sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Doce Abigail - Uma boneca maldita e um crime hediondo


Existem inúmeras histórias à respeito de bonecas malditas e assombradas. Pense bem, você já deve ter ouvido falar de algumas - Annabelle e Robert, para citar apenas dois casos famosos. Essas histórias chamam nossa atenção porque os alegados responsáveis pelas tragédias e horrores não são aquilo que se imagina. São algo inesperado e inconcebível aos olhos dos céticos. Afinal, essas coisas inanimadas não passam de brinquedos aparentemente inocentes: seus pequenos corpos de plástico e seus olhos arredondados foram feitos para encantar e fascinar crianças.

No entanto, relatos sobre bonecas malditas são mais comuns do que se imagina e alguns deles resultam em histórias violentas que parecem saídas de filmes de terror. Uma dessas histórias envolve uma boneca demoníaca que teria inspirado um crime hediondo.

Em 2011, Byron Robertson, de 45 anos e sua esposa Sarah, de 40, residentes de El Paso, Texas, foram condenados por um crime brutal. Os acusados foram submetido a vários testes psicológicos e foi determinado que Byron sofria de esquizofrenia paranoica. Mesmo assim, foi condenado à pena máxima; execução por injeção letal. Enviado para o Corredor da Morte, Byron recebeu medicação, tratamento e foi entrevistado repetidas vezes por psiquiatras do estado. 

Foi durante uma dessas entrevistas que o condenado resolveu revelar uma história bizarra que vinha guardando para si mesmo. Segundo ele, um tipo de força sobrenatural era a verdadeira responsável pelo crime do qual ele era acusado. O psiquiatra responsável pela entrevista, o Dr. Jack Randolph ouviu a narrativa avaliando se a pena poderia ser reformada por motivo de insanidade. Durante o procedimento, o sujeito descreveu em detalhes os incidentes aterrorizantes e circunstâncias inacreditáveis que antecederam o crime.  

Robertson começou a história contando a ocasião em que ele e a esposa saíram para comprar um presente para o aniversário de sete anos de Nancy. Na época, o casal passava por dificuldades financeiras, mas conseguiram juntar dinheiro para comprar um presente e fazer uma modesta festa de aniversário para a menina. Eles encontraram o presente ideal numa loja na cidade de Pecos, Texas, uma grande boneca de plástico que era um pouco estranha, mas bonita o suficiente para que eles considerassem um bom presente. O casal  estava certo de que Nancy adoraria e de fato, a menina ficou encantada pelo brinquedo. Nancy dormia com a boneca todas as noites, levava na escola para mostrar às amigas e até arrumava um lugar na mesa de jantar para a boneca. De fato, o aniversário tinha transcorrido esplendidamente, e Robertson o descreveu como um dos dias mais felizes de sua vida. No entanto, essa alegria não iria durar.

Com o tempo, o amor de Nancy pela boneca foi se transformado em uma obsessão. Ela passou a dedicar todo o seu tempo à boneca, vestindo-a e enfeitando-a enquanto ignorava os pais, os amiguinhos e colegas de classe. Passava horas em seu quarto conversando com entusiasmo com a boneca. Como acontece com muitas crianças, Nancy tinha uma amiga imaginária chamada Abigail. Não foi totalmente estranho quando os pais souberam que ela havia batizado a boneca com o mesmo nome e só se referisse a ela como "Doce Abigail", sua melhor amiga. 

Mas aquela "amizade" parecia mais e mais estranha. Nancy não brincava mais com os colegas, preferindo passar o recreio cochichando com a boneca. Ela também não atendia quando a professora a mandava deixar Abigail de lado para se dedicar às suas tarefas escolares. A situação ficou tão incômoda que a professora da menina chamou os pais e disse que se tratava de um apego exagerado. 

Robertson contou sobre isso:

"Em nossa casa, a vida de Nancy praticamente girava em torno daquela maldita boneca. Então ela começou a fazer coisas ainda mais esquisitas. Ela começou a vestir Abigail com suas próprias roupas e cortou o próprio cabelo como o de Abigail. Ela a levava para tomar banho, e usava seu próprio xampu e colônia na boneca. Mas o pior, é que todo dia e toda noite ela conversava com a boneca. Não apenas fingindo falar com ela, como fazem as crianças, mas tendo longas conversas, como se a coisa estivesse realmente respondendo a ela. Eu não gostava daquilo, não apenas por ser estranho, mas por Nancy fazer aquilo de forma tão natural, como se Abigail fosse uma criança realmente viva."

