quinta-feira, 19 de março de 2020

Maldição da Múmia - A Descoberta da Tumba de Tutankamon


Há poucos lugares no mundo imbuídos com um senso de fascínio e mistério quanto o Antigo Egito. 

Esta é a Terra que nos deu os mistérios das pirâmides, da Esfinge, dos conhecimentos perdidos no Livro dos Mortos e muitos outros enigmas legendários que se estendem até os limites da história e do próprio tempo. De todos os incontáveis mistérios, um que se sobressai diz respeito às ancestrais maldições que foram lançadas sobre as antigas tumbas dos Reis que um dia governaram essa terra repleta de misticismo. Tais rumores se tornaram tão difundidos e se popularizaram de tal maneira que para muitos é impossível dissociar crendice e fato. De mera especulação, eles se tornaram uma espécie de certeza no sobrenatural. 

Nesse artigo investigaremos um pouco dessa crença irrefreável num mundo paranormal no qual o proibido não é apenas alertado, mas combatido por intermédio de maldições. Essa é a Maldição do Rei Tut.    

Os Governantes do Antigo Egito eram chamados Faraós. Eles não eram simples governantes apontados para conduzir seu povo, muito mais que isso, eles eram verdadeiros Deuses andando entre os homens devendo ser respeitados e reverenciados como ta. Sua influência era tamanha que nem mesmo a morte apagava sua importância. Os corpos eram cuidadosamente preservados, meticulosamente embalsamados até serem transformados em múmias. Com o intuito de garantir que seus amados Reis fossem lembrados para sempre, os antigos egípcios construíam imensos monumentos em sua homenagem. Era nessas extravagantes tumbas que os cadáveres por fim eram depositados. Ao redor das ilustres múmias, acondicionadas em sarcófagos ricamente decorados, repousavam vastas riquezas, incontáveis artefatos e belíssima arte, além de animais e servos que deveriam acompanhar o morto em sua derradeira jornada pelo além. Tudo era selado nessas câmaras profundas construídas exclusivamente para esse propósito funesto. Quando a porta era fechada e um lacre colocado nos umbrais, nada mais deveria perturbar seu descanso. Ou ao menos, esse era o plano.

As tumbas eram cuidadosamente seladas para evitar que ladrões de sepulturas chegassem até os tesouros guardados em seu interior. Por vezes, elas possuíam corredores que formavam verdadeiros labirintos, construídos especificamente para dificultar e confundir exploradores. Além disso, é sabido que armadilhas engenhosas foram desenvolvidas com o intuito de impedir que profanadores chegassem ao local de descanso eterno. Tais armadilhas por vezes ajudavam a afugentar os saqueadores ou mesmo eliminavam sua incômoda presença. Contudo, nem todos eles eram dissuadidos por tais medidas.


Entra em cena então uma forma de intimidação mais direta que ajudou a sedimentar as bases para uma lenda duradoura. Afim de coibir a ação dos ladrões, os sacerdotes espalharam a crença de que as tumbas eram magicamente protegidas. Não apenas por encantamentos, mas por maldições terríveis que iriam se abater sobre todo aquele corajoso (ou tolo) o bastante para invadir as tumbas.

As primeiras maldições surgiram durante a nona e décima Dinastias. Em uma tumba dedicada Khentika Ikhekhi, podia ser lido no portão de entrada a seguinte sentença:

"Para todos os homens que adentram minha tumba… impuros… haverá julgamento… todos que o fizerem enfrentarão a ruína… Eu irei partir seu pescoço como o de um pássaro… Eu lançarei o medo de minha presença em sua alma. E para aquele que destruir essa inscrição: Que jamais chegue em sua casa. Que jamais seja abraçado pelos seus filhos. Que jamais tenha sucesso  que sua existência seja repleta de infortúnios" 

Maldições como essa se tornaram algo comum na entrada selada da maioria das tumbas e mesmo os ladrões mais experientes acreditavam que não era algo simples lidar com essas ameaças. Muitas delas ameaçavam não apenas o saqueador, mas sua família e seus entes queridos, algumas iam além e condenavam o invasor não apenas a uma existência desgraçada, mas sua própria alma imortal com tormentos de além túmulo.

