domingo, 5 de março de 2023

Jogo Mortal - O Assassinato do Tabuleiro Ouija


O antigo e aparentemente inofensivo jogo do tabuleiro Ouija tornou-se um dos mais conhecidos e tradicionais instrumentos do paranormal. Para muitos ele e apenas uma fonte de diversão, uma brincadeira inocente. Mas outros o consideram como um objeto ligado ao mundo oculto e uma perigosa ferramenta sobrenatural. Mas seriam essas placas de papelão relativamente inócuas e suas pranchetas de plástico algo realmente perigoso? Muitos acreditam que as tábuas Ouija são uma poderosa janela entre os mundos, até mesmo portais, através dos quais forças do além falam conosco, se comunicam conosco e até se aproximam com objetivos insidiosos. 

Embora os tabuleiros Ouija tenham sua parcela de relatos sinistros, há alguns casos que vão além do meramente estranho e fincam os dois pés no reino do bizarro. Em certos casos, sejam lá quais forem as entidades e forças misteriosas além do véu, elas não se contentam apenas em se comunicar conosco, estão mais interessadas em nos prejudicar e até mesmo matar. Nesse artigo apresentamos um caso macabro, no qual um tabuleiro Ouija se mostrou algo mais terrível do que poderia imaginar.

Um dos mais conhecidos crimes relacionados a Ouija ocorreu no outono de 1929, quando duas mulheres indígenas da Reserva Cattaraugus, no oeste do estado de Nova York, sentaram-se para uma sessão de contato espiritual com um tabuleiro Ouija. Uma delas era uma curandeira tribal de 66 anos chamada Nancy Bowen, e a outra uma professora da reserva, Lila Jimerson, de 36 anos. As duas estavam muito curiosas sobre a misteriosa morte do marido da Sra Bowen, outro curandeiro conhecido como Sassafras Charlie. O sujeito havia morrido recentemente em circunstâncias estranhas e elas suspeitavam que pudesse haver algum crime. Durante a sessão as mulheres afirmaram que o espírito do falecido marido de Bowen fez contato e afirmou que havia sido assassinado por uma mulher chamada Clothilde. O espírito chegou a fornecer uma descrição física da assassina, detalhes de sua morte e o endereço onde ela residia, em uma casa na Riley Street em Buffalo.

O nome era familiar para Jimerson, Clothilde era a esposa de um talentoso escultor de Paris chamado Henri Marchand, que vivia na reserva estudando a cultura dos povos nativos. Marchand era conhecido por seus dioramas incrivelmente detalhados, que mostravam cenas da natureza ou da história, criadas a partir de vários materiais. De fato, Marchand, que estudou na Europa com o famoso mestre escultor Rodin, era muito respeitado por seu trabalho que retratava a vida dos nativos iroques. Suas obras eram expostas no Museu do Estado de Nova York em Albany. Marchand e sua família, que consistia em sua esposa Clothilde, também uma pintora talentosa, além de quatro filhos, se fixaram na reserva para estudar a arte dos nativos. Jimerson afirmou não apenas conhecer Marchand por quase 10 anos, mas também ter trabalhado com ele posando como modelo.


Nos dias após a sessão com o tabuleiro Ouija, Bowen começou a receber mensagens misteriosas de uma pessoa que se autodenominava "Sra. Dooley", que ofereceu mais informações sobre a morte de Sassafrás. A misteriosa testemunha afirmava saber o que realmente havia acontecido. A série de mensagens mencionava que o falecido havia sido vítima de bruxaria, feitiços, magia negra e por fim assassinato.  Sugeria que Clothilde era de fato uma feiticeira poderosa e que havia lançado uma maldição sombria contra Sassafras e a própria Nancy. Uma das cartas misteriosas dizia:

"Eu sei de coisas horríveis. Decidi que seria melhor contar a você para  ajudar. Ao menos o que eu posso revelar sem perigo. Charlie Bowen foi morto por feitiçaria do tipo mais vil. A bruxa é uma francesa... Foi ela quem matou seu marido porque ele tinha bons remédios para vender na cidade. Ela matou muitos, muitos assim, índios e brancos, empregando maleficios."

Segundo os relatos, Nancy Bowen levou essas mensagens muito a sério e se convenceu de que não apenas Clothilde era responsável pelo assassinato de seu marido, mas que ela planejava vir buscá-la em seguida. A ideia de que a francesa era uma bruxa ficou gravada em sua mente pelo fato de que Clothilde era conhecida por ler cartas de tarô, preparar poções ditas magicas e por coletar cogumelos na floresta, uma prática comum na Europa, mas estranha para os nativos, que evitavam esse alimento. Nancy tinha medo do que aconteceria se nada fosse feito para impedir o mal da bruxa e dessa maneira decidiu agir. Ela comprou um martelo e uma garrafa de clorofórmio e foi visitar a "bruxa" em sua casa. Seu objetivo era matar a bruxa e acabar com sua sinistra maldição. Segundo as sugestoes da Sra Dooley, a Bruxa tinha um pacto maligno com o demonio e so poderia ser morta se fosse pega de surpresa. Em 7 de março de 1930, alguem bateu a porta da casa de Clothilde e ela se deparou com a visão de uma mulher nativa desconhecida que apontou un dedo acusador na sua direcao, chamando-a de bruxa. Antes que pudesse reagir, Bowen correu na direção da francesa com o martelo em riste. Clothilde recebeu um golpe que a fez perder o equilibrio e cair dentro de casa. Bowen entrou, fechou a porta e continuou a agressão desferindo ao menos mais oito golpes brutais, sobretudo na cabeça da "feiticeira". A cada golpe devadtador dizia "Sassafras me enviou para vinga-lo". Após matá-la, ela ainda desenhou com o sangue da vitima alguns simbolos misticos que deveriam garantir que a bruxa nao levantaria dos mortos. Ela também embebeu um pano com  clorofórmio e o enfiou na garganta do cadáver.

