O mundo do paranormal está repleto de objetos supostamente amaldiçoados. Tudo, desde joias a carros, pinturas e bonecas e até mesmo cadeiras e mesas, já foram considerados amaldiçoados ou mal-assombrados. Seja qual for o objeto, por mais inusitado e incomum, pode acreditar, que provavelmente existe um deles que já foi considerado amaldiçoado ou assombrado em algum momento ou outro.
Estranhamente, um tipo de objetos pouco falados são os Caldeirões. Esses antiquados utensílios de cozinha figuram no reino das imagens fantasmagóricas, sendo quase impossível dissociá-los da imagem de um grupo de bruxas reunidas ao redor deles, preparando algum feitiço nefasto. De fato, existem supostos caldeirões amaldiçoados nas histórias, que envolvem desde os lendários objetos das bruxas, até versões mais modernas e não menos apavorantes.
Uma das lendas mais conhecidas a respeito de caldeirões mágicos pode ser rastreada até Surrey, na Inglaterra. No Vale Wey, em Moor Park, há um penhasco extenso no qual se pode encontrar uma pequena caverna despretensiosa. Contudo, esta caverna em particular tem uma longa história de estranhos mitos e lendas. Chamada de Caverna da Mãe Ludlam, também conhecido como Buraco da Mãe Ludlum, a lenda diz que nesse local encravado na rocha vivia uma curandeira (para alguns, uma bruxa) chamada Mãe Ludlam. Dizem que ela teria vivido neste lugar sombrio em algum momento do século XV até o XVII. A história afirma que Mãe Ludlam era famosa por lançar feitiços benignos, criar poções mágicas que curavam doenças e por realizar partos. Ele também era famosa por emprestar às pessoas tudo o que elas precisassem, incluindo utensílios domésticos e de cozinha.
Para requisitar esses objetos, existia um certo ritual que o potencial mutuário precisava seguir. Eles primeiro tinham de se aproximar da caverna à meia-noite, dar três voltas ao redor dela e a cada passagem diante da entrada solicitar o item desejado. Se a velha concordasse em ceder o objeto, havia apenas uma regra que devia ser obedecida à risca: ele precisava ser devolvido em exatamente dois dias. Essa regra nunca havia sido quebrada porque, embora Mãe Ludlam não fosse tida como uma entidade particularmente malévola, ninguém queria saber o que ela faria, caso fosse desafiada.
O suposto caldeirão de Mãe Ludlan, na Igreja de Santa Maria |
Em uma versão da história, certo dia uma pessoa apareceu na caverna pedindo emprestado o valioso caldeirão de Mãe Ludlam, no qual ela produzia suas poções e misturas mágicas. Ela concordou, esperando que o caldeirão voltasse em dois dias, conforme o acordado, mas isso não aconteceu. Mãe Ludlam ficou furiosa, amaldiçoando o caldeirão e fazendo a pessoa responsável pela sua ira correr para a Igreja de Frensham implorando por santuário. O pároco local aceitou conceder proteção desde que o caldeirão fosse deixado na igreja como uma oferta aos santos.
Outra versão mais sinistra dessa história diz que quem veio pegar o caldeirão emprestado naquela noite foi o próprio Diabo. Neste cenário, Mãe Ludlam supostamente viu através da ilusão do Diabo que usava o disfarce de uma aldeã. Ela então se recusou a emprestar o caldeirão. O diabo não se dei por satisfeito e roubou o objeto fazendo com que a bruxa o perseguisse. Diz a lenda que cada vez que o Diabo saltava, uma colina surgia, criando assim as três colinas existentes no vale que passou a ser conhecido como "Salto do Diabo". Quando finalmente o "coisa ruim" desistiu de sua fuga, jogou o caldeirão de grande altura e sua queda formou a colina conhecida como Kettlebury Hill. Mãe Ludlam então recuperou seu caldeirão mágico e para que ele não corresse o risco de ser roubado novamente, colocou-o na Igreja de santa Maria. A história diz que se alguém tentar roubá-lo, terá de se ver com o diabo que jurou obter o caldeirão para si próprio.
Lenda ou verdade, há um elemento curioso na história, uma vez que tanto a Igreja de Frensham quanto a Igreja de Santa Maria, afirmam estar na posse do caldeirão original que pertenceu a Mãe Ludlam. Em Frensham um enorme caldeirão de ferro está guardado no porão há mais tempo do que qualquer pessoa é capaz de lembrar. Não se sabe como ele chegou ao porão uma vez que suas dimensões não permitem que ele passe na porta ou através da escadaria que conduz ao porão. Na ausência de explicação, muitas pessoas acham que foi um milagre, ou então, magia. Na Igreja de Santa Maria, um alegado caldeirão que teria pertencido à Mãe Ludlan é mantido à vista de todos, bem no meio da nave central da igreja. Segundo registros, está ali há mais de 400 anos, bem no meio do caminho como um curioso artefato de eras passadas. Imenso e pesado, ele jamais foi movido ou levado para qualquer outro lugar.
