sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Tecnologia nos anos 1920 - Mais alguns itens e equipamentos úteis


Olá investigadores,

Essa é a segunda parte de nossa série a respeito de itens e equipamentos disponíveis nos anos 1920 e que por vezes podem causar alguma dúvida. Convido os que não leram a primeira parte a fazê-lo para completar as informações. Aqui abordamos algumas invenções que já estavam disponíveis na Era Clássica de Chamado de Cthulhu e que podem ser úteis no decorrer de uma investigação.

Na dúvida, siga a máxima: "melhor ter e não precisar de um equipamento, do que precisar e não ter". Alguns deles podem ser bastante úteis, facilitar uma investigação ou até mesmo representar a sobrevivência dos investigadores nos momentos mais inusitados.

Vejamos o que temos nessa lista.

Alimentos Enlatados

Ano da Invenção: 1795
Quando se tornou popular: 1865 (produção em massa a partir de 1912)


A primeira iniciativa para a criação de comida enlatada pode ser traçada até as Guerras Napoleônicas, quando o francês Nicolas Appert desenvolveu um método de conservar alimentos por mais tempo de modo que os soldados pudessem levar para o campo de batalha seus suprimentos. O grande problema sempre foi eliminar os micro-organismos responsáveis pela deterioração dos alimentos. Appert desenvolveu um método que preservava o alimento, lacrando-o em um compartimento hermeticamente fechado que uma vez privado de oxigênio garantia uma validade prolongada.

Os britânicos refinaram o método de Appert e foram os pioneiros na criação de latas de metal para estocar alimentos. Com o processo devidamente aprimorado a produção se tornou mais eficiente e com menor custo. Alimentos enlatados passaram a ser usados pelas forças armadas e em viagens marítimas de longa duração. 

Apenas em 1880 surgiram os primeiros produtos fabricados e vendidos a civis. As sardinhas foram o primeiro alimento preservado dessa maneira em latas, mas logo uma vasta gama de outros produtos a seguiram, modificando a forma como as pessoas se alimentavam e estocavam alimentos. Na Grande Guerra, alimentos em lata foram usados por todas as forças envolvidas no Conflito e após seu final esse tipo de alimento ganhou enorme popularidade. 

As latas de metal conhecida como folha de flandres foram gradualmente substituídas a partir de 1930 por latas de alumínio, mais leves e que aceitavam modelos diferentes. Data de 1935 a primeira cerveja em lata conhecida, produzida em New Jersey.

Uso em aventuras - Em cenários de exploração que contemplam expedições a lugares isolados e perigosos, os alimentos enlatados são essenciais. Eles constituem a única forma de sustento em uma Expedição aos confins gelados da Antártida, por exemplo. São os alimentos enlatados que garantem a sobrevivência da tripulação em viagens marítimas aos confins do planeta ou aos limites da civilização onde nem sempre alimentos frescos poderão ser encontrados. 

Alimentos podem ser usados para atrair animais selvages ou criaturas capazes de detectar cheiros. Estas podem ser conduzidas para armadilhas preparadas pelos investigadores. É claro, exsite a possibilidade também de inserir substâncias tóxicas nocivas em alimentos e esperar que elas surtam algum efeito em criaturas cuja fisiologia alienígena pode se mostrar sensível.

Finalmente, ambientes maculados pela ação ou presença de criaturas dos Mythos tendem a exercer um efeito marcante em certos alimentos. Abrir latas e verificar se o conteúdo se deteriora mais rápido pode ser uma forma de determinar a presença de criaturas nos arredores.
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Extintor de Incêndio

Ano da Invenção: 1896
Quando se tornou popular: 1928


Lidar com o fogo e combater incêndios sempre foi uma preocupação das pessoas. Desde o início sempre se imaginou que a melhor maneira de combater um incêndio seria simplesmente lançar sobre ele uma quantidade suficiente de água capaz de apagar as chamas. Os primeiros aparatos que se propunham a extinguir o fogo utilizando substâncias químicas inibidoras surgiram no século XIX.

O primeiro extintor de incêndio tubular em formato cilíndrico, semelhante ao que temos hoje em dia, foi criado em 1896. Ele era preenchido com uma solução de potássio e ar comprimido. Diversas outras substâncias químicas foram testadas com o objetivo de combater as chamas sendo que em 1928, foi criado um extintor que utilizava um cartucho de dióxido de carbono (CO2) seco inserido em um cilindro de cobre. Para utilizar o extintor, o operador tinha de pressionar uma válvula no topo do cilindro que perfurava o tanque e liberava o material químico do interior através de uma mangueira direcionado ao fogo. Esse tipo de extintor de incêndio passou a ser largamente utilizado como medida preventiva e combativa de incêndios no período. Eles estavam disponíveis na maioria das instalações onde havia risco de incêndio e não demorou até que eles fossem disponibilizados para civis.

