terça-feira, 5 de março de 2019

Lugares Estranhos: A Montanha Faminta da India - Terra de beleza, mortes e mistérios


Em todos os cantos do mundo existem lugares estranhos que podem ser descritos como "famintos".

Seja lá por qual razão, eles possuem a estranha tendência de fazer as pessoas desaparecerem, como se as devorassem e absorvessem, digerindo os corpos até não restar nenhum traço ou evidência para ser encontrada. Um desses lugares sinistros, fica nas Montanhas do Himalaia, um local ao mesmo tempo deslumbrante e mortal, e que há anos tem sido o destino final de pessoas que sumiram sem deixar vestígios.

Esparramado entre as majestosas montanhas ocidentais do Himalaia na porção mais ao norte da India encontramos uma vasta cadeia montanhosa chamada Himachal Pradesh, literalmente "A Província da Neve Eterna". Seu nome parece muito adequado, uma vez que esse é um domínio remoto de paisagens de tirar o fôlego, com picos nevados, florestas de pinheiros intocados, vales isolados além de, é claro, fissuras, cânions e gargantas rochosas com quedas vertiginosas. Nesse ambiente selvagem, as montanhas preenchem o horizonte até onde a vista alcança criando uma terra de gelo e neve absolutamente inóspita.

Ele é ao mesmo tempo um lugar de beleza notável, mas extremamente traiçoeiro em que o menor descuido pode se provar fatal. Mesmo os guias mais experientes temem essa região, com suas trilhas acidentadas, montanhas escarpadas e terreno rugoso. A temperatura pode variar mais de 20 graus entre o dia e a noite e ventos furiosos formam-se repentinamente derrubando as pessoas. Além disso, há trechos em que a pedra congela tornando a face da montanha escorregadia. Por esses motivos, a região é associada a um apelido histórico Kulanthapitha, que significa "O Fim do Mundo Habitável".


Para completar o panorama, essa é uma terra repleta de mistérios, conhecida como "Vale dos Deuses" pelos nativos, habitada por espíritos e entidades sobrenaturais e onde segundo a lenda, o Deus Hindu Shiva teria parado para meditar por 1,100 anos. A mistura natural de esplendor, beleza e aventura concede uma aura quase mística que atrai viajantes e aventureiros de todas as partes do planeta. 

Algumas das pessoas que visitaram o local ao longo de séculos pareciam estar à procura de algum tipo de Shangri-La, outros buscavam por paz ou iluminação, enquanto outros ainda ansiavam por emoção e aventura. E haviam aqueles que buscavam uma combinação disso tudo. A região contudo, desenvolveu uma reputação duradoura como um lugar de onde alguns jamais retornam.  Himachal Pradesh se tornou um lugar conhecido pelas misteriosas mortes e desaparecimentos, a ponto de que a área inteira recebesse apelidos pouco convidativos como "O Vale do Esquecimento"  e "O Recanto da Morte".

Embora dúzias de visitantes estrangeiros tenham desaparecido sem deixar vestígio ou morrido de forma misteriosa ao longo dos anos, apenas recentemente um caso ganhou ampla publicidade. Em agosto de 1996, um estudante britânico de 21 anos da Universidade de Bristol chamado Ian Mogford desapareceu nas montanhas sem deixar pistas após visitar um templo. Estranhamente, até mesmo os registros de sua passagem por um hotel na região se perderam. No mesmo ano, outra turista estrangeira, a italiana Alessandra Verdi de 32 anos, que alugava uma casa no vale adjacente também sumiu sem deixar qualquer indício. Manchas de sangue foram encontradas em sua casa que estava trancada. Seu corpo foi localizado semanas mais tarde nos bancos do Rio Beas, a quilômetros de distância sem nenhuma evidência do que poderia ter acontecido - autópsias posteriores apuraram que ela havia morrido aparentemente de causas naturais, mas como seu corpo chegou até o lugar onde foi achado é um mistério.  


Depois disso, vários outros casos de desaparecimento ocorreram em uma rápida sucessão o que levou as autoridades a se perguntar se um assassino ou uma gangue, estaria atacando estrangeiros. O estudante canadense Ardavan Taherzadeh desapareceu em 1997, Maarten de Bruijn, de 21 anos, filho de um proeminente banqueiro holandês sumiu em 1999, e um famoso repórter russo, Alexei Ivanov, desapareceu da face da Terra em 2000, pouco depois de sair para fazer uma trilha nas montanhas. Estranhamente, ninguém soube o que aconteceu com Ivanov, mas alguns objetos pertencentes a ele, como uma garrafa de oxigênio e uma mochila, foram achadas após uma intensa busca nas montanhas em uma área muito distante de onde ele pretendia explorar. Mais estranho ainda, durante as buscas, um time de resgate localizou outros três cadáveres nas perigosas montanhas, mas o corpo de Ivanov jamais foi encontrado.

