quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O Clã dos Whateleys - Notas sobre a Família mais estranha de Dunwich


Dentre os personagens mais estranhos criados por H.P. Lovecraft sem dúvida o Clã dos Whateley merece destaque.

Essa família de degenerados que habitava os arredores do decrépito povoado de Dunwich em uma das partes mais remotas do interior da Nova Inglaterra, ousou realizar um experimento blasfemo. Desta experiência resultou o nascimento de não apenas uma, mas duas aberrações inomináveis cujo parentesco direto estava ligado a um Deus Exterior - Yog-Sothoth. Este artigo examina esse estranho parentesco e tenta compreender o que aconteceu quando um Deus fertilizou o útero de uma mulher humana gerando nela suas crias.    

O Clã dos Whateley era originalmente formado por Noah Whateley, também conhecido como Velho Bruxo Whateley e sua filha albina Lavínia que segundo alguns era "lenta" ou seguindo o jargão da época "retardada". Os dois viviam em uma pequena propriedade formada por um casebre de alvenaria que mudou pouco ao longo de décadas de ocupação, mas que recebeu grandes acréscimos quando os planos de Noah começaram a frutificar e ele viu a necessidade de expandir o segundo pavimento afim de fornecer uma habitação adequada aos seus "netos".

Todas as menções até então aos Whateley são reticentes já que o "bom povo da Nova Inglaterra" tem uma tendência a se manter distante dos assuntos familiares alheios. Contudo, parece que no caso do estranho clã, foi impossível o povo de Dunwich manter silencio diante do que viam. Em um primeiro momento não se sabia quem era a mãe biológica de Lavínia, assim como, num segundo era ignorada a identidade do pai da criança que ela esperava.

Existe uma considerável discussão a respeito do papel do incesto em "O Horror de Dunwich". Lovecraft jamais citou explicitamente se a prática incestuosa existia ou não, deixando essa hipótese em aberto para os leitores concluírem e se chocarem com o mero vislumbre do que poderia estar acontecendo entre quatro paredes na casa dos Whateley. Isso talvez se deva ao fato de Lovecraft ser bastante pudico quanto a assuntos de natureza sexual, ainda que suas histórias busquem na relação sexual matéria prima para situações de horror (a concepção dos abissais, por exemplo).

Parece bastante razoável que o incesto seja um elemento presente na história. É sabido que em regiões isoladas, sobretudo no interior, laços familiares acabam se dissolvendo e relações espúrias acabam se formando com maior frequência do que em comunidades onde os olhos de estranhos, passíveis de crítica, estão à toda volta.

Para suportar essa hipótese há alguns indícios contidos nas entrelinhas do próprio conto. 

Primeiro o fato de Lavínia ser albina e ter deformidades levanta um questionamento a respeito de sua origem já que albinismo no início do século XX estava intimamente associado a incesto. Contudo, hoje sabemos que essa característica não indica necessariamente um elemento consanguíneo. É verdade que incesto de qualquer espécie aumenta a probabilidade de manifestação de genes recessivos, como os que caracterizam o albinismo, porém o albinismo pode se manifestar em outras circunstâncias que não necessariamente incesto. A condição de albinismo está associada a duas características distintas: na produção do pigmento melanina e no tipo sanguíneo. Portanto, embora a manifestação de características recessivas possa ser um indicativo, não é uma certeza de incesto.      

Existem entretanto outros indícios. Quando Curtis Whateley, um membro não degenerado da família vê a criatura ele comenta haver uma semelhança macabra entre ela e o Bruxo Whateley. Ele é muito específico nessa descrição, afirmando categoricamente que a criatura não "parece com Wilbur ou com os Whateley em geral, mas que se assemelha ao velho Noah. Isso pode ser um indicativo de que Noah seria mais do que o avô dos gêmeos.

Existe a hipótese sugerida por estudiosos como Robert M. Price de que para impregnar Lavínia, Yog-Sothoth recorreu a Noah Whateley, habitando temporariamente o seu corpo e fazendo com que ele fertilizasse a própria filha. Essa possibilidade é bastante factível já que seria difícil assumir como se daria o contato íntimo necessário para a transferência de material genético de um Deus para uma mortal. Nessa hipótese, Yog-Sothoth faria de Noah seu depositário genético usando-o como um canal para fecundar Lavínia, algo que seria inviável dele realizar por conta própria sem destruir a mulher. Essa explicação parece em concordância com o assumido na história Providence de Alan Moore, no qual vemos Noah tomado pelo Deus tendo sexo com Lavínia.

Nesse contexto, Yog-Sothoth usaria o corpo de Noah para habitar e uma vez dentro dele, manipularia sua genética misturando elementos Seus aos do homem, para gerar assim uma combinação capaz de fertilizar Lavínia. O resultado seria portanto um amálgama do material de Noah e do Deus. Se assim for, pode-se intuir ter havido incesto, ainda que de modo indireto.

Mas vejamos o que sabemos a respeito de Noah Whateley antes de seguir em frente.

O pouco que é sabido a respeito de Noah vem de fofocas e boatos disseminados pelo povo de Dunwich que via de regra preferia manter distância do homem. A razão para isso está ligada diretamente a reputação dele e de seus parentes mexerem com magia negra. O apelido "bruxo" não é um exagero, já que Noah tinha a fama de conhecer encantamentos e conduzir rituais na calada da noite no topo dos montes que circundam o povoado. O "Bruxo" Whateley poderia segundo alguns conjurar as forças do inferno, fazer chover, atuar sobre o clima, encantar, curar ou matar animais e lançar maus olhados fulminantes. Sabendo de sua reputação, não é de se estranhar que muitos preferissem evitar o contato com Whateley e suas práticas excêntricas.

Nas poucas vezes que descia na direção do povoado, as pessoas atravessavam a rua para não encontrá-lo diretamente. Ainda assim, a maioria dos moradores não o discriminava ou atentava contra ele, talvez por medo, mas mais provavelmente por um senso estranho de familiaridade. 

A outra razão para temor dizia respeito a morte da esposa de Noah que permanecia sem uma explicação cabível já que a única testemunha do passamento teria sido o próprio marido. A mulher, cujo nome sequer é mencionado, teria falecido quado Lavínia completou 12 anos de idade, e as circunstâncias permaneceram desconhecidas. De fato, o povo do vilarejo sabia pouco a respeito dela, visto que jamais visitou o povoado e raramente era vista quando alguém passava pela casa. Comentava-se que Noah a mantinha sempre na casa e a proibia de se afastar. Quando muito raramente alguém os visitava, dava desculpas de que ela não estava se sentindo bem e a mantinha longe dos olhos. Por muito tempo houve a suspeita de que a misteriosa esposa de Noah poderia ser uma prima, irmã ou quem sabe até uma filha já que a diferença de idade, segundo alguns, era considerável. Fato é que só se soube da sua morte quando Noah comunicou meses depois em uma de suas raras visitas à Dunwich.

