sábado, 10 de julho de 2021

A Cabeça Desaparecida - O Macabro crime da Mulher Decapitada


Em 1 de fevereiro de 1896 um jovem lavrador chamado Johnny Wilks estava fazendo suas tarefas na zona rural de Fort Thomas no estado de Kentucky quando tropeçou em algo aterrorizante. Ali diante dele, esparramado no chão estava o corpo de uma mulher morta e sem cabeça. Ela também aparentava estar grávida. O rapaz, embora chocado pela descoberta imediatamente correu para a cidade onde contatou a polícia que veio rapidamente verificar a mórbida cena do crime. O perito concluiu que a mulher que estava com pelo menos 5 meses de gravidez, apresentava ferimentos em suas mãos condizentes com cortes defensivos. Ela lutou desesperadamente contra seu assassino. O elemento mais macabro da cena, era obviamente a ausência da cabeça. Mais tarde, exames revelariam que ela ainda estava viva quando o membro começou a ser removido com o auxílio de uma serra.

Quem seria aquela mulher e quem teria cometido aquela atrocidade? E qual teria sido a motivação para um crime tão medonho? Estes foram apenas alguns dos muitos mistérios em um caso que se mostraria um dos assassinatos mais complexos de sua época, gerando rumores que tocavam o reino do Sobrenatural e do bizarro.

Como não havia cabeça, foi difícil para a polícia descobrir a identidade da mulher. Não havia qualquer identificação de sua pessoa e tudo aconteceu muito antes dos bancos de dados de impressão digital, o que só funcionaria se ela tivesse cometido um crime de qualquer maneira. Especulou-se que ela podia ser qualquer coisa, de uma mendiga a uma prostituta servindo os soldados na base próxima de Fort Thomas. Contudo, as suas roupas realmente não pareciam se encaixar em nenhuma dessas teorias, uma vez que ela vestia um traje de algodão xadrez comum. O mistério quanto à identidade da vítima foi finalmente resolvido quando o dono de uma loja de sapatos local comentou sobre como os pés da falecida eram pequenos e também observou que os sapatos pareciam ser feitos sob medida. Seguindo uma suspeita, ele verificou os sapatos e encontrou a marca de uma loja de calçados em Greencastle, Indiana, bem como o número do lote, e com a ajuda de detetives conseguiu descobrir que apenas um par daquele modelo e daquele tamanho, fora vendido naquela loja. O nome da pessoa que havia comprado era Pearl Bryan.

A bela srta. Pearl Bryan

Pearl era filha de 22 anos de um rico fazendeiro, criador de gado e empresário do setor de laticínios chamado Alexander Bryan, um membro proeminente e respeitado da comunidade. A própria Pearl era estudante de música na Universidade DePauw, considerada uma cidadã modelo, bastante querida e professora de escola dominical muito envolvida nas atividades da igreja e da comunidade. Esses antecedentes tornavam difícil para a polícia entender por que alguém iria querer matá-la, quanto mais de uma forma tão brutal. 

Outro mistério escandaloso dizia respeito à sua gravidez e a identidade do pai. No final do século XIX, a gravidez de uma moça de "boa família" era motivo para muita especulação e fofoca. As amigas mais próximas de Pearl alegavam que ela não tinha namorado fixo, mas logo foi averiguado que ela havia sido vista passando um bom tempo na companhia de um estudante de odontologia em Ohio chamado Scott Jackson. Com esta sendo uma das únicas pistas de qualquer tipo que os investigadores dispunham, eles abordaram Jackson para um interrogatório e a história ficaria ainda mais confusa. 

Jackson foi imediatamente considerado um entrevistado astuto e não muito confiável. A princípio, ele negou que conhecesse Pearl, antes de mudar sua versão para que a conhecia apenas de vista, e então finalmente admitiu que a conhecia e que inclusive a ajudara a organizar uma viagem a Cincinnati para realizar o aborto de um filho indesejado. O pai, segundo ele, era um sujeito chamado Will Wood. Curiosamente, quando Wood foi abordado para interrogatório, ele negou qualquer envolvimento com a falecida, alegando que era de fato Jackson quem era o pai, e que ele mesmo nunca havia tido um relacionamento sexual com a moça. No entanto, testemunhas contariam à polícia que Wood costumava se gabar de dormir com Pearl, o que contradizia sua história. 

A cena do crime segundo um jornal da época

Considerando todas essas informações e o fato de que havia evidências de que de fato Pearl havia dito à família que ela estava planejando fazer uma viagem para Cincinnati pouco antes de sua morte, a polícia prendeu Jackson e Wood sob suspeita de assassinato. Quando o julgamento veio, atraiu considerável notoriedade e cobertura da mídia. Afinal, esse era o crime mais horrível que a região já tinha visto, e todos os olhos estavam voltados para o desenrolar dele. À medida que vários testemunhos foram ouvidos, uma história bastante sombria e trágica veio à tona. 

