segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Força Insidiosa - O Sinistro Caso do Demônio de Lemont


Entre os investigadores do paranormal que devotam suas vidas a estudar e compreender fenômenos estranhos, existem alguns que conquistaram certo grau de fama e reconhecimento. Por exemplo, Charles Fort ficou extremamente conhecido e suas investigações do mundo sobrenatural lhe deram fama mundial. Harry Price também foi muito popular se tornando um respeitado estudioso de fenômenos fantasmagóricos. Mais recentemente Ed e Lorraine Warren se tornaram bastante populares - vindo a ser retratados até mesmo em filmes e romances.  

Outro importante pesquisador do sobrenatural atende pelo nome de Hans Holzer. Embora não seja tão conhecido quanto seus colegas acima citados, Holzer é uma espécie de sumidade no ramo. Um verdadeiro pioneiro no campo da investigação sobrenatural, ativo principalmente nos anos 1960, o autor austro-americano se envolveu em incontáveis investigações ao redor do mundo, inclusive no infame Horror de Amytiville. Ele escreveu 120 livros e produziu numerosos trabalhos a respeito do paranormal o que lhe rendeu o reconhecimento de outros parapsicólogos e uma admirável carreira. Entre os muitos casos e lugares assombrados que ele pesquisou, há alguns que se destacam como especialmente estranhos ou únicos em meio a histórias mais familiares envolvendo o paranormal. Um destes casos envolve uma insidiosa força demoníaca, uma suposta entidade que se deliciava em atormentar uma humilde família de fazendeiros do estado de Illinois.

Graças à Holzer, a história se tornou conhecida e se converteu num dos casos mais estudados sobre manifestações diabólicas. A bizarra história ocorreu na virada do século XIX e foi objeto de muitas pesquisas, entrevistas e estudos da parte de Holzer que a definiu como uma das mais críveis narrativas sobre seres diabólicos e sua interação com pessoas. Ela envolve uma família, os Willmans, formada por sete pessoas que se mudara para uma tranquila região rural no Condado de Lemont, Illinois. Era uma pacífica vizinhança de fazendeiros onde todos conheciam uns aos outros e na qual o crime era praticamente inexistente. Os Willmans eram pessoas simples, trabalhadoras e muito benquistas pela comunidade local. Infelizmente, elas estariam sujeitas a uma série de acontecimentos aterrorizantes que tiveram início em um triste dia de outono no ano de 1901. 

Como ocorre em muitos incidentes sobrenaturais, o primeiro de uma série de estranhos acontecimentos se deu de forma surpreendente. Os membros da família estavam reunidos para jantar, todos de bom humor e tranquilos, quando de repente, algo caiu sobre a mesa de jantar, aparentemente vindo de lugar nenhum. Um baque seco anunciou a coisa e fez com que os membros da família se pusessem de pé em um estalo. Era um pedaço de papel enrolado em uma pedra que se chocou contra o tampo da mesa e ali ficou. Os membros da família se olharam assustados. A coisa havia se materializado do nada e caído sobre a mesa. As janelas estavam fechadas e não havia ninguém que pudesse ter lançado a pedra para fazer com que ela caísse daquela forma. O patriarca da família, apanhou o objeto e percebeu que o papel no qual ela estava enrolada continha uma mensagem.


Intrigado, o Senhor Willmans examinou a carta, escrita com tinta preta e uma caligrafia inconstante repleta de erros de ortografia que sugeria ser obra de uma criança ou de alguém com pouca cultura. No entanto, não era a forma, mas o conteúdo da carta que causou o maior choque. Ali, em meio a uma série de rabiscos e garranchos, com palavras de baixo calão, encontrava-se um sombrio aviso para que a família deixasse a casa dentro dos próximos 10 dias ou que encarasse sérias consequências. Não ficou claro quem poderia ter escrito aquela carta ameaçadora, sem mencionar, como ela teria aparecido. A carta não dava maiores detalhes do que aconteceria se a ordem fosse desobedecida, mas deixava claro que seria algo terrivelmente desagradável. Embora estivessem todos assustados pela forma como a carta havia sido escrita e pelo fato dela ter aparecido do nada, o Sr. Willmans decidiu queimar o papel. Ele sugeriu aos demais que tentassem esquecer aquilo e tratassem como algum tipo de brincadeira doentia. 

Isso, como eles descobririam mais tarde, se mostrou um erro. 

