Eu encontrei essa história por acaso na internet e quando comecei a ler lembrei imediatamente de onde já havia ouvido ela anteriormente. Nos anos 1970-80 havia uma antiga série de televisão chamada Galeria do Terror (Night Gallery). Essa série, apresentada por Rod Serling, o criador de Além da Imaginação (Twilight Zone) se dedicava mais ao horror e suspense, trazendo algumas histórias realmente aterrorizantes. Algumas delas se tornaram verdadeiros clássicos com excelentes roteiros além de elenco e direção afinados.
Um dos meus episódios favoritos era justamente a respeito dessa narrativa. O título original é "The Earwig" e o conto foi escrito por um autor britânico chamado Oskar Cook.
Trata-se de uma história especialmente perversa e engenhosa que me deixou apavorado quando eu era criança e que até hoje me dá calafrio.
* * *
Em meados de 1880, na Ilha de Bornéu, havia um inglês chamado Clifford Macy, jovem, bonito e muito vaidoso. Ele se imaginava como um presente de Deus para as mulheres e costumava se gabar do seu sucesso com o sexo oposto.
Macy era proprietário de uma plantação de tabaco, seu amigo e sócio de negócios era outro inglês chamado Leopold Warwick. Apesar de velho e gordo, Warwick tinha uma esposa chamada Kate, muito bonita e jovem que despertava o desejo de todo homem que a conhecia.
O Casal Warwick e o Sr. Macy dividia uma grande mansão próxima da plantação. Macy dormia no primeiro andar, enquanto Warwick e Kate usavam o andar de cima.
Era estação das chuvas e havia muito pouco o que fazer naquele canto isolado do mundo. Macy estava entediado e não conseguia encontrar nada que o entretece. Com o passar do tempo, ele acabou cada vez mais atraído pela esposa do amigo e começou a cortejá-la.
Macy até tentou se aproximar de Kate, mas a moça muito recatada não desejava ter nada com o sujeito. Ela chegou a lhe passar uma descompostura, mas o homem via conquistá-la como um tipo de desafio doentio. Kate preferiu não incomodar o marido, mantendo em segredo os avanços inapropriados do sócio. Certa noite, Warwick teve de se ausentar em uma visita num vilarejo e Macy tentou beija-la à força, mas ela deu-lhe um tapa na cara com força.
No entanto, Macy não era o tipo de homem que aceitava um não como resposta. Toda vez que ela o rejeitava, ele ficava mais obcecado por ela, até que decidiu tê-la não importando o custo.
Embora seu coração estivesse ardendo por causa de uma paixão avassaladora, Macy tinha uma mente diabolicamente astuta. Ele concluiu que a única maneira de ter a mulher, seria tirar Warwick da jogada em definitivo e fazer tudo parecer um acidente. Se ela se tornasse viúva por circunstâncias naturais, ele poderia se aproximar e eventualmente ela acabaria por ceder aos seus avanços.
Macy pensou a respeito de como iria se livrar do sócio e traçou um plano medonho.
Vivendo em Bornéu já há alguns anos, ele ficara sabendo de um tipo de inseto, apelidado de Tesourinha, muito comum no interior da ilha. Era uma verdadeira praga entre os fazendeiros que plantam tabaco e chá. O inseto pequeno, tinha um corpo castanho segmentado e uma cauda em forma de tesoura de onde vinha seu nome. O bicho era conhecido por ter um gosto particular por secreções cerosas. Não é de se espantar portanto que ele procurasse se instalar no ouvido interno humano. Os nativos conheciam bem o inseto e quando acampavam na selva tratavam de tampar os ouvidos com um pedaço de pano para evitar esse visitante inoportuno.
Sendo pequeno e leve, o inseto conseguia rastejar sobre o rosto de uma pessoa dormindo sem esta perceber. Naturalmente, ele procurava o ouvido e ia bem fundo através do canal interno. Eis então sua característica mais temida: A criatura uma vez enfiada no canal auditivo se via incapaz de virar para sair. Sem poder avançar, se instalava lá dentro e então começa a se alimentar da carne macia e tenra do ouvido interno. Isso causava um tormento infernal e em geral resultava na morte do pobre diabo.
