domingo, 6 de janeiro de 2013

O Povo Pequeno - Uma raça de perigosos selvagens com estatísticas para Chamado, Rastro e Mundos Selvagens


"Coisas feitas na forma de homens mas atrofiadas como crianças horrivelmente deformadas, as faces com seus olhos amendoados queimando com maldade e impronunciável luxúria; a pele nua amarelada e medonha..."

- Arthur Machen - "The Shinning Pyramid"

O Povo Pequeno (Little People) é uma raça humanóide aborígene que originalmente habitava as Ilhas Britânicas. Na aurora do mundo havia uma grande quantidade deles, vivendo nas profundezas das florestas e bosques intocados. Nessa época eles guardavam forte semelhança com os humanos, exceto pela estatura - os mais altos tinham 1,20 m e pelo porte esguio, feições delicadas e grandes olhos.

O Povo Pequeno possuía uma forte ligação com a terra e alguns acreditam que eles dominavam magia e rituais, embora não haja provas desse conhecimento arcano. A espécie constitui a base para muitos mitos e lendas a respeito de elfos, fadas e outras criaturas místicas do folclore britânico.

A medida que os primeiros colonos humanos atravessaram o Canal da Mancha se fixando nas Ilhas Britânicas, o choque entre as raças foi inevitável. O Povo Pequeno ficou conhecido por sequestrar crianças humanas na calada da noite e substituí-las pelas suas próprias por razões obscuras. Alegadamente eles também realizavam rituais no qual usavam sacrifícios humanos. Uma raça feroz que se entregava a luxúria e desejos carnais, o Povo Pequeno procurava sobretudo mulheres humanas, com as quais tentavam se reproduzir, gerando crias híbridas. Mulheres humanas, eram raptadas levadas até o centro da tribo e violentada por inúmeros indivíduos, na esperança de que fosse impregnada com sua semente profana. Em seguida a mulher era libertada na floresta, eles aguardavam até ela dar a luz para que a criança fosse reclamada. É possível que alguns povos humanos primitivos considerassem esse costume uma espécie de honra, e de bom grado oferecessem meninas ao Povo Pequeno de bom grado logo após o primeiro ciclo menstrual. As crianças híbridas eram consideradas mágicas. Mas a grande maioria dos colonos ficaram horrorizados com o resultado dessa união blasfema e reagiram com ferro e fogo.

Gradativamente, o Povo Pequeno começou a ser exterminado pelos humanos e empurrado para o interior da ilha, fixando-se nas florestas mais densas e daí para o subterrâneo sob montanhas e ravinas. O Sul da Inglaterra e do País de Gales recebeu a maioria desses sobreviventes que escavaram túneis profundos que os conduzia ao coração da terra onde eles se esconderam por gerações. A privação do sol e do contato com a floresta operou uma mudança completa no Povo Pequeno. Há rumores que suas práticas religiosas também se tornaram mais primitivas e violentas, terminando invariavelmente com terríveis orgias. Gerações nascidas a partir de relações consanguíneas e mesmo com outras espécies, iniciou um processo degenerativo irreversível. O Povo Pequeno mudou drasticamente não apenas fisicamente, mas sua inteligência se tornou animalesca, com costumes cada vez mais bestiais em substituição a qualquer noção racional.

Para alguns pesquisadores do Mythos de Cthulhu, o Povo Pequeno durante seu exílio nas profundezas teria entrado em contato com seres ancestrais, ainda mais antigos, o maquiavélico Povo Serpente do reino anti-diluviano de Valusia, cujos poucos sobreviventes hibernavam nessas mesmas cavernas. O Povo Serpente desperto de seu sono teria naturalmente assumido uma posição de superioridade, sendo até certo ponto venerado pelo Povo Pequeno como virtuais deuses. A procriação entre eles, gerou híbridos com características reptilianas como pele escamosa, olhos ofídicos, língua bífida e capacidade de gerar veneno.

Com o tempo, o Povo Pequeno foi esquecido pelos humanos e sua existência de fato, suplantada pela crença de que eles não passavam de lendas, contos de fada benignos. A verdade, no entanto, é bem menos inocente. O Povo Pequeno continua vivendo em bolsões isolados nas regiões mais selvagens de Gales, da Irlanda e do Sul da Inglaterra. Eles guardam um profundo rancor dos humanos, um ódio que os deixa cegos.

