quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Monstros Imaginários - O poder da Histeria Coletiva em dois casos curiosos


O comportamento de massa pode ser algo muito curioso.

Um teste muito conhecido realizado algumas décadas atrás envolvia uma pessoa na rua olhar para o céu atentamente se negando a responder perguntas à respeito do motivo para estar fazendo isso. Dentro de instantes, uma ou duas pessoas começam a fazer o mesmo. Ao perceber estes olhando, mais alguns o fazem, e logo, muitas pessoas estarão paradas olhando para o céu sem razão alguma. Mais interessante ainda: se alguém criar a história de que há um objeto voador estranho e que essa é a razão para estar olhando para o alto; pode apostar: algumas pessoas vão dizer que viram algo inexplicável no céu. Alguns vão afirmar que acreditam ter visto algo, outros que com certeza viram algo e outros ainda, vão descrever o tal objeto em detalhes.

Não se trata de inventar ou mentir, ou mesmo de má fé, mas de um comportamento de massa que nos acompanha desde o início dos tempos.

Um caso clássico ocorreu em 1976 na Malásia, quando uma série de surtos e suposta histeria coletiva atingiu o país. Na ocasião as vítimas manifestavam uma série de efeitos bizarros, alguns de natureza física, atribuídos segundo as crenças locais a entidades sobrenaturais que os afligiam.


Entre os sintomas descritos pelas vítimas havia vertigem, náusea, dificuldade para respirar e até desmaios sem motivo aparente. Algumas pessoas teriam até mesmo manifestado um estado de torpor semelhante a um transe do qual não conseguiam despertar, nem mesmo quando sacudidos bruscamente. À medida que os dias passavam, mais e mais pessoas se queixavam dos estranhos efeitos. Haviam pessoas literalmente caindo nas ruas ou incapazes até de acordar de manhã.

Mais estranho ainda: algumas vítimas afirmavam ver figuras misteriosas rondando ou espreitando nas cercanias. Os descreviam como vultos furtivos, sombras escuras e fantasmas imateriais que apareciam de um momento para o outro. Estas formas também atravessavam paredes, flutuavam no ar e desapareciam sem deixar vestígio causando choque e terror entre as testemunhas.  

As vítimas tinham em comum o fato de serem todas jovens estudantes do sistema escolar local. Eram crianças e adolescentes entre 7 e 18 anos de idade, que diziam ver as criaturas poucos instantes antes de manifestar algum dos estranhos sintomas. Uma vez que algumas das vítimas afirmavam que rezar e implorar por proteção divina atenuava os efeitos, as pessoas passaram a acreditar que as crianças estavam sendo atacadas por espíritos. 

No entanto, uma investigação dos psicólogos Raymond Lee e S.E. Ackerman, que se dedicaram ao caso, contou uma história bem diferente.


Os psicólogos reconheceram nos estranhos ataques manifestações de comportamento de massa, mais especificamente histeria coletiva. Bastava uma criança manifestar os sintomas para que outras fizessem o mesmo. Em uma única sala de aula, doze crianças manifestavam os efeitos. Curiosamente, toda vez que um grupo de curandeiros malaios era chamado para ajudar, estes distribuíam talismãs ou realizavam rituais para apaziguar os espíritos, fazendo as coisas voltar ao normal, ao menos, até o próximo episódio eclodir.

Lee e Ackerman observaram em seu estudo que tanto eles quanto os curandeiros malaios encontraram maneiras de explicar o fenômeno. Os curandeiros, acreditavam que espíritos estavam agindo em retaliação a um grupo de crianças que supostamente teriam ridicularizado um sacerdote local. Para eles, era necessário apaziguar os espíritos usando magia e rituais. Quando estes eram realizados, os espíritos deixavam as crianças em paz. Os psicólogos tinham outra abordagem do caso. relacionaram os casos com profundas mudanças sociais no país. A Malásia passava por uma transição cultural na qual crenças antigas de pais e avós não eram mais tão importantes para os filhos. Isso produzia um stress que se manifesta de maneiras peculiares; neste caso, com a percepção de que fantasmas, estariam os punindo por não respeitarem tradições.

Esse caso de histeria coletiva relatado acima e ocorrido no final dos anos 70, não foi de forma alguma o único incidente em que um pânico peculiar se instalou repentinamente num lugar e se espalhou entre a população. 

Um dos incidentes mais bizarros envolvendo Histeria Coletiva foi documentado no início do ano 2000 quando centenas de pessoas viram um misterioso "Homem Macaco" na cidade de Nova Delhi, na Índia. O caso atraiu atenção de profissionais clínicos, das autoridades e da mídia.


Descrito na maioria dos relatos como uma criatura semelhante a um enorme primata, o "Homem-Macaco de Delhi" passou semanas aterrorizando residentes em diferentes áreas da capital indiana. O pânico era tamanho que alguns residentes organizavam caçadas pelas ruas e até mesmo nos telhados das casas. Outros acendiam enormes fogueiras para tentar afastar a criatura, queimavam incenso e pediam proteção aos deuses. 