Descobriu-se que, de fato, tanto Jackson quanto Wood tiveram encontros íntimos com Pearl e, quando ela engravidou, eles a ajudaram a tentar todo tipo de mistura destinadas a forçar o aborto, mas nenhuma delas funcionou. Na época, Pearl se convenceu de que o bebê era de Jackson e, portanto, não conseguindo o aborto induzido, ela o pediu em casamento, o que ele recusou. Em vez disso, ele supostamente sugeriu que ela fosse para Ohio, onde arranjaria um aborto ilegal. Pearl disse aos pais que faria uma viagem para encontrar um amigo em Indianápolis, mas, em vez disso, foi a Cincinnati para se encontrar com Jackson. Uma vez em Ohio, Jackson supostamente continuou tentando induzir quimicamente um aborto espontâneo e, quando isso não funcionou, ele recorreu a métodos mais diretos, decidindo que ela não poderia ter o bebê se estivesse morta.

De acordo com uma testemunha, na noite de 31 de janeiro de 1896, Jackson encontrou-se com Pearl e um amigo chamado Alonzo Walling em um saloon de Cincinnati. Mais cedo naquela noite, Jackson havia comprado uma quantidade considerável de cocaína usada para batizar a bebida da moça. Quando ela perdeu os sentidos, os dois providenciaram um coche para que ela fosse levada até um local remoto. Contrataram um condutor uniformizado chamado George Jackson para levá-los. George contou ter desconfiado do que estava acontecendo e que Scott apontou uma arma para ele e disse-lhe para continuar dirigindo e não se meter onde não era chamado. Eles seguiram até uma fazenda abandonada onde Jackson usou uma corda para enforcar Pearl. Em seguida, ele mandou que o colega achasse uma serra para que a cabeça fosse removida. Quando eles começaram a serrar o pescoço da pobre moça, ela ainda estava viva e reagiu. Eles a dominaram e terminaram a horrível tarefa para garantir que ninguém pudesse identificá-la. 

A macabra cena do crime com o corpo da mulher sem a cabeça (à direita)

A princípio, isso foi completamente negado por Jackson e Walling, e só foi descoberto por meio de depoimentos de testemunhas, e considerando que não havia nenhuma evidência real e sólida, era apenas uma teoria que parecia o mais provável. No entanto, Jackson e Walling finalmente confessariam o que realmente aconteceu e pintariam um quadro ligeiramente diferente da tragédia.

De acordo com eles, Walling colocou Pearl em contato com um abortista de Cincinnati chamado Dr. George Wagner. Pearl então supostamente foi para a casa de Wagner sozinha, e Jackson se juntou mais tarde e ela. Mas em algum ponto durante o procedimento houve complicações. Jackson tinha ido à drogaria para buscar um pouco de ergotina para aliviar a dor, mas o remédio não funcionou. Wagner então injetou nela algum tipo de líquido claro e, intencionalmente ou não, isso a matou. Segundo eles, foi Wagner quem mandou a carona até o local onde o corpo foi encontrado e que foi Wagner quem realizou a decapitação do corpo. Haviam algumas evidências corroborando essa versão dos eventos, já que o farmacêutico tinha uma receita do remédio buscado por Jackson na noite em questão. 

A essa altura, Wagner parecia ser uma testemunha chave no caso, mas ele não pôde oferecer depoimento porque estranhamente foi internado em um asilo de loucos por razões não relacionadas ao caso. Supostamente, o Dr. Wagner era uma pessoa complexa sob a qual pesavam acusações bizarras, entre as quais um interesse doentio pelo Ocultismo. Alguns o tinham como um sujeito deveras excêntrico, que afirmava aos amigos ter firmado um pacto com o demônio e que havia conquistado o segredo da imortalidade estudando velhos livros de magia negra.

Quem realmente matou Pearl Bryant e qual versão dos eventos é verdadeira? A verdade continua sendo um mistério que perdura até os dias de hoje. 


A questão do que havia acontecido com a cabeça de Pearl se transformou em outro mistério, já que ninguém conseguiu obter uma resposta direta de nenhum dos acusados. Eles alternadamente disseram às autoridades que a cabeça havia sido jogada no Rio Ohio, em um banco de areia em Dayton, Kentucky, ou atirada no reservatório de água de Covington ou ainda no Canal entre Miami e Erie. Todos esses lugares foram vasculhados mas em nenhum encontrou-se qualquer evidência da cabeça.