Em 1938, extintores químicos se tornaram obrigatórios em prédios com moradores como medida de segurança. Em 1952 extintores menores passaram a fazer parte do equipamento de segurança de automóveis. 

Uso em aventuras: Extintores podem ser obviamente muito úteis em situações envolvendo um incêndio. Contudo eles também podem ser usados para ferir inimigos cuja fisiologia alienígena seja sensível a determinados compostos químicos. Talvez um mi-go ou mesmo um Shoggoth possa se sentir incomodado por um jato direto de CO2. É importante lembrar que extintores podem ser preenchidos com diferentes substâncias, cada qual indicada para o combate de um tipo de fogo. Alguns destes componentes químicos podem afetar as criaturas, outros não, saber qual é qual seria essencial. 

Um extintor também pode ser útil para revelar a presença de inimigos invisíveis, cuja silhueta seria delineada numa nuvem dispersa de gás. Além disso, o conteúdo de um extintor pode ser usado para danificar alguma máquina ou componente elétrico sensível.

Finalmente, se tudo mais falhar, um extintor de incêndio, feito de metal se transforma em um porrete quase perfeito para derrubar oponentes numa briga mano a mano.   

Lanterna à Pilha

Ano da Invenção: 1896
Quando se tornou popular: 1908

A respeito de Lanternas manuais à pilha, eu indico ler o artigo aqui no Mundo Tentacular que se refere exclusivamente a elas. Nele vocês encontrarão informações a respeito desse equipamento e modelos à disposição no período. 

Lanternas Elétricas em 1920

Locação de Automóveis

Ano da Invenção: 1906
Quando se tornou popular: 1916


O mais antigo exemplo de serviço de locação de veículos data de 1906. Uma companhia alemã chamada Sixt oferecia automóveis para aluguel a interessados em ter um veículo por um dia, uma semana, um mês ou até um ano. O serviço permitia que pessoas que tivessem a necessidade de usar automóveis os alugassem pelo tempo necessário para uma determinada tarefa - transportar carga, pelo tempo de férias ou para viajar até um determinado local.

Em 1916, surgiu nos Estados Unidos um serviço semelhante em Nebraska que oferecia automóveis Ford Modelo T para quem quisesse alugar por um tempo limitado. O serviço cobrava 10 centavos por milha. A empresa, chamada Saunders Drive-It-Yourself se espalhou por 56 cidades dos Estados Unidos. Em 1923, ela foi comprada e expandido se tornando o que hoje conhecemos como AVIS. 

Empresas competidoras de aluguel surgiram quase simultâneamente. Em Chicago, John Hertz fundou a Hertz Rent-a-Car em 1926, oferecendo o modelo Ford T. A rede expandiu seus negócios rapidamente incluindo no serviço de locação veículos maiores com caminhonetas e motocicletas. Serviços similares apareceram ao redor do mundo com empresas especializadas em fornecer automóveis de todos os tipos e valores. O setor experimentou um rápido crescimento, aparecendo em praticamente todas as cidades grandes da América. Com a Grande Depressão ele iria deslanchar, já que nem todos tinham como comprar um carro em meio a recessão. 

Em geral, a burocracia para alugar um automóvel é pequena, com o interessado tendo de fornecer apenas alguns dados pessoais e sua licença de motorista. Automóveis alugados demandam uma caução e em geral possuem seguro contra dano, acidente e terceiros.

Uso em Aventuras: Investigadores muitas vezes precisam de automóveis para ir de um canto a outro em busca de pistas e indícios. Investigações podem levar o grupo a se aventurar em expedições motorizadas a lugares isolados e afastados, onde normalmente não se poderia chegar sem um carro.

Por vezes, os investigadores não querem arriscar seus veículos e preferem alugar um carro de terceiro que não levantará muitas suspeitas. Especialmente se a ação deles for clandestina ou perigosa. É claro, algumas vezes será preciso lidar com o seguro e explicar o que são as estranhas marcas de garras na lataria de um carro alugado.

