quinta-feira, 30 de julho de 2020

Som do Apocalipse - A trombeta maldita de Tutankamon


Não há maiores mistérios ancestrais do que os relacionados ao Faraó Egípcio Tutancâmon.

O último membro de uma linhagem real que governou durante a 18a Dinastia, o "Menino Rei" assumiu o trono com apenas nove anos (por volta de 1334 a.C) após a morte de seu pai Akenaton. Seu reinado foi marcante, porém breve, tendo durado menos de uma década. 

Sua suntuosa tumba foi construída para armazenar não apenas os seus restos mortais, envoltos em ataduras de linho e encerrado em um sarcófago, mas seus muitos e incrivelmente valiosos tesouros. A localização de seu destino final, em algum lugar do Vale dos Reis foi perdida e as areias do tempo se encarregaram de ocultá-lo. Por milênios, a história se tornou lenda, fatos deram lugar a mitos. Isso tudo, ao menos até que o arqueólogo britânico Howard Carter descobrisse sua localização em 1922.    
Após escavar os detritos, ele localizou um acesso usado pelos mestres artesãos que construíram a tumba. Este acesso levava a uma porta selada com o símbolo do Faraó. Carter fez um buraco e espiou o interior que não era visto há séculos. Lá conseguiu ver aquilo que ele definiu simplesmente como "coisas maravilhosas".


Na câmara mortuária, aos pés do Sarcófago dourado, ornamentado com pedras preciosas e uma máscara de ouro, estavam os tesouros favoritos do Faraó. Exatamente 5398 artefatos que iam de cadeiras a estatuetas, carruagens a jóias, talheres a vasos... eram os bens terrenos embalados e preparados para que Tutancâmon desfrutasse deles no além vida.

Eles estavam intocados! Nenhum saqueador havia encontrado o vasto tesouro encerrado naquela câmara ou vasculhado seu interior imerso nas trevas.  

A equipe de Carter meticulosamente registrou cada um dos objetos o que demorou nada menos do que um ano e meio de análise, comparação e avaliação. Só então eles começaram a se dedicar a explorar o conteúdo do sarcófago. O corpo do menino rei estava lá, enfeitado com jóias e envolto por regalia real. Apesar de toda riqueza e simbolismo que o cercava, era o corpo ressecado e frágil de um rapaz, nada mais.

Esse foi o acontecimento que transformou o Egito em uma obsessão mundial alimentada por lendas, rumores e histórias.

Dentre os grandes mistérios estavam as alegadas mortes inesperadas de membros da equipe que exploraram a Tumba. A morte do celebre Lorde Carnavon, vítima de uma picada de mosquito infeccionada foi suficiente para que a imprensa da época registrasse uma série de acontecimentos trágicos sob o título "Maldição do Faraó".

Uma aura sobrenatural desceu sobre a descoberta da Tumba e também sobre os objetos extraídos dela. Dois destes itens eram instrumentos musicais, Trombetas que capturaram a imaginação do público, especialmente no ano de 1939, quando foram apresentadas com toda pompa e circunstância. Depois de mais de 3000 anos de silencio, os instrumentos seriam soprado uma vez mais.

A primeira trombeta media aproximadamente 50 centímetros e era feita de uma liga de cobre. A outra tinha 58 centímetros foi feita inteiramente de prata. Cada uma delas tinha um estojo ornamentado de madeira com hieróglifos dourados. Elas ficavam protegidas ali dentro. 

A trombeta de bronze

Os instrumentos de sopro foram construídos conforme o método da época e eram peças perfeitas, confeccionadas por um verdadeiro mestre instrumentista. Elas tinham entre 50 e 100 anos de idade na época em que foram enterradas com Tutancâmon. Provavelmente lhe foram presenteadas em vida e usadas em cerimônias para anunciar a chegada do Rei a prédios públicos em visitas oficiais.