A ameaça era tão séria que muitos saqueadores acabavam dissuadidos de tomar parte na pilhagem. Alguns, mais experientes chegavam a contratar sacerdotes ou feiticeiros com poderes místicos capazes de anular as maldições e remover os selos que lhes impingiam malefício. Estranhos rituais de proteção, o uso de óleos especiais, filtros destilados com esse propósito e amuletos consagrados podiam reduzir esse perigo ou fazer com que ele desaparecesse por completo. Mas esse serviço era caro e difícil de ser contratado, afinal, havia muito risco envolvido e as maldições de um Faraó (um Deus na Terra) não eram algo simples de ignorar.


Rumores a respeito da "Maldição dos Faraós" bem como antigos segredos do Egito conquistaram enorme popularidade no mundo ocidental durante os séculos XIX e XX, misturando-se com o romântico encantamento de uma terra exótica e cheia de mistérios. Apesar das maldições pesando sobre as tumbas, ladrões de sepulturas conseguiram localizar esses locais sagrados e resgataram de seu interior relíquias sem preço. Os artefatos egípcios conquistaram incrível interesse e se converteram em uma verdadeira febre. A obtenção daqueles tesouros se converteu em uma paixão que varreu a Europa e contagiou inúmeros aventureiros e estudiosos. Ao redor dela se formou uma nova ciência, a Arqueologia. Contudo nem todos estavam em busca de conhecimento ou de causas nobres. A certeza de que existiam câmaras intocadas há milênios apenas aguardando por alguém que as encontrasse e removesse delas as riquezas ocultas motivou uma verdadeira multidão a viajar para o Egito. Como uma espécie de corrida do outro, estrangeiros chegavam ao país munidos de pás e picaretas, dispostos a arrancar do chão objetos que fariam sua fama e fortuna.

Essa foi uma época de grande agitação, na qual exploradores e acadêmicos se confundiam e por vezes, em nome da glória que essas descobertas poderiam lhes proporcionar, agiam como verdadeiros saqueadores. Sob o sol inclemente do deserto, expedições varriam as areias em busca de tumbas perdidas e de velhas histórias sobre templos, palácios e ruínas abandonadas.     

Um destes aventureiros que viajou para o Norte da África em busca da riquezas dos Reis Egípcios foi o arqueólogo britânico Howard Carter. Obcecado com a descoberta de artefatos e riquezas, Carter acreditava que conquistaria a glória encontrando a lendária tumba do Grande Rei Tutankhamon, comumente chamado de Rei Tut. Em vida, Tutankamon se tornou  o governante de todo Egito em 1332 a.C, quando assumiu o lugar de seu pai, o Faraó Akhenaten, na tenra idade de 9 anos. Isso lhe valeu o título de Menino Rei. Como governante, ele realizou enormes mudanças em seu reino e embora popular acabou atraindo inimigos. Tut morreria sob circunstâncias misteriosas com apenas 19 anos, depois que sucessores em potencial fizeram de tudo para removê-lo da história apagando para sempre seu nome. Obviamente isso não funcionou e Tut se tornou o mais famoso Faraó de todos os tempos, em parte porque sua Tumba permaneceu perdida milênios após sua morte.   

Carter chegou ao Egito em 1890 acompanhado de Lorde Carnavon, outro ávido egiptólogo que acreditava saber a localização aproximada da famosa tumba. Carnavon realizou inúmeras pesquisas e levantamentos topográficos, que ajudariam a encontrar mausoléus ainda soterrados pelas areias do deserto. Ele e Carter passaram vários anos em escavações sem sucesso e Carnavaon por pouco não cancelou as expedições achando que não seria capaz de obter resultados. Justo quando Carnavon estava prestes a cortar os recursos, Carter tropeçou em algo curioso, um pilar semi-enterrado na base de uma pirâmide. Era 22 de novembro de 1922 e após escavações preliminares, ele encontrou uma câmara selada e mais além degraus. Descendo através da escuridão perpétua, atingiu um portão lacrado onde emocionado leu o nome do Faraó Tutankamon.  


Na época foi uma descoberta impressionante; uma fabulosa tumba de Faraó, intacta e preservada do ataque inescrupuloso de ladrões de túmulos. As possibilidades do que existia além daquele grosso bloco de pedra que encerrava a tumba eram imensas. Carter enviou imediatamente a Carnavon uma mensagem insistindo para que ele viesse o mais rápido possível e se juntasse a ele quando os lacres fossem rompidos. Ninguém havia cruzado aquele portão em milênios e olhos humanos haviam visto a câmara adiante pela última vez muito antes do nascimento de Cristo.

