sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Horríveis costumes - Os Esqueletos sem pés no Peru



Costumes são algo curioso.

Eles são uma espécie de identidade de um povo, algo particular que faz parte de sua história e de suas tradições. Os costumes em uma análise mais ampla são aquilo que tornam um determinado grupo de pessoas, o que eles são.

E como todo grupo de pessoas, suas tradições fazem sentido para eles, mas para outros podem parecer estranhos, incomuns, bizarros...

Tomemos por exemplo a recente descoberta de um sítio arqueológico no Complexo de El Chorro, no Peru. Lá, uma escavação de antigas tumbas incas revelou pelo menos 15 esqueletos humanos sem um dos pés. Para tornar as coisas ainda mais estranhas, os esqueletos com o pé ausente pertencem a crianças e adolescentes. Uma análise preliminar sugeria que talvez as amputações tivessem ocorrido em vida e que as crianças seriam escravas ou serviçais que realizavam trabalhos em casa e que não precisavam se deslocar muito. A amputação seria realizada com o propósito de evitar a fuga.

Investigações subsequentes, entretanto, apontam para outra possibilidade. Os corpos não possuíam além do pé, o femur em alguns casos e em outros a fíbula. Um indicativo de que os ossos teriam sido removidos após a morte.


Mas quem iria querer roubar pés humanos e ossos da perna de jovens e por qual razão? 

Arqueólogos acreditam que os restos humanos pertencem a membros das culturas Moche e Lambayeque, tribos que habitavam a costa norte do Peru antes da invasão do continente. Eles eram conhecidos como excelentes artistas, capazes de trabalhar cerâmica, joalheria e até metalurgia. Peças desse povo foram datadas de um período entre 50 a 800 d.C.

Uma das práticas que os estudiosos acreditam estar relacionada a eles envolve confeccionar jóias e adornos com os ossos de seus amigos e parentes falecidos, especificamente de crianças e adolescentes que faleceram cedo.    

A prática de utilizar ossos de entes queridos para fazer objetos de adorno, era comum entre as culturas sul-americanas que precederam a chegada dos colonizadores espanhóis. Algumas das sepulturas escavadas em El Chorro traziam peças específicas feitas com ossos humanos. Mais de 60 urnas funerárias foram descobertas no terreno do cemitério, algumas contendo objetos pessoais, roupas e outras peças usadas pelos indivíduos ali enterrados.


Sacrifícios humanos oferecidos aos deuses fazia parte das tradições dos Moche. Os Lambayeque, que sucederam os Moche, existiram até meados de 1400 d.C, quando seu povo desapareceu misteriosamente.

Evidências de rituais também foram encontradas nas sepulturas, indicando que as pessoas enterradas no local foram entregues aos deuses como uma oferenda em troca de comida, bebida e colheitas. Os sacrifícios ocorriam de forma sazonal, coincidindo com o calendário de plantio, quando as colheitas dependiam do clima e das chuvas. Uma criança sacrificada em um altar representava um pedido para que os deuses enviassem chuva e afastassem pragas. Acredita-se que o costume de realizar sacrifícios era corriqueiro e que ao menos uma vítima era sacrificada ao ano. Em tempos mais difíceis, de seca ou carestia, de seis a uma dúzia de sacrifícios poderiam ser oferecidos.

Os rituais eram conduzidos por sacerdotes e ocorriam com enorme pompa e circunstância. Os pais aceitavam o sacrifício de seus próprios filhos acreditando que eram necessários para a sobrevivência de toda comunidade. As vítimas eram drogadas com ervas e raízes especiais e conduzidas até o templo. Lá os sacerdotes usavam uma lâmina afiada para cortar a garganta com um único golpe. O sangue era coletado e cada gota oferecida aos Deuses em meio a uma série de rituais elaborados.


Nos arredores do cemitério foram descobertos indícios de festividades e comemorações que ocorriam após o funeral das vítimas do sacrifício. De um ponto de vista cultural, o sacrifício não era considerado um fardo sequer para as vítimas que acreditavam estar desempenhando uma função vital para a sociedade.

A explicação para a ausência dos pés é que segundo a religião local, os Deuses permitiam que as famílias mantivessem uma lembrança de seus entes queridos. Durante as festividades que antecediam o funeral, o cadáver era colocado em um altar para que o pé fosse cortado com um machado de sílex. Em seguida, o osso da perna era puxado até se desprender do cadáver e entregue aos pais.

Estes podiam então enviar a peça para um artífice que a trabalhava. Primeiro ela era descarnada, limpa e os ossos devidamente polidos, moldados para se transformar em adornos, como colares, braceletes ou brincos. Usar esses enfeites eram uma forma de lembrar do morto e mostrar aos demais membros da sociedade o tamanho do sacrifício aceito pela família.


Enquanto fazer jóias com os ossos de crianças e adolescentes possa parecer estranho e absurdo de nossa perspectiva, era algo extremamente comum para eles.

Curiosamente, a prática parece ter voltado à voga recentemente. Uma companhia sediada em Phoenix chamada "Sunspot Designs" oferece vários modelos de jóias confeccionadas com restos humanos. Uma de suas linhas de maior sucesso inclui jóias feitas de ossos humanos devidamente polidos e moldados de maneira semelhante a realizada pelos habitantes do norte do Peru para honrar seus entes queridos.

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