quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Feliz Natal Assustador - Espíritos Natalinos Bizarros


O Natal está chegando e em todo canto as crianças estão escrevendo suas cartinhas para o Papai Noel, esperando receber seus presentes - isso é, se tiverem sido boas ao longo do ano. Mas não importa o quão estranho pareça receber presentes de um homem gordo alegre que conduz um trenó puxado por renas voadoras, Papai Noel não é o personagem mais bizarro ligado ao folclore de Natal.

Histórias passadas de pai para filho e embelezadas com a narrativa ao longo dos séculos nos deram um elenco de personagens bizarras. Alguns deles são festivos e simpáticos, outros parecem ter saído de um mundo de pesadelos e horrores bastante particulares. Como explicar a presença de bestas, demônios, animais fantásticos e espíritos entre as entidades que compõem a tradição natalina em vários lugares do mundo? 

A seguir, temos algumas lendas de Natal que provam que as Boas Festas são diferentes em cada lugar do mundo e em alguns, elas podem ter um toque de terror e ser bem assustadoras...

O BODE DE YULE 
Suécia


Em alguns lugares, Papai Noel não conduz um trenó puxado por renas como nas outras partes do mundo. Na Suécia, por exemplo, seu animal de estimação é um bode. Mas não um bode comum! O Yule Goat, como ele e conhecido, é uma criatura mágica. 

Muito maior que um bode comum, a besta é imensa, com uma pelagem espessa, enormes chifres dourados com sinos pendurados nele e olhos como duas brasas vermelhas brilhando através da noite. O Bode de Yule é uma visão assustadora, sobretudo pelo potente bramido que segundo as lendas é tão alto que pode ensurdecer as pessoas que o ouvem muito perto. E de fato, o som é usado para avisar que o bom velhinho está à caminho de sua missão, mas também para assustar possíveis ladrões que possam se interpor no seu caminho. Ah sim, ele também tem a estranha faculdade de andar nas patas traseiras e falar como uma pessoa normal.

É possível que a lenda seja reminiscente da mitologia nórdica. Thor, o filho de Odin, é um dos deuses favoritos do Panteão Escandinavo, ele conduzia uma charrete mágica puxada por dois imensos bodes que o levavam através do céu. A Aurora Boreal, segundo os mitos era formada quando o Deus guiava o veículo pelo céu rasgando a abóboda celeste. O mito parece ter sido adaptado e ao invés de trazer relâmpagos e trovão, o Bode de Yule ajuda Papai Noel, ou Pai Noel a levar os presentes que são distribuídos para as crianças que se comportaram. Mais do que ser apenas um animal de tração, o Bode natalino é uma fera feroz, segundo as lendas ele se alimenta dos relâmpagos e são eles que concedem o poder de voar pelos céus cinzentos.

O Bode é um animal comum na decoração natalina na Suécia, quase tão popular quanto o próprio Pai Noel. A tradição diz que dá sorte colocar ao menos uma miniatura do bode dentro de casa para o Natal. Por outro lado, existe a lenda de que representações do Bode de Yule tem o estranho hábito de pegar fogo espontaneamente. Todo ano, na cidade sueca de Gavle, é montado uma figura de um enorme Bode de Yule e todo ano alguém coloca fogo nele. Recentemente, as autoridades locais tentaram deter a tradição incendiária substituindo o material comum de confecção do bode, palha seca, por algo  menos inflamável. De nada adiantou, o Bode foi incendiado e isso se converteu em uma espécie de tradição local. Todo ano, as pessoas disputam quem vai conseguir colocar fogo no Bode e dizem que tal coisa dá sorte ao responsável.

FRAU PERCHTA
Alemanha


Bruxas são parte do folclore da Europa, em especial na Alemanha que tem uma longa tradição de velhas extremamente temidas. Comum também nos Alpes Austríacos, Frau Perchta é das criaturas mais vis e assustadoras do folclore. Sua origem remonta às religiões pagãs que dominavam a região muito antes da chegada do Cristianismo. As lendas são tão antigas que já foram encontradas placas de pedra com inscrições de proteção que funcionariam para afastar essa presença soturna milhares de anos atrás. De alguma forma, Frau Perchta conseguiu chegar aos tempos modernos e estabelecer um papel nas festas de natal, e esse papel não é nada menos do que horrível.

A bruxa em si é retratada como uma velha de aspecto maligno e semblante animalesco. Sua expressão lembra a de um grande rato, ou ainda, de uma raposa. Seu nariz longo mais parece um focinho e os pelos que nele crescem são pretos como bigodes de rato. A velha tem o rosto cheio de rugas e vincos, uma face feia e um hálito desagradável provocado pela alimentação que inclui apenas carne.  Seus cabelos brancos da cor de giz são longos, crescendo desgrenhados e tampando sua cara feia, ou descendo até a cintura magra. A velha usa sempre um manto longo e preto e ao caminhar pela neve, não deixa rastro de seus passos. O objeto mais temido ligado a Frau Perchta é sua faca, afiada e medonha que ela leva escondida nas dobras do manto. A faca é tão afiada que pode cortar madeira e pedra sem perder jamais o fio.