No mesmo ano de 2000 dois turistas alemães foram brutalmente atacados enquanto dormiam em seu acampamento na mesma região. Um deles Jorge Weihrauch morreu em decorrência de mais de 30 ferimentos de faca, mas seu companheiro, Adrian Mayer-Tasch, consegui escapar e sobreviver, rastejando através de um terreno escarpado e extremamente perigoso apesar de sustentar severos ferimentos. Mayer-Tasch contou que não conseguiu ver quem (ou o que) os atacou, mas se recordava de acordar em meio a uma sucessão de apunhaladas desferidas por uma sombra empunhando uma arma longa e afiada. Apesar de sobreviver ao ataque, o turista ficou com sequelas e traumas profundos o resto da vida. 

Não demorou muito a surgir mais um caso chocante, dessa vez envolvendo o turista inglês Martin Young, sua esposa, e seu filho de 14 anos. A família foi atacada por um ou mais agressores no meio da madrugada enquanto dormiam em sua tenda. A esposa e o adolescente morreram, vítimas de repetidas facadas, Martin sobreviveu saltando de uma ravina e mergulhando na escuridão. Por milagre ele foi encontrado na manhã seguinte por um grupo de buscas, com uma perna quebrada e vários ferimentos. Uma vez mais, nenhum sinal do assassino foi encontrado, e não existiam suspeitos ou pistas para levar a uma captura.

Por algum tempo, as chocantes notícias afugentaram turistas que passaram a evitar as trilhas e a região, mas em 2013, um explorador americano de 35 anos, chamado Justin Shetler foi vítima de seja lá quem vaga por essas montanhas. Shetler mantinha um blog atualizado com suas aventuras e seu último comentário poderia lançar uma luz sobre o que teria acontecido com ele: 


"Um Sadhu (o povo local que habita as montanhas) me convidou para um tipo de peregrinação religiosa nas montanhas. É um tipo curioso, mas me pareceu confiável. Ele alertou de que seria um percurso duro através de uma zona de altitude, mas que valeria a pena. Lá no alto, segundo ele, existe uma caverna remota ideal para a prática da ioga. Ele assegurou que a meditação lá o coloca em contato com entidades superiores. Uma experiência transcendental! Eu decidi acompanhá-lo, pois isso deve render uma boa história. Devo retornar ao mundo da Internet apenas na metade de setembro se tudo correr bem. A trilha é famosa por ser traiçoeira, portanto, todo cuidado é pouco! Se estiverem lendo isso, torçam para tudo dar certo".

A postagem foi feita pelo próprio Shetler, terminando com um emoji de piscadela, como ele costumava fazer. Aqueles que seguiam o blog relatando as intrépidas expedições do aventureiro, asseguraram que a entrada havia sido escrita por ele. Infelizmente, a mensagem curta foi a última coisa que ele escreveria. 

Em 3 de setembro, um grupo de montanhistas franceses cruzaram com Shetler próximo de uma encosta no Lago Mantalai. Ele estava acompanhado de um taciturno Sadlu que se manteve calado durante todo encontro e que os turistas assumiram não falar inglês. Eles contaram que Shetler parecia exausto, e que em alguns momentos durante a conversa perdia o foco e dizia algo sem sentido, como por exemplo repetir que tinha um encontro marcado com o "Deus da Montanha".

Os franceses ficaram preocupados com as condições gerais do americano, mas ele garantiu que estava bem e que podia prosseguir em sua jornada. Chegando em uma estação nas montanhas, relataram a história e as autoridades decidiram não correr riscos e enviar um grupo de resgate por precaução. Após uma busca cuidadosa, a equipe de socorro avistou um suspeito vagando pelas montanhas, um "baba" ou homem santo chamado Satyanarayan Rawat. Ele foi levado para a estação para questionamento depois de tentar se esconder e fugir. Infelizmente nada foi apurado, já que Rawat cometeu suicídio enquanto estava sob custódia numa cela. O homem ingeriu raízes venenosas e levou consigo quaisquer segredos que conhecia sobre o destino de Shetler. As investigações apuraram que Rawat provavelmente era o "Sadlu taciturno" visto na companhia do americano, mas os franceses não estavam certos a respeito. 


A investigação policial conduzida foi muito criticada pela conclusão oficial de que Shetler teria simplesmente sofrido um acidente e caído em uma ravina onde veio a falecer. Seu corpo jamais foi encontrado! Investigadores contratados pela família de Shetler e enviados para fazer questionamentos sobre o caso apuraram que a polícia não quis se aprofundar no envolvimento de Rawat por considerá-lo um "homem santo". Posteriormente apurou-se que Rawat era tido como uma pessoa instável, com um passado de violência e agressão. 

Não muito tempo depois, outro turista desapareceu misteriosamente, o polonês Bruno Muschalik, que estava hospedado na casa de um amigo até agosto de 2015. Muschalik planejava fazer uma trilha nas montanhas e uma excursão ao Vale de Parvati. Ele preparou todo seu equipamento, apanhou um ônibus que o levou até a área e lá sumiu sem deixar traço. 

