Dando continuidade na coisa...
Parte 3: Retomando o Curso para Atlas
A equipe trabalha da forma mais rápida possível já que as condições gerais à bordo da Nefarious não são nada boas. Maddox consegue restaurar as configurações originais que permitirão seguir em frente com a missão. A tarefa leva cerca de três horas e enquanto ele trabalha com afinco os demais membros tentam ajudar no que for possível.
A fim de eliminar a fumaça no compartimento (causada por um pequeno incêndio), Joe e Calvin acionam os exaustores que estavam desligados e quando o ambiente começa a limpar, encontram mais um cadáver horrivelmente mutilado na sala de máquinas. O pobre coitado foi amarrado e horrivelmente torturado. Há ainda símbolos cabalísticos pintados com sangue nas paredes... símbolos que Joe reconhece como sendo similares aos que ele viu em seu sonho, pouco antes de ser despertado da câmara de hibernação. Em meio ao sangue há pegadas se afastando do local.
Androide de Manutenção |
Bryce se arma com um maçarico de acetileno, Calvin com um cutelo e os demais com seringas e começam a seguir as pegadas. No compartimento seguinte encontram um androide de manutenção aparentemente desativado. Eles verificam que os pés da máquina estão com marcas de sangue. Nisso, a coisa se anima e avança contra o grupo com intenção homicida. A luta é feroz pois o autômato descontrolado é muito forte e extremamente resistente. Outros dois androides surgem para atacar o grupo sendo que um deles danifica o painel de gravidade fazendo com que a equipe flutue livremente pela câmara.
A luta se torna ainda mais ferrenha, mas apesar de alguns sofrerem ferimentos, a equipe consegue desativar as máquinas. Enquanto a Dra Cheung trata dos ferimentos, Maddox conclui os reparos.
No elevador, o holograma Archie diz que é provável que os androides tenham sido programados pela oficial de segurança para eliminar a tripulação. Maddox conta aos outros que a Archimedes antes da sabotagem da Nefarious, havia sido colocada em alta velocidade para chegar a Atlas. Maddox tenta falar com o restante da equipe a respeito de algumas suspeitas sobre o comportamento de Archie, mas é interrompido por um aviso de emergência nos alto-falantes:
"Atenção toda equipe, o procedimento manual de auto-destruição da Archimedes 7 foi iniciado. Todo pessoal deve evacuar a nave. O procedimento não poderá ser abortado dentro de T-30 minutos".
Luzes vermelhas começam a piscar, a medida que os motores trans-dobra entram em modo de sobrecarga reunindo energia para a destruição. Para abortar o procedimento é necessário que um membro da tripulação original insira a sequência correta no terminal. Archie não pode fazê-lo (trata-se de um comando de segurança).
O holograma, no entanto, avisa que uma nave auxiliar está sendo preparada para fuga. Sem pensar duas vezes, o grupo se dirige para lá a fim de confrontar a Oficial Albraight. Chegando nas docas, o grupo encontra a oficial terminando de carregar equipamento para a única nave auxiliar ainda operacional (todas as outras foram danificadas por ela). Ao ver o grupo, ela não pensa duas vezes e dispara com uma pistola. Bryce é seriamente ferido (12 pontos de dano! Ouch!). Os demais se protegem atrás de caixas no compartimento de carga enquanto a oficial grita palavras sem sentido:
"Vocês não vão me pegar! Fiquem longe de mim seus maníacos!".
Barbara tenta usar de psicologia para acalmar a oficial, mas ela parece fora de controle: "Eu sei bem quem vocês são... vocês não vão chegar a Atlas. Eu não vou permitir! Nem que eu tenha de destruir essa nave inteira."
Maddox consegue interferir na sequência de lançamento da nave auxiliar que é avariada. Os demais avançam de surpresa e conseguem imobilizar a oficial que se recusa a desativar a sequência de auto-destruição. Capturada pelos demais, Barbara consegue extrair algumas informações da oficial Jennifer Albraight usando drogas.
Parte 4: Amargas Verdades
A oficial conta que não é a responsável pela morte dos tripulantes. Archie, a Inteligência Artificial acionou os androides para eliminar a tripulação em uma tentativa de tomar o controle da missão Atlas. Ela revela também que os "inocentes colonos" (os personagens dos jogadores inclusive) não são trabalhadores contratados, e sim criminosos condenados que aceitaram participar da missão em troca de redução ou comutação de suas penas.