Não é de se estranhar que o fato tenha atraído muita suspeita e desconfiança entre a população. Noah jamais contou onde ela foi enterrada e quais foram as circunstâncias da morte. Mas até onde se sabe nunca houve questionamento formal ou inquérito por parte das autoridades policiais. Vivendo em um arrebalde tão distante e isolado, o que acontece naquela região, não dizia respeito a mais ninguém.

Havia alguma especulação sobre a idade de Noah quando da concepção de Lavínia. Alguns davam a ele 50 anos, mas outros afirmavam que ele já teria passado dos 70. A aparência do homem era de um velho, com barba cerrada e grisalha, ainda que tivesse energia e inquestionável saúde. Era forte e não dava mostras de qualquer limitação imposta pela idade. Alguns diziam que não era exatamente coerente, falava sozinho e murmurava coisas sem sentido.

Curiosamente, apenas após o nascimento de Wilbur, seu neto, é que a saúde até então perfeita começou a degenerar. Talvez isso esteja ligado a hipótese dele ter servido como receptáculo do poder de Yog-Sothoth na ocasião da geração de Wilbur, mas não há como saber ao certo. Noah morreu em 1 de agosto de 1924, 11 anos depois do nascimento de Wilbur e embora a causa da morte tenha sido definida como "natural", é possível que ela tenha sido decorrente de um câncer. Talvez a doença tenha se desenvolvido pela exposição ao poder de Yog-Sothoth, ainda que essa seja apenas uma suposição.
   
Lavinia Whateley pode ou não ter sido resultado de incesto, mas muitas pessoas contavam tal coisa como uma certeza. Assumiam que a esposa de Noah tinha algum grau de parentesco com o marido. Lavínia era descrita como uma menina tímida e arredia que raramente se aventurava além da propriedade do clã. Outros a tinham como "lenta das ideias" e "estranha". 

É provável que o que mais contribuía para essa presunção fosse justamente sua aparência física. Definiam a pobre simplória como extremamente feia. Lavínia era uma moça pequena, frágil e de olhar nervoso, sempre sobressaltada como se tivesse uma visão do mundo particular. Ela falava com uma morosidade característica e não parecia letrada, ainda que tenha sido vista folheando os estranhos livros do pai.

Ela era albina, sua pele e os cabelos desgrenhados eram alvos como a neve, enquanto seus olhos tinham uma coloração pálida cor de rosa. Lavínia era magra, vestia-se de maneira modesta com vestidos simples de juta, remendados e por vezes era vista com os delicados pés sem calçados. Com certeza, embora parecesse frágil, tinha uma boa saúde. Os serviços de casa eram de sua responsabilidade, mas o estado geral da habitação denotava que não era muito esmerada na função.

Ela tinha 35 anos quando Wilbur nasceu e até onde se sabe, assumiu por completo o papel de mãe, ainda que sem demonstrar muito entusiasmo. A identidade do pai foi um mistério escandaloso para o povo de Dunwich por muitos anos, alguns conjecturavam que pudesse ter sido um andarilho ou vagabundo que viu algum encanto na moça atarracada ou então a tomou pela força. Outros sussurravam que Noah teria se aproveitado do isolamento em que viviam para compelir sobre ela suas vontades animalescas. Não se sabia ao certo e ela nunca comentou o assunto.


Tema de muitas discussões e polêmica era o fato de que mais de uma testemunha teria visto Lavínia e seu filho vagando nus pelos campos à noite. A moça se destacava pela brancura de seu corpo que a tornava inconfundível mesmo que à distância. A razão para esses passeios e em que circunstâncias se davam, desafiava uma explicação cabível mas pareciam coincidir com datas místicas. Depois de alguns flagrantes, ela passou a ser mais cuidadosa, ainda que alguns afirmassem tê-la visto próximo de Sentinel Hill, dançando e rodopiando nua no topo do Monte ou levando a criança pela mão. Esses estranhos passeios aconteceriam até Wilbur completar 10 anos.

Lavínia desapareceu da face da Terra em 31 de outubro de 1927. Não se sabe o que aconteceu com ela e Wilbur, última pessoa que a viu, nunca explicou exatamente em que circunstâncias teria ocorrido seu falecimento. Ele também não informou onde enterrou a mãe. A morte de Lavínia foi assunto entre o povo de Dunwich, mas o consenso foi que ela teria morrido de gripe ou outra doença comum. É claro, pesaram suspeitas sobre Wilbur, mas o rapaz tinha apenas 14 anos (embora parecesse ter mais) e ninguém quis tomar a frente para fazer uma acusação formal. Lavínia não era querida, não tinha amigos e quanto menos as pessoas se envolvessem nos negócios dos Whateley, melhor.

A única pessoa que talvez soubesse detalhes sobre o que se passava na casa era uma vizinha de nome Mamie Bishop que visitou a casa em meados 1926. Na ocasião, Lavínia manifestou preocupação a respeito de Wilbur e temor sobre sua segurança, sem no entanto, entrar em detalhes.

De acordo com "O Horror de Dunwich", Lavínia deu a luz a gêmeos como resultado direto de uma estranha e única união sexual com o Deus Exterior Yog-Sothoth. A família teria tentado criar "uma raça à parte", misturando o gene humano e o alienígena.  


Baseado na aparência física e desenvolvimento metabólico de Wilbur Whateley, o gêmeo que veio a ser conhecido elo povo de Dunwich, a presunção não parece muito longe da verdade. Ainda que Wilbur fosse para os padrões gerais "mais humano", algumas de suas características mais aberrantes precisavam ser mantidas ocultas para não chocar as pessoas. Ainda assim, em grande parte sua aparência, mesmo quando criança chamava a atenção.

Desde o nascimento, Wilbur tinha um físico peculiar. Primeiro seu desenvolvimento físico era fenomenal quando comparado a um ser humano normal. Segundo rumores ele já era capaz de andar sozinho aos sete meses e aos onze era capaz de falar, ainda que, com um estranho sotaque. Sua voz e os sons que produzia tinham um timbre incomum que foi se acentuando. Eram sons que pareciam vocalizados por órgãos não naturais.

