sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Lamentos atrás das paredes - O bizarro caso da Casa Assombrada de Gales


Todo mundo adora uma boa história de casa mal-assombrada. O suspense, o mistério, a sensação de estranheza e medo diante do desconhecido; tudo isso cria uma espécie de fascínio mórbido.

Lugares assombrados, em especial, casas, nos proporcionam uma leitura instigante e assustadora e são a base de muitas pesquisas paranormais devido à sua acessibilidade. Com base nessas histórias, não faltam contos, romances, séries de televisão e filmes que se passam em casas assombradas. E é claro, existem as casas assombradas do mundo real, aqueles endereços estranhos onde coisas inexplicáveis teimam em acontecer. Obviamente a maioria das alegadas atividades paranormais não passam de coincidência, fraude ou imaginação fértil. Na maioria da vezes, existe uma explicação perfeitamente racional para tudo. Uma corrente de vento contínua, um espaço vazio numa casa ou a presença de ratos responsáveis por estranhos ruídos atrás das paredes. Contudo, certos casos fantasmagóricos em residências se revelaram mais difíceis de serem explicados. São os casos enigmáticos que nos fazem coçar a cabeça e ponderar sobre o que não sabemos e o que estamos dispostos a aceitar: "E se essas histórias forem verdade"? 

Um caso estarrecedor que recai na categoria dos mistérios perturbadores sem solução, envolve uma velha casa num tranquilo bairro no País de Gales, um lugar que se tornou conhecido nos últimos anos por estranhos ruídos vindos das profundezas de um escuro porão.

Quando Alan e Christine Tate se mudaram em 2010 para sua nova residência no pacato subúrbio de Carmatheshire no País de Gales, tudo parecia estar correndo bem para eles. Era um antigo sonho, muito almejado se tornando realidade: mudar-se para um bairro tranquilo, acolhedor e central. Eles passaram a viver no seu novo lar e lá construíram sua história ao longo de 8 anos, sem nenhum incidente estranho em particular. Contudo em junho de 2018 as coisas mudariam para eles, transformando sua casa dos sonhos em um antro de mórbidos pesadelos. 

Tudo começou num dia como qualquer outro, Christine estava sozinha na cozinha fazendo café, quando ouviu um estranho "som de suspiro" vindo de lugar nenhum. Ela achou que pudesse vir do banheiro, foi até lá e não encontrou nada de anormal. Assim que saiu ouviu novamente o lamento e voltou para investigar sem encontrar nada fora do comum. Foi assim que começou, de maneira simples e inofensiva.


Nos dias que se seguiram, mais sons inquietantes parecendo vir do porão e de trás das próprias paredes seriam ouvidos pelos moradores da casa. Eram sons de batidas secas, de zumbidos altos, vozes abafadas que às vezes pareciam falar em uma língua estrangeira não identificada, e mais assustador de tudo, gritos e lamentos, aparentemente de mulheres. Os sons embora abafados eram perfeitamente discerníveis, como se alguém estivesse preso atrás das paredes, tentando se fazer ouvir desesperadamente.

Christine diria ao jornal Wales Online:

"Na primeira vez, foi esse suspiro triste e alto. Eu contei a Alan que não conseguia descobrir de onde vinha. Naquela noite ouvimos o mesmo som repetidas vezes e procuramos em todo canto de onde vinha. Decidimos deixar o telefone no banheiro com o gravador ligado para tentar detectar a origem do ruído, e então ouvimos outros ruídos. Começamos a gravar por toda a casa e captamos sons de correntes, de um zumbido insistente e de gente chorando. Era assustador demais."

Logo se constatou que todos os sons pareciam ter uma origem que definitivamente levava ao porão. O subsolo da casa ficava diretamente abaixo a cozinha e era pouco usado pelo casal Tate. Eles costumavam reservá-lo para estocar móveis e objetos velhos e raramente entravam ali. Alan tomou coragem e decidiu inspecionar o porão, mergulhando na escuridão para tentar encontrar uma explicação razoável para a origem dos sons. Bastaram 20 minutos lá para que ele tivesse uma sensação desagradável, um sentimento de que não estava sozinho lá embaixo e que uma presença invisível o observava.

