terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Crânios Malditos - A Macabra Lenda das Caveiras que Gritam


No reino do Sobrenatural, não faltam histórias à respeito de supostos objetos assombrados.

Estes objetos de alguma maneira se tornam o ponto focal de uma forte atividade paranormal, talvez por terem sido importantes na existência de alguém que se foi ou quem sabe por terem representado um momento central na vida destas pessoas. Seja lá por qual razão, um objeto assombrado é capaz de atrair a presença de um fantasma, despertar sentimentos inesperados ou causar reações indesejáveis nos vivos. Esses objetos malditos podem assumir várias formas: de joias a roupas, de quadros a armas - na prática, qualquer coisa pode se tornar assombrada.

No folclore da Inglaterra, existem histórias particularmente estranhas a respeito de crânios humanos que seriam assombrados. Antigamente, não era incomum as famílias inglesas manterem crânios em suas casas, com a tradição ditando que eles serviam como fonte de boa sorte e segurança para o lar e seus habitantes. No folclore britânico, o crânio era visto como uma parte mágica, onde repousa a alma. Por isso, os antigos acreditavam que levá-los para casa fornecia uma espécie de proteção e tornava-os guardião da família. A tradição remonta aos galeses e pictos que reputavam ao crânio um importante aspecto místico. À medida que o Império Britânico se expandia, muitos crânios foram trazidos de terras distantes como souvenires ou presentes, sobretudo por soldados e marinheiros. Até o século XIX, era muito comum encontrar crânios na casa das pessoas e essa tradição ancestral só começou a perder força na Era Vitoriana, quando tal coisa começou a ser vista como uma superstição de gosto duvidoso. Ainda assim, até meados do século XX, crânios podiam ser encontrados em muitas residências no alto de estantes, prateleiras e sobre lareiras.

Datam do século XVIII em diante a maioria das lendas mais sinistras envolvendo crânios assombrados por espíritos vingativos. Estas entidades teriam desejos que não foram realizados em vida, estariam ressentidas com erros cometidos contra elas ou simplesmente zangadas por serem usadas daquela maneira. Segundo os relatos do período, os crânios assombrados podiam desencadear todo tipo de atividade paranormal, causar má sorte e ainda manifestar um fenômeno perturbador no qual produziriam ruídos audíveis similares a choro ou gritos.

O pesquisador e historiador David Clarke estudou essas lendas e relata um caso famoso envolvendo um desses crânios:

"Uma residência em Sussex possuía um crânio humano que foi guardado por centenas de anos em um local de destaque na casa. Era um nicho de parede, especialmente feito para o crânio, ao lado da grande lareira da sala. Ninguém se recordava exatamente qual era a origem do crânio, mas ele era mencionado desde os tempos em que a família se fixou na residência no século XVI. Segundo alguns, o crânio havia sido colocado ali para comemorar uma vitória sobre inimigos, mas ele podia ter sido também obtido em uma viagem ao oriente. Ninguém sabia ao certo! Segundo os rumores, sob nenhuma circunstância a caveira deveria ser retirada de seu local de descanso. Tal coisa era enfatizada em todas as histórias e passada de geração em geração. Se o crânio fosse perturbado, surtos de fenômenos paranormais iriam atormentar os residentes da casa até que o objeto fosse retornado ao seu lugar favorito."

Segundo a história, na década de 1920, o herdeiro e novo proprietário da casa resolveu ignorar as lendas e mandou remover o crânio afim de renovar o aposento onde ele ficava exposto. Pouco depois disso, os moradores da casa começaram a se queixar de estranhos incidentes que incluíam luzes piscando, objetos desaparecendo e móveis sendo arrastados, como que, por mãos invisíveis. Depois de alguns incidentes muito estranhos, o crânio acabou sendo devolvido ao seu devido lugar, o que encerrou a atividade sobrenatural quase que imediatamente."

Mas este não é o único caso de crânio assombrado coletado por David Clarke. Segundo ele, parece ser consenso que estes crânios reagiam por causa das circunstâncias de suas mortes, em especial aqueles que morreram violentamente e que por isso se mostravam mais agressivos. Em outros casos sua revolta surge em face de desejos que não foram atendidos. Relatos sobre crânios assombrados causando todos os tipos de fenômenos sobrenaturais, tragédias, má sorte e até mesmo a morte daqueles ao seu redor se tornaram um fenômeno muito comum em dado momento. De fato, apenas entre 1870 e 1880, o historiador encontrou 22 casos de supostos crânios assombrados na Inglaterra.