Macy pagou a dois nativos uma soma considerável em dinheiro e os instruiu a entrar no quarto de Warwick no meio da noite e colocar um tesourinha no travesseiro do homem. Macy foi dormir aquela noite com pensamentos perversos e imaginou o destino horrível que esperava seu sócio. Sentiu uma ponta de remorso, mas logo o pior dentro dele falou mais alto... lembrou de Kate e sorriu.
Na manhã seguinte, quando desceu para tomar café da manhã, encontrou Warwick que parecia radiante e alegre. Ele observou o velho de perto, procurando sinais de desconforto, mas não percebeu nada!
Nesse momento, Macy sentiu uma estranha sensação de coceira em seu próprio ouvido. Quando enfiou o dedo no ouvido, descobriu que estava sangrando. Saltando da mesa com um olhar de horror, ele gritou:
— A coisa maldita está no meu ouvido!
Ao que parece, os nativos que ele pagou, se confundiram e cometeram um erro terrível e, durante a noite, entraram no quarto do primeiro andar e colocaram a tesourinha no travesseiro do homem errado.
Esse foi o começo de semanas de dor e agonia excruciantes. Não havia nada que o médico pudesse fazer por ele. Macy ficava em seu quarto, amarrado à própria cama para que não acabasse ferindo a si mesmo. Os gritos preencheram a mansão, por dias e noites sem parar.
A tesourinha se arrastava, rastejava e girava dentro da sua cabeça, lentamente levando-o à loucura. Ocasionalmente, quando parava de se mover, Macy conseguia descansar um pouco, mas quando o inseto se movia e devorava seu ouvido interno, mordendo com suas poderosas quelíceras, ele se contorcia em espasmos sofridos.
A dor era tão insuportável que, ser esfolado vivo, queimado na fogueira ou enforcado pelo pescoço teria sido um ato de misericórdia. Macy chegou a implorar para que o médico que vinha vê-lo todo dia a pedido de Warwick, o liberasse de sua miséria.
— De-me algo para morrer... não suporto mais essa tortura! gritava.
Foi então que algo muito inesperado aconteceu. Milagrosamente, a tesourinha rastejou para fora, emergindo pela outra orelha do homem. Aquilo era extremamente raro e todos ficaram aliviados pelo milagre. Macy chegou bem perto da morte, mas conseguiu sobreviver ao tormento. Surdo e meio louco, é bem verdade, mas ainda assim poderia se recuperar.
Assim que ficou bem o suficiente para conversar, o médico entrou no quarto para vê-lo:
— Creio que tive muita sorte. – disse Macy, ao médico que permanecia taciturno na porta.
— Temos de conversar Sr. Macy... – disse o homem reticente, como se estivesse inseguro.
— Pode falar, Doutor, estou pronto para aceitar o fato de que ficarei surdo já que a criatura comeu meus tímpanos. – disse enojado.
— Não é isso... há algo mais, algo que você precisa saber.
— Como assim!? O que você quer dizer com isso!?
— Veja bem, eu analisei o inseto que rastejou para fora do seu ouvido e o coloquei no microscópio... bem, a tesourinha era uma fêmea… – disse o médico pesaroso – e ela botou ovos dentro de seu ouvido!
E nesse momento, algo dentro da cabeça do Sr. Macy eclodiu, e ele sentiu uma coceira que seria incapaz de coçar e um terror do qual jamais iria se recuperar.
UAU... Não sei se rio ou sento pena do pobre diabo.
ResponderExcluirQue coisa horrível! >.<
Parabéns pelo texto! =D
Jesus Cristoo que agonia!
ResponderExcluirEsse bicho existe aqui no Brasil também? 😩
ResponderExcluirSim
ExcluirSe quiserem baixar os episódios de Galeria do Terror,vão no site Portal do Terror Clássico lá tem com dublagem original!.
ResponderExcluirBaratas também podem entrar no ouvido e ver uma pessoa com esse problema deve ser agoniante.
ResponderExcluirJa atendi um paciente com uma baratinha no ouvido...eh so instilar lidocaina e esperar ela morrer e tirar com uma pinça...fiquem tranquilos
ResponderExcluirNossa! Angustiante demais!
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