Testemunhas que afirmaram tê-lo visto na companhia da mãe, Lavínia, nas ocasiões em que os dois foram flagrados dançando nus no topo dos montes afirmaram ter visto algo inexplicável. Na falta de explicação concluíram que ele vestia o que parecia ser uma estranha calça, dotada de drapeados franjados que pareciam farfalhar enquanto ele dançava e saltava. Mas essas testemunhas viram a cena por apenas um momento, tendo como iluminação apenas a luz da lua e de fogueiras, quanto mais à uma distância considerável.

A medida que Wilbur continuou crescendo, sua aparência foi se tornando cada vez mais anormal para uma criança: cabelos castanhos grossos se espalhavam pelo seu corpo, suas feições eram angulares e com uma distinta característica caprina, reminiscente dos míticos faunos ou sátiros da mitologia. Seus lábios eram grossos e carnudos, a pele apresentava marcas amareladas que aos poucos foram escurecendo, as orelhas se tornaram cada vez mais pontudas, assim como o queixo. Seus olhos eram grandes e arredondados, com um brilho estranho que deixava as pessoas que os encaravam incomodadas.

Aos 10 anos, Wilbur tinha a mente, a voz e o corpo de um homem adulto. Ele era alto e corpulento, movia-se com um gingado estranho e parecia pouco à vontade nas roupas apertadas que se obrigava a vestir. As pessoas de Dunwich comentavam que ele sempre aparecia de chapéu, isso porque certa vez o removeu em público e alguns curiosos afirmaram ter visto crescer em sua cabeça o que parecia ser um chifre. As pessoas que se aproximavam o bastante detectavam um odor rançoso e suarento que lembrava o cheiro de animais da fazenda. Não é à toa que animais sensíveis a odores o farejavam de longe. Digno de nota é o fato de que cães o detestavam e latiam sem parar quando ele estava próximo. Nessa idade, Wilbur passou a carregar consigo um revólver que usava para espantar os cães que se aproximassem. Ele detestava os cães tanto quanto eles o odiavam, e reagia com um silvo furioso quando passava por um destes animais.

Aos doze anos, Wilbur já atingia dois metros e seu corpo tinha uma constituição sólida. Ele continuava andando com aquele balanço estranho, mas agora parecia mais centrado e à vontade com sua estatura avantajada. Olhava as pessoas do alto e não desviava mais os olhos; lançava sobre aqueles com quem falava, um tipo de encarada penetrante. Sua voz se tornou mais gutural, cavernosa e retumbante. Sua face apresentava uma barba rala castanha que parecia sujar seu queixo pontudo. As unhas eram sempre bem cortadas, mas os dedos eram curtos e com pontas quadradas.

Em 1928, quando tinha 15 anos, Wilbur Whateley fez uma tentativa fracassada de roubar a tradução latina de Olaus Wormius do livro conhecido como Necronomicon. O volume estava na Biblioteca da Universidade Miskatonic. O cão de guarda da biblioteca o atacou furiosamente, rasgando a sua roupa e deixando aparente sua pele. Com isso, foi possível ver pela primeira vez a anatomia alienígena do rapaz.

A primeira coisa percebido no cadáver sem vida foi a poça de bile verde-amarelada que se formou ao seu redor. O odor dessa substância era nauseante. Esse "sangue" em uma análise científica era similar a "hemolinfa", um fluido que circula pelo corpo de artrópodes. Essa classe de animais invertebrados possuem exoesqueleto, corpos segmentados e apêndices. Diferente de vertebrados, que possuem um sistema circulatório interno que impulsiona o sangue rico em hemoglobina, artrópodes possuem um equivalente chamado hemolinfa que circula por seu interior, nutrindo os órgãos em um sistema aberto. O sistema de Wilbur possivelmente era dessa modalidade.

Também é frustrante reconhecer que seu corpo não deixou ossos ou mesmo crânio e que todos estes se desmancharam como se fossem feitos de uma substância passível de derretimento após o cessamento das funções.

Embora a porção superior de seu torso fosse suficientemente humana em aparência, a parte inferior de Wilbur lembrava pouco a de um ser humano comum. Acima da cintura a pele era rígida e escamosa, com uma coloração amarela nas extremidades, tornando-se mais escura até um preto manchado no centro. Abaixo da cintura, as diferenças se acentuavam com uma concentração de pelos grossos no abdomen, genitália e nas pernas. Ao redor da cintura destacavam-se protuberâncias longas e cinzentas semelhantes a tentáculos com bocas ciliadas avermelhadas. Ao longo dos anos, o povo de Dunwich percebeu estranhas marcas no corpo do Bruxo Whateley e em Lavínia. Aparentemente essas marcas eram similares em tamanho e forma às bocas capazes de sugar na ponta dos tentáculos. Isso pode significar que Wilbur usava os tentáculos para sugar sangue de seu avô e mãe.

Sabemos que a criatura enorme batizada de Horror, se alimentava de sangue fresco. É justo assumir que Wilbur se alimentava de maneira similar drenando porções de sangue que permitiriam a ele tirar sustento.   

Enormes olhos podiam ser encontrados em seus quadris, cada qual circulado por uma série de cílios rosáceos. Esses olhos eram leitosos e gotejantes, de uma coloração preponderante azulada, ainda que, tudo indica, não tivessem utilidade sensorial. Wilbur tinha ainda um rabo longo terminando em uma boca de formação rudimentar. Suas pernas musculosas terminavam em patas sulcadas e repletas de nervuras similar a que poderia ser encontrada em dinossauros herbívoros. Esses estranhos "pés" destituídos de dedos separados poderiam ser a causa de seu gingado característico. A medida que Wilbur lutava para respirar a medida que morria, seus tentáculos e cauda mudavam de cor similar ao que ocorre com lulas e polvos. Embora certas estruturas no corpo de Wilbur parecessem morfologicamente com espécimes terrestres, a aparência geral coletiva era diversa de qualquer coisa que se encontre no planeta.


No momento da morte de Wilbur, seu corpo começou a encolher e desmanchar em um tipo de acelerada decomposição hiper-dimensional. Como muitas "coisas de fora do espaço e tempo", a matéria que compunha o corpo físico de Wilbur não pertencia a essa realidade e necessitava de uma grande quantidade de energia para seu sustento e manutenção. Logo que o organismo se viu a beira da ruína a energia dispendida para essa função foi reduzida e o material hiper-dimensional começou a se dissipar. Outras entidades lovecraftianas, como os Mi-Go e Shoggoth, exibem reações similares quando cessam as funções biológicas deixando poucos traços de sua matéria constitutiva. O mais provável é que essa matéria alienígena se desintegra quando não é suprida de energia.

