terça-feira, 9 de março de 2021

Vindo das Estrelas - O Estranho caso da doença trazida por um meteorito


Parecia um dia como outro qualquer.

Mas por volta das 11:45 da manhã do dia 15 de setembro de 2007, moradores da pequena vila de Carancas nas remotas montanhas do Peru, próximo da fronteira com a Bolívia e o Lago Titicaca viram algo incomum. Uma bola de fogo vermelho alaranjada riscou o céu azul, deixando um rastro de fumaça é produzindo um ruído agudo.  As pessoas correram para fora de suas casas, assustadas, achando que era o fim dos tempos.

Era um espetáculo incrível para os pacatos habitantes do vilarejo rural. O susto se tornou ainda mais intenso quando o objeto se chocou violentamente contra o solo gerando uma nuvem de poeira em formato cogumelo que subiu aos céus. O estrondo foi suficiente para fazer o chão tremer. A cratera resultante media 6 metros de profundidade e 25 de comprimento. De seu interior borbulhava uma água betuminoso e fumaça ocre. Havia fragmentos escuros esfumaçado no enorme buraco resultante.

O impacto gerou ondas de choque que despedaçaram janelas a um quilômetros de distância, rachou a fachada de casas, derrubou árvores e fez o sistema de detecção de terremotos dispararem a meio mundo de distância. Teria sido uma catástrofe para os assustados residentes de Carancas se ele tivesse caído mais perto. Por sorte ele se chocou a 1,8 quilômetros do vilarejo. Ainda assim, era a coisa mais aterrorizante que os simples é supersticiosos moradores já haviam visto.

Ou quase...


Ocorre que esse meteorito em particular mostraria ser de um tipo raro e suas misteriosas propriedades dariam início a uma atmosfera de medo e paranoia que perdurou por muito tempo após sua ruidosa queda. Mais que isso, o incidente daria início a uma nuvem de suspeita que perdura até hoje.

Poucas horas depois da queda, autoridades e cientistas visitaram o local do impacto é confirmaram que se tratava de um grande meteorito. Suas dimensões foram atestadas em 3 metros de comprimento e um peso de 12 toneladas, tendo atingido o chão a uma velocidade de 10000 milhas por hora. Concluíram ainda que era um meteorito de Condrito, substancia presente nos corpos vindos do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Não era um incidente corriqueiro, o impacto era um dos mais fortes da história moderna

Considerando a sua composição, é um enigma porque a coisa não queimou ao entrar na atmosfera. De fato, para um meteorito de condrito desse tamanho e com tal cratera, deveria ser algo virtualmente impossível. Especialistas que analisaram a queda afirmam que um meteoro desse tipo viajando a três quilômetros por segundo, jamais deveria chegar ao solo, menos ainda com a potência que chegou. O incidente de Caranca, por todos os ângulos não tem explicação.

De fato, o impacto de Carancas ainda é classificado como o único impacto de um meteorito de Condrito. Também não se sabe o motivo para o impacto ter produzido tamanho calor e fumaça. Meteoritos raramente emitem calor e muito menos criam um odor particular.


Nos dias que se seguiram ao impacto do misterioso meteorito, muitos dos residentes que se aproximaram do lugar da queda , talvez uma centena de pessoas, começaram a apresentar uma curiosa doença. A moléstia desconhecida trazia vários sintomas incluindo manchas na pele, sangramento nasal, tontura, náusea, dores de cabeça, diarreia e vômito. Os hospitais da região logo estavam lotados de indivíduos sofrendo com esses sintomas. Ninguém era capaz de dizer o que causava ou como a doença havia começado.

Tantas pessoas estavam sendo admitidas, que tendas médicas começaram a ser montadas para atender a demanda de vítimas, ao menos até que as causas fossem descobertas. Havia rumores também de que animais de pasto apresentavam a mesma moléstia, com vacas, cabras e porcos com severo sangramento nasal e fraqueza. O governo considerou iniciar um protocolo de emergência, mas uma vez removidos da área da queda, as vítimas se recuperaram rapidamente como se nada tivesse acontecido.

Diante de tantas evidências, tudo levava a crer que a doença estivesse de alguma maneira relacionada com a queda do meteorito. Antes do incidente, tudo estava perfeitamente normal e sem dúvida foi a queda que propiciou, de alguma maneira, a mudança na ordem. Seria lógico assumir que a doença tinha ligação com o meteorito. Mas seria ele o causador?

Uma teoria é que o leito d'água teria sido contaminado de alguma maneira, mas se esse é o caso, porque a doença só afetava aqueles que se aproximaram do local do impacto? Outra ideia é que arsênico estivesse presente no solo subterrâneo é que ele tivesse sido liberado pelo meteoro após o impacto. Contudo, os traços de arsênico na água não eram elevados a ponto de fazer as pessoas que bebesse adoecerem com tanta rapidez. Também foi especulado que a contaminação tivesse ligação com o forte odor de enxofre descrito por quem esteve perto da cratera. A vaporização de um composto chamado troilita que já foi encontrada dentro de meteoritos poderia ser responsável por esse odor, embora uma quantidade tão grande jamais tenha sido registrada.