Os pais começaram a ficar incomodados com a situação e decidiram levar a boneca embora. Eles a esconderam num armário que foi trancado, Nancy não teria acesso a Abigail aquela noite. Isso deixou a menina realmente furiosa. Ela gritou, praguejou, xingou e quebrou coisas pela casa enquanto exigia saber onde estava sua amada boneca. Os pais jamais haviam visto a filha agir daquela maneira. Insistindo para que a devolvessem e até apanhando uma tesoura para ameaçá-los se não a entregassem. Nancy, normalmente uma criança tranquila e bem comportada, agia de forma descontrolada:

"No início, eu e Sarah nos mantivemos firmes em nossa decisão de afastá-la de Abigail. Mas a coisa continuou piorando! Não quero nem repetir as palavras que ela disse. Uma criança, não deveria falar daquela maneira, repetindo palavras que poucos adultos diriam. Sarah se manteve firme e mandou Nancy para o quarto sem jantar aquela noite. Ela xingou por algum tempo, mas então ficou quieta e achamos que havia pegado no sono. Quando minha esposa entrou no quarto mais tarde para ver como ela estava, levou um susto: Abigail estava na cama de Nancy!  

Sarah e eu ficamos apavorados com o que vimos porque tínhamos certeza absoluta de que trancamos aquela porcaria em nosso armário. Nancy estava dormindo profundamente, agarrada à boneca. Minha esposa e eu ficamos lá, imaginando como aquilo havia acontecido. Quando Sarah tentou apanhá-la, Nancy começou a gritar e se atirar no chão como se estivesse tendo um ataque epilético. Ficamos tão assustados que a deixamos com a boneca." 

De acordo com Robertson, os dois levaram a filha até um psicólogo infantil, mas este foi de pouca ajuda. Disse que a menina estava emocionalmente apegada à boneca, e que poderia ser prejudicial retirá-la abruptamente de seu convívio. Isso teria de ser feito gradualmente para evitar um trauma. Os dois concordaram, mas a medida que o tempo passava, Nancy continuava a se comportar de modo estranho. Nem mesmo outros brinquedos substituíam sua devoção para com Abigail. A menina ficava furiosa quando alguém simplesmente encostava em Abigail e chegou ao ponto de morder uma colega na escola, apenas por ela ter dito que a boneca era feia. A menina foi suspensa e uma consulta com um psiquiatra seria marcada para avaliar sua situação. Temia-se por um problema de natureza mental.  

Mas havia algo mais:

"A essa altura, nós sentíamos que o problema não era Nancy, mas a boneca... Havia algo nela, algo ruim. Não sei explicar, mas sei que se tratava de algo maligno! E estava levando nossa Nancy cada vez mais para longe de nós. Precisávamos fazer alguma coisa. Minha esposa e eu sabíamos que teríamos de nos livrar daquela boneca de uma vez por todas".

Contrariando a opinião do psicólogo, os pais chegaram à conclusão que precisavam destruir a maldita coisa. Para tanto formularam um plano: Decidiram dopar a menina com tranquilizante. Fizeram isso com o intuito de apanhar a boneca de seus braços enquanto ela dormia profundamente. Robertson estava furioso, odiava aquela boneca e a culpava pela situação de sua filhinha. A sua família estava se esfacelando por conta dela! Aquilo tinha que acabar! 

Ele contou ao psiquiatra:

"Não suportava mais ver aquela boneca. Sarah e eu nos livraríamos dela de uma vez por todas. Para ter certeza que seria definitivo, rasguei ferozmente o vestidinho dela e quebrei seus pequenos braços e pernas de plástico. Por medida de segurança, também arranquei sua cabeça usando uma faca que apanhei na cozinha. Ela foi jogada no lixo separada das outras partes. Ao todo foram quatro grandes sacos de plástico preto. Esperamos até amanhecer e assistimos o caminhão de lixo levar tudo embora. Quando o caminhão se afastou ficamos aliviados e Sarah até brincou dizendo, "Adeus Doce Abigail".

