As informações sobre a entidade conhecida como Grande Cthulhu são fragmentadas e incompletas. É pouco provável que a compreensão plena à respeito de Cthulhu seja um dia alcançada pela humanidade. E talvez, isso seja melhor, pois compreender Cthulhu é de extrema periculosidade. Afinal, como compreender os pormenores de uma criatura que para nossos padrões é um Deus?
Podemos entretanto tentar traçar sua origem e determinar de onde surgiu tão possante entidade.
Alguns estudiosos do Mythos, em especial o matemático Kathulhn, supõem que Cthulhu seja nativo de um mundo chamado Vhorl localizado na trigésima terceira nebulosa. Vhorl seria tão distante e inacessível que sua própria existência é contestada. Para os que defendem sua existência, o mundo é descrito como uma esfera gigantesca que teria gerado muitos dos antigos.
A informação no entanto é bastante criticada. Muitos acreditam que Vhorl seja na verdade uma outra dimensão que faz fronteira com a nossa realidade. Uma passagem dimensional ligando Vhorl ao nosso universo se abriria a cada ciclo de milhões de anos, marcado por um alinhamento cósmico. Este portal seria centrado no coração da estrela binária de Xoth (pronuncia-se Zof). Através dessa singularidade cósmica, Cthulhu e sua prole de crias espaciais -- as conhecidas Crias Estelares, teriam penetrado em nossa realidade clamando domínio imediato sobre Xoth.
Para outros estudiosos, Cthulhu sempre foi nativo de Xoth, e por essa razão os de sua raça são chamados Xothianos (Zofianos). Ele seria o consorte de Idn-Yaa uma entidade ainda mais obscura com quem acredita-se ele teria gerado outros Grandes Antigos, como Ghatanathoa, Ythogtha e Zoth-Ommog.
"Por qual razão a Terra?" muitos perguntam. Por que o insignificante terceiro planeta de um ordinário Sistema Solar, na vastidão cósmica, teria sido escolhido por esse titã? Não há uma explicação razoável. Alguns ponderam que a Terra na aurora dos tempos teria condições semelhantes a Vhorl, mas essas suposições são tão boas quanto qualquer outra hipótese aventada.
Ao chegar em nosso planeta no Período Permiano, Cthulhu se estabeleceu em uma vasta ilha (ou continente) localizado no Oceano Pacífico. Seus servos construíram uma gigantesca cidade de pedra verde chamada R´Lyeh que se converteu na sede e trono do seu Império. A Terra, no entanto já vinha recebendo a atenção de outros conquistadores espaciais. A Raça Ancestral (Elder Things) havia estabelecido bases no planeta há alguns milhares de anos e dominava grande parte da esfera.
Duas forças tão poderosas não poderiam coabitar um planeta tão pequeno sem resultar em um inevitável atrito. Uma guerra sem precedentes pela primazia global eclodiu entre as duas facções. A ciência incrivelmente avançada da Raça Ancestral, detentora de uma primazia sobre a genética, foi empregada contra o poder maciço das Crias de Cthulhu. Ao longo de milênios a disputa se manteve equilibrada com perdas pesadas em ambos os lados.
Quando a disputa começou a pender para as forças de Cthulhu, sobreveio um evento inesperado. Um novo alinhamento cósmico de estrelas em algum momento há 550 milhões de anos, forçou os Grandes Antigos a hibernar. Com efeito, a gigantesca cidade continente submergiu nas profundezas do Pacífico Sul causando tsunamis que remodelaram as massas continentais. As Crias de Cthulhu e o próprio Senhor de R´Lyeh buscaram refúgio nesse último baluarte, convertido a partir de então em um gigantesco mausoléu. Nasceu assim, a célebre cidade cemitério de R'Lyeh nas profundezas lodosas.
Nessas ruínas, Cthulhu aguarda pacientemente o dia em que uma nova conjunção irá se formar permitindo que ele e suas crias retornem triunfantes. O tempo, pouco importa. A passagem de Eras nada mais é do que um piscar de olhos para aquele cuja existência é ilimitada.
Na atual conjuntura, nenhuma força existente no planeta pode fazer frente ao colossal poder de Cthulhu. Seu despertar, quando ocorrer (e é uma questão de tempo) terá repercussões catastróficas para a humanidade e o mais provável é que nada sobreviva ao evento.
O que é Cthulhu?
A melhor maneira de compreender Cthulhu é buscar a resposta em tomos proibidos que compilam extenso saber sobre o Mythos. Seus autores tentaram determinar qual o papel de Cthulhu no Universo e seu significado.