As descrições sobre a aparência da besta variavam enormemente: alguns relatos diziam que a criatura era um tipo de símio de grande porte coberto de pelos escuros e compridos. Seria semelhante a um enorme gorila, com mais de 2 metros e meio de altura e a força proporcional de 10 homens. Além disso, seria muito inteligente, conseguindo arrombar portas e janelas para entrar nos domicílios afim de roubar objetos e comida. Algumas testemunhas diziam, no entanto, que ele era pequeno e esguio, com pelos castanhos e não maior que uma criança. Escalava com facilidade e podia escapar saltando nas copas e galhos das árvores. Os mais criativos misturavam as teorias, concluindo que se tratava de mais de uma criatura, ou então, que ela podia assumir a forma que bem entendesse adotando o físico que melhor lhe servisse à situação.

Os rumores se espalhavam com uma velocidade impressionante. Não demorou até que surgissem narrativas perturbadoras de que o "Homem-Macaco" havia matado com suas mãos e que, uma vez experimentando esse prazer, estaria disposto a matar novamente quem se metesse no seu caminho. O pavor era tamanho que os residentes andavam armados, crianças eram proibidas de sair de casa e algumas regiões decretaram toque de recolher. Como o monstro era visto mais à noite, as ruas ficaram subitamente vazias, lojas e restaurantes fechavam suas portas e o terror era palpável. Os avistamentos do "Homem-Macaco" se multiplicavam nas mais variadas áreas da cidade e adjacências. Em uma única noite, o monstro foi visto em seis distritos diferentes - ele parecia estar em todo canto! A polícia não conseguia dar conta da quantidade assombrosa de telefonemas e denúncias.

Apos quase tres semanas de histeria, a história finalmente começou a perder força, sobretudo porque houve uma grande campanha para conscientizar a população que a criatura simplesmente não existia. Um acordo inédito entre a prefeitura de Nova Delhi, as forças policiais e a imprensa trataram de demonstrar que as histórias sobre o Homem-Macaco não passavam de boatos infundados. Ainda assim, haviam pessoas que juravam ter visto o monstro, escapado dele ou até mesmo, lutado com a criatura.

Mesmo hoje, passados 20 anos, Nova Delhi ainda lida com rumores do "Homem-Macaco" sendo visto. Uma pesquisa realizada em 2016 apurou que mais da metade da população acreditava que o monstro era real e que ele simplesmente estava escondido aguardando o momento de ressurgir.


O surgimento de monstros imaginários não é, entretanto um fenômeno de países do oriente. Personagens míticas; do Pé-Grande, ao Sasquatch, passando pelo Spring-Jack Weeled que apavorou Londres no século XIX, as serpentes marinhas e mais recentemente, o Chupa-cabras na América do Sul, podem ser exemplos flagrantes de histeria coletiva. Muitos dos avistamentos de discos voadores também podem ter sido causados por um comportamento de massa. Não faltam narrativas de pessoas que acreditam ter experimentado algum tipo de contato direto com criaturas ou entidades mágicas.

Existe alguma relação direta entre o aparecimento de criaturas coincidindo com períodos reconhecidos de estresse e mudança social? A resposta parece afirmativa, contudo concordar inteiramente com essa observação nos levaria a supor que todos os casos de avistamentos de seres incomuns, poderiam ser explicados como histeria coletiva. É verdade que alguns psicólogos tentaram tal abordagem, mas supor que TODAS essas ocorrências ​​tem origem sociológica apresenta mais dúvidas (e problemas) do que certezas. Há casos e casos, e como diria a citação, parece "existir mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia".

Além disso, episódios de monstros gerados por histeria coletiva, por mais reais que pareçam, não deixam pegadas no solo, não produzem vítimas fatais ou aparecem em fotografias e filmes produzidos por testemunhas. É fato que a imaginação humana pode produzir fantasmas muito reais, mas até que ponto seriam eles a explicação para nossos medos e apreensões?

De toda forma, há monstros e mistérios fadados a permanecerem conosco, nos assombrando e aterrorizando, não importando que sejam eles reais ou fruto de nossa imaginação.  

2 comentários:

  1. Quando as histórias começam a cair na boca das pessoas, aí vira bagunça, mas o que sempre me incomodou, é aquela primeira pessoa que viu. As pessoas depois vão aumentando o conto, mas sempre tem a primeira pessoa a avistar, e acho que o relato dessa primeira pessoa que deve ser visto com seriedade até que se prove o contrário. Uso como exemplo disso o fenômeno OVNI. Com certeza tem muita bagunça no meio, muito por culpa dos próprios ufólogos que dizem que tudo é coisa de alienígena, inclusive as obras da humanidade no passado, aí uma coisa que deveria ser séria, fica com cara de piada.
    Porém, tenho como exemplo de que esse comportamento prejudica coisas que valeriam análises e estudos, o meu próprio avô:Ele já viu um OVNI. Minha mãe e avó estavam com ele e viram. Ele não contou pra outras pessoas, e isso aconteceu com ele em uma estrada durante uma viagem, naqueles pontos que a rua é deserta. Ou seja, não tinha ninguém pra causar esse efeito de histeria coletiva. E até hoje, ele nunca mudou nada nesse relato, sempre o contou da mesma forma. Por isso que, para mim, não se deveria relegar tudo à explicação de histeria coletiva. Há muitos mistérios no mundo, ainda sem explicação, mas infelizmente muita gente enfeita demais o negócio e tudo fica com ares de piada.

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  2. ótima matéria mano
    to acompanhando tbm o canal Segredos e mistérios no YT q fizeram uma parceria com vcs, valewss

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