Os dez dias passaram e os Willmans continuaram na casa, dispostos a superar aquele incidente. Embora nenhum deles falasse abertamente a respeito da carta, obviamente passava por suas cabeças imaginar o que poderia acontecer com eles encerrado o prazo. No décimo primeiro dia após o aparecimento da primeira carta, algo aconteceu: uma segunda carta enrolada em uma pedra se materializou, quando a família estava reunida na sala de estar conversando. O choque foi imenso e todos se ergueram procurando entender de onde o objeto havia surgido. A nova carta tinha uma natureza ainda mais inquietante. Ela era agressiva e repleta de profanidades, totalmente rabiscada com uma grafia infantil. A família estava aterrorizada. A carta foi apresentada ao Delegado do condado de Lemont que afirmou não poder fazer nada a respeito.

Para tornar as coisas ainda mais sinistras, as cartas continuaram aparecendo, por vezes na calada da noite, em plena madrugada, surgindo na sala, na cozinha ou em algum quarto. As cartas continham informações pessoais que só poderiam ser conhecidas pelos membros da própria família, ou por alguém que espionava os habitantes da casa diariamente. Elas mencionavam indiscrições, situações particulares, segredos ou previam acontecimentos futuros. Uma das cartas embalada em um caco de vidro caiu certo dia sobre um dos membros da família causando um ferimento feio. A carta em questão acusava o marido da vítima de adultério, mencionava nomes e situações constrangedoras. Outras cartas falavam de visitantes que viriam em determinado dia e de intrigas com vizinhos que fingiam gostar dos Willmans, mas que na verdade os desprezavam. Cada uma criava intriga e paranoia, semeando o desgosto entre os membros da família.

Além das cartas perturbadoras, alguns fenômenos bizarros começaram a acontecer com uma frequência alarmante. O cão da família passou a se comportar de forma estranha, latindo e escavando em algum canto sem razão aparente. Quadros caíam das paredes, assim como objetos colocados no alto de prateleiras e armários. A casa apresentava rachaduras e ladrilhos se partiam com estalos secos. Gavetas se abriam no meio da madrugada, o conteúdo delas era remexido ou atirado no chão com violência, destruindo pratos e móveis. Até mesmo um incêndio espontâneo ocorreu na despensa e por pouco este não se espalhou para outros cômodos. 


Para piorar tudo, havia ainda uma estranha presença descrita como uma sombra de consistência fluida que se movia pelas paredes e que espreitava nos cantos. Essa sombra era alta e longilínea, com braços muito compridos e dedos finos. A cabeça era estranha, disforme e alongada na base do crânio. Mais de um morador da casa afirmava ter visto essa silhueta vagando pelas paredes, trazendo consigo um frio congelante e um fedor de putrefação. A coisa rasgava roupas penduradas em cabides, apodrecia comida na despensa, fazia leite talhar e provocava animais domésticos. Alguns diziam que a sombra sussurrava palavras sem sentido nos ouvidos de quem estava recolhido para dormir, prometendo terror e morte. Certo dia, uma chuva de pedras arredondadas desabou sobre a fazenda, fazendo buracos no telhado e quebrando inúmeras telhas. As pedras eram de tamanho considerável e para causar aquele dano deviam ter caído de uma grande altura. A escalada de violência estava aumentando rapidamente e parecia questão de tempo até que as promessas de morte feitas pelo visitante sombrio se cumpririam.     

Sem compreender a natureza da força maligna que os atacava, mas suspeitando que se tratava de uma entidade nefasta, a família entrou em contato com o pastor local, Reverendo Westarp. Este aceitou visitar a casa reservando um certo ceticismo a respeito da situação. Um homem prático, ele acreditava que os incidentes eram exagerados e que tinham uma explicação lógica. Ele examinou as cartas, perambulou pelos aposentos e por fim concordou em pernoitar como convidado dos Willmans. Por volta das três da manhã, o Padre foi despertado por um estrondo em seu quarto. O armário do aposento que ele ocupava tombou para frente. Em seguida, sua cama foi arrastada por quase um metro e virada. O aterrorizado pastor chegou a ver uma sombra surgir diante da porta, uma coisa de natureza demoníaca que em seguida escorreu através de uma parede como se fosse feita de escuridão líquida.

O religioso ficou tão chocado que saiu da casa sem saber o que dizer para tranquilizar ou confortar a família. Ele procurou um colega antes de retornar à fazenda disposto a enfrentar o mal que habitava lá dentro. Os religiosos reuniram os membros da família e começaram a rezar e aspergir água benta nas paredes e cantos. Rachaduras apareceram, gritos abafados foram ouvidos, assim como móveis e objetos foram arrastados por uma poderosa atividade poltergeist. Novas mensagens embaladas em pedras surgiram, a maioria delas se dirigindo aos religiosos com ameaças e xingamentos. Uma das cartas mencionava o nome da mãe do pastor Westarp, afirmando que ela estava pagando pelos seus pecados no inferno, e que estava fadada a ficar lá pela eternidade. 