O nascimento de Wilbur decorre de uma tentativa de Yog-Sothoth de criar uma forma de vida estável constituída de sua própria energia e matéria, o equivalente a nossa "carne e sangue". A criação de um ser vivo como Wilbur que conjugava elementos de duas realidades com propriedades e constantes únicas seria uma anátema para nossa ciência biológica, impossível de compreender e conjecturar do ponto de vista das ciências médicas.

O verdadeiro "Horror de Dunwich" talvez não fosse o monstro imenso e invisível que vagava faminto pelo Vale de Miskatonic, mas a coisa semi-humana que desenvolveu inteligência e persuasão humana. 

Wilbur talvez fosse a real ameaça para a espécie humana. Seu propósito parecia ser abrir o caminho para a criação de uma nova e abominável raça de seres semelhantes a ele próprio. E se os seus planos não frutificaram, foi graças ao acaso e a intervenção de um animal feroz, capaz de captar o mal que ali se ocultava.   

domingo, 27 de outubro de 2019

O Horror de Dunwich - Um resumo de horrendos incidentes num pequeno vilarejo da nova Inglaterra


O artigo a seguir diz respeito ao Conto "O Horror de Dunwich" (The Dunwich Horror), escrito por H.P. Lovecraft em 1928 e publicado em fevereiro de 1929, numa edição da Revista Weird Tales. O texto descreve os acontecimentos e a sinopse da história em detalhes.

Aqueles que não leram o conto e pretendem fazê-lo, ou que se incomodam com tais revelações são aconselhados a parar nesse ponto.

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Uma longa sucessão de experimentos foi conduzido por um ramo da decadente Família Whateley no pequeno povoado de Dunwich. Estas experiências no campo da magia negra e feitiçaria frutificaram em 1913, quando na noite de 2 de fevereiro, duas estranhas crianças nasceram de Lavínia Whateley, filha de Noah Whateley (apelidado de Bruxo Whateley pelo povo local). Um dos gêmeos Wilbur Whateley, era suficientemente humano para ser apresentado à comunidade, mas seu irmão monstruoso e invisível guardava maior semelhança com seu pai, o Deus Exterior Yog-Sothoth.

Wilbur foi cuidado por sua mãe e avô de uma maneira excêntrica, enquanto o outro filho foi preservado como um segredo de família. Mantido em sigilo, longe dos olhos curiosos da comunidade rural. Confinado em um velho galpão da fazenda, ele cresceu, tendo que ser mudado de aposento para aposento a medida que se tornava cada vez mais abominável

Seu irmão, Wilbur também deu mostras de sua herança não-natural. Seu desenvolvimento metabólico era diferente e ele crescia com alarmante velocidade. Ainda criança tinha as proporções de um adulto. Seu comportamento bizarro e sua aparência inquietante era assunto comum entre os vizinhos. Havia suspeitas e fuxico, embora a maioria das pessoas preferisse desconversar quando um dos Whateley estava por perto. Era melhor sussurrar sobre certas coisas e evitar se tornar alvo da ira do clã.

Após a morte natural do Bruxo Whateley, já em avançada idade, ocorrida em 1924, Wilbur começou a se soltar. O rapaz deu início a um estudo perigoso, buscando uma maneira de abrir uma passagem entre o nosso mundo e uma realidade habitada por entidades não-humanas. Em 1928 Wilbur tentou invadir a Biblioteca Orne, instituição ligada à famosa Universidade Miskatonic. Seu objetivo era subtrair o Necronomicon, tomo de conhecimento arcano que constava no acervo da Biblioteca. Anteriormente ele havia tentado obter o livro com o bibliotecário responsável, o Dr. Henry Armitage

Armitage, chocado pelo teor da obra e seu conteúdo blasfemo considerou que negar o livro ao rapaz era uma questão pertinente. De fato, Armitage parecia profundamente assustado com a repercussão das experiências conduzidas pelo jovem Wilbur.O livro continha uma fórmula secreta ou conjuração essencial para o experimento de Wilbur e por isso ele resolveu arriscar roubá-lo. Em sua tentativa, ele acabou sendo morto pelo cão de guarda que protegia os corredores da Biblioteca, o animal que latia e ladrava sempre que ele visitava o lugar enfim conseguiu alcançá-lo.

Foi o próprio Professor Armitage quem encontrou o corpo retalhado de Wilbur feito em pedaços pelo ataque furioso do cão. Armitage compreendeu imediatamente o que Wilbur estava planejando. 

No casebre de propriedade de Wilbur, num dos pontos mais isolados das florestas que cercam Dunwich, Armitage recuperou um diário escrito em código que pertenceu a Wilbur. Analisando os símbolos ele começou a decifrar o código e compreendeu a extensão da loucura que contaminava o clã e de seus planos medonhos.

Poucos dias depois, o horror que habitava o galpão decrépito irrompeu de seu confinamento. Faminto e pela primeira vez solitária, a coisa blasfema arrebentou o portão e ganhou a floresta se escondendo nos confins do Bosque. O covil escolhido por ela foi uma ravina recoberta com densa vegetação chamada Cold Spring Glen. Sob o manto da noite, o monstro saia para se alimentar, atacando primeiro os rebanhos de fazendeiros locais, voltando-se posteriormente contra moradores do vale adjacente. Uma das famílias foi totalmente massacrada pela criatura junto com cinco oficiais de polícia que responderam a um chamado inusitado e jamais retornaram da batida.

Em Arkham, Armitage e dois de seus companheiros acadêmicos da Universidade Miskatonic, os Professores Rice e Morgan, suspeitavam do que estaria acontecendo. A essa altura Armitage havia conseguido decifrar o suficiente do diário para compreender a natureza do experimento que havia dado a luz a Wilbur e seu irmão. Os homens da Miskatonic sabiam que algo deveria ser feito, mas apenas coragem não seria o suficiente para a monumental tarefa que eles tinham pela frente. Era preciso conhecer a natureza da besta para enfrentá-la, e tal conhecimento só poderia ser obtido com a leitura do Necronomicon.

A tarefa de ler o livro macabro e suas palavras repletas de maus agouros teve um alto custo na saúde física e mental de Armitage. Mesmo sabendo o que estava em jogo ele prosseguiu em sua leitura, obtendo um conhecimento aterrorizante que quase o levou a loucura.

Quando estavam prontos, os três professores seguiram para a área e usando mapas da região definiram onde a criatura poderia estar escondida. Eles seguiram para Cold Spring Glen, acreditando que o monstro cedo ou tarde iria emergir das profundezas. Ao invés disso, a coisa usa uma rota alternativa e deixa o bosque, desviando-se do caminho dos homens. Seguindo para Sentinel Hill o horror invisível atacou e destruiu a casa de Seth Bishop, devorando seus residentes um a um.

