quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
RPG do Mês - PIRATE BÖRG - Ação, Terror e Pirataria no Caribe Sombrio
domingo, 15 de dezembro de 2024
Os Outros Árabes Loucos II - Cultistas e feiticeiros do Mythos no Oriente Médio
Continuando nossa série sobre outros feiticeiros do oriente Médio além de Abdul Al-Hazred.
IBN-GHAZI
https://mundotentacular.blogspot.com/2020/07/as-peregrinacoes-de-al-hazred-biografia.html
quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
Os Outros Arabes Loucos - feiticeiros dos Mythos no Oriente Médio
Os conhecedores dos Mythos de Cthulhu sabem muito bem quem é o infame Abdul Al-Hazred.
Apesar desse personagem peculiar jamais ter aparecido em pessoa nas histórias de seu criador H.P. Lovecraft, é inquestionável que ele seja considerado um dos mais importantes. O Velho Abdul, que também responde pela alcunha de "O Árabe Louco" não é outro senão o autor do igualmente infame Al-Azif. Por sua vez, esse tratado de magia negra e feitiçaria, considerado como o depositário de todo conhecimento blasfemo dos Mythos ancestrais, entraria para a história através de seu título em grego - Necrononicom.
Do momento em que foi citado pela primeira vez por Lovecraft no conto The Hound em 1922, Al-Hazred e seu livro profano se tornaram nomes associados a toda mitologia lovecraftiana. É tamanha a conexão que Al-Hazred se converteu numa espécie de porta-voz do Mythos, o sujeito que detinha maior saber sobre esse terrível tema, e quem o difundiu através dos séculos vindouros. No cânon de Lovecraft, quando o árabe louco deitou sua pena sobre as páginas criando seu tomo, o mundo jamais seria o mesmo. Quanto mais se tentou deter esse conhecimento, mais ele se espalhou - trazendo com ele loucura.
Entretanto, embora Al-Hazred seja com certeza o mais conhecido Profeta do Mythos ele seguramente não é o único. Ele sequer é o único "árabe louco" associado ao Mythos.
Há outros personagens fascinantes ligados ao estudo soturno dos Deuses e Entidades Ancestrais. Alguns se notabilizaram pelos feitiços que levam seus nomes ou pelos tomos que escreveram. Alguns são bastante obscuros, reconhecidos por apenas alguns poucos estudiosos do Mythos, que encontraram textos com suas obras e fragmentos de sua pérfida biografia.
Nesta série de artigos seremos apresentados a alguns destes "árabes loucos": pensadores, teóricos e feiticeiros que detinham um saber atroz.
BARZAI
sexta-feira, 6 de dezembro de 2024
Louco feito um Chapeleiro - Uma inesperada profissão de altíssimo risco
Quando se pensa em trabalhos perigosos as pessoas quase sempre lembram de soldados que arriscam suas vidas em campos de batalha. Lembram também de médicos e profissionais de saúde que se arriscam para tratar de vítimas de doenças contagiosas e letais. Há ainda os que vivem em alto mar, que exploram as profundezas oceânicas ou que voam em foguetes rumo ao espaço.
Quando se fala em trabalhos perigosos nos dias atuais, dificilmente alguém citaria o Milliner, uma profissão que desapareceu ao longo das últimas décadas. Um Milliner era basicamente alguém que trabalhava no ramo da confecção de chapéus - em bom português, um chapeleiro.
Pode ser uma surpresa para muitas pessoas, entretanto a profissão de chapeleiro era considerada tão perigosa no século XIX que gerou até mesmo um ditado: "mad as a hatter" (algo como "louco feito um chapeleiro"). A expressão era usada para se referia a pessoas que aceitavam fazer trabalhos arriscados por pequenas recompensas.
Mas por que esse aparentemente tranquilo trabalho era considerado uma profissão de alto risco?
A resposta carece de certo contexto histórico.
No século XV a sociedade europeia adotou um novo código de vestimenta que incluía uma peça que se tornou comum em todas as camadas sociais. Do mais bem nascido nobre, ao mercador e mais simples aldeão, todos queriam adornar suas cabeças com chapéus. Essa peça de vestimenta se tornou tão difundida na Europa e posteriormente no restante do mundo que era praticamente impossível uma pessoa sair de casa sem cobrir sua cabeça.