Em certos tratados esotéricos Cthulhu é creditado como o Sumo Sacerdote de R´Lyeh, mas não há consenso a respeito de qual seria a entidade que ele venera, se é que isso é cabível. Certos textos dizem que Cthulhu serve aos intentos de Yog-Sothoth, o que seria razoável se consideramos verdadeira sua suposta migração transdimensional. A ausência de símbolos devotados a Yog-Sothoth nas ruínas de R'Lyeh faz com que essa teoria seja polêmica. Da mesma forma, os Abissais (Deep Ones) que veneram Cthulhu, evitam qualquer menção a Yog-Sothoth nos seus ritos religiosos o que não faria sentido se Cthulhu fosse seu sacerdote.
O nome de Cthulhu é mencionado muito mais frequentemente do que o de qualquer outro Grande Antigo. Seu culto é e sempre foi o mais difundido e atuante no planeta. Não há como traduzir em números, mas e plausível supor que cultos devotados a Cthulhu sempre estiveram presentes na história humana, desde a Atlântida, passando pela primitiva Idade da Pedra, pelas civilizações da Babilônia e Egito, por Roma, até a Idade das Trevas e nos dias atuais. Cthulhu -- ou alguma manifestação dele por outro nome, é citado na filosofia chinesa, nos vhedas hindus, em trechos dos Manuscritos do Mar Morto, no Talmud e alegoricamente na Bíblia e no Alcorão.
Algumas passagens no Texto de R´Lyeh, sugerem que Cthulhu será o primeiro dos Grandes Antigos a despertar e que caberá a ele a tarefa de acordar os demais. Os Tabletes de Zanthu afirmam algo semelhante ao chamá-lo de Arauto do Despertar, "aquele que irá anteceder todos os outros, e que por suas mãos despertará os que dormem desde a aurora dos tempos".
Ao longo das eras, alguns escritos apócrifos tentam lidar com o enigma de Cthulhu. Em alguns textos, Cthulhu é apontado como um Elemental da Água, mas essa teoria é no mínimo controversa uma vez que o oceano parece bloquear seus sinais telepáticos para a humanidade. Como um ser que representa um elemento poderia ser contido por este próprio elemento?
O Manuscrito de Sussex, afirma que Cthulhu seria uma manifestação extremamente poderosa de Nyarlathotep, embora nenhum outro tratado o veja dessa forma. Outra interpretação controversa defende que Cthulhu é mais do que um Grande Antigo, na verdade ele seria um Deus Exterior que representa o poder integral da Gravidade e a Coesão gravitacional que permite o funcionamento das engrenagens cósmicas. Mas se isso é verdade, como Cthulhu poderia ser contido pelo próprio balé cósmico das estrelas? A maioria dos acadêmicos do Mythos refutam essas duas teorias, mas como saber ao certo?
Quando se trata de Cthulhu, nada é conclusivo ou absoluto.
Sua própria existência física é colocada em xeque por estudiosos que o interpretam apenas na esfera conceitual. Cthulhu para esses teóricos é uma entidade interdimensional que reverbera na mente humana desde o início dos tempos. Por isso, dizem eles, os sonhos são a base de sua comunicação. O famoso Despertar de Cthulhu seria uma metáfora à descoberta da humanidade dessa herança ancestral ainda ativa no inconsciente coletivo humano. Por mais insana que fossem essas noções, elas encontraram defensores, sobretudo nos anos 1960-70 quando drogas eram usadas para ampliar os sentidos na esperança de acessar a mente de Cthulhu e forçar um despertar.
A Forma de Cthulhu
A representação clássica de Cthulhu condiz com aquela presente nas bizarras estatuetas usadas pelos seus cultistas como objeto doentio de adoração. A maioria dessas estatuetas foram construídas por indivíduos que receberam as emanações telepáticas de Cthulhu e que talharam pedra ou moldaram argila na forma daquilo que viam nos seus devaneios oníricos.
Muitos comentam que as estatuetas de Cthulhu produzem uma violenta reação emocional nos que as vêem pela primeira vez. É possível que o subconsciente humano, de alguma forma, esteja condicionado a reconhecer Cthulhu como uma suprema ameaça. Em resumo, algo na figura grotesca de Cthulhu traz à tona uma sensação de medo primitivo irracional implantada na mente do homem desde o início dos tempos.
[Nota: Essa é uma das melhores explicações sobre porque o Mythos causa insanidade na mente humana. É a explicação a qual eu costumo recorrer quando algum jogador afirma que nem todas as criaturas do Mythos ou seu conhecimento deveria ter um custo em sanidade. A loucura nesse caso não é causada pela informação em si, mas pela maneira que a mente humana registra essa informação e a interpreta por um viés de horror primitivo. Mas voltando ao texto...]
As estatuetas por mais tenebrosas que sejam, não são capazes de fazer frente ao verdadeiro horror que é contemplar o Grande Cthulhu. Nenhum artista humano, por mais inspirado ou degenerado, seria capaz de dar forma ao terror supremo. O Grande Cthulhu é a própria essência dos mais negros pesadelos.
