A lista é longa, por isso, dividi o artigo em duas partes, para que possamos conhecer mais alguns espíritos, diabretes, duendes e monstros que causam uma mistura de fascínio e medo.
O Natal não é igual em todas as partes do mundo, em algumas, ele pode ser bastante perturbador, como veremos à seguir.
No mais, o MUNDO TENTACULAR deseja a todos os seus leitores um Feliz Natal e Boas Festas.
PÈRE FOUETTARD
França
ZWART PIET
PÈRE FOUETTARD
França
Há alguns personagens do Natal que realmente conseguem ser assustadores, mas poucos são tão perturbadores quanto Père Fouettard. Em francês, o nome significa exatamente "Papai Açoiteador" e é por seu chicote que ele é mais conhecido.
A lenda nasceu na França medieval e se espalhou pelas regiões rurais no sul do país, chegando até os dias de hoje. Sua bizarra origem envolve o que hoje em dia poderia ser compreendido como um assassino em série. O Papai Açoitador era um sujeito amargo e perverso que andava pelo campo em busca de vítimas, de preferência crianças. Ele teria drogado e cortado a garganta de três crianças ricas que ele encontrou em suas andanças. Mas não para por aí, piora muito! Após matar suas vítimas, ele as desmembrava e colocava os restos em grandes barris de cerveja para que não pudessem ser encontradas. Além desses atos imensamente perversos, a figura era conhecida pelos seu sadismo: ele sempre carregava um chicote de couro curtido ou em algumas versões um feixe de galhos secos que usava como arma.
Segundo a lenda, São Nicolau descobriu o que o sujeito andava fazendo, ressuscitou as crianças assassinadas como um milagre e como punição ordenou que Père Fouettard se tornasse o seu ajudante. vestido com um manto esfarrapado e sujo, com correntes nos pulsos e tornozelos, coberto de fuligem e usando uma barba desgrenhada, o Açoitador anda ao lado do Santo e ajuda na distribuição dos presentes no dioa de São Nicolau (em 6 de dezembro). Ele no entanto se solta de tempos em tempos e vai atrás de crianças que foram más ou que se comportaram de uma maneira desagradável. Ele pode então dar a elas pedaços de carvão ao invés de presentes, mas é mais provável que distribua chicotadas. Com o aval de São Nicolau, ele também costuma prender crianças más em gaiolas de vime que carrega nas costas.
Père Fouettard apareceu nos anos 1930 nos Estados Unidos com o nome de "Father Flog" (Pai Açoite) ou ainda "Spanky" (Espancador), ao lado de uma contraparte feminina "Mother Whip" (Mãe Chicote), O amável casal procurava as crianças más cujos nomes estivessem numa lista que carregavam consigo. Aparentemente, alguns pais forneciam o nome dos próprios filhos para ensinar a eles uma lição quando não se comportavam. A ideia é que eles na última hora eles "dessem uma chance para as crianças se comportarem". Segundo uma lenda urbana, uma criança teria ficado tão aterrorizada com a perspectiva de ser levada pelo casal que se suicidou atirando-se num rio e morrendo afogada.
ZWART PIET
Holanda
Na Holanda uma figura estranha e maldosa espreita na véspera do Natal. As tradições natalinas nos Países Baixos afirmam que esse espírito costuma roubar os presentes das crianças, assustá-las com brincadeiras geralmente violentas e machucar os bichos de estimação. Por vezes ele também seria o responsável por sequestrar bebês e levá-los para longe. A criatura em questão atende pelo nome de Zwart Piet e é uma aparição que até hoje causa temor nos pequeninos.
O Zwart Piet seria um tipo de duende com a pele negra como carvão, lábios e olhos vermelhos e um sorriso maligno com dentes pontiagudos. Ele se veste com roupas de seda ou veludo, com guizos e sinetes costurados que fazem um som característico quando ele está próximo. Há também um cheiro de enxofre que remonta ao fato dele supostamente ter origem demoníaca.
Segundo a tradição em algumas áreas rurais, as crianças para ganhar o presente de Natal devem confessar tudo de errado que fizeram no ano. Se elas omitirem algum detalhe, o Zwart Peit vai aparecer e pegar os presentes de volta, levá-los para a floresta e atear fogo neles. Se a criança mentir, a punição pode ser ainda pior, o espírito pode colocar a criança num saco e fazer ela desaparecer para sempre. A ideia com certeza é deixar as crianças tão temerosas que confessarão qualquer coisa.
Nos últimos anos, o personagem se tornou o centro de grande polêmica sendo apontado como um estereótipo racista arcaico. Os atores que geralmente personificam o Zwart Piet (literalmente Pedro Preto) tem o rosto pintado com tinta preta. Muitos lugares abandonaram a tradição de ter esse personagem marchando ao lado de Papai Noel no Desfile de Natal. Algumas organizações pediram que o personagem fosse removido dos festejos por considerá-lo extremamente ofensivo. Aqueles que defendem a presença dele alegam que a lenda do Zwart Piet é muito antiga e que ele sempre esteve presente nas tradições natalinas de antigamente. Todo ano, a presença dele se traduz em debate e discussão na Holanda.
MARI LWYD
País de Gales
Na véspera de Natal, a estranha e fantasmagórica figura do Mari Lwyd pode ser vista vagando pelos campos e estradas no interior do País de Gales. A criatura é um tipo de espírito profundamente associado às tradições pagãs que foi incorporada às festas cristãs, em especial o Natal.
Segundo o folclore, essa criatura é um tipo de espírito com o corpo imaterial semelhante a uma nuvem de vapor ou mortalha cinzenta. Ela flutua no ar delicadamente sem produzir nenhum som, exceto um leve tilintar de sinetes que estão amarrados ao redor de seu pescoço. A principal característica de Mari Lwyd é que sua face é o crânio descarnado de um cavalo. Por vezes ela tem chifres de boi, alce ou cervo e em outras versões seus olhos reluzem com um fulgor sobrenatural.