Oficial de Segurança Jennifer Albraight |
Durante o Sono Criogênico a memória de cada um foi parcialmente apagada e reconstruída de acordo com uma matriz comportamental pré-definida. Como resultado, criminosos brutais (homicidas, estupradores, molestadores de crianças) se tornariam cidadãos modelo. Diante dessas revelações, eles compreendem que os flashback, as memórias das quais eles vinham se recordando, eram lembranças reais, bloqueadas pela reconfiguração mental. Os episódios traumáticos (leia-se a perda de sanidade) removeu parte desse bloqueio. Com a revelação, cada um dos personagens se recorda porque foi mandado para a prisão.
Ela prossegue: O objetivo da Missão Atlas era fundar uma colônia usando esse material humano "descartável" e principalmente barato. Na verdade esse é um procedimento já usado pela Weyland Yutani (Construindo mundos melhores!).
Mas algo inesperado ocorreu durante a missão. Archie era o responsável pelo programa de engenharia comportamental. Em algum momento ele entrou em contato com algo que sua mente computadorizada extremamente racional não conseguiu lidar. Um dos prisioneiros era parte de uma espécie de culto apocalíptico (havia sido preso por isso). Archie sondou a mente desse prisioneiro e vivenciou suas experiências de adoração a entidades entrópicas, invocações, sacrifícios. Incapaz de conciliar essas verdades, Archie "enlouqueceu". Convertido para essa nova realidade de adoração e subserviência dos Antigos ele planejou tomar a nave.
A tripulação começou a estranhar a maneira como Archie vinha se comportando e tentou desativá-lo, mas já era tarde demais. Archie acionou os androides de manutenção e os usou para eliminar a tripulação, um por um. Jennifer foi a única que conseguiu escapar do ataque se refugiando nos dutos de ventilação. Ela planejava impedir a qualquer custo que a nave chegasse a Atlas. Primeiro tentou colocar a nave à deriva ejetando a Nefarious, quando esse plano falhou ela traçou uma nova e desesperada estratégia, acionar a auto-destruição da Archimedes 7.
Archie ouve tudo e finalmente aparece diante da equipe (dessa vez vestindo um manto amarelo idêntico ao que os cultistas utilizavam no prólogo). Ele não tem razões para contradizer o que a Oficial de Ciências contou, de fato parece orgulhoso de suas ações. "Atlas se tornará uma colônia dedicada aos meus senhores. Uma Aurora Amarela nos aguarda!".
Ele explica que a mente dos colonos nas Câmaras Criogênicas está sendo reprogramada para aceitar a "verdade dos Grandes Antigos" e oferece à equipe a chance de participar de tudo isso. Tomar parte na construção de um novo mundo. Para tanto basta convencer a Oficial a desativar o procedimento de auto-destruição e retornar para as câmaras de hibernação. Ele promete uma nova memória, longe de lembranças amargas e do passado condenatório. Uma chance de recomeçar do zero!
O grupo não cede a proposta da Inteligência Artificial e negocia com a Oficial Albraight que aceita ajudá-los a desativar o computador. Sozinha ela não teria como fazê-lo, com o restante do grupo talvez haja uma chance se eles conseguirem destruir fisicamente o computador. A sequência de auto-destruição é interrompida faltando alguns poucos segundos para se encerrar e a oficial passa os comandos para os personagens que em último caso se comprometem a explodir a Archimedes. O grupo se preparara então para confrontar o computador em seus domínios.
Parte 5 - Archie´s Nest
O Rei Amarelo remove sua máscara |
A Sala do Computador fica a frente da Ponte de Comando da Archimedes. A medida que a equipe se dirige para o local, Archie se encarrega de dispor obstáculos para impedir seu progresso.
Ele usa o gerador de hologramas da Archimedes para criar ilusões realistas que sugerem um incêndio nos corredores e outra em que os tripulantes da nave, horrivelmente mutilados caminham novamente como mortos-vivos. Archie também tenta manipular o grupo confrontando-os com os crimes por eles cometidos.