No início os chapéus eram caros e difíceis de serem obtidos, mas dada a demanda do artigo logo começaram a surgir chapéus de todos os preços. Quando as nações europeias se lançaram ao mar e dominaram colônias nas Américas, isso deu ao chapéu um impulso notável. As pessoas desejavam chapéus de pele de animais do novo mundo. Não é exagero dizer que uma indústria inteira nasceu com essa necessidade.
Animais eram abatidos nas Américas e suas peles arrancadas e enviadas para a Europa para serem curtidas, tratadas, preparadas e finalmente moldadas no formato de chapéus. Todo esse processo era realizado pelo Milliner, o chapeleiro.
Ok, mas o que há de tão perigoso nisso?
Bem, com a demanda para uma produção cada vez maior, era importante confeccionar os chapéus o mais rápido possível. Um método rápido que permitia separar o pelo da pele dos animais envolvia mergulhar a matéria prima em uma banheira com produtos químicos. Isso reduzia o tempo consideravelmente, mas o principal ingrediente para essa mistura era o mercúrio.
Acontece que o mercúrio emana um vapor altamente tóxico que se inalado de forma recorrente acaba causando uma doença chamada eretismo.
O eretismo é uma condição grave que nos estagios iniciais causa apatia, irritação, depressão e insegurança. Os efeitos são em sua maioria neurológicos, com a exposição frequente a pessoa exposta começa a apresentar um agravamento e efeitos colaterais cada vez mais complexos.
A exposição aos vapores do mercurio pode provocar tremedeira, tics nervosos, euforia, e finalmente delírios. Os chapeleiros passavam horas expostos a grandes tanques com mercurio, mexiam nas peças ensopadas e manipulavam tudo aquilo sem qualquer proteção. Poucos meses nessa atividade podiam ser o bastante para causar o eretismo.
Não era raro que os Milliner manifestassem sintomas bizarros. Alguns apresentavam tremores que os impediam de trabalhar, tinham tremores faciais que quase os deformavam, ouviam coisas, sentiam gostos e cheiros estranhos e chegavam a experimentar alucinações absolutamente reais. Em Londres no ano de 1786 um famoso Milliner foi preso depois de assassinar a esposa e seus dois filhos afogando-os em uma tina em sua oficina. O incidente causou enorme comoção e consolidou a relação entre os chapeleiros e a loucura.
Muitos chapeleiro começaram a ser vistos como pessoas peculiares e dadas a comportamento excêntrico. Não se entendia exatamente o que causava aquilo e embora muitos suspeitassem do Vapor de Mercúrio essa era apenas uma suposição que não justificava sua substituição.
As pessoas definiam o Eretismo como o "Mal dos Chapeleiros" e logo a expressão "louco feito um Chapeleiro" acabou pegando. Estima-se que um em cada quatro Milner acabava desenvolvendo algum grau de eretismo, sendo que muitos terminavam seus dias trancafiados em asilos ou manicômios dado seu estado mental deteriorado. O Eretismo avançado não tinha cura e mesmo se afastando do trabalho insalubre as pessoas continuavam manifestando a doença.
No final do século XIX um estudo realizado pela Academia Médica de Paris determinou a relação direta existente entre os vapores do mercúrio e a misteriosa loucura dos chapeleiros. Um novo composto químico baseado em ácido hidroclorídrico passou a ser empregado em substituição ao mercúrio o que reduziu os riscos da profissão. Curiosamente nos Estados Unidos os profissionais da área substituíram o uso do mercúrio por cloro hidratado no tratamento de peles, somente na década de 1940.
A loucura do Chapeleiro foi imortalizada pelo escritor Lewis Caroll que criou o personagem Chapeleiro Louco para sua obra mais famosa "Alice no País das Maravilhas". Acredita-se que Caroll se inspirou em Theophillus Carter um chapeleiro que vivia perto de sua casa e que era um tipo dado a comportamento peculiar.
É notável como a loucura prolifera nos meios mais insuspeitos, assim como o Caos, ela parece simplesmente surgir onde menos se espera.
sábado, 30 de novembro de 2024
O Culto Heaven's Gate - O aterrorizante ritual de despedida de uma Seita Apocalíptica
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Resenha "No Time to Scream" - Três Investigações simples e divertidas para Chamado de Cthulhu
terça-feira, 19 de novembro de 2024
Noites Sangrentas dos Umezzi - Os terríveis Feiticeiros da Tanzânia
Continuando o artigo a repeito de Feitiçaria na África.
A Nigéria não é a única nação africana assolada por uma epidemia supersticiosa de feitiçaria tribal.