Em Londres havia grande expectativa para ouvir o som que as Trombetas iriam produzir. O Rei Farouk do Egito, compareceu em pessoa para a cerimônia que seria transmitida pela rádio BBC ao vivo. A tarefa de soprar a trombeta milenar foi passada para um oficial do Regimento britânico dos Hussardos. Para preservar o mistério, nenhum ensaio ou teste foi realizado previamente.

A trombeta de bronze foi soprada primeiro. Ela produziu um ruído de nota única que ecoou pela câmara e foi captado pelos microfones, sendo ouvido por todos que estavam em casa. Os comentários eram de que o instrumento provavelmente teria sido usado para fins miliares, pois se assemelhava muito ao som produzido por cornetas usadas em campos de batalha para transmitir instruções às tropas.

A Trombeta de Prata

Em seguida, a Trombeta de Prata foi entregue ao homem que a soprou da mesma maneira. Mas então, veio o inesperado! Ao soprar com força a peça cristalizada se despedaçou segundos depois de produzir um ruído estranho e roufenho. O militar ficou estupefato, segurava apenas o cabo do instrumento, enquanto que os fragmentos de prata se juntavam aos seus pés.

O Rei Farouk imediatamente prometeu que iria se encarregar de pagar pelos reparos do instrumento. Contudo, o som produzido pela trombeta alegadamente causou um efeito estranho em várias pessoas que o ouviram. Alfred Lucas, um membro da expedição Carter que havia descoberto a Tumba e que estava na transmissão começou a se sentir incomodado e naquela mesma noite foi levado para um hospital. Três técnicos de som da BBC também sentiram algo estranho descrito como uma vertigem, náusea e confusão nos dias que se seguiram. Mais estranho ainda, várias pessoas que escutaram a transmissão através do rádio também reclamaram de uma estranha e inquietante sensação. Naquela mesma noite, os hospitais e clínicas receberam vários indivíduos que se diziam incomodados. Em comum, o fato de todos eles terem ouvido a transmissão.    

Os jornais britânicos começaram a cogitar se o bizarro som emitido pela Trombeta não teria de alguma forma liberado uma maldição no ar. Uma que atingiu a todos que ouviram a solenidade. Falava-se entre outras coisas que a Trombeta anunciaria o despertar da múmia de Tutancamon. Alguns acreditavam que soprar o instrumento seria o prenúncio de dias terríveis, enquanto outros recorriam à Bíblia, e diziam que a Trombeta poderia ser um dos lendários instrumentos pertencentes aos Anjos do Apocalipse.


Sem se importar com esses rumores, a trombeta de prata foi consertada rapidamente e no dia 16 de abril de 1939, um novo músico chamado James Tappern foi escalado para soprar o instrumento. Dizem que o militar que havia recebido a tarefa originalmente se negou a repetir a tentativa e que passou a reclamar de pesadelos constantes. As más línguas davam conta inclusive que ele teria se suicidado, mas estes boatos jamais foram confirmados. Por conta de todos esses rumores algumas pessoas, cedendo a crendices supersticiosas chegaram a pedir que os instrumentos não fossem soprados novamente. Mas a despeito disso, uma nova solenidade oficial foi organizada no Museu Britânico.

Na ocasião Tappern soprou os instrumentos usando um bocal moderno instalado na extremidade de cada uma das trombetas. O som ouvido foi consistente e ainda mais potente, tendo sido gravado em um disco de vinil. O som pode ser ouvido no vídeo abaixo:


Nessa segunda solenidade não houve casos de pessoas se queixando de reações adversas ao som produzido pelas trombetas.

Tudo parecia ter sido resolvido à contento, senão por um "pequeno" detalhe.