Nas raras ocasiões que humanos adentram os domínios do Povo Pequeno a reação tende a ser brutal. Indivíduos capturados são arrastados para os subterrâneos e massacrados impiedosamente pela tribo inteira. Mulheres, por outro lado, são estupradas até que se tenha certeza de que a vítima foi impregnada. Em seguida ela é libertada, em geral completamente enlouquecida pela experiência e sem lembrar do que aconteceu. Ao longo da gravidez, a mulher começa a recordar os acontecimentos o que causa um choque ainda mais traumático. As crianças nascidas dessa união, em geral são híbridas com características que remetem mais ao Povo Pequeno, o que é atribuído a algum tipo de deformidade congênita. Essas crianças, quando sobrevivem, acabam eventualmente se juntando aos seus pais nos subterrâneos. Há casos, entretanto, de crianças que nascem herdando traços humanos e que são capazes de crescer e se misturar às pessoas normais - embora, eles sejam vistos com desconfiança, por razões que a maioria não consegue explicar. Esses híbridos são muito valiosos para o Povo Pequeno e quando se juntam aos seus "pais" são alçados a posições de liderança.

Membros do Povo Pequeno parecem fisicamente com humanos de baixa estatura, muito esguios e atléticos. Se vistos rapidamente, podem ser facilmente confundidos com crianças selvagens; sujas e ferozes. Eles são mestres em ocultar sua presença quando andam nas florestas e bosques. Essa habilidade nata impede que sejam vistos claramente. Eles possuem cabelos negros, lisos e oleosos amarrados em tranças endurecidas com camadas de lama e sujeira. Sua pele é pálida com um tom amarelado e doentio, em certos casos, alguns apresentam escamas abdominais. Seus olhos são grandes, arredondados e brilhantes denotando um brilho animalesco que sufoca qualquer racionalidade.

O Povo Pequeno é extremamente primitivo eles não dominam as mais básicas noções de civilidade; desconhecem e desprezam o fogo uma vez que resistem bem ao rigor da temperaturas e enxergam perfeitamente no escuro. As poucas ferramentas que eles criam são rústicas: lanças, machados e facas feitas de pedra lascada, ainda que extremamente afiadas e manejadas com precisão mortal. Na maioria das vezes eles não vestem roupas, mas os líderes carregam ornamentos e adereços que indicam seu status superior. Eles se comunicam com uma série de grunhidos sibilantes, e podem também se comunicar usando alguns simples hieróglifos cervulíneos  Esses símbolos, uma simplificação do idioma Aklo valusiano cobre as paredes dos refúgios subterrâneos que servem como lar para o Povo Pequeno. As tribos tendem a venerar diferentes deuses negros do Mythos, sendo que Yig e Shub-Niggurath são as divindades mais tradicionais.

Em virtude da grande quantidade de lendas a respeito de "Povos Pequeninos" encontrada em várias culturas e civilizações, é possível que o Povo Pequeno possa ter existido (ou ainda exista!) em outros continentes.

ESTATÍSTICAS PARA CALL OF CTHULHU

Extraído do Livro Cthulhu by Gaslight (Chaosium)

O Povo Pequeno, odiosos selvagens

STR 2d6 +2
CON 2d6 +4
SIZ 1d6 +6
INT 3d6
POW 3d6
DEX 2d6 +6
APP 2d4

HP: 10-11
Bônus de Dano: +0

Ataques: Garras (x2) 35%, dano 1d4 cada; Mordida 30%, dano 1d3; Lança 35%, dano 1d6 +1, Arremessar Lança 35%, dano 1d6 +1, Faca de Pedra 40%, dano 1d4 +1; Machado de Pedra 60%, dano 1d6 +1, Porrete 65%, dano 1d6 +1

Magias: Membros do Povo Pequeno com INT e POW iguais a 10+, podem conhecer 1d3 magias. Um membro do Povo Pequeno com INT 10+ e POW 14+ é considerado como um shaman, e conhece no mínimo 1d6 +6 magias, incluíndo uma magia para contatar alguma Divindade e 1-2 magias de invocação alguma raça serviçal apropriada.

Habilidades: Craft (artesanato) 90%, Hide 75%, Natural History 55%, Sneak 80%, Spot Hidden 55%, Throw 55%, Track 55%, Aklo 40%

Custo de Sanidade: 0/1d4 pontos de sanidade por ver o Povo Pequeno

ESTATÍSTICAS PARA RASTRO DE CTHULHU

O livro básico de Rastro de Cthulhu, afirma que as estatísticas dos Tcho-Tcho podem ser usadas como modelo para o Povo Pequeno degenerado (pp 152). Eu preferi fazer algumas pequenas mudanças nas estatísticas para tornar o Povo Pequeno algo mais exclusivo e dentro do contexto original.