Uma das características mais notáveis desses objetos assombrados é que segundo alguns relatos eles seriam capazes de emitir ruídos aterrorizantes como gritos e uivos, a ponto de serem coletivamente conhecidos como "caveiras gritadoras". A explicação recorrente era que um espírito estaria ligado a esses crânios e que até serem apaziguados, seu único objetivo seria atormentar os vivos. Menções a Caveiras Gritadoras no folclore britânico podem ser encontradas em textos do século XVI.


Talvez uma das histórias mais famosas envolvendo uma caveira gritadora envolva a majestosa e elegante Propriedade Bettiscombe, em Dorset, que há séculos é o lar da Família Pinney. A história começa em 1685, quando o proprietário da mansão na época, Azariah Pinney, foi preso por sua participação em atividades relacionadas com a Guerra Civil Inglesa. Ele foi banido para as Índias Ocidentais, mas de alguma forma conseguiria reestabelecer sua posição de rico senhor de terras e voltar à Inglaterra. Na ocasião, trouxe consigo um escravo leal e confiável que agia como seu secretário particular. Infelizmente, esse escravo logo adoeceu e, em seu leito de morte, implorou a Pinney que devolvesse seus restos mortais às Índias Ocidentais para que pudesse descansar no solo de seus antepassados. Pinney prometeu que o faria, mas depois que o homem morreu, simplesmente ordenou que ele fosse enterrado com pouca cerimônia ou alarde. Pouco depois a mansão foi cercada por todo tipo de atividade paranormal, com portas batendo, móveis sendo sacudidos e o som de gritos reverberando por toda propriedade.

Pinney acreditava que o escravo falecido os estava assombrando como forma de se vingar, e fez com que os restos mortais fossem exumados, retirados da sepultura e colocados num cemitério. Isso parece ter satisfeito a assombração por algum tempo, contudo, cerca de 100 anos mais tarde, ela teria voltado a se manifestar violentamente. Seus gritos eram ouvidos em todo canto, o que deixou a família e criados em estado de nervos. Para resolver a questão, os restos mortais foram exumados novamente, mas dessa vez descobriram que os ossos haviam desaparecido restando apenas o crânio. Este foi então movido para dentro da casa e colocado na Biblioteca em uma posição de destaque, sobre uma grande prateleira de mogno. Ao que parece, isso agradou ao espírito que parou de assombrar a propriedade.

A lenda diz que se o crânio for movido ou perturbado de alguma forma, ele emitirá gritos e urros estridentes e até fará com que aqueles que o incomodou caia morto. Até hoje ele permanece em seu devido lugar, e um historiador escreveria sobre ele em 1910:

"Em uma Propriedade em Dorsetshire, é preservado cuidadosamente um crânio humano, que lá se encontra há séculos. A superstição peculiar é que, se for tirado da casa, ela própria balançaria até os alicerces, enquanto que a pessoa que cometeu tal ato de profanação morreria dentro de um ano. É estranhamente sugestivo do poder dessa superstição que, por meio de muitas mudanças de locação e mobília, o crânio ainda se mantém no seu lugar costumeiro: imóvel e não removido sob nenhuma condição".

Estranhamente, o crânio gritador da mansão Bettiscombe foi submetido a um exame em 1963. Este apurou que ele pertenceu a uma mulher que viveu entre 3.000 e 4.000 anos atrás, ou seja, não era o crânio de um escravo, mas de alguém que viveu na Idade do Ferro. Ninguém foi capaz de explicar tal coisa, mas de qualquer maneira, ele permanece até hoje no mesmo local.


Outra caveira gritadora bastante famosa está associada a Wardley Hall, em Manchester, onde fica em um nicho especialmente criado para acomodá-la. De acordo com uma história considerada a mais confiável pela família, o crânio pertenceu a um criminoso chamado Robert Downes. Ele foi um ladrão e assassino que em 1676 acabou sendo capturado e sentenciado a morte. Sua cabeça foi decepada e jogada no Rio Tamisa sob a Ponte de Londres. A irmã de Downes trabalhava em Wardley Hall e um dia recebeu um pacote anônimo que continha a cabeça dele e um bilhete no qual se lia: "Para que tome conta, para sempre". 

Assim que o pacote macabro chegou, a propriedade foi varrida por uma violenta atividade paranormal que durou meses. Coisas sumiam, objetos se moviam e até animais domésticos morreram. Mas o pior eram os horrendos gritos ouvidos toda noite. O horror teve fim quando um suposto bruxo disse que o  crânio desejava ficar na casa e que seria apaziguado caso conseguisse tal coisa. Um nicho foi providenciado na sala de estar da mansão e depois que ele foi colocado lá, tudo se encerrou. Consta que se a caveira for movida a maldição retornará. O crânio irá emitir gritos incessantes e aqueles que os ouvem estão fadados a morrer.