Outro país que recentemente passou a enfrentar profundos problemas sócio-culturais relacionados ao tema é a Tanzânia. Localizada no sudeste do continente, esse extenso país conquistou sua independência em 1964 após uma longa história de colonização nas mãos de portugueses, alemães e britânicos. A Tanzânia é um país com múltiplas fronteiras e com pluralidade de culturas, possuindo cerca de 40 tribos fundadoras originais, cada qual com suas próprias tradições e costumes.
O misticismo sempre foi bastante difundido na Tanzânia, sobretudo na região de Tanganica, originalmente uma colônia portuguesa, posteriormente reclamada pela Alemanha no século XIX. Desde o início da ocupação colonial, os costumes locais chamavam bastante a atenção dos europeus. Muitos deles se sentiam intimidados pela ação de líderes tribais que impunham seu poder amparado no terror que conseguiam instilar nos nativos. Esses líderes tribais, não raramente desempenhavam o papel de feiticeiros com amplos poderes. Os nativos que serviam aos colonos brancos ou que simpatizavam com eles, eram perseguidos com violência. A brutal perseguição a nativos que se associavam a estrangeiros era uma questão muito séria.
Um Feiticeiro Umezzi da Tanzânia |
Os feiticeiros da Tanzânia, conhecidos como Ma´ku Umezzi eram extremamente temidos e com razão. Eles comandavam grandes grupos de seguidores fanáticos que por sua vez impunham um regime de terror na população. Quando um Umezzi declarava um indivíduo como traidor ele e sua família passavam a viver sob grande ameaça. Os seguidores acreditavam que um Umezzi refletia a vontade dos espíritos e entidades que ele servia. Um traidor deveria ser trazido diante da congregação reunida e enfrentar uma espécie de julgamento pelos seus crimes - que poderiam ser algo como trabalhar para um estrangeiro ou mesmo aceitar presentes deles. Havia vários relatos de pessoas que simplesmente desapareciam na calada da noite, capturados pelos devotos e levados diante do conselho tribal.
Até meados da década de 1950 inúmeras pessoas sofreram com essa perseguição sistemática, criando um medo palpável na sociedade tanzaniana. Os alegados traidores sofriam com torturas aterrorizantes, eram amarrados em árvores e deixados para os animais selvagens, tinham o corpo coberto de mel e lançados em seguida em formigueiros ou eram afogados em lagos de areia movediça. O mais temido, no entanto, era ser sacrificado em algum ritual de sangue.
Quando os tambores tribais se faziam ouvir, ecoando no coração da selva, a população sabia que aconteceria um ritual e que as entidades sombrias receberiam sacrifícios humanos. O Misticismo da Tanganica contempla a existência de vários espíritos primevos que lá viviam antes mesmo dos humanos. Estes eram seres caprichosos demandavam respeito e ansiavam por sangue para aplacar sua ira. Conforme a tradição, apenas os Feiticeiros Umezzi podiam se comunicar com eles e oferecer os sacrifícios que acalmavam sua cólera. Os Umezzi também conheciam rituais e magias usadas para interceder em nome dessas entidades sinistras. Era daí que emanavam seus poderes.
O ritual envolvendo sacrifício humano era um acontecimento importante e as pessoas eram forçadas a comparecer ao evento. Nessas horríveis celebrações, a vítima era trazida diante do Umezzi que realizava uma dança ritualística que visava abrir o caminho para as entidades se manifestarem. O som de tambores e batuques preenchia as clareiras iluminadas pelas tochas e tomada pela multidão transfixada de terror. As testemunhas recebiam bebidas alucinógenas que causavam visões medonhas. Em meio a gritos estridentes, o Umezzi declarava quando as Entidades Invisíveis se manifestavam e muitas pessoas sob o efeito das potentes drogas viam tais criaturas se materializando. Reações emocionais e surtos eram algo comum, a medida que a celebração prosseguia e o Umezzi fazia o seu trabalho sangrento. A vítima era degolada ou espancada cm porretes ritualísticos, seu corpo mutilado podia ser amarrado a cordas e erguido sobre a clareira, fazendo com que o sangue vertesse em profusão.
Imagem de um artigo britânico de 1930 sobre a feitiçaria na Tanganica |
O poder dos Umezzi só começou a ser confrontado quando a Tanzânia conquistou sua independência e se uniu a nação vizinha de Zanzibar que tem uma rígida formação islâmica. Sob pressão de Zanzibar, a prática de feitiçaria foi declarada ilegal e seus utilizadores duramente reprimidos. Muitos feiticeiros foram presos e afastados, fazendo com que a influência desses supostos bruxos diminuísse exponencialmente. O islã condena qualquer prática envolvendo adivinhação, leitura do futuro e mais especificamente feitiçaria.