O corpo horrivelmente mutilado foi encontrado pelo filho de Clothilde, Henri Marchand, Jr., de apenas doze anos. Ele imediatamente correu para o Museu onde o pai trabalhava para informar o que havia acontecido. Quando as autoridades chegaram para investigar, descobriram que duas mulheres nativas estavam rondando a área antes do ataque, uma mais velha e outra mais jovem, talvez vigiando a casa e avaliando a situação. Eles também souberam da conexão de Henri Marchand com Lila Jimerson, e que os dois estavam tendo um caso, o que Marchand a princípio negou, mas que foi comprovado por cartas encontradas na casa da mulher. Quando Jimerson foi presa como suspeita, ela contou à polícia sobre o envolvimento de Bowen e está também foi presa. Roupas cheias de sangue foram achadas na casa de Bowen, bem como óculos que pertenciam a Clothilde e que ela havia apanhado. O inquérito revelou que, no dia do assassinato, Jimerson ligou para Marchand e pediu-lhe que a levasse para um passeio em seu carro, período durante o qual Bowen cometeu o assassinato.

A história ganhou grande fama como o "Assassinato da Tábua Ouija". Ele se tornou uma sensação nos jornais, com as notícias referindo-se às envolvidas como "mulheres selvagens" e a Bowen como "uma mulher enfeitiçada". A mídia fez grandes esforços para enfatizar o ângulo sensacionalista da magia negra, bem como o envolvimento de “índios”. De fato, as notícias pareciam estar misturadas com calúnias étnicas e preconceito, quase um ataque contra o próprio povo iroquês tanto quanto contra as mulheres envolvidas. As autoridades praticamente invadiram a reserva em busca de provas, durante as quais realizaram buscas ilegais e indiscriminadas nas casas das pessoas e mostraram muito pouco respeito pelos indígenas que ali viviam.



Durante o julgamento Bowen afirmou que ela foi compelida por forças sobrenaturais liberadas pelo tabuleiro Ouija a matar a francesa. Ela afirmou categoricamente que forças fantasmagoricas haviam influenciado o assassinato e que ela sentia como se estivesse sendo controlada o tempo todo. Ela disse ainda que primeiro tentou usar feitiços e magia negra para afetar Clothilde, mas que nao conseguiu resultados . Quando a magia negra falhou, Bowen assumiu a responsabilidade de acabar com a “bruxa” para sempre usando o martelo e o clorofórmio. 

Durante o julgamento Marchand confessou seu caso amoroso e disse que teve muitas outras amantes entre as mulheres nativas, o que ele arrogantemente descreveu como uma "necessidade profissional" para seu trabalho. Ele também afirmou que sua esposa estava totalmente ciente de seus flertes, mas consentia com eles. O advogado de Jimerson tentou apresentá-la como vítima de ciúme e raiva, pintando seu envolvimento como um crime passional. Quanto a Bowen, ela era vista apenas como um agente na trama de Jimerson e alegava que estava muito envolvida na "bruxaria indigena".

Tudo culminou na anulação do julgamento quando Jimerson, que agora era conhecido na mídia como “A matadora sangrenta dos Cayugas”, sofreu uma crise  respiratória repentina e desmaiou no tribunal. Muitas pessoas ficaram tao impressionadas que acreditavam que aquilo era um feitiço em ação. Embora ela tenha confessado o assassinato de segundo grau enquanto estava no hospital, mais tarde ela se retratou. O segundo julgamento começou cerca de um ano depois, em março de 1931. Durante esse segundo julgamento, a defesa de Jimerson alegou que ela não foi responsável de forma alguma pelo assassinato e não obrigou Bowen a executá-lo. Foi alegado que Marchand estava implorando a várias mulheres nativas que matassem sua esposa porque ele estava "cansado dela". Enquanto isso, Marchand inacreditavelmente mudou-se para Albany para se casar novamente, desta vez com sua sobrinha de 18 anos. 

No final, Jimerson foi absolvida, Marchand não foi acusado ou processado por nenhum crime e Bowen foi considerada culpada de homicídio culposo, mas recebeu uma sentença relativamente branda. Uma das desculpas para o crime era que alguma força sobrenatural havia agido sobre as mulheres e que estas não podiam ser culpadas por serem usadas como peões por alguma entidade espiritual.

Não está claro se forças desconhecidas podem ou não ter atuado através do tabuleiro Ouija para influenciar o assassinato de Clothilde, mas é certamente um caso muito estranho que mostra que um simples tabuleiro com algumas letras pode ter algum tipo de influência além de nossa compreensão. 

O Caso do Tabuleiro Ouija é um dos únicos em que o elemento sobrenatural foi levado em consideração durante os procedimentos legais e peça decisiva para a decisão do júri e a sentença.

Um comentário:

  1. Mais estranho que o próprio caso, foi a maneira como se "resolveu"! As duas assassinas praticamente se safaram! O artista come-índias não foi autuado por conduta imoral ou algo assim, nem por incesto, por pegar a sobrinha! A polícia preconceituosa pegou no pé dos nativos, mas parecem não ter investigado o suposto crime cometido por Clothilde ou seu envolvimento com magia negra. Uma conclusão mais cabeluda que o p3ntelho do Pé-Grande! Enfim, um triste e mau-esclarecido caso onde o único que parece que saiu ganhando foi o diabo!

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