O artefato mais desejado era sem sombra de dúvida, as Múmias. A maioria destes cadáveres mumificados pertenciam a camponeses e operários que trabalharam na construção daqueles magníficos monumentos e que haviam naturalmente sido preservadas pelo clima favorável. A prática de buscar múmias era tão comum que a Europa foi inundada por milhares delas. Em pleno século XIX havia uma estranha prática enraizada no seio das sociedades europeias, a de que ingerir pedaços dessas múmias era um remédio para as mais variadas doenças e um afrodisíaco eficaz. O bis-avô de Clodia, sendo um simples soldado não podia carregar muito, portanto o único artefato que ele pode contrabandear para o país foi uma pequena cabeça de múmia. Por anos ele orgulhosamente apresentou o objeto como um troféu de guerra. Seus filhos e netos se reuniam ao redor da lareira onde repousava a cabeça para ouvir as histórias sobre a campanha e grandes batalhas. Por vezes, contou o pai de Clodia, a cabeça parecia olhar com atenção, apreciando a narrativa como se conseguisse entender o que estava sendo dito.
Os anos se passaram, e o velho soldado acabou falecendo. A cabeça da múmia foi empacotada e colocada em um depósito onde acabou esquecida, lembrada apenas em ocasionais reuniões de família onde as velhas histórias eram rememoradas. Ao menos até o fatídico ano de 1922 quando Howard Carter descobriu a tumba do menino-rei, o Faraó Tutankamon. A atenção pública pela descoberta desencadeou um efeito de interesse sem precedente por tudo a respeito do Antigo Egito e algo que passou a ser chamado Egiptologia ganhou força. Com efeito, todos objetos decorativos pertencentes ao Egito se tornaram populares. Era uma questão de estilo decorar a casa com objetos do Egito, artefatos reais ou falsos. Foi nessa época que Clodia lembrou das histórias do seu bis-avô e suas aventuras na Campanha do Egito. E ela lembrou da lendária Cabeça da Múmia.
Clodia levou um final de semana inteiro vasculhando o velho sótão da casa de sua avó, um lugar repleto de artefatos colecionados pela sua família ao longo de séculos. O fruto de seu trabalho enfim se pagou quando ela encontrou numa mala cheia de roupas velhas, uma caixa de madeira. Dentro dessa estavam várias fotografias e uma lata com símbolos egípcios entalhados. E no interior, embalado em um pano de veludo a Cabeça da Múmia.
Era bem menor do que ela esperava, do tamanho aproximado de uma grande laranja. Embora ainda existissem alguns fragmentos de tecido presos ao crânio, a maior parte da face estava descoberta. Com as órbitas dos olhos vazios e sem o nariz, a cabeça do cadáver era grotesca, mas sabendo que ela havia vindo da Terra dos Faraós Clodia deixou de lado os temores e asco, substituídos por enorme interesse. Com a concordância de sua avó, ela levou o objeto para sua casa em Montoire e colocou sobre uma prateleira na sala. Naquele dia ela estudou o artefato, impressionada pelos detalhes. Sua mente ponderava a respeito da identidade daquela pessoa e o mundo que ela conheceu milênios atrás. Aquilo a deixava de alguma forma fascinada.
Foi então que os sonhos perturbadores tiveram início.
Clodia sonhava que estava em uma sala escura, que cheirava a incenso, coisas velhas e corrupção. Ela estava amarrada pelos pulsos e presa no que parecia ser um pilar. Uma porta se abria e três homens entravam nesse aposento. Dois deles eram grandes e musculosos, carregavam um tipo de estandarte com símbolos que ela supôs serem egípcios. O terceiro homem vestia uma espécie de robe adornado. Trazia jóias nos pulsos e em volta do pescoço enquanto na cabeça tinha uma espécie de mitra cravejada. Foi esse homem pequeno quem falou, e imediatamente os dois outros homens apanharam porretes e começaram a espancá-la. Em uma mistura de pânico e desespero ela conseguiu acordar aos gritos, coberta de suor.
Ao longo de uma semana ela teve o mesmo pesadelo noite após noite. A cena se tornando cada vez mais detalhada e violenta. Para piorar, ela não acordava mais quando a surra se iniciava, ela passava por aquilo tudo sem despertar. Cada noite ela via aquele sujeito e sentia o ódio dele transbordando. Certa noite, após a surra, Clodia viu a si mesma ser amarrada em uma espécie de mesa onde estavam colocados jarros e estranhos instrumentos. O homem, que a essa altura ela já havia compreendido, tratava-se de uma espécie de sacerdote apanhava uma faca incrustada de jóias e abria o seu abdomen.
Ao longo de uma semana ela teve o mesmo pesadelo noite após noite. A cena se tornando cada vez mais detalhada e violenta. Para piorar, ela não acordava mais quando a surra se iniciava, ela passava por aquilo tudo sem despertar. Cada noite ela via aquele sujeito e sentia o ódio dele transbordando. Certa noite, após a surra, Clodia viu a si mesma ser amarrada em uma espécie de mesa onde estavam colocados jarros e estranhos instrumentos. O homem, que a essa altura ela já havia compreendido, tratava-se de uma espécie de sacerdote apanhava uma faca incrustada de jóias e abria o seu abdomen.