Alertados da fuga e da ameaça, os três professores cruzaram o bosque seguindo o rastro de destruição da criatura avistando as ruínas da casa de Seth Bishop. Seguindo o mesmo rastro até Sentinel Hill eles encontraram a Presença Invisível escalando a face escarpada do monte. Lá eles confrontaram a coisa usando a magia descrita no Necronomicon e copiada por Armitage. Lançando mão da Poeira de Ibn Ghazi, os contornos até então invisíveis do horror cósmico pôde ser visto pela primeira vez. E tornado visível eles conseguiram realizar o cântico que o baniu, salvando Dunwich e a humanidade de um destino aterrorizante. 

A seguir, segue uma Cronologia mais detalhada dos Fatos narrados acima:

Véspera de Maio, 1912 - Estranhos ruídos e sons abafados são ouvidos nos Morros de Dunwich e chegam até Arkham. O evento marca a concepção de Wilbur Whateley e de seu horrendo irmão gêmeo.

2 de fevereiro de 1913 - Wilbur Whateley nasce em uma noite especialmente escura na véspera de Candlemass. Uma semana mais tarde, Noah "Bruxo" Whateley guia seu trenó até o povoado de Dunwich e anuncia o nascimento de seu neto o que levanta todo tipo de rumor entre os habitantes. A jovem Lavínia, filha única de Noah raramente era vista fora da propriedade da família em uma área especialmente erma do Bosque. Alguns sugeriam que a moça tinha severas limitações mentais. Apesar de escandalosas, as notícias não causam surpresa entre os moradores locais acostumados com certo grau de consanguinidade nas relações de seus vizinhos.


No primeiro mês de vida, o recém nascido é visto apenas por duas pessoas: Zechariah Whateley, um parente de outro ramo da família que presenteia Noah com duas vacas e Mamie Bishop, que decide visitar a fazenda por curiosidade. Os visitantes percebem que há algo errado no lugar, talvez uma estranha aura perceptível. Mamie repara ainda que um galpão foi restaurado e uma pesada tranca é instalada em seu portão. 

13 de maio de 1913 - Wilbur cresce saudável, mas seu metabolismo faz com que ele já tenha o tamanho de uma criança de um ano.

Setembro de 1913 - O bebê Wilbur dá seus primeiros passos.

1913, Halloween - Um grande brilho é visto no topo de Sentinel Hill. Um morador local chamado Silas Bishop afirma ter visto Lavinia Whateley e seu filho Wilbur dançando ao redor de uma fogueira. Apesar da distância, ele diz que a mulher estava nua e a criança parecia usar um estranho cinto e um tipo de calça escura. Wilbur jamais é visto novamente sem uma pesada roupa.

Janeiro de 1914 - Wilbur diz as suas primeiras palavras. Pouco depois, o Bruxo Whateley começa um trabalho de reconstrução do segundo andar da casa. As janelas são pregadas e ninguém se recorda de tê-las visto abertas. Os poucos visitantes se surpreendem com a coleção de grossos e antigos livros dispostos ao longo de prateleiras na sala de estudos pertencente a Noah.

Setembro de 1914 - Com um ano e sete meses, Wilbur tem o tamanho de uma criança de quatro anos. O trabalho de restauração do segundo andar da casa dos Whateley é concluído e uma porta é instalada. Essa entrada é acessada através de uma rampa construída na fachada da casa. Earl Sawyer, um vendedor de gado que tinha negócios com os Whateley visita o lugar. Ele reclama do fedor nauseante que parece emanar da propriedade. Os Whateley não explicam o que causa esse cheiro. Mais tarde, alguns se recordariam de um fedor similar sentido no ano anterior, próximo de Candlemass.


Maio de 1915 - Poderosos tremores de terra sacodem sentinel Hill e são sentidos em Aylesbury. Isso ocorre todo o ano ao longo de mais de uma década e cessa apenas após a morte de Wilbur.

1915, Halloween - Poderosos tremores sacodem Sentinel Hill uma vez mais, dessa vez acompanhado de um estranho brilho flamejante no topo. Esse fenômeno é visto anualmente dali em diante.

26 de novembro de 1916 - Wilbur aprende os cânticos do Sabaoth em honra aos Deuses Exteriores. O menino mata um cão da raça collie pertencente a Ellan Hutchins. Cães e animais domésticos parecem detestar Wilbur e latem insistentemente na sua presença.

Fevereiro de 1917 - Com quatro anos de idade, Wilbur parece ter dez. Ele passa a carregar uma arma de fogo para se defender de animais, especialmente cães que o atacam. Pessoas que visitam a propriedade afirmam que o menino tem um comportamento excêntrico e que não parece "ser muito certo". Ele murmura constantemente em um idioma estranho e sua voz gutural causa arrepios nas pessoas mais sensíveis. Um vendedor itinerante visita os Whateley e conta histórias a respeito de batidas e ruídos abafados vindos do segundo pavimento da casa que permanece trancado todo o tempo. Cães agora evitam a propriedade.

Verão de 1917 - A junta de alistamento militar de Dunwich procura por homens saudáveis na região e as autoridades médicas ficam alarmadas pelos sinais de deterioração de muitos rapazes da área. Oficiais e médicos realizam um levantamento sobre a saúde dos residentes. O Arkham Advertiser, jornal da cidade vizinha e o Boston Globe, enviam jornalistas para cobrir a história. Eles se interessam em visitar a casa dos Whateley. O Clã tem uma reputação antiga como feiticeiros e praticantes de magia negra. As histórias sobre o segundo andar trancado, os livros antigos e toda sorte de rumor deixa a imprensa em alerta. Uma fotografia de Wilbur Whaeley é feita. Com quatro anos e meio ele parece ter quase quinze, o que desperta dúvidas a respeito da verdadeira data de seu nascimento.    

1923 - Uma segunda grande onda de construção tem início na casa dos Whateley. Boa parte do segundo andar é colocado abaixo, inclusive uma antiga chaminé que é desmantelada. Os tijolos são empilhados ao lado para serem aproveitados em alguma outra atividade. Wilbur, com dez anos de idade completos parece um adulto.

1 de agosto de 1924 - Dr. Houghton de Aylesbury é convocado até a casa dos Whateley no meio da madrugada. O médico só chega por volta da uma da manhã e é recebido por um ansioso Wilbur que o leva até o aposento de seu avô. Lá o médico nada pode fazer por Noah que morre de causas naturais. Ele descreve um estranho som vindo do andar superior.