A lenda é muito comum nos dias que antecedem o Natal, época em que Frau Perchta deixa o seu covil no fundo de uma caverna escura nas profundezas da terra. A velha vaga pelos campos e sempre que acha uma criança oferece a ela um presente modesto. Se a criança se comportar bem, agradecer e demonstrar educação, ela pode dar um outro presente mais valioso. Mas se a criança se negar a receber o presente ou falar mal dele, ela irá oferecer em troca a lâmina de sua faca.

Em outra versão do mito, Frau Perchta deixa o seu esconderijo com o propósito único de encontrar crianças que foram más durante o ano que passou e puni-las. Ela é uma espécie de bicho papão extremamente maligno.

Frau Perchta possui um tear e nas linhas que ela vai tecendo consegue ler o nome das crianças que se comportaram mal. Ela então visita as casas desses pestinhas, levando nas costas um saco de palha e sua inseparável faca. Ao entrar na casa silenciosamente, ela espera a criança dormir para atacar. Usa então a lâmina para rasgar a barriga das crianças más e em seguida remover suas tripas. Então retira a palha do saco e preenche o espaço vazio, costurando o corte com linha. Os pais, no dia seguinte, encontram a criança empalhada, geralmente numa posição de extremo pavor. 

Não é por acaso que em alguns lugares onde a lenda é popular aqueles que comem demais na ceia natalina são chamados de "cheios de palha". Ficar empanturrado nesses lugares não é algo bom e dizem, dá azar.

KALLIKANTZAROI
Europa Oriental


O Kallikantzaroi e outros espíritos semelhantes são uma lenda muito difundida no folclore dos países da Europa Oriental, em especial Hungria, República Tcheca, Croácia e Eslovênia. A lenda se adapta a cada região de uma forma, com suas próprias particularidades, mas alguns elementos são comuns em todas as partes. 

Essas criaturinhas desagradáveis são semelhantes a diabretes ou carniçais com um corpo muito magro, pernas e braços compridos e orelhas pontudas. Por vezes são descritos como tendo feições de ratos, patas cabeludas e um rabo fino de ratazana. Eles emitem um ruído característico de roedores e quando alguém ouve na véspera de natal esse som vindo através das paredes ou num porão, sabe que sua casa está infestada. Eles não são especialmente perigosos, mas gostam de roubar coisas, comer o que está na dispensa e podem ser cruéis com animais de estimação e crianças pequenas.

Os Kallikantazaroi passam o ano inteiro nos seus covis subterrâneos tramando o fim do mundo. Seu plano é destruir a Árvore da Vida serrando as raízes e o tronco para que ela seja derrubada. Segundo os mitos pagãos, a Árvore da Vida é responsável pela fecundidade do solo e pelos campos se recuperarem após o rigor inverno. Se a Árvore for destruída, as pessoas certamente irão sofrer e passar fome.

Diz a lenda que os Kallikantazaroi são muito curiosos e que são atraídos pelo som das músicas natalinas, pelo cheiro dos pratos servidos na ceia e pela movimentação das pessoas. Eles então abandonam momentaneamente o seu trabalho para ver o que está acontecendo. Isso permite que a Árvore da Vida se regenere e evita sua completa destruição. O mito reforça a necessidade das festas de confraternização, da manutenção dos costumes e de toda simbologia ligada ao Natal.

É claro, a lenda é muito mais antiga, remontando aos tempos pré-cristãos, quando celebrações eram realizadas com o intuito de salvar a Árvore da Vida da depredação dos pequenos diabinhos. 

Para aqueles que querem saber o que fazer se a sua casa for infestada por Kallikantazaroi, a solução é simples. Como ocorre com muitos diabinhos nas lendas, eles são compelidos a contar coisas, então uma das soluções é esparramar grãos ou palitos pelo chão no lugar onde as criaturas se instalaram. Eles então começam a separar e contar, mantendo-se ocupados pelos dias que restam até o Natal, quando resolvem ir embora. Outra solução é colocar uma vassoura na porta ou ainda pendurar uma mandíbula de porco na maçaneta. Uma vez que eles costumam entrar pela chaminé das casas, pode-se acender o fogo todos os 12 dias que antecedem o Natal para que qualquer diabrete tentando entrar seja incinerado. Após o Natal, a fuligem produzida nesses dias é dispersa ao redor da casa, como uma medida protetora para afastar os Kallikantazaroi no ano seguinte.