Na noite em questão uma tempestade de areia varreu a região. Carter e Carnavon começaram a remover os lacres usando martelo e cinzel, o que daria início a uma longa sucessão de incidentes estranhos.

O primeiro evento que instalou o pânico entre os escavadores foi a aparição de uma serpente venenosa que saltou de um nicho e atacou os canários que estavam em uma gaiola usada para sondar a qualidade do ar. Os operários assumiram que aquele era um aviso de além túmulo e supostamente alertaram Carter de que o réptil seria um servo do Faraó na forma de serpente, enviado para matá-los. Um dos homens ficou tão aterrorizado que sofreu um ataque epilético, caindo no chão se retorcendo e gritando. Isso assustou outros dois homens que fugiram e não mais foram vistos.     

O ar estagnado no corredor também conspirava para criar uma ilusão perturbadora. As tochas carregadas pelo grupo ardiam com uma luminosidade esverdeada graças ao ar saturado de sódio. Uma luz fantasmagórica iluminava a face transparecendo de expectativa dos arqueólogos.

Estranho como fosse a situação, Carter era um homem de ciência e não acreditava nos rumores supersticiosos sobre maldições sussurradas pelos locais. Quando a tumba foi enfim aberta, Carter começou a iluminar o interior com uma vela através de um pequeno buraco. Seus olhos vasculharam o compartimento e silhuetas de artefatos se desenharam na penumbra. Seu comentário foi simples: "maravilhoso, simplesmente maravilhoso".


Após afastar a porta, Carter rastejou pelo vão aberto, sua sede por descobertas o levando a penetrar na câmara sem se importar com as alegadas maldições. Ali dentro ele se deparou com o brilho dourado de um inestimável tesouro espalhado por toda parte. A Expedição havia encontrado o grande prêmio, aquele era sem dúvida o Tesouro do Faraó mais famoso do Egito Antigo.

Aqueles que acreditavam na lenda sobre a maldição ficaram mortificados pela ousadia dos arqueólogos. A novelista  Marie Corelli, lamentou ao saber da descoberta: "As punições mais terríveis aguardam aqueles que invadem a tumba do Faraó".

É claro, em um primeiro momento, esses alertas foram abafados pelas celebrações pela notável descoberta. Carter e Carnavon foram saudados como grandes descobridores, os responsáveis pela maior descoberta arqueológica do século. Na tumba acharam um tesouro inestimável com objetos religiosos, riqueza, ouro, pinturas, estatuetas, pergaminhos e um incrível sarcófago contendo os restos mumificados do Rei Tutankamon em pessoa. 

De acordo com as histórias, encontraram ainda uma tabuleta de pedra com uma inscrição simples e ameaçadora onde se lia: "A Morte virá em asas rápidas para aquele que perturbar a paz do Rei". Carter mais tarde negaria a existência de tal inscrição, mas os estranhos incidentes que ocorreriam em seguida acabaram falando por si próprios e ajudaram a espalhar a lenda. 


Uma das primeiras vítimas da "Maldição do Rei Tut" seria o próprio Lorde Carnarvon, que foi picado por um mosquito em sua bochecha após a descoberta. Ao fazer a barba ele acabou cortando o inchaço e este acabou infeccionando. Bizarramente, o ferimento progrediu para uma inflamação aguda e ele acabou morrendo. Estranhamente, circulou o rumor de que o cadáver do Rei Tut tinha uma ferida semelhante na bochecha, aproximadamente no mesmo local que a lesão que matou Carnavon. 

A morte de Carnavon ganhou enorme destaque e catapultou os boatos a respeito da Maldição para as manchetes de jornais e revistas. Embora os acadêmicos mencionassem que a maldição não passava de mera superstição para assustar os tolos, ela acabou se tornando cada vez mais difundida.

As histórias acabaram sendo alimentadas por figuras ilustres como Artur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, que especulou que a morte de Carnavon pudesse ter sido causada por um espírito elemental que guardava a tumba. Outros rumores davam conta que na noite em que Lorde Carnavon faleceu, seu cão de estimação uivou como se enlouquecido e foi encontrado morto. Nessa mesma noite houve uma tempestade no Cairo e as luzes da cidade se apagaram.