Nessa época, Wilbur é um correspondente regular com vários estudiosos e pesquisadores. Entre os seus colegas mais frequentes está o Professor Henry Armitage da Universidade Miskatonic. 


1925 - Boatos circulam pela região de Aylesbury de que Wilbur estaria envolvido em crimes e no desaparecimento inexplicável de jovens e crianças. Nada é provado contra ele.

Armitage decide fazer uma visita a Wilbur Whateley em sua casa em Dunwich. Até conhecê-lo em pessoa, Armitage não via nada de estranho no rapaz, mas um encontro o deixa chocado. Wilbur tem mais de dois metros de altura e uma aparência desconcertante.

1926 - Lavinia não é mais vista em companhia de Wilbur nas estranhas cerimônias que ocorrem no topo de Sentinel Hill. Ela confidencia a Mamie Bishop que teme seu filho.

31 de outubro de 1927 - Lavinia Whateley desaparece sem deixar vestígios.

Verão de 1927 - Wilbur faz uma mudança de seu quarto para o que pertenceu ao seu avô. Ele também dá início a obras de reparação na cabana . As janelas são lacradas com tábuas e pregos e ao que parece paredes são colocadas abaixo para criar ambientes mais espaçosos. Ele tem mais de dois metros e dez de altura.

Inverno de 1927-1928 - Wilbur continua crescendo, mas passa a evitar ir até Dunwich pois sua aparência chama a atenção das pessoas. Ele decide entretanto fazer uma visita a Universidade Miskatonic onde consulta livros no acervo de obras raras com o aval de Armitage. Ele pede para pegar emprestado alguns livros, mas Armitage explica que eles não podem deixar a biblioteca. Alarmado pela aparência bizarra do rapaz, Armitage contata o Dr. Houghton em Aylesbury para saber detalhes sobre a família.

Ele também consulta o Necronomicon, livro que Whateley vinha pesquisando regularmente. Chocado com o conteúdo blasfemo do tomo, Armitage troca correspondência com estudiosos de conhecimento arcano. Ele fica sabendo que Wilbur visitou Cambridge onde buscou ter acesso ao Necronomicon mantido naquela instituição. Alertado por Armitage, o bibliotecário se nega a emprestar o livro. Wilbur fica furioso!


3 de agosto 1928 - Nas primeiras horas da madrugada, Wilbur Whateley entra de forma sorrateira na Biblioteca para roubar o Necronomicon mas é morto pelo cão de guarda. Oficiais de polícia que pretendem avisar seus parentes do ocorrido visitam Dunwich e encontram a fazenda deserta, eles são repelidos pelo fedor e não entram na propriedade. Os livros pertencentes aos Whateleys é reunido e enviado para a Universidade Miskatonic que o incorpora ao seu acervo.

2 de setembro de 1928 - Armitage estuda o diário de Wilbur e se surpreende com as anotações cifradas. Demora um mês para ele começar a entender o estranho código usado.

3 de setembro de 1928 - Armitage consegue quebrar o código e começa a estudar o diário.

4 de setembro de 1928 - Os Professores Rice e Morgan visitam Armitage e ficam surpresos com seu estado de nervos em frangalhos. O bibliotecário parece prestes a sofrer um colapso nervoso.

5 de setembro de 1928 - Armitage continua lendo as páginas do diário e seu estado de saúde segue se deteriorando.

6 de setembro de 1928 - O médico de Armitge visita o bibliotecário e percebe seu estado delicado de saúde. Ele ordena que ele cesse seu trabalho imediatamente.

7 de setembro de 1928 - Armitage sofre um colapso e é colocado de cama. Em seu leito ele delira sobre as coisas horrendas contidas no diário e no Necronomicon. Ao acordar ele pede que Rice e Morgan sejam convocados imediatamente.

8 de setembro de 1928 - Rice e Morgan visitam Armitage. Os três homens conversam sobre o diário de Wilbur e discutem os experimentos profanos realizados pelos Whateley ao longo de décadas. Eles passam o dia na biblioteca consultando "estranhos e terríveis livros".

9 de setembro de 1928 - Armitage copia uma fórmula e começa a misturar substâncias seguindo as instruções no diário e em outras fontes. Nessa mesma noite, o Horror destrói as paredes da Casa que servem de prisão e deixa um rastro de destruição na Casa dos Whateley. Depois de atacar o rebanho de Seth Bishop, ele segue pela Estrada Glen e contorna para o sul na direção do Bosque.

10 de setembro de 1928 - Rastros deixados pelo Horror são encontrados por Luther Brown, capataz de George Corey enquanto este reune as vacas no pasto. Enormes pegadas são vistas na Estrada Glen. Chauncey Sawyer, descobre que a velha casa dos Whateley está em ruínas. Carcaças de vacas são achadas perto de Devils Hopeyard. O rastro de destruição deixado pela criatura indica que ela está escondida em algum lugar do Bosque onde ele destruiu vegetação e deixou árvores tombadas. Ele encontrou guarita em uma ravina escura e profunda que ninguém ousa entrar. Em Arkham, Armitage termina seus preparativos.

11 de setembro de 1928 - Por volta das 2 da manhã, a Fazenda de Elmer Frye é atacada pelo Horror de Dunwich. Um galpão é destruído e três quartos das cabeças de gado são mortas. Zebulon Whateley, membro de um ramo da família apenas semi-decaído sugere a realização de uma cerimônia para se livrar da presença invisível. Um pequeno artgo é publicado no Aylesbury Transcript, enquanto em Arkham, Armitage, Rice e Morgan começam a trabalhar em uma estratégia.

12 de setembro de 1928 - O artigo publicado no Transcript é transmitido pela Associated Press e estampado no Arkham Advertiser. Ele é visto por Armitage que compreende do que se trata. Nessa noite, os cães nos arredores da Fazenda Frye e de Seth Bishop latem insistentemente. Na manhã seguinte, rastros estranhos são vistos na direção de Sentinel Hill.

13 de setembro de 1928 - Armitage, Rice e Morgan fazem os últimos preparativos.

14 de setembro de 1928 - Às 3 da manhã a família de Elmer Frye é atacada pelo Horror que destrói a propriedade e devora seus moradores. Mais tarde, Armitage, Rice e Morgan seguem para Dunwich de automóvel, chegando por volta da uma da tarde. Lá eles ouvem os relatos do que aconteceu. Eles visitam o povoado, avistam Sentinel Hill e vasculham as ruínas da Fazenda Frye. Descobrem ainda um automóvel da Polícia local abandonado, seu motorista desapareceu. Eles decidem esperar que o Horror faça um novo movimento.