Uma das mensagens se referia a entidade na casa como um ser vindo das profundezas, algo que se insinuava entre os homens há tempos e que se regojizava com a corrupção e medo que espalhava. Em outras palavras, ela deixava claro se tratar de um Demônio!

Ao longo de três dias, a força paranormal continuou se manifestando através de objetos se movendo, incêndios espontâneos e mensagens de teor sacrílego. Então, de súbito tudo parou e os fenômenos terminaram, com um curioso cheiro de flores sendo sentido por todos dentro da casa. Aquele parecia ser o sinal de que o pior havia passada e que a força havia sido expurgada. Os membros da família acreditavam estar livres do demônio que os atormentava.


Meses se passaram em relativa tranquilidade, então, uma vez mais, uma mensagem enrolada em uma pedra surgiu na sala de jantar, exatamente sobre a mesa onde a primeira que prenunciou toda aquele horror apareceu. A carta ridicularizava o exorcismo que havia sido realizado e os religiosos que tomaram parte dele. Outras cartas apareceram, para terror de todos. O Demônio dizia que estava se divertido com a situação e que retornaria sua campanha de terror. Entretanto, uma vez que a letra parecia ligeiramente diferente, o Pastor Westarp sugeriu que ela poderia ser uma farsa. Ele aconselhou a família a recolher todos os papéis e lápis. Estranhamente, mensagens então começaram a aparecer arranhadas na madeira ou nas paredes. Eventualmente a Família descobriu que uma adolescente era responsável por esse ressurgimento das mensagens. A garota de 17 anos não soube explicar porque fez a "brincadeira", mas ela acabou causando um constrangimento tão grande na comunidade que os Willmans, até então recebedores de enorme simpatia de seus vizinhos, começaram a ser hostilizados. Algumas pessoas até sugeriam que a história toda, até então tratada como verdade, podia ter sido causada pela garota.

Finalmente, os Willmans decidiram que precisavam se mudar e buscar um novo lugar para recomeçar suas vidas. É estranho, mas poucos dias depois dessa mudança, a fazenda se incendiou e queimou até o chão. Posteriormente o lugar foi limpo e rumores mencionavam que no terreno foram encontradas ossadas humanas, provavelmente datadas de antes da colonização, o que apontava para um cemitério indígena.

A real identidade da força maligna que atormentou a Família Willmans permanece desconhecida. 

Muitos passaram a acreditar que os fenômenos haviam sido orquestrados pelas crianças da família, embora não exista uma explicação cabível para as cartas se materializando e a estranha chuva de pedras que destruiu o telhado da casa. É claro, a família inteira poderia estar envolvida na fraude, mas nesse caso, não fica claro o esperavam ganhar atraindo a atenção da vizinhança. Para todos os efeitos, os acontecimentos foram uma calamidade para a família que apenas perdeu com a exposição. Seria possível que terceiros, talvez interessados em arrendar as terras, tivessem levado à cargo um plano para remover os Willmans usando truques? Essa hipótese também parece pouco provável, já que as terras ficaram sem dono por décadas depois da partida da Família.

O Pastor Westarp sempre defendeu a legitimidade dos acontecimentos. Ele afirmava que os três dias na fazenda, no qual enfrentou e exorcizou aquela força maligna, foram totalmente verdadeiros. Marcados por acontecimentos que seria impossível encenar. Quando Hans Holzer tomou conhecimento a respeito do caso e deu início a pesquisa que resultou em um dos seus mais populares livros, ele conseguiu localizar o Pastor Westarp para entrevistá-lo. Já beirando os 80 anos o religioso ainda estava lúcido e foi capaz de lembrar dos eventos ocorridos 50 anos antes. Na opinião de Westarp a coisa que assombrava a casa não era um fantasma, poltergeist ou uma fraude cuidadosamente urdida pela família, se tratava de um Demônio real. E disso ele estava convicto.

"O Demônio de Lemont", livro escrito por Holzer não tentava explicar o caso, mas relatar os eventos deixando para o leitor a tarefa de ponderar a respeito do que ocorreu. Nós, que não estivemos lá, podemos apenas imaginar o que era aquela entidade sinistra capaz de escrever cartas e atormentar inocentes.

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