Ela então acordava gritando, sentindo o metal frio perfurando o seu estômago rasgando a sua pele e se enterrando na carne. Ela verificava imediatamente se estava ferida e embora não existisse sinal de corte, seu horror era indescritível. Ela sentia um arrepio na espinha ao perceber que a realidade estava de alguma forma se fundindo com seus sonhos. Sua histeria apenas aumentou quando certa noite, ela despertou com escoriações nos braços e arranhões onde os homens do pesadelo haviam lhe segurado.
Se aquilo não fosse por si só horrível, outro detalhe aterrador se somou à narrativa. Certa noite, ao despertar subitamente, Clodia descobriu que a cabeça da múmia estava na sua cama, pousada sobre um travesseiro. Foi a primeira coisa que ela viu ao abrir os olhos. Aquela coisa medonha a encarava. E o mais aterrorizante e impossível para Clodia é que a face parecia estranhamente diferente, como se nela se desenhasse um sorriso que jamais havia estado ali antes.
Ela ficou tão perturbada com o incidente que resolveu apanhar a relíquia e trancá-la no porão onde não seria obrigada a vê-la. Decidiria mais tarde o que fazer com ela.
Mas o alívio esperado não veio e os pesadelos continuaram. Eles pareciam cada vez mais violentos. As surras se intensificavam e a sensação de ser estripada era real demais. O homem de olhar cruel arrancava seus órgãos e os colocava em pequenos jarros como se estivesse realizando algum tipo de ritual sangrento. Ela podia apenas assistir aquilo.
Certa noite, Clodia teve o mais violento dos pesadelos, um no qual o homem usava um instrumento em forma de gancho que era inserido em seu nariz. Em seguida ele o enfiava cada vez mais fundo com o intuito de remover seu cérebro. Clodia acordou com o gosto de sangue que escorria em profusão de seu nariz. Ela correu para o banheiro para conter a hemorragia. Ainda confusa e trêmula, voltou até a sala e lá viu algo que fez a sua sanidade quase se despedaçar por inteiro: A Cabeça da Múmia estava sobre a mesa novamente. A coisa a observava, com olhos vazios e o sorriso ainda mais largo.
Clodia ficou sem ação e perdeu os sentidos.
Quando finalmente acordou, descobriu que estava sentada diante da coisa mumificada que repousava na mesa. Ela a encarava como se hipnotizada, sentia o corpo leve, a têmpora pulsando e a na boca um gosto enjoativo de sangue. Tinha na mão uma faca que pegou na cozinha e sentia a determinação de dar cabo da própria vida. E o teria feito, pois algo parecia comandá-la nesse sentido. No último instante, entretanto conseguiu romper o transe e horrorizada se colocou de pé e fugiu do apartamento sem olhar para trás.
Foi buscar o socorro de sua família pois acreditava ter enlouquecido por completo. Depois de contar o que estava acontecendo, o pai e um irmão foram até o apartamento para destruir a cabeça. Eles acharam a coisa amaldiçoada onde Clodia havia dito que estaria, a apanharam e atearam fogo. Enquanto a Cabeça da Múmia era reduzida à cinzas, exalando um cheiro nauseante, os cães da vizinhança ladravam enlouquecidos. Clodia decidiu deixar o apartamento e nunca mais voltar. Era impossível continuar lá depois de vivenciar tamanho horror.
Clodia decidiu nunca mais mencionar a história da Cabeça da Múmia ou os pesadelos. Ela tinha medo que as pessoas pensassem que ela havia enlouquecido. Ao menos depois de destruir a cabeça os pesadelos terminaram e sua vida voltou ao normal.
Nos anos 1950, a egiptologia ganhou destaque novamente e Clodia visitou uma exposição que estava em Paris. Entre as várias peças, esculturas e tabuletas que faziam parte dos objetos trazidos, ela se sentiu atraída por uma em especial, uma pequena estatueta que representava um sacerdote vestindo trajes idênticos ao do homem em seus pesadelos. Ela mal podia acreditar...
A estatueta representava um sacerdote que servia diretamente ao Faraó. Sua atribuição era preparar os serviçais que iriam acompanhar o Monarca em sua jornada rumo ao além. Segundo a tradição, quando o Faraó morria, alguns serviçais, os que eram seus favoritos, eram mumificados enquanto ainda estavam vivos. O objetivo era fazer com que eles acompanhassem o Faraó e o servissem na eternidade.
A cabeça mumificada pertencia a um sacerdote que tinha prazer em mumificar as pessoas e fazê-las sofrer aquele terrível destino. Por intermédio de algum elo estabelecido através do tempo, Clodia vivenciou o horror dos serviçais do Faraó submetidos à mumificação nas mãos daquele homem perverso. E ela sabia que se tivesse continuado sujeita àqueles pesadelos também se tornaria sua vítima.