Contudo, recentemente a Tanzânia tem experimentado uma espécie de reavivamento das práticas tribais envolvendo os Ma´ku Umezzi e sua feitiçaria. Por décadas esses costumes caíram em desuso, relegados a enclaves rurais mais atrasados no interior do país, mas de algumas décadas para cá eles parecem ter sido redescobertos, experimentando uma espécie de restauração. Até mesmo na capital da Tanzânia, Dodona há sinais de que a feitiçaria é uma prática cada vez mais em voga.
Em 2019 uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Crimes na África apurou que crimes relacionados a misticismo religioso tem crescido na Tanzânia. Crimes graves que incluem agressão, abuso, estupro e homicídios aumentaram incrivelmente tornando-se um problema sério a ser tratado pelas autoridades. Na cidade de Mwanza, a segunda mais populosa do país, crimes motivados por misticismo ocorrem com frequência cada vez maior. Não há números oficiais, contudo é evidente que abuso e agressões tem se tornado cada vez mais comum entre a população que se voltou para práticas tribais até então adormecidas.
"Os Umezzi estão de volta", declara Pbora Mwanani, investigador do Departamento Federal de Combate ao Crime na Tanzânia, um gabinete criado com objetivo de coibir a ocorrência de casos envolvendo cultos e seitas tribais. "A violência tem crescido e estamos em uma verdadeira guerra para evitar esses incidentes".
Bonecos mágicos são parte do folclore dos Umezzi |
Tem sido uma batalha difícil, como o próprio Mwanani reconhece: "A situação é preocupante, a influência desses novos Umezzi é muito grande, sobretudo depois que eles começaram a chegar a cidades maiores. As pessoas, em especial jovens, parecem atraídas por velhos costumes que faziam parte da vida de seus avós".
A nova geração de feiticeiros que tem surgido na Tanzânia recorrem às mesmas táticas de terror dos seus antepassados, prometendo intermediar com as entidades ancestrais para garantir benefícios para seus seguidores. Os Umezzi prometem sucesso e riqueza para o rebanho que se reúne ao seu redor, conduzindo rituais para estabelecer o favor dos espíritos. Tudo com um custo! Mediante um pagamento acertado com o Umezzi - como uma forma de tributo, rituais podem ser realizados com o intuito de garantir trabalho, afastar inimigos, ganhar benefícios ou ainda conquistar fama e fortuna.
"As pessoas realmente acreditam que a feitiçaria pode interceder favoravelmente por elas. Que os bruxos conseguem persuadir as entidades a fazer o que eles desejam", explica Mwanani, "Para que a barganha seja bem sucedida, os Umezzi instruem esses indivíduos a obter sacrifícios de sangue".
Conforme as tradições locais, sacrifícios constituem uma espécie de moeda de troca entre mortais e espíritos e quanto maior a oferta, mais provável será obter o que se deseja. Muitos dos rituais de sacrifício envolvem animais como pombas, galinhas, bodes e cabras, mas é o sacrifício humano - em especial de crianças, o que trás melhores auspícios sobre o resultado almejado. Não é segredo que o tráfico de seres humanos, em especial de crianças, constitui um negócio rentável na África, mas nas últimas décadas a compra e venda de pessoas para utilização em rituais se tornou algo cada vez mais comum. Crianças são sequestradas e negociadas no submundo, vendidas para alimentar essa demanda em crescimento. Uma criança pode render um bom dinheiro para esses criminosos, em especial se for uma criança albina. Tradicionalmente albinos são tratados como pessoas tocadas pelos deuses e portanto sacrifícios mais potentes.
O Departamento de Combate ao Crime da Tanzânia investiga conexões dos Umezzi com o tráfico de seres humanos desde 2012 e concluiu existir um envolvimento direto entre eles. Também há raízes ligando esses Feiticeiros com aliciamento, tráfico de drogas e outros crimes. "A luta tem sido dura, mas é uma luta que precisa ser travada" diz Mwanani com resignação, "a outra opção seria fazer nada".
Na Tanzânia, o ditado "Tudo o que o mal oprecisa para triunfar é que homens bons não façam nada" parece encontrar um exemplo real. Felizmente há pessoas que enfrentam esse mal.