Enfim, após passar por alguns percalços, a equipe consegue chegar até a Sala de Comando onde o avatar de I.A. os aguarda acompanhado de uma representação holográfica da entidade conhecida como Rei Amarelo (King in Yellow) sentado na poltrona do capitão (transformada em um trono).
Tudo na sala é amarelo. Um amarelo doentio e alucinante. Acima da imponente figura sentada no trono gira um estranho glifo holográfico, o críptico Símbolo Amarelo (Yellow Sign), o amaldiçoado emblema de Hastur, o impronunciável, cuja mera visão evoca insanidade, entropia e medo. Alguns dos tripulantes ficam estupefatos diante do símbolo e não conseguem sequer se mover. Joe e Barbara caem de joelhos prostrados. A Oficial de Segurança chora sem parar.
Usando a energia vital dos "colonos" presos nas câmaras de hibernação, Archie providencia sua última linha de defesa. Ele invoca três Andarilhos Dimensionais (Dimensional Shamblers), horrendas criaturas que habitam os espaços entre os planos de existência para deter seus inimigos. Barbara é gravemente ferida pelas garras afiadas de uma das criaturas e cai desmaiada, menos sorte tem o engenheiro Richard Maddox que é dilacerado pelo ataque de dois dos Andarilhos. A Oficial Albraight por sua vez consegue ferir uma das criaturas, mas ela reage a agarrando e se teleportando para outra dimensão (de onde não existe volta!).
Andarilho Dimensional |
Em meio ao desespero, o enlouquecido "homem da companhia" Joe Meachum ataca seus próprios companheiros na tentativa de se aliar ao computador. Ele consegue ferir a Dra. Cheung, mas antes de concluir sua traição, Bryce consegue destruir o HD de Archie, e a Inteligência Artifical é extirpada da nave. Os Andarilhos tentam agarrar vítimas enquanto fogem, mas os sobreviventes conseguem escapar das criaturas que somem entre as dimensões. Joe tenta se explicar, mas Bryce apanha uma arma e o fere mortalmente pelas costas.
Epílogo
Os sobreviventes decidem manter o restante dos tripulantes dentro das câmaras de Hibernação enquanto ponderam sobre o que fazer. Não há como dizer se Archie conclui o programa de engenharia comportamental incutindo neles o desejo de servir o Rei Amarelo.
Os sobreviventes não tem muitas opções a não ser deixar a nave seguir em frente até o destino final de sua jornada: Atlas. Sem a tripulação original e sem o computador para traçar os planos de astronavegação, eles são incapazes de retornar para a Terra. O piloto automático os levará até a órbita de Atlas e lá eles terão de decidir o que fazer.
Na segunda vez que narrei, o cenário terminou com Calvin Waters vagando pela Ponte de Comando. Sua sanidade quase que inteiramente consumida pela traumática experiência e pelo remorso de seus crimes. Ele senta na poltrona do Comandante e por um instante contempla o painel de comando onde aparece o planeta Atlas. Em seguida ele aciona o terminal onde se lê: Procedimento Manual de Auto-Destruição.
Narrei o cenário Archimedes 7 em duas ocasiões distintas.
A primeira no encontro de RPG do Dungeon Carioca de dezembro, a segunda antes do ano novo na casa de um amigo. A segunda tentativa funcionou melhor e a aventura se desenvolveu de maneira mais condizente com o que eu planejei.
Talvez tenham sido algumas mudanças no roteiro que ajudaram a imprimir um tom mais desesperado a trama que contagiou o grupo. Quando a auto-destruição foi iniciada, por exemplo, coloquei um cronômetro de 30 minutos que marcaria a explosão da nave. E no fim das contas, a aventura foi concluída em menos de quatro horas de jogo - o que para um cenário aberto como esse, é um tempo bem reduzido.
Eu fiquei um pouco dividido a respeito dessa aventura. Por um lado reconheci nela um potencial para ser um cenário incomum, por outro a história com seu estilo free-form deixa muita coisa em aberto. Talvez no futuro eu faça uma "prova dos nove" e veja como ela seria em uma terceira oportunidade...
Mas por hora, chega de Call of Cthulhu no espaço. Voltemos ao clássico, porque, francamente todos adoram os clássicos.
Excelente aventura!
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