Várias testemunhas afirmariam ter visto Jackson carregando uma valise suspeita e que supostamente havia algo rolando dentro dela. A valise foi realmente localizada e descobriu-se que tinha marcas de sangue e cabelo, provando que ela havia segurado a cabeça de Pearl em um ponto, mas isso não oferecia solução para onde ela foi deixada. Uma ideia era que Jackson a havia levado para sua escola de odontologia e cremado num forno do porão ao qual ele tinha acesso. Outra teoria é que eles a haviam descartado em um poço ou no esgoto. A polícia procurou em todos os lugares, dragando o rio, o reservatório e o canal, verificando os esgotos, até mesmo o crematório da escola de odontologia, e fazendo uso extensivo de cães farejadores, mas embora alguns fragmentos de roupa ensanguentados tenham sido encontrados, a cabeça de Pearl nunca foi encontrada e permanece desaparecida.

Com cabeça ou sem cabeça, com confissão ou não, Jackson e Walling foram considerados culpados de assassinato e condenados à morte por enforcamento, levando o segredo para o túmulo com eles e proclamando sua inocência até a caminhada final ao patíbulo. De fato, a última frase registrada de Jackson foi "eu morro inocente, acusado de algo que jamais teria coragem de fazer"!

Nos anos que se seguiram ao caso, todos os tipos de rumores obscuros gravitariam em torno dele. Uma das hipóteses era que os dois homens seriam membros de um estranho culto de satanistas fundado em 1895 e que agia no submundo. Os dois teriam convencido Pearl a participar do seu cabal secreto e a teriam engravidado durante um ritual de adoração demoníaca. O grupo pretendia usar o bebê em um sacrifício tão logo o bebê nascesse, mas Pearl teria se arrependido e se negou a entregar seu bebê não nascido a esse horrível destino.

Os envolvidos no crime e a vítima

Pearl supostamente teria sido morta como punição por sua desistência no plano. Quando a cabeça da moça desapareceu sem deixar vestígio, alguns levantaram a hipótese de que ela poderia ter sido ofertada ao Demônio que a levou como um tributo para o Inferno. 

Para tornar a história ainda mais bizarra, havia rumores de que o Dr. Wagner, o médico acusado de participar do crime realmente fazia parte de uma sociedade secreta envolvida com feitiçaria e magia negra. Wagner teria introduzido Jackson e Wailling no Culto, batizando-os com nomes diabólicos e fazendo com que eles se tornassem Servos de Satã. Os dois teriam sido incumbidos de encontrar uma moça disposta a oferecer seu rebento às Trevas. Para corroborar ainda mais essa teoria, à primeira vista, absurda, alguns mencionam a vasta coleção de livros e artefatos de feitiçaria que teriam sido achados na biblioteca do Dr. Wagner. Também se comentou que o médico excêntrico possuía em sua casa uma estranha coleção de crânios humanos. A prisão dele em um manicômio também chamava a atenção, visto que testemunhas teriam dito que Wagner se gabava de ser um Discípulo do Demônio.

Wagner morreu em 1945, com quase 90 anos de idade. Ele jamais recebeu permissão de deixar o manicômio e até o fim de sua vida terrena se apresentava como um demonologista. No manicômio, os enfermeiros costumavam chamá-lo de "Old Wizard" (Velho Feiticeiro) Wagner.

Outro elemento estranho no caso é que Jackson e Walling supostamente teriam amaldiçoado a cidade e ameaçado voltar como fantasmas caso fossem executados na forca. Um guarda que participou da execução teria revelado essa história e contado ainda que três de seus colegas que agiram como verdugos sofreram mortes muito estranhas.


Finalmente, resta um detalhe adicional de gelar o sangue que dá mais um toque macabro a essa história. 

Em 1948 circulou o rumor que um crânio teria sido encontrado no fundo de um poço de água na fazenda onde supostamente teria ocorrido o crime. Muitos comentavam que o lugar era assombrado e que um fantasma pertencente a uma mulher sem cabeça era visto frequentemente perambulando pelos arredores. Ninguém sabe se a descoberta de fato ocorreu ou não, mas circularam rumores de que círculos dedicados ao ocultismo de Chicago teriam adquirido tanto o crânio de Pearl Bryan quanto a serra usada para separá-la de seu corpo. Os dois objetos segundo boatos estavam imbuídos de energia mística e poderiam ser usados em rituais já que eles haviam sido utilizados num ritual de magia negra.

Existem muitos rumores nessa estranha história de morte e crime, e é provável que jamais saibamos ao certo o que realmente aconteceu com Peal Bryan.

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