Apesar de sua aparência assustadora, a Mari Lwyd não é maligna. Trata-se de um espírito que domina as estradas e caminhos, que representa também a fertilidade e as mudanças necessárias para o crescimento. Dizem que onde a entidade é avistada, haverá uma grande mudança, geralmente benéfica, algo envolvendo sorte, riqueza ou a realização de aspirações particulares.
A partir de 1800, a Lenda passou a ser associada ao Natal, com a interpretação de que a "mudança" seria a introdução da Fé Cristã em Gales. A tradição se tornou muito comum e grupos de pessoas começaram a fazer paradas na noite de Natal levando uma representação da Mari Lwyd pelas estradas de vilarejo em vilarejo. Nas casas era costume pendurar na porta de entrada um crânio de cavalo ou uma crina como forma de atrair o favor da entidade.
Apesar de ter sido condenada por alguns sacerdotes e até proibida, a tradição retornou na virada do século e após 1935 passou a ser realizada anualmente com grande participação popular. Até hoje o desfile da Mari Lwyd é uma das datas mais aguardadas do ano, atraindo turistas e moradores que acompanham a representação e esperam ser abençoados pela estranha figura.
STRAGGELE
Noruega
No folclore de vários países existe a noção de que espíritos ou monstros surgem nessa época do ano para levar as crianças más ou que não se comportaram. Mas o que acontece com essas crianças depois de serem carregadas?
Na Noruega, existe uma explicação para o paradeiro dessas crianças e o destino delas é nada menos do que bizarro: Elas se transformam em monstros chamados Straggele.
Os Straggele são uma espécie de bicho-papão do folclore local, presente também na Finlândia e Dinamarca. Geralmente eles são retratados como feras selvagens, cobertas de pelo, presas afiadas, orelhas pontudas e chifres no topo da cabeça. Eles são extremamente malignos e geralmente aparecem nos vilarejos antes da chegada do Pai Natal, que traz os presentes. O objetivo deles é saber se há crianças que se comportaram de forma inadequada para que eles possam levá-las consigo. Os Straggele perguntam aos pais como seus filhos se comportaram, se passaram de ano e se costumam responder com grosserias. Se os pequenos tiverem feito qualquer uma dessas coisas, os monstros podem, à pedido dos pais, levá-los para seu covil.
Segundo a lenda, algumas das crianças são prontamente devoradas na ceia de Natal das criaturas, mas outras tem um destino ainda pior. Elas são colocadas em uma cova rasa e enterradas perto do covil dos monstros. Os Straggele então urinam na cova toda noite e isso faz com que a criança sofra uma lenta transformação. No Natal seguinte, ela irá deixar a cova em que foi enterrada, tendo assumindo a forma bestial de um Straggele. Ela não lembra que era uma criança e se torna um monstro maligno.
A lenda dessas criaturas é muito antiga e remonta aos festejos pagãos, tendo sido incorporada às tradições natalinas. Para evitar a fúria desses monstros, também se costuma deixar os restos da ceia em um pratinho no lado de fora da casa para que eles possam comer. Em algumas partes, onde a lenda ainda é conhecida, é comum que pessoas vestindo fantasias batam na porta das casas onde há uma reunião familiar para pedir comida. A tradição manda dar ao menos um pouco para esses visitantes.
HANS TRAPP
(Alemanha)
Segundo a lenda, Hans Trapp é um espírito maligno que assume o corpo de palha de um espantalho para assombrar as Festas de fim de ano. Ele desperta na Noite de Natal e é atraído por discussões, disputas e bate-boca em família, e se tal coisa acontecer durante a Ceia, pode ter certeza que o monstro vai aparecer para punir todos os envolvidos.
A tradição diz que em vida, o fantasma pertenceu a um rico e amargo senhor de terras chamado Hans von Troth que nunca viu necessidade de constituir família ou compartilhar o que tinha. Quando já estava velho, ele perdeu sua fortuna e desesperado recorreu ao Diabo, firmando um pacto para continuar rico e poderoso. O demônio atendeu seu pedido, mas com a condição de que ele deveria venerar as trevas e continuar praticando magia negra. Quando um Padre ficou sabendo das coisas horríveis com que Hans estava metido, o excomungou, e a população da cidade o expulsou.
Hans conseguiu escapar e se refugiou numa floresta escura onde passou a viver. Lá ele construiu para si uma cabana feita de gravetos que recolheu e se tornou cada vez mais maligno, eventualmente praticando até atos de canibalismo. Em certa ocasião, sequestrou um menino de 10 anos com o intuito de devorá-lo, mas antes que pudesse fazê-lo um raio vindo do céu o fulminou. Os aldeões encontraram o menino e os restos carbonizados de Hans. Decidiram então transformá-lo em um espantalho, juntando palha aos seus ossos escurecidos e usando-o para afugentar os pássaros, atitude da qual viriam obviamente a se arrepender.
O fantasma do satanista supostamente passou a ocupar os restos do espantalho e na noite de Natal ele desce da sua estaca para espreitar as casas das pessoas. Quando ouve alguma discussão ou encontra uma desavença, Hans Trapp faz uma visita aos envolvidos. A lenda claramente tem como intuito fazer com que as celebrações e reuniões natalinas ocorram sem nenhuma desavença.
Há versões em que Hans Trapp também assume a forma de corvo, gralha ou de um falcão. Ele é um espírito maligno e desagradável que existe apenas para espalhar sua maldade além túmulo. A melhor maneira de afugentá-lo é ter uma noite de Natal calma e tranquila na companhia da família.
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