Pouco menos de cinco meses depois das Trombetas de Tutancamon terem sido sopradas, teve início o maior e mais sangrento conflito da história da humanidade - a Segunda Guerra Mundial. Na época, algumas pessoas fizeram uma correlação dos acontecimentos e chegaram a dizer que de alguma maneira, o som da Trombeta teria contribuído para um aumento nas animosidades entre as nações europeias que acabou levando a uma escalada nas hostilidades e então à guerra. Para amparar essa noção, alguns ocultistas do período, afirmavam que a Trombeta era um instrumento de Guerra e que uma vez soprada havia liberado no mundo um tipo de "maldição" que insuflou os líderes a desejarem o conflito.

Claro, a maioria das pessoas julgava a simples noção de tal coisa um verdadeiro absurdo. Um instrumento milenar não poderia causar tal coisa, ou poderia?

Contudo é interessante notar que o instrumento só foi soprado oficialmente mais duas vezes após a célebre transmissão realizada pela BBC no Museu Britânico. A segunda oportunidade ocorreu em 1967, em um estudo conduzido na Inglaterra e a terceira em 1990, pouco antes das trombetas terem sido devolvidas formalmente ao Egito.

Aqueles que acreditam que uma Maldição Milenar pesa sobre os instrumentos apontam que em ambos os casos, aqueles anos em especial, foram marcados por guerras. Em 1967, o conflito que ficou conhecido como Guerra dos Seis Dias envolvendo Israel e várias nações árabes (entre as quais proeminentemente o Egito). Já em 1990, poucas semanas depois das Trombetas terem sido sopradas, irrompeu a Guerra do Golfo que teve como teatro de operações principal o Iraque, mas que também incluiu partes do Oriente Médio (entre os quais, novamente o Egito). Se lembrarmos que o Egito também foi cenário para sangrentas batalhas na Segunda Guerra, podemos concluir que, coincidência ou não, cada vez que os instrumentos foram soprados, alguma crise se abateu sobre a Antiga Nação dos Faraós.


Mas isso não é tudo!

Mais uma estranha coincidência envolvendo as Trombetas e crises militares se deu posteriormente, mais uma vez envolvendo o Egito. Em 2011, membros da equipe de limpeza que trabalhavam no Museu do Cairo foram incumbidos de limpar os artefatos. Enquanto manipulavam as trompetas, dois membros do staff como brincadeira sopraram os instrumentos. Eles foram imediatamente repreendidos e afastados de suas funções, mas aparentemente a "maldição" foi liberada uma vez mais: poucos meses depois os distúrbios populares conhecidos como "Primavera Árabe" tiveram início. No Egito, a crise foi extremamente grave e descambou para uma Revolução que causou a queda do então Presidente Hosni Mubarak.

Durante os tumultos da Revolução, o Museu do Cairo foi invadido e a Trombeta de Bronze acabou sendo roubada. Eventualmente ela foi devolvida pelos saqueadores, tendo sido encontrada em uma bolsa deixada no metrô do Cairo semanas depois. 

Os ladrões podem ter decidido retornar o artefato depois que vários jornais publicaram matérias em que reputavam à trombeta "poderes sobrenaturais" que poderiam ser liberados caso alguém soprasse o instrumento. O perigo de "uma nova guerra mundial" chegou a ser mencionado pelo jornal egípcio "Al-Ahram" que conclamou as pessoas a denunciar imediatamente quem pudesse estar de posse do artefato milenar.    

Desde então, as trombetas de Tutankamon estão em exibição no Museu Egípcio do Cairo.

Compreensivelmente, eles não foram mais tocados desde então.

5 comentários:

  1. Como sempre,o antigo egito guarda objetos envoltos em maldições e superstições capazes de inspirar incríveis histórias.
    Muito obrigado pelo conteúdo sempre de qualidade.

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  2. Um provérbio russo diz:"Quando algo ruim acontece uma vez,é acidente.Duas,é azar.Da terceira em diante,é conspiração!"
    Creio que o melhor a fazer é nunca mais tocar essas trombetas agourentas!

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  3. Parabéns pra quem tocou as musicas da Xuxa ao contrario nessas trombetas na virada do ano.

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