15 de setembro de 1928 - Na manhã seguinte, enquanto os três professores discutem sobre entrar no Bosque que serve de esconderijo para a criatura, o Horror emerge pelo outro lado da ravina. Sua movimentação é captada por um jovem chamado Luther Brown. O Horror se move com rapidez na direção da fazenda de Seth Bishop. Lá ele destrói o prédio e seus ocupantes, Sally Sawyer e seu filho Chauncy são mortos. Os professores chegam pouco depois até a Fazenda Bishop e encontram o local destruído. Eles seguem a trilha do monstro até a cabeceira de Sentinel Hill. Correndo para o topo, eles utilizam a Poeira de Ibn Ghazi para tornar a criatura visível e realizam o Ritual de Exorcismo aprendido no Necronomicon, que destrói o Horror.

Com a entidade destruída, a ameaça dos Whateley e sua tenebrosa conspiração é enfim desmantelada. Embora satisfeitos com o resultado de sua intromissão, os três acadêmicos se perguntam o que poderá ser feito se por acaso a ameaça um dia retornar.

A pergunta, ficaria sem uma resposta...

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Yog-Sothoth - The Gate and the Key Beyond Time and Space


The One Who stalks Beyond Limits.

The Gate and the Key.

The Opener of Ways.

There are many names for Yog-Sothoth, one of the most important and powerful Outer Gods in the Mythos Universe. Much is said about Azathoth's colossal influence, elevated to the rank of universal ruler in his Mephitic Court, but if the Demonic Sultan is Chaos incarnate, Yog-Sothoth has the role of Keeper of Knowledge and Bastion of the Order.

It is difficult to measure the importance and scope of Yog-Sothoth for cosmic ordering. Perhaps without Him, the universe itself, as we know it, would not exist and would eventually collapse completely. He is one of the most important entities in existence, the great modulator of reality and the maintainer of status, for it is said that Yog-Sothoth brings together in his Being the physical concepts of Time and Space, and without him neither one nor another would exist. Perhaps in the face of all this preponderance, the particular macabre mythology known as "Mythos de Cthulhu" could be better - or at least more correctly, called "Yog-Sothoth Mythos".


When the primordial spark was unleashed, and the wave of creation emanated from the Big Bang Nuclear Chaos, one of the first entities to form was Yog-Sothoth. Theorists conjecture that the lost consciousness of Azathoth would have been absorbed in some way by Yog-Sothoth, and if such a thing happened, would he not be an avatar of Primordial Chaos. The truth, no one knows.

Yog-Sothoh is, however, the verb made power.

The Necronomicon is the most reliable esoteric tome to comprehend the full extent of its existence, but even such pages are ridiculously incomplete to dissect Its grandeur. No work done by mere mortals could do it. Yog-Sothoth is far beyond any attempt of analysis or understanding of fragile minds. Those who tried to investigate its origin failed painfully, for it is not for men to contemplate the face of such an entity.

Still, it comes from Abdul Al-Hazred's pen the most laudable attempt to peek under the veil of mysteries that surrounds the Outer God. The mad Arab calls him "the one who knows and sees everything," reputing to him the gifts of Omnipresence and Omniscience. These faculties are linked to Yog-Sothoth's ability to see all planes and dimensions simultaneously. "His eyes are everywhere, his ears are all around the cosmos. If a noise is made he will hear." He is a kind of Monitor whose prerogative is to watch all incidents and occurrences in an endless chain of realities. The smallest of incidents, the subtlest and tiniest of things, goes unnoticed. He knows, for it is his prerogative to know.

He is the Keeper of the infinite universes.


This very important purpose has led countless species to seek in Him through the ages the source of knowledge and all universal answers. The Fungi of Yuggoth call Him "the one above," though they rarely offer Him worship.

The Great Yog-Sothoth is reputed as a kind of Demiurge, and as such sought after by those who pursue the ultimate truth. His followers cry out for His attention, begging for a fragment of His immeasurable wisdom. Some sages have weaved from this interaction parables filled with Kabbalistic and philosophical doctrines.

Patron of ascetics and mystics, hermits and cenobites, he is also the sponsor of Wizards who try to achieve a limited degree of control over time and space. In more than one narrative, it is said that Yog-Sothoth is willing to share His secrets with those who turn to him. It is said that the Outer God does not act in a particularly evil or perverse way, although in practice none of the Mythos Entities can be analyzed from the simplistic point of view of good and evil. Most likely, he is merely indifferent, and as such, does not care at all about the inferiority of other beings. However, those who seek to interfere with the laws of space and time or abuse the God's prerogative, end up incurring in His wrath. And these suffer untold misfortunes.


In ancient times, schools and mystical traditions were formed to peer into the wisdom of Yog-Sothoth. In Mu and Hyperborea, and possibly in the Nameless City, societies devoted to this God emerged, but it was in mythical Atlantis that the largest of these groups committed to absorbing His wisdom were formed. It is interesting to realize that rarely did people who gathered around the entity form Cults, as happened with other primeval Mythos gods. At most, around Yog-Sothoth arose sects without a determining religious nature. Its members saw themselves as academics willing to learn, unlike the sycophants who subject themselves to humiliation and are satisfied with crumbs.

The Atlantean philosophers sought to commune with Yog-Sothoth, which earned them a valuable arcane framework. Some even conjecture that it was from this interaction that the whole mystical heritage of the human race was born, a legacy that was spread throughout the world with the collapse of the Lost Continent. Followers of other gods equally regarded as patrons of magic, such as Nyarlathotep, Tsathoggua, and Ubbo-Sathla, contest this notion.

However, the essential importance of Yog-Sothoth in the formulation of innumerable spells and in the creation of all kinds of rituals is undeniable. Several spells require his name to be invoked and depend on his consent to work. Noteworthy are the spells that involve manifestation and depend on the Outer God, as he is responsible for opening the way, allowing the creation of portals and access to dimensions. Even other deities are believed to subject to Yog-Sothoth's will if they wish to move across distances and travel the cosmos. Without him, turning the locks of creation and opening the passages, the gods themselves would be confined within their spatial boundaries. It is His prerogative to grant the right of way or to prohibit transit through Its domains. "Leave a place without movement" this is the gift of Yog-Sothoth. Whatever a gate is opened depends of His seal, without which the paths would be closed forever. Through the thresholds watched by Yog-Sothoth only those he wishes may advance.


