segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Assombro na Escuridão - A Entidade de Sombras que habita o Trapezoedro Brilhante

 

Anteriormente falamos a respeito do misterioso Trapezoedro Brilhante e de suas características principais. Mas é impossível mencionar esse artefato sem falar do horror sombrio ao qual ele está ligado e que segundo alguns teóricos habita seu interior cristalino. Para alguns estudiosos, o Trapezoedro não é uma simples joia mística que garante visões alucinantes, tampouco é apenas uma janela para vislumbrar paisagens alienígenas, mas sim um portão escancarado. Ele permite que a sinistra entidade sombria, o Assombro na Escuridão, se manifeste em nosso mundo e surja para perpetuar o horror num bater de asas negras.

O Assombro na Escuridão, também conhecido como Habitante da Escuridão, é um poderoso Avatar de Nyarlathotep, uma de suas faces ou máscaras mais infames. A hipótese de que ele seria de alguma forma vinculado ao artefato, como um Guardião ou protetor é levantada por alguns autores, como por exemplo Von Junz que em seu Unausprachlichen Kulten menciona a entidade como um tipo de sentinela, invocado para lidar com os não iniciados que manipulam o Trapezohedro. Abdul al-Hazred, no entanto, tem opinião divergente, no Necronomicon ele escreve que o Assombro se manifesta principalmente para receber tributo e adoração daqueles que tocam o artefato. Mas se estes, forem infiéis, ele os pune com todo rigor, uma vez que mãos ímpias não devem tocar impunemente a Joia do Caos.

A origem do Assombro na Escuridão é incerta, mas alguns pesquisadores buscaram sondar sua gênese. Com certeza, os Fungos de Yuggoth estão entre os que primeiro veneraram esse Avatar do Caos Rastejante e por isso, seu conhecimento é importante para tentar conceituar a criatura. Os Mi-Go acreditam que o Assombro seja nativo de Yuggoth e que ele já habitava o planeta anão que chamamos Plutão, muito antes deste ser transformado em sua principal colônia no Sistema Solar.


Especula-se que os Mi-Go tenham encontrado o Assombro encerrado em cavernas profundas no coração do planeta e que ao romper certos lacres, firmaram com ele uma aliança duradoura. Se isso for verdade, não há qualquer menção sobre quem ou o que foi responsável por prender o Assombro em primeiro lugar e que lacres eram estes que limitavam sua liberdade. Seja como for, os Mi-Go passaram a reconhecer a criatura pelo que ela é, uma faceta de um Deus Exterior e portanto algo digno de ser venerado.

Quando os Mi-Go perderam o Trapezoedro, o culto dedicado ao Assombro também perdeu adeptos e foi gradualmente abandonado, sendo substituído pela adoração irrestrita à Deusa Shub-Niggurath. Os Mi-Go se recordam do Assombro e respeitam seu poder, mas não possuem mais nenhum templo dedicados a ele. Curiosamente, a Raça Ancestral, a espécie que reclamou o Trapezoedro, jamais rendeu tributo ao Assombro e não ousou usá-lo como arma em suas guerras, nem mesmo contra seus mais obstinados inimigos. Mesmo quando os Shoggoth se revoltaram, eles preferiram não invocar o Assombro por temer perder o controle sobre ele. A maior contribuição da Raça Ancestral, no que diz respeito ao artefato, se limitou a criar para ele uma caixa que o protegesse ao longo das eras, nada além disso.

A primeira raça inteligente aborígene da Terra que controlou o Trapezoedro Brilhante foi o Povo-Serpente da Valusia e sabe-se que eles fizeram uso extensivo do artefato quando sua civilização atingiu o ápice. Os Reis-Feiticeiros do Povo-Serpente empregavam o artefato como uma joia real que simbolizava poder e autoridade. Embora o Povo-Serpente fosse desde o início dos tempos servil a Yig, é possível que os Reis também homenageassem o Assombro, já que ele era convocado para atender aos rituais sagrados nas Torres de Basalto Negro. Quando uma guerra civil fragmentou a civilização dos homens ofídios, o Trapezoedro foi mandado para a Lemúria como forma de conciliar as diferenças. Possivelmente, isso atendia também uma demanda para que o Rei-Feiticeiro deixasse de prantear o Assombro e se dedicasse apenas a Yig.


Após passar brevemente pelas mãos de cultistas na Lemúria, coube ao Rei bárbaro Kull da Atlântida reclamar o artefato para si. Contudo ele mais o protegeu do que o empregou, uma vez que sabia da natureza do Trapezoedro e que ele poderia terminar por sobrepujá-lo. Perto de concluir seu reinado na mítica Era Thuriana, o Rei Kull atirou o artefato no mar, rogando aos seus Deuses particulares, Valka e Hotath, que mantivessem a joia nas profundezas insondáveis. Mas sabemos que infelizmente não foi isso que aconteceu.