Alan descreveu a experiência da seguinte forma:

"Era sufocante. Como se algo estivesse ali comigo sem que eu pudesse ver. Porém eu conseguia sentir. Era uma presença, disso tenho certeza... algo que estava observando e que parecia ressentido com a minha proximidade. Senti um mal estar súbito e um frio repentino, como se tudo à minha volta estivesse conspirando para que eu deixasse o porão o quanto antes. Eu estava com medo... não há como colocar de outra maneira".


Durante sua curta permanência no porão, o que Alan consegui determinar é que aquele era o ponto focal dos fenômenos. Enquanto estava ali sozinho ele ouviu mais claramente os ruídos característicos que vinham lhes incomodando - os zumbidos, as batidas e é claro, os lamentos em uma língua estranha. Na escuridão do porão, eles eram mais discerníveis e ele chegou a conjecturar que se tratava de russo ou alguma outra língua do leste europeu. Alan supunha que os sons vinham das paredes do porão ou de baixo do próprio soalho.

Os Tate continuaram a gravar registros dessas anomalias, utilizando gravadores portáteis e microfones de captação. Eles gravaram mais de 20 fitas contendo os ruídos incômodos, com palavras, murmúrios, gemidos e batidas. Acompanhado de um amigo chamado Douglas Harding, Alan desceu novamente ao porão determinado à tirar a história à limpo. Levou consigo uma pá e uma picareta para buscar a fonte dos ruídos. Os dois cavaram cerca de 1 metro no piso, removendo a superfície e chegando a uma camada de terra compacta logo abaixo. Durante todo o trabalho exaustivo, realizado em condições adversas de iluminação, ouviram sons estranhos e ruídos exasperantes. Finalmente eles chegaram a uma segunda camada de concreto da qual não conseguiram avançar por ser muito resistente.

Naquela noite e nas noites seguintes, o som se tornou mais claro e conseguiram obter melhores registros dos fenômenos. O casal deixou dois gravadores registrando centenas de horas dessa cacofonia incessante de sons bizarros, que incluíam "uma mulher gritando, sons de natureza sexual, som de correntes, um zumbido elétrico, roncos e o que parecia ser uma reza que se transformava numa lamúria"

Alan diria sobre seus esforços para registrar esses ruídos:

"Tudo que eu realmente queria era uma explicação. Por que haviam pessoas aparentemente sofrendo? Devia haver alguma explicação para aqueles sons perturbadores. Colocamos microfones em todos os lugares, porque queríamos provar ou refutar o que estávamos ouvindo. Colocamos microfones na frente da casa, na parte de trás da casa, dentro e fora e no porão. O dispositivo que deixamos no porão captou os gritos e ruídos mais claros. Os outros dispositivos, que estavam gravando simultaneamente na frente e nos fundos da propriedade, captaram pouca coisa além das batidas".


O casal assustado chegou a chamar a polícia esperando que alguém pudesse ajudá-los. As autoridades vieram mas nenhuma explicação foi encontrada. Não havia nenhum sinal de algo fora do comum lá embaixo, nenhuma fiação defeituosa, nenhum sinal de se tratar de uma brincadeira de gosto duvidoso, nada. Os policiais chamados ouviram os mesmos ruídos e ficaram impressionados com o fato deles continuarem mesmo enquanto eles estavam lá. Um dos policiais, um homem chamado Ryan Boutrice, era filho e de um policial e se mostrou muito prestativo. Ele disse que perguntaria ao pai, que havia trabalhado exatamente naquele distrito, se ele lembrava de algum detalhe à respeito do endereço dos Tate.

Os gritos, gemidos e outros ruídos estranhos continuaram inabaláveis por pelo menos mais uma semana. O casal decidiu lacrar o porão com placas de isolamento acústico e deixar apenas um buraco através do qual pudessem baixar os microfones de captação na escuridão mais abaixo. Eles também levaram as gravações obtidas para o departamento de línguas da Universidade de Cardiff, com o intuito de tentar descobrir que língua estranha era aquela. Dois profissionais de áudio conseguiram isolar os trechos em que palavras pareciam estar sendo ditas e usando aparelhos de mixagem conseguiram tornar o som mais claro. Em seguida, passaram a gravação para diferentes estudiosos de línguas que foram unânimes em apontar que haviam diferentes línguas ali: sérvio, croata e outros dialetos do leste europeu conforme suspeitavam.