Outro caldeirão amaldiçoado também pode ser encontrado na Inglaterra, atualmente num museu local de Lincolnshire. A história gira em torno de um anão ou, em alguns relatos, um tipo de goblin chamado Hobthrust, que supostamente aterrorizou a região no final do século XVIII. Diziam que ele carregava um caldeirão de ferro repleto de ossinhos dos dedos de crianças que havia assassinado. Hobthrust se gabava de a cada estação acrescentar mais ossinhos de inocentes ao caldeirão maldito.
Um clássico caldeirão de bruxa |
Certa vez, um caçador se deparou com a criatura dormindo em uma gruta e aproveitou a oportunidade para matá-lo com uma faca de prata que trazia na bainha. O corpo do monstro foi levado até a Abadia de Thornton que ficava ali perto. Os monges decidiram que a melhor maneira de lidar com o cadáver indesejado era cremá-lo. Suas cinzas foram depositadas no caldeirão depois que os ossos das crianças foram enterrados no cemitério da Abadia.
O caldeirão foi deixado em um aposento dentro da abadia, mas logo coisas estranhas começaram a acontecer ao seu redor. Diziam que vultos e sombras vagavam perto do caldeirão, que emitia um frio absurdo. A silhueta de um anão também havia sido avistada na Abadia, causando enorme comoção. Para todos o espírito maligno e vingativo de Hobthrust passou a habitar a velha panela de ferro. Pouco depois surgiu a lenda de que meramente tocá-la significava morte certa graças à uma potente maldição que havia sido instalada no objeto. Decidiram trancafiá-lo na cripta subterrânea e deixá-lo ali afastado dos olhos de curiosos.
Longe de ser apenas uma lenda urbana, parece que há vários casos de pessoas vítimas dessa maldição, ou assim dizem os supersticiosos. Um desses casos é o de um menino que supostamente estava explorando as velhas criptas e que encontrou o caldeirão. Poucos dias depois, o menino foi atropelado e morto por uma carroça de feno. Anos mais tarde, um zelador achou o caldeirão e pediu autorização para usá-lo, sem saber das lendas que o cercavam. O homem teve um destino sombrio, caindo morto algumas horas depois de usar o objeto para ferver água. Na década de 1930, um menino chamado Charles Atkins também tocou na panela e foi esmagado por uma carroça de feno, em um incidente assustadoramente semelhante ao que acontecera com a primeira vítima. Para não alimentar os rumores, a Abadia de Throton se certificou que a cripta dali em diante ficaria selada e isolada. Ninguém teria permissão de ver o tal objeto maldito. Mas é claro, isso de nada adiantou!
Em 1974, a abadia foi desmantelada e a propriedade arrematada num leilão por um tal John Morton. Durante as reformas do prédio, operários quebraram os selos da cripta e encontraram o lugar onde o objeto maléfico, tratado como uma lenda, estava escondido. Os operários se recusaram a chegar perto do caldeirão empoeirado, que estava caído ali na escuridão por décadas. Um empreiteiro chamado Alf Darwood aceitou apanhar a coisa e colocá-la de lado até que um historiador viesse verificar sua autenticidade. Segundo os rumores, poucas horas depois Darwood sofreu um acidente estranho em que escorregou de uma escada ferindo-se com gravidade. O historiador também teria morrido pouco depois de determinar que o caldeirão era uma peça muito antiga, possivelmente do século XV.
O Caldeirão da Abadia de Thorton |
Nas semanas que se seguiram, trabalhadores se queixavam constantemente de estranhos acidentes na obra. Mencionavam ainda ouvir sussurros, risadas e passos ecoando pela cripta. Após vários acidentes inexplicáveis, Morton decidiu buscar o conselho de um pároco numa igreja local. A solução para o dilema era no mínimo inusitada: O pastor disse que Morton deveria mandar fazer uma gaiola de ferro para encerrar nela o caldeirão e que apenas isso poderia conter a manifestação maligna que o habitava.
Embora estivesse cético, Morton acabou seguindo o conselho. O mais incrível é que logo depois de colocar o caldeirão na gaiola os acontecimentos bizarros pararam de afligir os trabalhadores e a obra pôde ser concluída. Em 1990, a gaiola e o caldeirão ainda guardado em seu interior foram removidos do aposento onde estavam e transferidos para o prédio do museu. O filho de John Morton doou os objetos à instituição com uma única condição: de que a gaiola jamais fosse aberta e que ninguém encostasse no caldeirão. Até onde se sabe, as regras foram cumpridas e hoje uma placa adverte os visitantes que é expressamente proibido tocar no objeto dentro da gaiola de ferro.