Gasolina 

Ano da Invenção: 1891
Quando se tornou popular: 1923


O refinamento de petróleo utiliza um processo conhecido como aquecimento passo-a-passo, ou destilação fracionada, para ferver e separar os vários produtos combustíveis. Após a destilação, um típico barril de petróleo cru resultava em 25% de gasolina e 15% de querosene. Antes de 1900 essas proporções eram perfeitamente satisfatórias, uma vez que querosene possuía várias utilizações práticas no dia a dia. Naqueles dias, gasolina era um produto sem tanto uso e de pequeno valor de mercado. Ela era vendida como combustível para aquecedores, ou simplesmente descartada em rios como matéria inútil. Eventualmente leis proibiram esse descarte, não por uma questão ecológica, mas pelo risco de incêndios.

A criação dos automóveis não apenas criou um mercado para a gasolina, mas em 1915 quase levou a indústria do petróleo a uma crise. Nesse ano, a venda de gasolina ultrapassou a de querosene pela primeira vez e a demanda de gasolina se tornou muito grande já que havia cada vez mas automóveis nas ruas. Os produtores de petróleo temiam que a demanda aumentasse e não existisse combustível para manter os automóveis rodando. Em 1912, o químico W.M. Burton descobriu um método de fazer um barril de petróleo produzir 45% de gasolina e apenas 6% de querosene. Essa nova percentagem tranquilizou o mercado e permitiu que a demanda pelo combustível fosse suprida.

Nos primeiros motores automotivos, o vapor de gasolina nos cilindros era comprimido a um quarto de seu volume antes da ignição. Alta compressão dava mais força ao motor, mas um grau elevado não podia ser atingido sem o risco do vapor explodir. Em 1922 Thomas Miggely Jr descobriu que acrescentando tetraetil de chumbo na gasolina permitia aumentar a compressão sem risco o que resultaria em veículos com maior potência.

Tratada, a gasolina etílica chegou aos postos para venda em 1923. Em 1930 engenheiros adotaram o teste de octanagem para verificar a qualidade dos combustíveis. Quanto mais alto o índice de octanagem, maior a compressão do combustível e potência para o motor. Refinarias logo descobriram como aumentar a qualidade da octanagem da gasolina comum. Isso gerou diferentes tipos de combustível, cada qual indicado para diferentes veículos. Enquanto automóveis em 1920 usavam octanagem de 6/1, combustíveis de aviação tinham um grau de 100/1, enquanto carros de corrida atingiam 12/1.

Uso em aventuras: Combustível é necessário em praticamente todas aventuras em que investigadores tenham de se deslocar de um local para outro. Felizmente, com a modernização dos automóveis, postos de gasolina se multiplicaram na mesma proporção. De fato, em 1920 um dos negócios mais promissores na América era abrir um posto de abastecimento. Para lidar com a concorrência, alguns passaram a vender alimentos e oferecer serviços automotivos. Nasceram assim as primeiras lojas de conveniência.

Contudo, gasolina não é útil apenas para manter os motores em funcionamento, combustível pode ser usado para acabar com provas e destruir cenas inconvenientes, sobretudo onde tenha ocorrido um crime. Já perdi a conta de quantas vezes aventuras terminaram com os investigadores queimando um lugar de alto à baixo com gasolina.

É claro, gasolina também pode ser usada como uma arma eficaz contra criaturas dos Mythos, muitas das quais imunes a armas comuns, mas afetadas pelo poder purificador do fogo. Na dúvida, a expressão "jogue gasolina e deixe queimar" pode ser a solução para os problemas de investigadores às voltas com os horrores mais resistentes.

Contador Geiger

Ano da Invenção: 1908
Quando se tornou popular: 1920


O físico alemão Hans Geiger desenvolveu um equipamento capaz de registrar o grau de radiação presente num ambiente em 1908. O contador tinha a forma de um cilindro de metal cheio de gás e com um mostrador de vidro. Quando radiação ionizante atingia o gás, ele produzia uma corrente elétrica fraca. Essa corrente era então traduzida em ruídos que uma vez quantificados forneciam a medição. Geólogos e prospectores logo passaram a usar os aparelhos Geiger portáteis para encontrar depósitos radioativos naturais.

Contadores Geiger maiores são muito mais precisos e fornecem leituras mais confiáveis, entretanto eles são pesados e difíceis de serem levados para o campo. Por esse motivo, os contadores simples fornecem apenas uma leitura referencial. O Contador de Cintilação, aprimorado pelo próprio Geiger, também passou a ser usado. O modelo de Cintilação é capaz de detectar a radiação em substâncias medindo pequenos flashes de luz quando um item é bombardeado por partículas alfa dos materiais radioativos. Essa leitura é tida como mais confiável, embora os dois tipos de Contador Geiger tenham se mantido em operação até os dias atuais sem muitas variações.