Quando a situação já estava se tornando insustentável, e os Tate cogitavam se mudar de uma vez por todas, receberam a visita de um senhor de meia idade chamado Robert Boutrice, que era pai do policial que havia se interessado pelo caso. Robert era um detetive aposentado com mais de 40 anos de serviço e que afirmava poder ajudá-los com informações sobre o endereço em que eles residiam. Robert contou que no início dos anos 1990, havia uma outra casa no terreno em que os Tate residiam. Toda a vizinhança havia passado por uma reestruturação no início de 2000 e várias casas foram colocadas abaixo e reconstruídas. A vizinhança então valorizou e se tornou melhor. 

Havia uma casa da qual Boutrice se recordava bem de seus tempos de policial. Ela ficava justamente no terreno que os Tate viviam. O ex-policial revelou que o lugar funcionou por algum tempo como esconderijo para uma quadrilha de criminosos especializados em tráfico de pessoas, em especial mulheres. As vítimas em questão eram refugiadas da Guerra dos Balcãs que haviam sido trazidas ilegalmente para a Inglaterra e depois transportadas para o País de Gales. A quadrilha negociava a venda delas para agências de trabalho e de prostituição. Os criminosos, no entanto, também realizavam negócios com indivíduos ainda mais desprezíveis, homens que desejavam ter "escravas" para satisfazer suas vontades. Nos anos que se seguiram à Guerra dos Balcãs que pulverizou a antiga Iugoslávia em vários estados independentes, milhares de pessoas fugiram dos conflitos étnicos, marcados por violência e massacre. Foi uma época sofrida para a população civil e de grandes oportunidades para traficantes de gente.


Uma denúncia anônima em 1995 fez com que a polícia promovesse uma batida na casa que servia de esconderijo para a gangue. Eles encontraram no porão uma prisão em que as mulheres eram mantidas presas. Atrás de uma porta pesada que sempre ficava trancada haviam cubículos onde elas viviam. Eram mantidas acorrentadas nas paredes ou algemadas no pé de camas, em condições sub-humanas. Não podiam sair de maneira nenhuma, comiam apenas refeições prontas que lhes eram entregues através de grades e para as necessidades usavam baldes. Elas ficavam ali, às vezes por meses sem saber onde estavam e sem entender o idioma que os criminosos falavam. Enquanto estavam sob a tutela deles, eram humilhadas e abusadas repetidas vezes, recebendo então algum "benefício" que poderia ser um sabonete ou um colchão. Essa prática visava quebrar qualquer resistência e prepará-las para uma vida ainda mais triste nas garras daqueles que as compravam. As negociações aconteciam no território selvagem da Deep Web, onde a venda de seres humanos é apenas uma das atividades bizarras.

Com a intervenção da polícia a quadrilha foi desbaratada e o detetive Robert Boutrice se recordava da prisão de pelo menos cinco homens que administravam o lugar. sete mulheres foram libertadas daquele covil, uma verdadeira masmorra. Infelizmente o lugar funcionou por anos e havia a suspeita de que muitas vítimas poderiam ter encontrado um final trágico nas mãos da gangue que não se importava em eliminar as mulheres que não conseguiam vender ou que criavam "dificuldades" para a operação.

Os Tate ficaram chocados com todas essas revelações e passaram a acreditar que havia algo nos subterrâneos da propriedade, algo que havia passado desapercebido pelos policiais e pelos empreiteiros que demoliram a casa. Deveria estar abaixo do porão e provavelmente pertencia à casa antiga. O respeitado Professor Charles Hilton, da Escola de Psicologia da Universidade de Cardiff, e um especialista em Parapsicologia, se ofereceu para ajudar os Tate. Com o uso de sensores de profundidade, o mesmo equipamento utilizado em detecção de espaços vazios que se formam após desabamentos, os técnicos identificaram dois possíveis bolsões abaixo do piso do porão. Com base nessas informações e com a autorização dos Tate, foram conduzidas escavações que revelaram em poucas horas o que parecia ser um alçapão oculto. Abaixo dele, os peritos forenses encontraram seis ossadas humanas, pertencentes a mulheres que tinham entre 15 e 20 anos de idade no momento de suas mortes.

Os cadáveres apresentavam sinais de terem sido vítimas de violência. O caso chocante repercutiu nos jornais do País de Gales e causou grande comoção em todo país. Graças à descoberta, metade das vítimas foram identificadas e os restos puderam ser enviados para seus países de origem para descansarem sob os cuidados de parentes. Os demais, que permanecem não identificados foram transferidos para cemitérios locais. Os promotores acrescentaram às sentenças dos criminosos indiciados pelo tráfico de mulheres, a acusação de assassinato, uma suspeita que já existia antes mas que só foi confirmada após a descoberta das ossadas.