LA BAFANA
Itália


Mais uma bruxa ligada ao Natal. A Bafana é uma velha de aparência horrível que espreita as cidades e vilarejos na véspera das festas de final de ano. Ela usa um manto preto e tem um chapéu pontudo na cabeça. Seus cabelos são muito escuros, assim como os seus olhos que mais parecem dois pedaços de carvão.

Quando chega o mês de dezembro, a Bafana escolhe uma casa, de preferência onde haja crianças, e as observa por vários dias esperando uma oportunidade para entrar. Ela costuma usar as chaminés como acesso para o interior das casas e uma vez dentro dela se instala permanecendo escondida. Na véspera do Natal, a Bruxa irá julgar se a criança se comportou e se ela merece ganhar presentes ou ser punida.

É uma tradição pendurar meias perto da lareira para que a Bafana as encha com guloseimas ou presentes para as crianças que se comportaram. Mas aquelas que foram ruins recebem apenas um pedaço de carvão. A simbologia do carvão está relacionada aos costumes pagãos de que no final do ano ele era usado para assar os sacrifícios. Em algumas histórias particularmente aterrorizantes, a Bafana pode sequestrar as crianças que foram muito más e levá-las consigo para seu covil. Lá, ela as mata, enche com temperos e guisado e cozinha num fogão com carvão.

A lenda ancestral está ligada aos mitos comuns de feiticeiras que são ao mesmo tempo temidas e respeitadas. Embora seja capaz de atos homicidas, a Bafana também é tida como uma personagem que ajuda as pessoas em dificuldade, oferecendo aconselhamento, conforto e cura. Ela era invocada sobretudo por mulheres grávidas para que lhes proporcionasse um parto seguro e que resultassem em bebês fortes. Mencionar o nome da Bafana durante o parto era uma maneira de proteger a mãe e o recém nascido conforme as tradições rurais da Itália.

De acordo com uma lenda muito difundida, a Bafana foi visitada pelos Reis Magos quando eles estavam à procura do bebê Jesus. A Bafana ofereceu hospitalidade aos Reis e os deixou descansar na sua casa. Na manhã seguinte, eles a convidaram para acompanhá-los, mas a Bafana declinou duvidando que o bebê que eles iam visitar era o Filho de Deus. Ela teria se arrependido e por isso decidiu distribuir presentes às crianças na véspera do Natal. (A parte da punição no entanto, não era tão necessária).

Como vários outros personagens natalinos, a Bafana recebe um suborno para fazer uma visita amistosa. É comum em algumas partes da Itália deixar um cálice de vinho perto da janela ou no batente da porta para que a Bafana beba. A crença é que, se ela estiver "alegre com a bebida" irá simplesmente deixar o presente e ir embora sem fazer nenhum mal.

PAVUCHKY
(Ucrânia)


Por estranho que possa parecer, o maior símbolo do Natal na Ucrânia não é o Papai Noel, mas... Aranhas.

Pavuchky é uma tradição muito antiga que se espalhou pela Ucrânia e se tornou parte do Natal daquele país. As Aranhas Natalinas em questão são enormes, aranhas de coloração pálida que tecem imensas teias cinzentas. Em algumas versões, as Pavuchky são feitas de cristal ou vidro muito delicado, por vezes coloridas, mas na maioria das vezes azuis ou brancas como a neve. A teia que elas criam é delicada, mas extremamente resistente, capaz de resistir ao vento e às nevascas sem arrebentar. As pavuschky são animais mágicos que figuram no folclore ucraniano e aparecem em várias fábulas infantis, sempre como seres benevolentes e que protegem as pessoas mais fracas.

Enfeites na forma dessas aranhas são pendurados nas Árvores de Natal da mesma maneira que penduramos as bolas e luzes pisca-pisca. Além das aranhas, é muito comum espalhar linhas prateadas no formato de teias que são pendurados na árvore. A teia é igualmente parte do folclore ucraniano, está presente em contos que mencionam fios se transformando magicamente em prata garantindo riqueza para as pessoas que não os arrebentam e que protegem as aranhas que os criam.

Outra versão da lenda, envolvendo as Pavuchky é que as teias são mágicas. No Natal, fantasmas e espíritos malignos podem vagar por aí, e estes frequentemente são atraídos pelas reuniões familiares. Uma maneira de evitar que eles façam o mal é espalhar as teias que teriam a faculdade de atrair e capturar essas entidades. Uma vez capturados os espíritos são lentamente purificados pelas propriedades sagradas da teia de prata ou devorados pelas Pavuschky. As tradições atestam que no Dia de Reis, as Teias devem ser removidas, mas primeiro precisam ser purificadas com água benta para eliminar qualquer presença maligna que ainda esteja ali.

As Aranhas de Natal são tão importantes que por vezes ganham espaço até em Igrejas e prédios públicos. De fato, não ter teias ou ao menos uma aranha em casa é tido como mau agouro.

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