Os aparelhos em 1920 se assemelham a pequenas caixas com correias para transporte, podendo pesar até 15 quilos. Um fio condutor ligado a um cilindro é apontado na direção do local de onde se deseja obter a medição. Uma agulha de medição no topo da maleta fornece as leituras a serem interpretadas.

Uso em Aventuras: Quem pode saber qual a composição de certas criaturas do Mythos? Cores do Espaço, Servos dos Deuses Exteriores ou mesmo os Byakhee podem emitir uma assinatura radioativa visto que eles vem do espaço. Com certeza Azathoth ou Yog-Sothoth também produzem algum tipo de assinatura energética que um técnico poderia captar com um Contador Geiger. Empregar um equipamento de medição Geiger pode ser a maneira mais confiável de seguir uma criatura ou de localizar seu covil.

Fonógrafo e Gramofone

Ano da Invenção: 1877
Quando se tornou popular: 1926


Em 1877, Thomas Edison desenvolveu o primeiro aparelho comercialmente prático para mecanicamente gravar e reproduzir o som. Sua invenção ganhou o nome de Fonógrafo. O mecanismo básico do fonógrafo era uma agulha presa a um diafragma que vibrava quando tocava as ondas de som. Para gravar o som, Edison fazia com que a agulha raspasse uma folha de papel-alumínio. O cilindro girava e fazia com que a agulha traçasse uma espiral. A medida que o cilindro girava, a agulha marcava o diafragma em diferentes profundidades correspondendo a diferentes sons. Infelizmente, o papel alumínio de Edison era bom para apenas alguns usos, depois do qual acabava se rasgando. Em 1885 o papel-alumínio foi substituído por um cilindro de cera que era consideravelmente mais durável. O cilindro gravava os sons com maior fidelidade, mas também funcionava para um determinado número de usos depois dos quais se tornava inútil.

Os cilindros de cera se tornaram muito populares, em especial para realizar gravações caseiras e transmitir informações de forma confiável.

Em 1887 um disco chato feito de laca foi introduzido no mercado. O mecanismo que permitia girar o disco era bem mais simples do que o cilindro de cera e mais barato de ser produzido. Essa versão do aparelho de Edison recebeu o nome de Gramofone e se tornou bastante popular. Para funcionar, era preciso rodar uma manivela que impulsionava o disco.

Os sistemas tinham vantagens e desvantagens. Os discos do Gramofone eram mais vulneráveis a arranhões, mas não precisavam ser substituídos depois de uma determinada quantidade de execuções. Discos também ocupavam menos espaço quando não estavam em uso. Por outro lado, o Fonógrafo podia fazer suas próprias gravações, algo que o Gramofone não permitia.


No final das contas, o gramofone se tornou mais popular graças a facilidade de produção dos discos. O custo para produzir um único cilindro de fonógrafo equivalia ao custo de 25 discos. Não é exagero dizer que os gramofones ajudaram a tornar a indústria da música possível. Com o tempo, a tecnologia dos discos melhorou e o vinil foi introduzido.

Em 1926 os Gramofones receberam melhorias com câmaras acústicas mais potentes e gabinetes que tornavam o som muito mais puro. Já em 1930, Gramofones eram um item popular que podia ser encontrado na maioria das casas de classe média.

Uso em Aventuras: O Fonógrafo pode ser de extrema utilidade para pesquisadores e acadêmicos. As anotações e informações podem ser armazenadas em som ao invés de cadernos e diários, facilitando bastante o trabalho. Dada a popularização desses itens, o Guardião pode considerar desenvolver uma pista na forma de uma gravação ao invés de um item físico.

Algumas criaturas podem ser afetadas ou incomodadas pelo som. Podem ainda ser atraídas para armadilhas por ondas acústicas ou músicas específicas.

O uso mais inteligente de gramofone que vi em uma aventura, foi o grupo sugerir gravar em um disco palavras mágicas que poderiam afetar um feiticeiro trazido de volta dos mortos. Uma vez executado em uma altura considerável, o bruxo teria de ouvir. Grande ideia!

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Na próxima parte dessa série, a última, teremos mais alguns itens interessantes para o período dos Loucos anos 1920.

Fiquem conosco...

4 comentários:

  1. Excelente Matéria! Interessante saber como já era realizada, a mais de 100 anos, a gravação de som ambiente... em Cilindros de Cera!!!



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  2. Um ótimo trabalho como sempre, meus mais honestos parabéns

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  3. Excelente pesquisa. Rico material para ambientação!

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