Mas essa não é a única história sobre crânios em Manchester. No porão da mansão chamada Abercourt Manor há um crânio que segundo lendas pertenceu ao padre católico Ambrose Barlow. A história diz que ele foi preso por protestantes, enforcado e enfim esquartejado quando se negou a reconhecer a nova crença. Sua cabeça acabou sendo removida e colocada em uma lança como um aviso aos católicos e simpatizantes. Meses depois, a cabeça foi recuperada pelos amigos de Barlow e levada até Wardley Hall. Diz a lenda que ela gritava e lamentava até ser levada para o porão onde havia uma pequena capela secreta. Colocado lá, o espírito se tranquilizou. 

O crânio iria desaparecer por algum tempo, em 1710 o que desencadeou assombrações intensas na mansão. Ele reapareceu na década de 1740 e até hoje diz a lenda permanece sem ser perturbado guardando a capela secreta. Um relato de 1782 diz:

"Desde tempos remotos, os ocupantes de Wardley Hall relatam uma crença supersticiosa sobre um crânio mantido no porão, não permitindo que ele fosse removido de seu lugar de descanso. Há uma tradição de que, se removido ou mal usado, alguns gritos e lamentações incomuns são ouvidos, e distúrbios ocorrem em muitas partes da casa."


Mais uma misteriosa caveira gritadora pode ser encontrada em Burton Agnes Hall, condado de Yorkshire. De acordo com a tradição, uma mulher de sangue nobre chamada Anne Griffiths foi atacada e espancada por bandidos que a abandonaram mortalmente ferida numa estrada. Em seu leito de morte, ela solicitou que sua cabeça fosse removida e enterrada em sua casa em Burton Hall, mas o pedido foi ignorado pelos parentes. Ela acabou sendo enterrada no cemitério da vila. 

Depois disso, o salão foi atormentado por todos os tipos de travessuras sobrenaturais, como portas batendo, ruídos anômalos e objetos em movimento. A gota d'água foi um estranho fenômeno no qual as paredes do salão verteram sangue. Atormentados com a assombração, a família decidiu ceder aos seus desejos de morte em um esforço para apaziguar o espírito inquieto. O corpo de Anne foi exumado, seu crânio removido e, em seguida, colocado em uma parede perto da escada principal. Depois disso, a assombração sossegou, mas um lamento ocasionalmente ainda é ouvido emanando daquele local.

Um conto muito conhecido sobre Crânio Assombrado vem de um lugar chamado Tunstead Farm, localizado em Whalley Bridge, Derbyshire. O crânio em questão é conhecido simplesmente como "Dickie", e tem origens bastante obscuras. A história mais popular é que um dia ele pertenceu a um soldado chamado Ned Dickson, que voltou da guerra e se mudou para a Fazenda Tunstead em 1672. Uma disputa de família pela posse da fazenda fez com que Dickson fosse assassinado enquanto dormia. Ele foi decapitado e seu cadáver enterrado numa cova rasa para jamais ser encontrado. 

Pouco depois uma forma fantasmagórica começou a assombrar a propriedade, com a entidade chegando até mesmo a atacar fisicamente aqueles que o assassinaram. Quando estes consultaram uma bruxa local, ela lhes disse para exumar os restos mortais e sequestrar o crânio. Ele foi lavado com água benta e colocado em um lugar de destaque na fazenda, conforme as instruções da feiticeira. Coimo por magia, as assombrações cessaram imediatamente. De fato, Dickie parece ter se tornado uma espécie de guardião da propriedade, causando uma aparente maldição em uma ferrovia que estava sendo construída na área e que iria desapropriar a fazenda. Em outro relato, dizem que a caveira afugentou ladrões que tentaram roubar a casa: "Dickie os colocou para correr com gritos e urros", conta a lenda.

Existem muitas outras histórias como essas, e os crânios gritadores tornaram-se parte do cotidiano  paranormal na Inglaterra. Seriam essas histórias de alguma forma reais? Ou  apenas mero folclore e histórias assustadoras de outrora? Seja qual for o caso, a Inglaterra está repleta de contos de caveiras gritando. Esse fenômeno assustador continua desafiando uma explicação razoável e sendo ótimo assunto para histórias de terror.

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