em uma investigação à essa altura. Mas no fim, Hays acaba convencendo o parceiro de que isso precisa ser feito, antes de ser tarde demais.

Os "rapazes" portanto estão de volta ao caso. Quem sabe agora eles consigam descobrir  o que realmente aconteceu no Caso Purcell. 

Pistas e Indícios:

• Uma das cenas mais tristes e profundas do episódio é quando Wayne em 2015 reage de maneira surpresa quando seu ex-parceiro conta que não tem ninguém e que sua vida se limita a vagar por aí, beber e cuidar dos cachorros. "Meu melhor amigo é um cachorro", ele diz de maneira patética. Acho que diante de tudo isso, a solidão de Roland e os problemas de Wayne, o final dessa temporada não vai ser tão esperançoso quanto o da primeira em que os dois policiais sobreviveram e Cohle chegou a esboçar uma esperança de que "apesar de toda escuridão, a luz ainda estava ganhando".


• O episódio lança algumas suspeitas sobre Amelia e seu envolvimento no caso, enquanto investigadora de seu livro. Nós ainda não temos detalhes de como Amelia morreu e não sabemos exatamente em que ponto estava  casamento dela com Wayne. É possível que ela tenha encontrado algo que acabou censurando na versão final de seu livro e que manteve escondido de seu marido? Sabemos que ela nunca contou a ele sobre a conversar que teve com Lucy, o que dá a entender que ela guardou segredo de algumas coisas. Será que há mais algum segredo oculto?

• O envolvimento da Hoyt Foods ainda não apareceu, mas ele vem sendo mencionado repetidas vezes. Eu imagino que o dono da Empresa esteja de alguma forma envolvido na trama pois alguém influente e poderoso está claramente manipulando e eliminando testemunhas. Vamos ver como isso vai se desenvolver...

• Eu tenho quase certeza de que vamos ouvir muito o nome de Harris James nesses episódios restantes. O sujeito parece estar envolvido até o pescoço nessa trama e o fato dele ter morrido levanta a suspeita de uma queima de arquivo. Ele ainda não apareceu em 1990, mas não duvido que ele estará presente se não como policial, de alguma forma. O mesmo vale para o primo Dan, que deve ter alguma participação nos próximos eventos.

• Além disso, sabemos que Hays matou alguém vestindo terno, como vimos na cena em que os fantasmas das pessoas que ele matou o cercam no episódio 4. Até aqui não havia como saber de quem se tratava. Agora, com base na aparição de Harris James parece que achamos o candidato mais provável. Essa é uma compilação das três cenas em que o personagem aparece no episódio 5 e reparem que só pode ser ele quem está na cena dos fantasmas.


• A morte de Brett Woodard estava mais do que anunciada desde o segundo episódio quando ele foi vítima da suspeita dos justiceiros atrás de um culpado. A reviravolta foi ele ter sido apontado como o culpado pelos crimes. Curiosamente o fantasma de Brett não estava entre os que cercaram Hays no episódio passado, talvez porque a morte dele tenha sido uma necessidade e um acordo entre os dois homens. 

• Eu continuo adorando as cenas em que as linhas cronológicas se cruzam. Nesse episódio foi a cena em que Wayne em 2015 sofre um episódio de perda de memória e procura pela esposa e filhos na casa vazia. Em seguida, ele tem a visão de Amelia lendo um trecho de Mogli para as crianças na cama do casal. Enquanto o velho Wayne observa, o Wayne de 1990 vê a porta se movendo como se alguém estivesse ali. E para completar, ele vê o reflexo de si mesmo em 1980, logo após o tiroteio na casa de Woodard. Muito boa a cena!

Bem, por hoje é só... 

Faltam 3 episódios e o caso continua complicado.  

Um comentário:

  1. Só melhora essa série, se continuar assim, talvez dê para termos uma 4ª temporada

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