A história de Clodia foi relatada pela primeira vez nos anos 1950 e causou grande repercussão e interesse na França. Ela se tornou uma das mais conhecidas narrativas a respeito de Maldição envolvendo um artefato egípcio naquele país.
Se aquilo não fosse por si só horrível, outro detalhe aterrador se somou à narrativa. Certa noite, ao despertar subitamente, Clodia descobriu que a cabeça da múmia estava na sua cama, pousada sobre um travesseiro. Foi a primeira coisa que ela viu ao abrir os olhos. Aquela coisa medonha a encarava. E o mais aterrorizante e impossível para Clodia é que a face parecia estranhamente diferente, como se nela se desenhasse um sorriso que jamais havia estado ali antes.
Ela ficou tão perturbada com o incidente que resolveu apanhar a relíquia e trancá-la no porão onde não seria obrigada a vê-la. Decidiria mais tarde o que fazer com ela.
Mas o alívio esperado não veio e os pesadelos continuaram. Eles pareciam cada vez mais violentos. As surras se intensificavam e a sensação de ser estripada era real demais. O homem de olhar cruel arrancava seus órgãos e os colocava em pequenos jarros como se estivesse realizando algum tipo de ritual sangrento. Ela podia apenas assistir aquilo.
Certa noite, Clodia teve o mais violento dos pesadelos, um no qual o homem usava um instrumento em forma de gancho que era inserido em seu nariz. Em seguida ele o enfiava cada vez mais fundo com o intuito de remover seu cérebro. Clodia acordou com o gosto de sangue que escorria em profusão de seu nariz. Ela correu para o banheiro para conter a hemorragia. Ainda confusa e trêmula, voltou até a sala e lá viu algo que fez a sua sanidade quase se despedaçar por inteiro: A Cabeça da Múmia estava sobre a mesa novamente. A coisa a observava, com olhos vazios e o sorriso ainda mais largo.
Clodia ficou sem ação e perdeu os sentidos.
Quando finalmente acordou, descobriu que estava sentada diante da coisa mumificada que repousava na mesa. Ela a encarava como se hipnotizada, sentia o corpo leve, a têmpora pulsando e a na boca um gosto enjoativo de sangue. Tinha na mão uma faca que pegou na cozinha e sentia a determinação de dar cabo da própria vida. E o teria feito, pois algo parecia comandá-la nesse sentido. No último instante, entretanto conseguiu romper o transe e horrorizada se colocou de pé e fugiu do apartamento sem olhar para trás.
Foi buscar o socorro de sua família pois acreditava ter enlouquecido por completo. Depois de contar o que estava acontecendo, o pai e um irmão foram até o apartamento para destruir a cabeça. Eles acharam a coisa amaldiçoada onde Clodia havia dito que estaria, a apanharam e atearam fogo. Enquanto a Cabeça da Múmia era reduzida à cinzas, exalando um cheiro nauseante, os cães da vizinhança ladravam enlouquecidos. Clodia decidiu deixar o apartamento e nunca mais voltar. Era impossível continuar lá depois de vivenciar tamanho horror.
Clodia decidiu nunca mais mencionar a história da Cabeça da Múmia ou os pesadelos. Ela tinha medo que as pessoas pensassem que ela havia enlouquecido. Ao menos depois de destruir a cabeça os pesadelos terminaram e sua vida voltou ao normal.
Nos anos 1950, a egiptologia ganhou destaque novamente e Clodia visitou uma exposição que estava em Paris. Entre as várias peças, esculturas e tabuletas que faziam parte dos objetos trazidos, ela se sentiu atraída por uma em especial, uma pequena estatueta que representava um sacerdote vestindo trajes idênticos ao do homem em seus pesadelos. Ela mal podia acreditar...
A estatueta representava um sacerdote que servia diretamente ao Faraó. Sua atribuição era preparar os serviçais que iriam acompanhar o Monarca em sua jornada rumo ao além. Segundo a tradição, quando o Faraó morria, alguns serviçais, os que eram seus favoritos, eram mumificados enquanto ainda estavam vivos. O objetivo era fazer com que eles acompanhassem o Faraó e o servissem na eternidade.
A cabeça mumificada pertencia a um sacerdote que tinha prazer em mumificar as pessoas e fazê-las sofrer aquele terrível destino. Por intermédio de algum elo estabelecido através do tempo, Clodia vivenciou o horror dos serviçais do Faraó submetidos à mumificação nas mãos daquele homem perverso. E ela sabia que se tivesse continuado sujeita àqueles pesadelos também se tornaria sua vítima.
A história de Clodia foi relatada pela primeira vez nos anos 1950 e causou grande repercussão e interesse na França. Ela se tornou uma das mais conhecidas narrativas a respeito de Maldição envolvendo um artefato egípcio naquele país.