O casal estava ensaiando como dar a notícia para Nancy, mas estavam confiantes de que longe da presença da boneca, ela acabaria ficando livre de sua influência e aceitaria melhor a notícia. Algumas horas se passaram e então a campainha da porta da frente tocou. Byron abriu a porta e se deparou com um contingente de policiais obviamente tensos. Os policiais com uma expressão sombria deram ao casal voz de prisão. Quando quiseram saber do que se tratava, foram informados que o corpo de sua filha, Nancy, havia sido descoberto pelos lixeiros, horrivelmente mutilado e desmembrado.

A esposa sofreu um colapso nervoso naquele exato momento, sobretudo porque só então percebeu que as mãos do marido estavam vermelhas, bem como suas roupas, empapadas de sangue. O que realmente causou o mergulho de Robertson na loucura e o fez gritar em completo desespero, foi a descoberta daquilo que estava no quarto de sua filha. A cama onde ele esperava encontrar Nancy dormindo profundamente. Ali, ele achou apenas a boneca maldita, Abigail, vestindo o pijama de sua filha e sorrindo para ele.  

Os Robertson foram acusados do assassinato da própria filha. Byron negou veementemente durante todo julgamento a autoria daquele crime medonho, mas ninguém acreditou nele. As provas eram praticamente irrefutáveis: arma do crime, sangue em suas mãos e roupas, cena do crime, digitais positivas... parecia claro que ele, num acesso de fúria havia matado e mutilado a menina. Sarah em estado catatônico, foi enviada para um manicômio judiciário.

Byron disse que queria contar ao mundo inteiro que a boneca era a responsável pela tragédia e que os havia enganado através de algum transe diabólico, que o fez matar Nancy sem perceber. Contudo, ele mesmo sabia que soaria como um lunático se o fizesse. Os dois foram julgados em separado e nunca mais tiveram autorização para se ver. Pouco depois, Sarah sufocaria em sua cela após engolir a fronha de um travesseiro. Apenas quando soube da morte da mulher é que Byron de forma muito relutante aceitou falar com o psiquiatra e contar sua versão do que havia acontecido.

O Dr. Randolph, psiquiatra do estado, transcreveu o conteúdo da entrevista sigilosa e recomendou que Byron fosse considerado incapaz de receber a punição fatal pelo seu crime. Em sua opinião, ele não tinha capacidade de entender o teor de seu crime e por isso inventou uma história absurda a respeito de uma boneca diabólica e maligna. Esquizofrênicos paranoicos, por vezes, agem dessa maneira. Sua mente fraturada criou uma história que ele acreditava ser verdadeira.

No relatório assinado pelo Dr. Randolph, ele tomou o cuidado de anotar exatamente as palavras do condenado em sua derradeira entrevista:

"Vocês podem me matar e fazer de mim a terceira vítima daquela boneca. Mas, por favor, me escutem! Por favor, destrua a boneca. Vocês podem se livrar de mim, mas, por favor, pelo amor de Deus, livre-se daquela coisa também."

Byron Robertson continua no corredor da morte na Prisão de Fort Worth aguardando decisão quanto a sua sentença. O caso está sendo avaliado e existe a chance de sua pena ser alterada para prisão perpétua por conta de insanidade.

O corpo de Nancy Robertson foi enterrado no cemitério municipal de El Paso, a poucos metros da sepultura de sua mãe, Sarah.

O paradeiro de Doce Abigail é desconhecido.


5 comentários:

  1. Daria um filme interessante [2]

    Bonecos facilmente entram no chamado "uncanny valley", e tendem a ser assustadores, principalmente aqueles que são do tamanho de bebês!
    Em Ravenloft tem até um tipo de monstro assim, chamado "Doll Gollem" e a ilustração dele no manual de monstros é claramente inspirada no Chucky! kkkkk

    Aproveito para deixar aqui a minha divulgação (sou apenas uma rêmora perto de você, King in Yellow)!

    Para quem gosta de RPG e/ou Literatura:
    https://bardodanevoa.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. Absurdamente horrível. Mas completamente plausível. Eu que já vi um brinquedo se mecher, acredito.

    ResponderExcluir