sábado, 4 de setembro de 2021

O ídolo pagão - Descoberta fantástica num pântano da Irlanda


Arqueólogos irlandeses recuperaram essa semana das profundezas lamacentas de um pântano no norte do país um ídolo pagão de 1600 anos de idade.

O artefato de natureza religiosa foi desenterrado nos charcos de Gortnacrannagh, a cerca de seis quilômetros do sítio arqueológico de Rathcroghan, um dos assentamentos antigos mais importantes do país. O ídolo foi construído na Idade do Ferro, a partir do tronco dividido de um carvalho, tendo uma pequena cabeça em formato humano em uma extremidade e várias marcas horizontais entalhadas ao longo de seu "corpo". Ele mede aproximadamente 1,90 m e ao que tudo indica, representa algum tipo de divindade ou ser místico que favorecia a caça e/ou a sobrevivência. Em tempos antigos, tais entidades eram reverenciadas como forças primais ou espíritos que podiam auxiliar os mortais nas tarefas do dia a dia, tarefas estas que geralmente eram essenciais para a sobrevivência em condições extremamente adversas.

Menos de uma dúzia de ídolos semelhantes foram encontrados na Irlanda, embora estes objetos fossem de uso comum, já que cada clã ou célula familiar contava com ao menos um destes. Venerar tais objetos era algo corriqueiro no período e disseminado entre a população em geral. Infelizmente, a grande maioria desses ídolos primitivos, não sobreviveu à introdução da cristandade que substituiu as crenças pagãs pela sua doutrina. A maioria das peças conhecidas foram encontradas no mesmo pântano, sendo que o Ídolo de Gortnacrannagh é o maior achado até o momento.


A peça foi encontrada por uma equipe do Archaeological Management Solutions (AMS), trabalhando em parceria com o projeto de construção da rodovia N5 que vai unir Ballaghaderreen a Scramoge. O projeto tem sido supervisionado por pesquisadores e arqueólogos que auxiliam na identificação e remoção de objetos históricos no local. Desde o início das obras, já foram coletados 250 artefatos antigos, encontrados nos charcos que estão sendo lentamente drenados para o empreendimento. 

Dra. Eve Campbell, supervisor da AMS e chefe da escavação do sítio disse que o ídolo foi entalhado cerca de 100 anos antes de St. Patrick, o padroeiro da Irlanda chegar ao país. 

"Tudo indica que se trata de uma divindade pagã, para a qual se prestava homenagem", explicou o Dr. Campbell. "Nossos ancestrais viviam nas terras inundadas desse charco, que já existia em seu tempo. Eles habitavam esse lugar e o consideravam como algo místico que os conectava aos seus deuses e ao mundo espiritual. O pedaço de tronco possui evidências de ter sido atingido por uma forte descarga de eletricidade, o que possivelmente foi interpretado pelos homens como um sinal dos deuses. Quando uma árvore, pedra ou objeto era atingido por raios em meio a tempestades, os homens primitivos consideravam que os deuses o haviam tocado, o tornando de alguma forma mágico e especial". 

A Dra. Campbell acredita que os charcos escondem muitos outros objetos religiosos enterrados na lama que foram descartados ao longo dos séculos de presença humana em Gortnacrannagh. 


"A descoberta de ossos de animais próximos a uma adaga ritualística sugere que sacrifícios de animais tenham sido realizados no sítio e que o ídolo era usado nessas cerimônias de maneira preponderante. É possível que toda uma clareira fosse tratada como uma espécie de templo. O ídolo ficaria fincado no centro desta área, em um lugar de destaque. A congregação se reunia ao redor dele, enquanto que druidas, as figuras responsáveis pelos rituais, ficavam ao lado dele, interpretando os desígnios dos deuses".

Ídolos de madeira similares são conhecidos em toda porção norte da Europa, onde condições favoráveis permitiram a preservação da madeira antiga que os constitui. 

A parte posterior da figura sugere que ela era ainda maior e que era mantida fincada no solo como uma espécie de totem. Ao redor dele, os rituais, que envolviam dança, música e veneração aconteciam. O propósito do ídolo ainda está aberto a interpretação, mas com certeza ele era de suma importância, marcando a paisagem e representando os indivíduos que lhe rendiam homenagem. Tais ídolos tiveram enorme impacto no surgimento de tribos, que se reuniam para venerar um mesmo objeto, unindo assim diferentes clãs familiares que possuíam uma mesma crença. Eram estes deuses pagãos que oficializavam a união de diferentes clãs e abençoavam o nascimento de crianças. 


Este sistema de crenças remonta a épocas ainda mais antigas quando os ídolos recebiam tributo e até mesmo sacrifícios por parte de seus cultistas. "Não era totalmente estranho haver algum tipo de sacrifício, inclusive humano, diante dessas imagens. Para a cultura primitiva, o sacrifício era uma espécie de taxa ou imposto, pago para que a terra continuasse oferecendo recursos para a sobrevivência da coletividade. Não era algo imoral ou absurdo, mas uma necessidade a ser cumprida perante os deuses", explicou a Dra. Campbell.

Até o momento, não foram encontrados ossos humanos nessa parte do pântano, entretanto para os especialistas não será surpresa se removerem em algum momento restos humanos pertencentes a indivíduos que serviram de sacrifício.

O Ídolo de Gortnacrannagh foi transferido para a Universidade de Dublin (UCD), onde receberá um tratamento de limpeza e conservação para apenas depois ser estudado, catalogado e provavelmente disposto para apreciação pública no Museu Nacional. Uma réplica exata dele será temporariamente posto em exibição no Centro de Arqueologia e Cultura do Museu no mês de Outubro. 

A peça tem sido tratada como uma das representações mais importantes do passado da Irlanda: "Esse é um objeto único e extremamente significativo que nos ajuda a compreender o passado e como nossos ancestrais viviam".

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Não sei quanto a vocês, mas a descoberta desses ídolos ancestrais, sempre me parece algo saído de clássicas histórias de fantasia e terror.

Um ídolo bizarro que de alguma forma representa uma divindade obscura, assustadora, tenebrosa, interessada em devorar seus cultistas e transformá-los em escravos de seus caprichos. E agora que foi removida da terra, onde permaneceu inerte por milênios, é o momento dela renascer de alguma forma e lançar um manto de horror sobre a humanidade. Alguém precisa detê-lo antes que seja tarde demais!. 

Ok, devaneios de quem leu muitas histórias do gênero e projeta na realidade, parte da ficção.

Agora, é inegável que tais descobertas arqueológicas ajudam a criar um panorama de estranheza, curiosidade e fascínio. Imagine um pântano isolado, 1600 anos atrás, onde numa clareira ocorria o encontro de diferentes clãs que dançavam, evoluíam e prestavam veneração a um ídolo de madeira. Lá à luz de tochas, deitavam sacrifícios e imploravam pela intercessão de divindades tão poderosas quanto enigmáticas, prostrando-se diante delas em total subserviência.

E ainda que sejamos extremamente arrogantes e cínicos ao considerar essas crenças como meras superstições, é impossível não imaginar se algo do outro lado não estaria realmente... ouvindo.

Um comentário:

  1. "Não sei quanto a vocês, mas a descoberta desses ídolos ancestrais, sempre me parece algo saído de clássicas histórias de fantasia e terror". idem.

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