Radiação também era algo a ser considerado, mas logo foi ignorado  uma vez que as leituras da cratera não foram significativas. Nenhum elemento radioativo foi encontrado é o Contador Geiger não revelou nada digno de nota.


Outra possibilidade é que a queda poderia ter causado a explosão de um depósito de gás presente no subsolo e que esta envenenou a região. Mas novamente, poucos indícios coletados no local apontaram para alguma substância tóxica.

Estatisticamente, é muito mais provável que a contaminação tenha sido causada por um fator em terra do que vindo do espaço. A fumaça nociva que supostamente fez as pessoas adoecerem pode indicar uma fonte hidrotermal já que meteoros não produzem odor.

Finalmente, outra ideia é que tudo fosse psicossomático, causado meramente por crenças supersticiosos da população local, que acreditava ser o meteorito algo maligno. Alguns acreditavam que os deuses os haviam amaldiçoado, ou que algo sobrenatural estivesse ligado a doença misteriosa. Um súbito surto de suicídios também foi reportado nos dois anos que se seguiram.

O mistério atraiu a atenção da mídia que buscou avidamente por uma explicação. Na ausência de uma resposta razoável, alguns procuraram algo no reino paranormal. A queda de meteoritos para os povos dessa região em especial, sempre foi visto com uma mistura de temor e fascínio. Os maias observavam os céus e, como provam seus engenhosos calendários, conheciam fundamentos da astronomia. Ainda assim, meteoritos - pedras flamejantes que cruzavam os céus eram um acontecimento de suma importância. Vistos como profecias e augúrios, podiam significar muitas coisas, algumas vezes boas, mas geralmente ruins. O povo do vilarejo, descendentes de maias, tinha enraizado em sua sociedade, parte dessas crenças.

Tanto isso é verdade que o prefeito de Carancas, que era uma espécie de xamã, presidiu em pessoa um ritual para tranquilizar seu povo. Ele chegou até a sacrificar uma lhama no processo no intuito de acalmar os espíritos da montanha.

Fragmentos de meteorito foram cuidadosamente estudados, mas eles eram perfeitamente normais, dentro do que seria normal no caso de uma pedra extraterrestre. No final das contas, ninguém tinha ideia das causas para a estranha doença. Felizmente, ninguém morreu e os efeitos nocivos diminuíram gradualmente até sumirem por completo.

Até hoje, o incidente do meteorito de Carancas nunca foi inteiramente explicado e nos deixa imaginando o que teria de fato ocorrido. Talvez saibamos menos a respeito de tais incidentes do que estamos prontos a admitir. Quem sabe o que uma dessas rochas pode transportar em seu interior e que estranhas substâncias eles podem vir a liberar em nosso planeta. 

*     *     *

Para os fãs do terror nem é preciso dizer o quanto essa história real, ocorrida em Carancas se assemelha a um dos mais conhecidos e elogiados contos de H.P. Lovecraft, escrito em 1927. "A Cor que Caiu do Espaço" é um clássico do Horror Cósmico.

Na história um misterioso meteorito despenca na zona rural da Nova Inglaterra e começa a provocar uma série de estranhos efeitos nos habitantes que residem nos arredores. A natureza parece ser afetada diretamente pela pedra do espaço que mais tarde se revela como um invólucro no qual viajava uma criatura terrível feita de cor e que se alimenta das energias das pessoas na medida que sofre uma metamorfose para retornar ao espaço. Um dos efeitos da presença da criatura é causar uma estranha doença degenerativa que afeta todos que vivem perto do local do impacto.

Os elementos misterioso de Carancas podem ter explicações razoáveis, embora outros aspectos pareçam surpreendentemente bizarros. Felizmente, os efeitos da doença foram desaparecendo aos poucos até sumirem de vez. Ninguém morreu ou serviu de alimento para uma criatura vinda das estrelas. Ao menos, não que saibamos!

De toda forma, Lovecraft sempre disse se orgulhar de escrever a respeito de ficção especulativa e de possibilidades científicas em seus contos. O respaldo da ciência era uma de suas preocupações, mesmo quando falava de deuses e horrores estelares. O incidente em Carancas demonstra que mesmo a ficção mais estranha pode fincar um pé no mundo real e extrair do nosso cotidiano situações para alimentar a nossa mente imaginativa.

Nos fazer imaginar: "E se...



4 comentários:

  1. Só uma pequena errata: condrito não é uma substância, mas uma classificação de meteoritos. O texto também possui alguns erros gramaticais, nada que chegue a atrapalhar a leitura, mas cabe uma revisão.

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    1. Eu já desisti de apontar os muitos erros gramaticais nos textos do blog(em termos de conteúdo, todos muito interessantes e fascinantes, nisso está de parabéns), pelo visto os proprietários não se importam com isso...

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  2. Quando os materiais de um meteorito não foram separados ou derretidos devido ao calor extremo ao qual são submetidos ao entrar, a rocha remanescente é denominada meteorito condrito.

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  3. Textos sempre interessantes aqui no blog, já li todos...obrigado pelas postagens.

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