Medindo mais de 40 metros de altura, ele é uma montanha antropomorfizada. Sua cabeça se assemelha a de um imenso polvo ou lula, dotada de milhares de longos tentáculos que se agitam sem parar e escorrem pela face como uma barba viva. Esses tentáculos são delicados, mas capazes de agarrar e apertar com enorme poder de constrição. Um tentáculo pode dobrar um vergalhão de ferro ou esmagar cada osso no corpo de uma vítima.
Mesmo que no decorrer de sua longa hibernação Cthulhu não precisasse de alimento, quando desperto ele carece de nutrição. Inúmeras referências a fome de Cthulhu atestam que ele deve ser um carnívoro com predileção pela carne de criaturas conscientes. Seus cultistas oferecem a ele sacrifícios, como forma de saciar a sua fome.
Os olhos de Cthulhu irradiam um brilho esverdeado com a mais pura maldade e resplandecem com inteligência e propósito inumano. Toda a enorme cabeça esponjosa se assemelha a uma medonha massa fungóide, recoberta por uma película de óleo brilhante. Ela é bulbosa e flácida com carne rugosa que remete a borracha vulcanizada. Não há fossas nasais ou auriculares, ainda que Cthulhu provavelmente possua olfato e audição.
O corpo de Cthulhu é titânico e colossal, representado na iconografia como algo geralmente humanoide. Ele se curva horrivelmente ante o peso da cabeça desproporcional, acocorado sobre as pernas curtas em uma posição quase obscena. Seus braços muito longos e delgados terminam em dedos dotados de garras recurvas semelhantes a imensas cimitarras, afiadíssimas. Os membros inferiores possuem garras semelhantes. Embora flácidas, elas são capazes de rasgar chapas de aço e de cortar um humano em pedaços sangrentos.
Para sustentar a imensa massa corporal, Cthulhu é dotado de um par de asas que muitos comparam a asas de morcego. Na verdade, essas estruturas aladas são formadas por uma membrana cartilaginosa similar às nadadeiras de peixes. Ao mover-se, o Grande Cthulhu usa as asas para manter seu equilíbrio batendo-as repetidas vezes. As asas embora sejam pequenas em comparação ao corpanzil são possantes o bastante para permitir alçar voo e impulsioná-lo pelo ar. Elas são mais eficientes no espaço exterior, concedendo a ele, na ausência de gravidade, maior capacidade de manobra.
Há fortes indícios de que a carne, ossos e a musculatura geral que compõe o corpo de Cthulhu não seja inteiramente material. Cthulhu seria portanto capaz de controlar a própria densidade corporal, tornando-se mais ou menos denso conforme sua vontade. Por essa razão ele conseguiria passar a ilusão de andar sobre a água ou manter parte de seu corpo na superfície como se estivesse de pé.
É possível entretanto, que o controle pleno dessa faculdade só se manifeste quando ele estiver definitivamente liberto dos efeitos das estrelas. Isso explicaria ainda porque o corpo de Cthulhu é desfeito por um choque direto, ao ser abalroado pelo navio Alert. O choque fez seu corpo se desfazer ee o obrigou a retornar a R'Lyeh. Mesmo com essa restrição, Cthulhu foi capaz de se reintegrar por completo, voltando a assumir sua forma original.
Muitos se perguntam esperançosos se Cthulhu poderia ser destruído por alguma arma ou engenho humano na iminência de seu despertar. Contudo, mesmo a arma mais poderosa que conhecemos, um artefato nuclear, meramente conseguiria desfazer sua forma por algum tempo. Eventualmente ele iria rearranjar sua estrutura até se reintegrar por inteiro. E então, seria radioativo.
Cthulhu é uma entidade de poder quase infinito e que parece fadado a um dia devastar com a civilização no processo de retomar o domínio sobre o planeta. Nesse dia, o de seu despertar, a humanidade será varrida da superfície e nada restará em seu rastro de destruição.
Uma matéria sobre a pronúncia correta de vários lugares e entidades do Mythos
ResponderExcluirBlog foda como sempre
Abrs
Muito bom! Eu gosto de imaginar nas minhas fanfics que Cthulhu é sobrevivente de um universo anterior / de outra dimensão (sempre deixando isso dúbio) que chegou em Xoth, um mundo oceânico, e lá transformou os seres ao seu bel prazer, criando os xothianos. Ao chegar na Terra, por um ciclo de ibernação (talvez levando sua consciência a outras dimensões e tal), ele dormiu. Mas não está preso e pode despertar quando quiser.
ResponderExcluirComo sempre um excelente artigo"
ResponderExcluirMas uma dúvida que sempre pairou em minha cabeça:
Como se pronuncia R'lyeh??
(na dúvida uso a versão do Craddle of Filth na música English Fire, que pronuncia "ár-li'eh")
Acho que seria "ri'li'eh
Excluirmuito bom. um bom artigo tratando do the mc dos mythos.
ResponderExcluir