Habilidades: Armas Brancas 5, Atletismo 9, Briga 6, Furtividade 12, Sobrevivência 12, Vitalidade 5

Limiar de Acerto:

Modificador de Furtividade: +4 (subterrâneos), +2 (florestas), +1 qualquer outro local)

Ataques: -1 (Armas Primitivas) - O Povo Pequeno utiliza um enorme sortimento de armas de pedra em combate. Eles raramente usam veneno, mas alguns indivíduos são capazes de injetar veneno através de mordida (-2), O veneno não é mortal, mas faz com que a vítima tenha de fazer seus testes com +1 somado a dificuldade normal.

Armadura: Nenhuma   

Perda de Estabilidade: Não há perda de estabilidade, exceto para o Povo Pequeno engajado em alguma ação medonha ou cruel.

Investigação:

Coletar Evidência: O pequeno altar no meio da câmara tinha apenas um metro de altura e parecia ter sido criado para uma criança. Sobre a tampa de pedra havia uma série de objetos primitivos feitos em sua maioria de pedra e decorados com penas, miçangas e ossos de animais. Uma faca de sílex, lascada apresentava resquícios de sangue seco. A arma estava guardada cuidadosamente em uma bainha feita de pele de cobra. A arma, do tamanho de um abridor de cartas, era difícil de ser empunhada, embora fosse muito afiada. 

Ciência Forense: O corpo estava largado no meio da estrada e foi encontrado pelo pessoal que conduziu a busca. Ele tinha sido simplesmente... massacrado. Havia ferimentos de golpes em todo seu corpo, ossos quebrados e lacerações condizentes com um longo castigo infligindo por martelos e porretes. Havia perfurações feitas com facas no tórax e no abdome  os ferimentos não eram profundos, mas a quantidade era enorme e o próprio legista teve dificuldades de precisar quantos foram. A única certeza é que eles não foram a causa da morte. As marcas de defesa nas mãos indicam que ele tentou se defender de seus agressores. O golpe final, ao que tudo indica foi desferido com um pesado instrumento visando a cabeça, o afundamento craniano indica que o ataque foi executado quando a vítima estava caída.

Medicina: A irmã de nosso amigo estava em estado lastimável. Parecia em choque e quando tentei realizar um exame preliminar ela reagiu violentamente gritando e esperneando. Apenas quando consegui ministrar um sedativo forte ela se acalmou o suficiente para que eu pudesse ajudá-la. Além do quadro de desidratação e fraqueza, ela apresenta marcas condizentes com mordidas e arranhões em várias partes do corpo. Dado o estado psicológico, eu já havia considerado a hipótese dela haver sofrido violência sexual. Ao examiná-la mais criteriosamente, apurei que era esse o caso.

ESTATÍSTICAS PARA SAVAGE WORLDS

Um horror primitivo com o Povo Pequeno, pode ser facilmente incorporado a vários cenários de Savage Worlds, um sistema que permite absorver muitos dos perigos do Mythos. Eu consigo ver o Povo Pequeno como inimigos em um cenário de Deadlands, para 50 Fathons (uma ilha dessas criaturas malignas), para alguma ambientação medieval ou como um horror encontrado nas andanças de Solomon Kane. Em pequeno número, o Povo Pequeno não é uma ameaça para aventureiros, mas seu trunfo está nos números. Ao atacar, nada menos do que 5 dessas criaturas avançam sobre cada personagem.

Atributos: Agilidade d8, Esperteza d6, Espírito d6, Força d6, Vigor d8

Habilidades: Escalar d8, Briga d6, Intimidação d6, Percepção d6, Furtividade d10, Sobrevivência d8

Carisma: -4; Velocidade: 6, Aparar: 5, Resistência: 5

Vantagem: Mateiro
Desvantagens: Sede de Sangue, Pequeno

Objetos: Armas rudimentares; faca de pedra (FOR +d4), martelo de pedra (FOR +d6)

Habilidades Especiais:

Habitante do Subterrâneo: O Povo Pequeno está habituado a viver em complexos subterrâneos, cavernas e túneis. Eles podem se espremer facilmente por brechas estreitas, se esconder em recantos e enxergar perfeitamente nesse ambiente. Para todos os efeitos de jogo, o Povo Pequeno ignora qualquer dificuldade de Ambiente enquanto estão nos Subterrâneos.

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