Todos já ouviram a história.
Muitos, inclusive, já devem ter brincado disso quando criança ou adolescente.
Consiste em parar diante de um espelho, e repetir uma, duas, três vezes o nome de alguma entidade. Segundo as histórias, quando o nome é dito pela terceira vez, a criatura (espectro, fantasma ou sombra) se manifestaria de forma visível e poderia ser percebida no reflexo do espelho.
Parece familiar? Pois bem, variações dessa história são conhecidas em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.
A origem da lenda é difícil de ser determinada, mas acredita-se que ela tenha surgido com o nome de Bloody Mary na Inglaterra em meados de 1800.
A Lenda de Bloody Mary também é conhecida por outros nomes como Maldição de Mary Worth e Aparição de Mary Whales. Todas elas parecem se referir a mesma entidade, cuja aparência e história tem poucas variações.
O Fantasma é descrito como uma mulher bonita e pálida, cabelos loiros e longos, vestindo um traje simples como uma camisola, igualmente imaculada. Essa forma frágil, no entanto, esconde a natureza perversa de Bloody Mary. Ao abrir os olhos, estes transbordariam de ódio e ressentimento pelos vivos. De sua boca, escorreria sangue em profusão, e seu pescoço penderia num ângulo impossível, evidenciando estar quebrado. Uma marca clara de corda poderia ser visto, onde o nó foi apertado até arrancar de seu corpo o último suspiro.
Em algumas versões, a cabeça da Bloody Mary poderia se soltar do corpo e rolar pelo chão deixando um rastro de sangue. Em outra, os pés do espectro não tocariam o chão, e ela flutuaria no ar. Finalmente um terceiro rumor diria que quando a Bloody Mary se manifesta, ocorre uma queda acentuada da temperatura, na qual o ambiente fica sombrio e frio.
Uma das lendas mais difundidas sobre a origem da assombração diz respeito a uma mulher que teria vivido nos tempos da Inquisição. Mary seria curandeira e parteira, prestando serviços para os aldeões de um vilarejo próximo. Bonita e independente ela atraía a inveja das mulheres e o ódio dos homens, já que não se sujeitava a nenhum marido. Mary teria sido acusada de praticar malefícios contra os aldeões e de ter causado a morte de uma mulher e seu bebê durante o parto. Ela foi denunciada como bruxa e presa, acabando por ser condenada à morte. A forma escolhida de execução foi a degola, feita com uma cinta de couro que foi passada em torno de seu pescoço e apertada com uma manivela até que ela asfixiasse.
Dizem que durante a execução, assistida por todo o vilarejo, Mary amaldiçoou seus algozes. Aqueles que repetissem seu nome, seus filhos e descendentes, seriam amaldiçoados e encontrariam seu espírito inquieto em busca de vingança.
Em 1978, a escritora Janet Langlois publicou um livro intitulado “Mary Whales: Eu acredito em você”. No ensaio ela traçou as origens da lenda e tentou encontrar a verdadeira Mary através de registros históricos e documentais. Segundo as pesquisas de Langlois, uma mulher chamada Mary Whales teria sido executada em 1662, acusada injustamente de prática de bruxaria em Devon, no sul da Inglaterra.
Ela acredita que esse incidente tenha dado origem à lenda que posteriormente se espalhou pelo país.
O livro apresentava ainda o relato de pessoas que teriam testemunhado a aparição de Mary após repetir seu nome diante de um espelho, uma crença que aparentemente sempre fez parte da lenda.
A brincadeira, um típico jogo de desafio e coragem, incorporava um método consagrado de invocação espiritual que envolve o nome e um espelho. A brincadeira é, portanto, embasada em princípios consagrados do ocultismo ritualístico. Nomes sempre foram parte importante de rituais. Tradições ancestrais ditam que o "nome verdadeiro" é uma maneira de se invocar entidades, desde espíritos, até gênios, passando por anjos e demônios. Conhecer o nome verdadeiro é a maneira correta de realizar uma invocação e sujeitar a entidade à vontade do realizador. O espelho também é uma parte importante, uma vez que constituiria uma conexão com o mundo sobrenatural. Seria através de espelhos que portas e portais poderiam ser abertos. A superfície cristalina seria uma espécie de janela para outra realidade, pela qual seria possível ver e ser visto, falar e ouvir.
Em algumas variantes da lenda, seria possível usar a invocação de Bloody Mary para ter um vislumbre do futuro. Se a pessoa em questão demonstrasse respeito, na superfície do espelho apareceria uma visão clara de seu futuro, que poderia ser bom ou ruim. Segundo a lenda, algumas vezes, via-se um futuro desejado com riquezas, amor e sucesso, em outros a profecia de acidentes, morte e tristeza. Segundo consta, a tal visão se concretizaria, independente da vontade da pessoa.