Mas nem todo Caldeirão Maldito é antigo e está ligado há séculos de histórias.
Uma peça supostamente amaldiçoada é relativamente nova, mas suas origens são incrivelmente macabras. A história envolve ninguém menos que o assassino em série norte-americano Ed Gein, também conhecido como o Açougueiro de Plainfield, que confessou ter matado duas mulheres na década de 1950, mas que acredita-se, tenha cometido muitos outros crimes. Uma das inspirações por trás dos personagens dos romances Psicose e O Silêncio dos Inocentes, Gein também era um ladrão de túmulos, escavando e subtraindo de sepulturas partes de cadáveres que eram então transformadas em troféus medonhos. Gein ficou famoso por produzir peças únicas como abajures, móveis e até joias. Ele acabou sendo condenado por assassinato, mas foi considerado insano e trancafiado no Instituto de Saúde Mental de Mendota até sua morte em 1984.
Ed Gein, o Açougueiro de Plainfield |
Pouco depois de sua prisão, toda sua vasta coleção de horrores foi avaliada e encaixotada como evidência. De forma muito bizarra, muitos desses objetos repulsivos foram subtraídos pelos próprios policiais como souvenires. Outros itens particulares que pertenciam a Gein acabaram sendo mandados para leilões, entre os quais um caldeirão incrustado de sangue que foi recuperado na residência do serial killer.
O caldeirão supostamente havia sido usado por Gein para guardar partes de cadáveres por ele recuperados. O objeto acabou sendo vendido para uma mulher que o comprou num leilão ocorrido em 1958. Ela o usou como vaso de plantas por anos antes de passá-lo adiante para seu neto, Dan McIntyre em 2008. Na época, ele não sabia que aquele era o caldeirão que havia sido encontrado na casa de Gein. Foi um amigo, Hollis Brown, que participou da limpeza da casa do assassino, quem reconheceu o objeto e seu horrível legado.
McIntyre diria mais tarde sobre a descoberta:
"Hollis viu muitas coisas horríveis quando trabalhou na limpeza da casa de Ed Gein. Ele me disse ao entrar no lugar que viu o seio de uma mulher como campainha. Viu um abajur e um cobertor feitos de pele humana, móveis feitos de ossos, baldes com tripas ensanguentadas, uma bolsa de moedas feita com uma vagina, um cinto decorado com mamilos e outras coisas pavorosas. Quando Hollis viu o caldeirão na garagem dos meus pais, ele o reconheceu como o mesmo Caldeirão achado na casa de Gein. Os pais de Ed o usavam para processar gordura de porco na fazenda, mais tarde o assassino o usaria de forma muito mais sinistra. Hollis se lembra que o caldeirão estava coberto de sangue seco e tripas, ao lado de dois barris com restos ensanguentados. Haviam ali dentro orelhas, olhos, lábios e dedos. Quarenta anos mais tarde, Hollis reconheceu o caldeirão na garagem dos meus pais e ficou branco como um fantasma. Eu perguntei a ele como ele sabia que era o mesmo caldeirão. Ele ergueu o braço e mostrou os pelos arrepiados dizendo que não tinha como esquecer de algo assim."
O macabro caldeirão de Ed Gein |
McIntyre conta que, desde que tomou posse do caldeirão, experimentou vários fenômenos estranhos, como interrupções no funcionamento de aparelhos eletrônicos próximos e uma sensação de mal-estar, tontura e ansiedade quando estava perto dele. Ele também afirma que contraiu uma doença misteriosa e se convenceu de que o caldeirão de Gein foi infundido com algum tipo de energia maligna. Depois de vivenciar vários fenômenos paranormais, McIntyre decidiu leiloar o caldeirão assombrado em 2015, com o vencedor sendo Zak Bagans, do famoso programa de caça aos fantasmas Ghost Adventures. O caldeirão desde então encontra-se em exibição no Haunted Museum de Las Vegas, que apresenta entre as inúmeras atrações, uma miríade de itens supostamente amaldiçoados e assombrados.
Existe alguma coisa de real nesses contos? Ou talvez sejam somente lendas sombrias e bizarras reunidas em torno de objetos para justificar a criação de lendas e um certo status maior do que realmente possuem? Algum desses caldeirões estaria realmente amaldiçoado? E em caso positivo, que forças estão ancoradas nesses caldeirões? Ou tudo isso não passa de superstições e histórias assustadoras para contar aos crédulos? Não importa o que você pense, e por mais cético que seja, reconheça que provavelmente pensaria duas vezes antes de levar qualquer um desses caldeirões para sua casa.
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