O Professor Hilton explicou seu ponto de vista, à luz da Parapsicologia:

"Parece bastante claro que os tristes acontecimentos que se deram nessa casa continuaram reverberando por muito tempo. Mesmo depois dos envolvidos terem partido e depois das vítimas terem morrido. Por vezes, um incidente trágico deixa marcas e permanece em um lugar, como um eco. E este continua repetindo sem parar, até alguém ser capaz de ouvi-lo."


Após a descoberta das ossadas abaixo do piso do porão, os sons e ruídos pararam quase que de imediato e os Tate puderam ter um pouco de tranquilidade. No entanto, a família decidiu que haviam experimentado o suficiente e que não tinham mais estômago para viver num lugar com tamanha energia negativa represada. Eles se mudaram da casa em 2019 e no início de 2020 o lugar foi demolido de uma vez por todas:   

"É lamentável, nossa casa dos sonhos se revelou um lugar de pesadelos, onde tantas coisas ruins aconteceram. Isso só mostra que não sabemos nada a respeito da história dos lugares que escolhemos viver. E depois de saber, não tínhamos como permanecer lá. Não nos restou nada a não ser deixar a casa e tentar reconstruir nossas vidas em outro canto."

Para muitos especialistas o Incidente na Casa dos Tate é um dos mais bem documentados casos de assombração no País de Gales. Um fenômeno conhecido como "Eco" ou "Sombra" que se baseia na presença de poderosos sentimentos e emoções contaminando um determinado espaço. Esses "ecos" se fazem ouvir e parecem implorar pela atenção das pessoas quase num apelo para que sejam compreendidos e interpretados. Não são exatamente "fantasmas", pois não possuem vontade ou consciência, eles simplesmente se repetem.    

É claro, o caso dividiu opiniões confrontando crentes e céticos, fazendo com que muitos se perguntassem se tudo não passou de uma bem encenada fraude para ganhar fama em cima de um suposto incidente paranormal. Os críticos apontam que os Tate só começaram a falar à respeito dos sons misteriosos depois que foi feita a descoberta das ossadas e muitos afirmam que eles nunca mencionaram qualquer incidente estranho na propriedade. A polícia suspeitava da existência de um aposento secreto que não havia sido encontrado anteriormente e novos depoimentos de vítimas teriam apontado a existência do alçapão. Dessa forma, a descoberta não teria sido denunciada por ecos, mas por testemunhas. Há também outra questão: Por que os ecos demoraram tanto a serem ouvidos e começar a se manifestar? Por qual razão esperariam anos para se fazer ouvir, enquanto os Tate já viviam lá por alguns anos. 

Mesmo a autenticidade das gravações foi amplamente questionada. Técnicos de som examinaram as fitas apresentadas pelos Tate e consideraram que alguns sons pareciam estranhamente repetitivos, como se eles tivessem sido produzidos pela mesma fonte, apontando para uma possível fraude com um som sendo executado repetidas vezes. As conclusões sobre a gravação e a qualidade da mesma foram duvidosas.


Após concederem entrevistas e serem confrontados com essas questões, os próprios Tate disseram que não falariam mais à respeito do ocorrido e que não dariam mais nenhuma declaração sobre o incidente. Eles se diziam esgotados física e mentalmente diante de todo fenômeno e ressaltaram que jamais ganharam nada com a "fama" que atraíram para si mesmos após relatar a história.

Qual seria a verdade à respeito da casa assombrada de Carmatheshire? Haveriam realmente ecos repercutindo através das paredes? Teriam as tragédias ocorridas naquele lugar triste transbordado para o mundo real, fazendo-se ouvir pelos vivos? A história dessa casa permite muitos questionamentos, mas sem dúvida fazem dela um caso extremamente curioso envolvendo atividade paranormal.

3 comentários:

  1. Texto prodigioso,assunto de interesse para pessoas como eu que é um ávido leitor deste blog. Desejo aos donos e colaboradores do blog um 2022 de muito mais êxito e história e estórias.

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  2. Acima de qualquer questão sobrenatural ou não, há uma triste realidade que é a exploração de seres humanos. Muito triste tudo isso😭

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