Ele se juntou a longa lista de estrangeiros que desapareceram ao visitar a região de Himachal Pradesh. Segundo fontes não oficiais, mais de 20 casos envolvendo estrangeiros desaparecidos ou mortos ocorreram por lá nos últimos 10 anos, sendo que a maioria dos casos não foi solucionado. Por vezes, objetos pessoais pertencentes aos desparecidos são achados, roupas ou calçados, mas os corpos simplesmente somem. Como se eles tivessem sido devorados pela montanha. 

A explicação mais óbvia para o grande número de desaparecimentos é que essas pessoas devem ter morrido em decorrência do terreno perigoso. A região é habitada apenas esparsamente, preenchida por verdadeiras armadilhas naturais que resultam em incontáveis perigos. Por detrás da bela paisagem escondem-se abismos, trilhas escorregadias, avalanches e um clima adverso que parece conspirar contra os ousados (ou tolos) que escolhem enfrentá-lo. Mesmo exploradores veteranos afirmam que as montanhas constituem um desafio formidável.

Não é difícil imaginar que estrangeiros possam ser ludibriados pelas belezas naturais e inadvertidamente atraídos para perigos invisíveis. Ainda assim, é difícil imaginar que tantas pessoas tenham simplesmente desaparecido na região.

Outro fator agravante é que muitos turistas visitam a montanha em busca do potente hashish que cresce por lá e que é comercializado abertamente por tribos locais. Sob o efeito de drogas poderosas eles podem se perder na vastidão gelada mergulhando em fissuras e gargantas, morrendo sem que seus corpos sejam localizados. Teria sido esse  destino de tantas pessoas? Ou algo mais sinistro habita essas montanhas?  


Além dos perigos naturais, existe a ameaça das pessoas que vivem na região. Há muitas histórias e rumores sobre moradores nessa montanha que consideram a presença de turistas uma ofensa e que se ressentem de sua visita. Para alguns, as montanhas são sagradas e a presença de forasteiros constitui uma invasão e uma quebra de seu modo de vida. Embora, em geral, a reação dessas pessoas raramente envolva violência, quem pode saber como elas se comportam quando estão longe da civilização?

Os investigadores contratados para visitar Himachal Pradesh em busca de pistas, mencionaram ter encontrado resistência quando perguntaram a respeito do sentimento quanto a estrangeiros. Ainda que a região tenha um dos índices de crime mais baixos em toda Asia, ela ganhou notoriedade nas últimas décadas por se tornar o refúgio de bandidos, traficantes de drogas e falsos faquires dispostos a enganar turistas e roubar seu dinheiro. Há boatos de quadrilhas especializadas em contrabando de entorpecentes agindo impunemente, gozando da conivência da polícia  para não serem incomodados. Junte a isso o esmagador silêncio da população que prefere se abster de fazer comentários, e temos um cenário de conspiração e suspeita. As investigações concluíram que vigora uma lei de silêncio imposto por grupos interessados em manter as coisas como estão. Há um temor muito forte de que pessoas envolvidas com o contrabando de drogas intimidam a população usando histórias sobre cultos e criaturas sobrenaturais. 

As montanhas, segundo alguns, são o habitat de entidades malignas que servem a pessoas inescrupulosas e extremamente perigosas que as controlam. Fala-se sobre Yeti, tulpa, espíritos demoníacos, fantasmas e outras coisas assustadoras que integram a rica mitologia local. Alguns creem que deuses e entidades de tempos imemoriais habitam o interior das cavernas no topo da montanha, fazem destes lugares seus templos que escondem segredos que não deveriam ser vistos por olhos humanos. E todos que encaram a face desses deuses são arrebatados dessa existência.   

A verdade possivelmente envolve um pouco de cada teoria, mesmo as mais fantásticas, mas isso não torna menos frustrante e angustiante para as famílias de pessoas desaparecidas não saber. No final das contas, tudo o que resta é uma paisagem intocada e selvagem, quase um reino místico que parece faminto por devorar aqueles que ousam invadir sua santidade.

3 comentários:

  1. Simplesmente sensacional,adoro posts desse tipo!!!

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  2. Olá, sei que não tem relação com o POST e peço desculpas por isso. Vi em alguns losts antigos que voce tem algumas aventuras prontas de Cthulhu e compartilha elas, porém acho que não viu meu comentário no post em questao.

    Teria como me enviar elas? Meu e-mail é luis.kievel@gmail.com

    Agradeço desde já.

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  3. Outro lugar misterioso do qual vocês poderiam falar é o Triângulo do Lago Michigan.Apesar de ser bem menos conhecido do que o seu "parente" das Bermudas(além de seis vezes menor),ele também é lugar de muitos desastres sem causas aparentes e sumiços inexplicáveis.
    OVNIS já foram vistos várias vezes no local,"aviões fantasmas" aparecem e somem das telas de radar,assustando os controladores de tráfego aéreo. Um atraso de 10 minutos em qualquer voo já deflagra operações de busca.
    A meu ver,tudo isso justifica um post a respeito.

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