Outro notório aspecto da maldição do Rei Tut surge na forma de um bracelete de escaravelho dourado que teria sido encontrado no braço da múmia e que foi presenteado a Sir Bruce Ingham. O bracelete tinha a seguinte inscrição gravada: "Maldito seja aquele que mover o meu corpo. Para ele virá fogo, água e pestilência". E incrivelmente a casa de Ingram pegou fogo em circunstâncias misteriosas pouco depois dele  receber o bracelete. Enquanto isso, Carter, que não acreditava em absoluto nos rumores sobrenaturais, afirmou ter sentido a presença de uma criatura semelhante a um chacal espreitando por uma faixa do deserto onde eles não eram vistos há décadas. Um beduíno teria aparecido no acampamento da expedição, meio enlouquecido e gritando que o Deus Anúbis havia despertado para extrair vingança contra os invasores da Tumba.


A despeito de Carter não acreditar no sobrenatural, a sequência de mortes envolvendo pessoas ligadas à expedição ou diretamente ligados a descoberta continuou a crescer. O Principe Ali Kamel Fahmy Bey do Egito, que deu permissão para as escavações foi baleado mortalmente pela sua esposa em 1923, Sir Archibald Douglas Reid, que ajudou a realizar exames de raio-x na múmia, morreu em 1924 em um estranho acidente. George Jay Gould I, que visitou a tumba na companhia de Carnavon, morreu em 1923 depois de contrair uma febre, Sir Lee Stack, Governador-Geral do Sudão, morreu após um atentado em 1924, Arthur Mace, membro da equipe de escavação de Carter, morreu envenenado com arsênico em 1928, o secretário de Carter Richard Bethell sufocou em sua cama em 1929, o pai de Bethell cometeu suicídio em 1930, e Lorde Westbury morreu após cair ou se jogar do telhado de sua casa. De fato, por volta de 1935 um total de 21 mortes de pessoas ligadas a descoberta e escavação da tumba ocorreram. O próprio Howard Carter morreria vítima de linfoma em 1939 aos 64 anos de idade, ironicamente logo depois de dar uma entrevista afirmando que os rumores sobre a maldição não passavam de tolice. 

A quantidade de pessoas mortas entre os "amaldiçoados pela tumba" foi motivo para especulação ao longo dos anos que se seguiram. Algumas pessoas tentaram oferecer uma explicação científica para as mortes mencionando que as substâncias químicas usadas para embalsamar a múmia poderiam ter ocasionado graves problemas de saúde às pessoas que entraram na tumba e respiraram seu ar estagnado.

Havia a ideia de que a maldição poderia ser na verdade uma forma de doença respiratória causada por um tipo de fungo conhecido como "mofo preto" (Aspergillus niger), que causa entre outros sintomas febre, falência do sistema respiratório, falência nos órgãos e em certos casos, a morte. A exposição prolongada ao mofo pode ser fatal, mas mesmo em pequena quantidade ele pode ser bastante debilitante.


É claro, há muito ceticismo no que diz respeito a maldição. Quando a tumba foi aberta havia muitas pessoas presentes, a maioria delas jamais tendo sido afetadas e gozando de uma vida longa e saudável. Mesmo aqueles que faleceram nos meses ou anos seguintes já tinham problemas de saúde, e obviamente todos acabam morrendo mais cedo ou mais tarde.

Já foi apontado que não há nada particularmente absurdo no número de pessoas envolvidas com a tumba do Rei Tut e que morreram, então é possível que não haja nada de diabólico ou aterrorizante presente. Talvez não seja nada de mais além de mera coincidência. É difícil dizer. Tudo se encaixa em um padrão similar no qual tumbas e artefatos egípcios parecem atrair coincidências estranhas que conjuram a presença de algo sobrenatural. Seja lá qual for o caso, a maldição da Tumba do Rei Tut se tornou lendária e permanece como uma curiosidade histórica que acompanha uma era de descoberta e aventura como nenhuma oura antes ou depois.

5 comentários:

  1. Enquanto estou de cuarentena nada melhor do que ficar vendo mitologia antiga de noite

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    1. Me enganei na verdade é lendas da idade média
      é que as vezes eu confundo as coisas

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  2. Acho que as maldições são verdadeira,porque eles tinham poder sobrenatural, como na História bíblia de Moisés, que a vara virou serpente,e outras coisas mais.

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  3. Maldição existe, até entre nós mesmo

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  4. O sobrenatural existe e cá em África existem locais que não se pode andar sem permissão sob pena de nunca mais voltar.

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