As histórias mais populares, contudo, atestam que invocar Bloody Mary poderia resultar em grande perigo.
Se o espectro ouvisse seu nome sendo repetido três vezes com grande concentração e propósito, ele surgiria no espelho atrás da pessoa que realizou o chamamento. Em algumas versões, o espectro surge vingativo, disposto a matar e desfigurar o rosto da pessoa que ousou chamá-la. Alguns no entanto, afirmam que ao surgir, o choque causado pela assombração, é tão apavorante que pode matar de medo, provocando um ataque cardíaco fulminante. Os sobreviventes da experiência poderiam ficar com sequelas: gagueira, loucura ou teriam os cabelos totalmente embranquecidos.
Como evolução da lenda, mais recentemente, Bloody Mary se tornou um nome invocado para obter vingança. A assombração poderia ser invocada por pessoas interessadas em pedir que ela realizasse uma vingança contra um inimigo, em especial alguém que foi injusto ou cruel. Mary saberia reconhecer uma alma atormentada, assim como a dela, e aceitaria ajudar. Para isso, o nome da pessoa contra a qual se desejava extrair vingança deveria ser escrito na superfície do espelho, ao contrário para ser lido pela assombração do outro lado. Esta então apareceria para a pessoa em questão, saindo de um espelho para puni-la pelos seus maus feitos.
No Brasil, a história foi traduzida como a Lenda da Maria Sangrenta ou então da Bruxa do Espelho, Maria Degolada e mais tarde daria ensejo à famosa Loira do Banheiro que assombra os banheiros de colégios de todo país.
Ela teria sido introduzida no país através de alunos de escolas britânicas que carregaram a história de Bloody Mary para outros países. Registra-se que no Brasil, ela foi citada pela primeira vez em meados de 1910 como uma "brincadeira" de crianças na famosa Escola Inglesa no Rio de Janeiro.
Outra lenda, igualmente difundida no Brasil, e possivelmente uma adaptação à história original, diz que Mary era uma mulher muito bonita, mas um tanto superficial quanto a sua aparência. Ela teria sofrido um acidente automobilístico no qual seu rosto ficou horrivelmente marcado por cicatrizes. Para esconder as deformidades ela passou a andar por aí com um véu preto cobrindo-lhe o rosto. Certa vez, o tal véu teria caído em um evento social e as pessoas ficaram horrorizadas pela aparência dela. Mary então correu para casa e destruiu o espelho de seu banheiro. Com um estilhaço de vidro, cortou a própria garganta. Enquanto o sangue se esvaia, sua alma teria ficado aprisionada no espelho.
Enlouquecida e sem descanso, ela passou a habitar todos os espelhos, enxergando as mulheres se arrumando e maquiando com uma inveja mortal. Quando seu nome era repetido três vezes, por alguma pessoa diante de um espelho, ela poderia sair dele, espalhando morte e loucura.
E você?
Você teria coragem de repetir esse nome diante de um espelho depois de conhecer esses detalhes da lenda?
Essa è uma das lendas Urbanas mais horripilantes que conheço. Apareceu até na serie Sobrenatural. no caso o espelho era amaldiçoado.
ResponderExcluirEu e minha prima tinhamos 13 anos e soubemos da lenda da Maria Sangrenta. Minha prma morava em um sobrado antigo e no banheiro tinha uma espelho lindo e muito antigo embutido na parede. Uma noite, ficamos sozinhas na casa e ela insistiu para invocarmos a Maria Sangrenta. Eu não quis. Mas ela apagou todas as luzes, acendeu uma vela em frente ao espelho do banheiro e girou tres vezes repetindo o nome. Talvez por sugestionamento, eu, que estava ao lado mais afastada do espelho, vi uma sombra escura parecendo ter cabelos muito longos atrás da minha prima. Eu usava cabelo curto e minha prima acima do ombro. Não parecia nossas sombras. Assustada,acendi a luz. Minha prima riu de mim, mas vi que ficou assustada também. Não conseguimos dormir. Depois,volta e meia ela dizia que não devia ter brincado com aquilo. Esse fato me marcou pra sempre, porque exatamente um ano depois da brincadeira e do susto ela foi diagnosticada com câncer e morreu pouco depois. Coincidência trágica.
ResponderExcluirSensacional o texto. Bem escrito e bem embasado.
ResponderExcluirO tema é interessantíssimo.