O Trapezoedro foi encontrado milênios mais tarde, e fez seu caminho até as ávidas mãos do despótico Faraó Nephrem-Ka. E se os historiadores sabem de algo à respeito do reinado desse obscuro regente do Egito antigo, é que ele se tornou conhecido como Apóstata, ou seja, renunciou ao Panteão convencional para se dedicar aos temidos Deuses de outrora. Nephrem-Ka foi um feiticeiro e como tal venerava os Mythos, em especial Nyarlathotep. Se ele se tornou um seguidor do Caos Rastejante depois de obter o Trapezoedro ou se já o era antes, não se sabe. O fato é que até o fim de seu reinado, encurtado pela revolta promovida pelo Faraó Sneferu, Nephrem-Ka ofereceu sacrifícios e adoração a Nyarlathotep em várias de suas formas. Acredita-se que o Assombro nas Trevas foi invocado frequentemente pelo Faraó proscrito para aprovar rituais medonhos realizados aos pés da Esfinge.

Pouco antes de ser assassinado, Nephren-Ka cogitou enviar o Assombro para matar Sneferu, mas a essa altura ele já havia perdido parte de seu poder e estava em fuga. Ele não ousaria arriscaria despertar a ira do Assombro, pedindo a ele que eliminasse um inimigo mortal. Ao invés disso, decidiu esconder o Trapezoedro longe do alcance de seus oponentes que fechavam sobre ele o círculo. Gerações mais tarde foi a vez da cruel Rainha Nitocris fazer uso do artefato e do avatar. Diferente do dono anterior, a Rainha invocava o Assombro frequentemente e o lançou contra seus oponentes. Contudo sabemos que ela era seguidora do Faraó Negro (outro avatar do Caos Rastejante) e não do Assombro em particular.


Em tempos contemporâneos, após a descoberta do artefato pelo arqueólogo Enoch Bowen, tanto o Trapezoedro quanto seu habitante maldito se tornaram centrais para o culto fundado em Providence, o Sabedoria Estrelada. A seita realizava adoração aberta ao Assombro na notável igreja de pedra no topo de Federal Hill. Sabe-se que os serviços, realizados sempre nas noites mais escuras do ano, envolviam a invocação do horror que voava pela nave central da Igreja em rasantes sobre os devotos. Muitas vezes, ele recebia sacrifícios na forma de vítimas inocentes sequestradas pelos cultistas nas ruas de Providence. Acredita-se que o Assombro tenha voado livremente sobre Providence ao menos uma vez em noites especialmente negras. Felizmente o Culto terminou depois de ser antagonizado pelos moradores ultrajados com as estranhas cerimônias conduzidas. Na última vez que o Assombro se viu livre, em 1935, ele matou o autor Robert Blake que havia encontrado o Trapezoedro na Igreja abandonada. A insólita morte de Blake, supostamente causada por uma descarga elétrica, jamais foi explicada de maneira convincente.

Curiosamente, o Assombro na Escuridão é venerado em um local muito distante do último paradeiro conhecido do Trapezoedro. Tribos de aborígenes que habitam o sertão australiano o conhecem por vários nomes: Pai de todos os Morcegos, Devorador de faces, Asa Negra e Morcego da Areia. Essas tribos supostamente estabeleceram contato com o Assombro através de rituais que lhes permitiu abrir um portal para que o Avatar se materializasse. O Culto do Morcego da Areia de Perth, talvez seja o único culto existente devotado exclusivamente para o Assombro.

O Assombro na Escuridão se manifesta como uma enorme sombra, com a forma aproximada de um morcego. Suas imensas asas negras podem atingir 5 metros de envergadura, mas existem indícios de que esse tamanho pode variar de acordo com sua vontade. As asas impulsionam o Assombro pelo ar e permitem que ele alcance velocidades impressionantes tanto na atmosfera quanto no espaço. A capacidade aerodinâmica do Assombro é notável, permitindo a ele executar mergulhos e rasantes quando persegue presas, bem como pairar suspenso ao seu bel-prazer. Embora as asas permitam o voo, elas parecem ser compostas de uma substância imaterial, quase como uma sombra viva. É um fato que as asas não produzem qualquer som. O corpo do assombro, também possui certo grau dessa composição umbrosa, mas diferente das asas tem materialidade. Seu corpo é delgado e longilíneo, com uma musculatura lisa bem definida, por vezes apresentando características humanoides, mas em outras algo mais similar ao corpo de um quiróptero. Sua carne é escura como a noite mais escura, adaptando-se às sombras e em meio a elas ficando praticamente invisível. 


O Assombro possui o equivalente a uma cabeça na mediatriz entre as asas, ocupando o topo de seu tronco. Essa cabeça surge como um tentáculo ou como um borrão cavernoso no qual desponta o único marco facial da criatura: um olho dividido em três lobos. Este olho único de cor avermelhada brilhante parece funcionar como um sensor de calor, embora seja possível que ele tenha uma percepção sensorial que foge à nossa compreensão. Não há boca, ouvidos ou narinas perceptíveis na face inescrutável da entidade.

A criatura ataca voando sobre um alvo, o engolfando com suas asas de sombra e escuridão. Em seguida a vítima é fustigada por um calor sem chama que dissolve pele e ossos rapidamente. A natureza exata desse calor é desconhecida, mas supõe-se que possa ser radioativa. Tudo que resta ao fim dessa investida são restos carbonizados de ossos enegrecidos e cinzas dispersas ao vento. O Assombro, no entanto, reserva um outro tipo de execução àqueles que o desagradam ou desafiam. Para isso, ele se aproxima da vítima, geralmente quando esta está examinando o Trapezoedro ou sob o seu transe; em seguida perfura o topo do crânio, para ganhar acesso ao cérebro e devorá-lo. A morte é imediata, mas os cultistas acreditam que a consciência da vítima é extraída dessa maneira e se torna escrava da vontade da entidade para sempre.

Os cultistas creem que o Assombro estabelece um elo mental com todos aqueles que experimentam visões proporcionadas pelo Trapezoedro. Essa seria a fonte da "sensação incômoda de estar sendo observado", descrita por muitos que tiveram acesso ao artefato. O Assombro passa a ser capaz de rastrear um humano com quem estabeleceu o elo, não importa onde ele esteja. Esse vínculo permite que a criatura exerça certo grau de controle, compelindo a vítima a vir até ele. Em certos casos esse domínio é tamanho que o Assombro consegue manipular o indivíduo, como se este estivesse em um tipo de transe hipnótico ou sonambulismo. Um sinal claro de que a pessoa estabeleceu um elo com a criatura é o desenvolvimento de sensibilidade à luz e visão no escuro. Essa forma de controle é extremamente prejudicial, já que a mente humana não foi feita para suportar essa sobrecarga psíquica. Muitos indivíduos submetidos a esse controle acabam adquirindo sequelas ou morrendo. Uma autópsia revela um cérebro encolhido e calcinado por uma temperatura altíssima que o cozinhou de dentro para fora.

A única fraqueza do Assombro na Escuridão é a luminosidade. 

Mesmo pequenas fontes luminosas, como tochas e velas são o bastante para mantê-lo à distância, enquanto poderosas fontes de luz, como holofotes, podem conseguir bani-lo. A exceção para essa regra é a luz natural de estrelas e da lua, que não parecem afetá-lo. Mesmo uma simples vela basta para que a criatura se mantenha afastada e evite a aproximação direta. O Assombro, no entanto, é capaz de manipular seus alvos e fazer com que eles se aproximem de um de seus covis imersos em completa escuridão. Por razões óbvias, a invocação do Assombro só pode ser realizada em um ambiente protegido da luz, sendo que o sol é capaz de bani-lo em instantes, bastando incidir sobre ele. Nesse caso a criatura se dissolve até desaparecer por completo. Isso, contudo não significa que ela foi destruída, o Assombro pode se reformar dentro de alguns dias com suas capacidades renovadas mas sem o elo mental que havia estabelecido.

O Assombro é um terror impossível de ser controlado ou compreendido em sua integralidade. Os portadores do Trepezoedro raramente alegam ter poder sobre a entidade e se dedicam a servi-la fielmente e aplacar seus caprichos. 

*     *     *

E aqui temos o vídeo do canal Explorando Mistérios e Segredos que reproduz o texto:


3 comentários:

  1. Bem que eu estava me questionando o que o Trapezoedro Brilhante, afinal, fazia...

    ResponderExcluir
  2. bom post, mas fiquei um tanto confuso. em um momento o texto diz que a luz das estrelas não afeta o assombro más em outro diz que a luz do sol pode banir a coisa. deixei algo passar ou foi erro mesmo?

    ResponderExcluir
  3. O sentido é que exposição direta a uma Estrela próxima afeta o Assombro, já a luz mais distante não causa qualquer efeito.

    ResponderExcluir