That truth is attested by the famous Necronomicon excerpt:

"Yog-Sothoth knows the Gate. Yog-Sothoth is the Gate. Yog-Sothoth is the Key and Keeper of the Gate. Past, present, future, all are one in Yog-Sothoth. He knows where the Ancients crossed in the past, and where they will break out again. He knows where they tread the fields, and where they tread yet, and why no one can behold whem they tread. "

The name of the Outer God is also part of the spell that brings dead beings back to life. "Through his intercession, even death can be reversed." Known as Resurrection of the Primordial Salts, this blasphemous magic, used by necromancer's brotherhoods, guarantees a certain dominion over death. By employing it correctly, the wizard is able to bring "back out of the void" individuals whose existence has ended. Similarly, the reverse of this spell causes the rapid physical degradation of the resurrected.

Yog-Sothoth is rumored to be the mortal enemy of Nodens and arch-nemesis of the Elder Gods. Some mythologies claim that the two face each other since the beginning, as antagonistic forces determined to destroy each other. Moreover, this confrontation would cause the destruction of the universe. Not all scholars agree with this notion, pointing out that Yog-Sothoth would be far more powerful than the God of the Abyss and all the Ancient Gods together. There may be misinterpretations or followers of Nodens have exaggerated their role in this cosmic feud.


Interestingly, while other deities have gained relevance among men in the last millennia, the original importance of Yog-Sothoth has faded. Cults dedicated to Cthulhu, Shub-Nigurath, Hastur, the various masks of Nyarlathotep and other Great Old Ones have become much more widespread, perhaps because they are more accessible. While negotiating with Yog-Sothoth demands some degree of arcane discernment and pedigree, the others are willing to bestow their favors on those who simply put themselves in servitude. Indeed, few human societies are concerned with the Outer God who became the preceptor of hermits and lone wizards. The exception would be an order of scholars at the height of the Aztec Empire and more contemporaneously the Hermetic Order of Silver Twilight, a society dedicated to explore the gifts offered by the Outer God.

In addition to governing Space, Yog-Sothoth is the undisputed Lord of Time.

The tides of the Past, Present and Future flow from and through Him and can be visited at His pleasure. Just as it is His faculty to grant passage through Space, it is up to Yog-Sothoth to govern the temporal flow, being able to guarantee the traffic of those who He deem worthy. Unlike those traveling through space, those wishing to travel through time rarely have His consent. It seems that Yog-Sothoth resents those who try to use Him for this purpose.

In the form of his avatar Umr At-Tawil (or Tawil at-Umr, The Prolonger of Life), Yog-Sothoth presents himself as the ultimate gatekeeper who watches over the Halls Beyond Time, a place inhabited by beings not subject to time itself. Such a place can only be accessed with artifacts like the legendary Silver Key that allows to unlock these mysterious doors.


Despite its cosmic importance, Yog-Sothoth can be drawn to Earth in order to respond to the call of individuals who knows the correct invocation. Stone circles high on hills or consecrated monoliths are necessary for the ceremony. The sacrifice of at least one conscious beings and the recitation of words of power are also essential. There are favorable dates for the ritual, especially the Lammas (August 1st).

Complex rituals often include safeguards that prevent the physical manifestation of the God from unleashing unwanted effects that could otherwise be catastrophic. If such measures are not properly fulfilled, the appearance of Yog-Sothoth can cause permanent damage to the temporal flow and open irreparable tears in the fabric of reality. It is rumored that more than one planet was devastated by the sudden appearance of Yog-Sothoth and when leaving, there was nothing left of these worlds, but ashes and oblivion.

Even with due protections, the invocation of the God is not an ordinary event, leaving permanent marks in the immediate vicinity. There are reports of "wasted time", people experiencing a strong sense of deja-vu and beings overwhelmed by all sorts of strange sensations. Living things are directly affected, some show unmistakable signs of aging while others inexplicably rejuvenate. Similarly, small dimensional rifts opens. The boundaries between dimensions become blurred, allowing some degree of interaction between the inhabitants on both sides. There are reports that in the exact place where He has been present, will be possible to hear, understand or even see other planes.


At times, when he answered the invocation, the Outer God fulfill predetermined purposes. He shares his knowledge, flooding people's minds with the information he wishes to convey. This experience can devastete as not everyone minds are prepared to that kind of contact.

However, Yog-Sothoth has also been invoked for other reasons as well. On one occasion he was brought in to fertilize a woman with her seed. In this bizarre incident in the village of Dunwich, the Outer God Himself impregnated Lavinia Whateley who gave birth to twins born with unique characteristics conveyed by the "father." It is unclear whether this case has been isolated or whether the God has been summoned at other times for the same blasphemous purpose.

Physically Yog-Sothoth takes the form of a huge cluster of iridescent globes joined by an unknown foamy substance sprouting tendrils that constantly extend and contract. The mass may extend over an area of ​​almost 100 meters in length, but may become much larger, spreading over 800 meters or more. The hundreds of globes emit a pulsating glow in shades of yellow, white and purple. This luminosity is filtered like rays of light passing through opaque glass. The globes, although they look like gelatinous structures, cannot be conceptualized as solid or gaseous. They are probably made up of alien matter that defies known physical state and changes through realities, appearing and reappearing at all times. Some observers claim that globes reflect scenes from the past, present, and future, and look at these structures for a long time reveals secrets that can destroy human sanity. The binding substance that surrounds the globes has a slimy appearance that produces electric current and causes a strong static charge.


The Outer God floats gently in the air like a cluster of slowly moving balloons. It can, however, disappear from one point and materialize at another, crossing immeasurable distances. Its delicate tentacles, smooth and agile, are used to probe the surroundings, grasp and manipulate, though rarely He make use of them. The entity makes no noise, but has a pungent odor of ozone, zinc and magnesium.

Yog-Sothoth does not express itself vocally, but can communicate through "unspoken language," a telepathic insertion cast directly into the mind of sentient beings. The experience is painful, causing a terrifying sensation as the brain is invaded by an absolutely alien entity. This may cause aneurysm and edema. The entity is obviously endowed with high intelligence, determination and self-will. In general, He does not seem to care about inferior creatures, solemnly ignoring them, yet He can be attracted to and respond to them.

When invoked, He stands motionless, floating upon the stone circle as He consumes sacrifices offered. If these are not satisfactory, Yog-Sothoth can simply return to his reality or consume anyone he sees fit as compensation. Touching the tentacles or spheres is horribly harmful, causing aging, burns and corrosion in all biological life forms. They drain the vital energy of His victims, leaving them physically and mentally mutilated. Such damage is permanent and incurable. Prolonged touch, on the other hand, is invariably fatal, killing in seconds, leaving only an empty and dry shell. Whether the God finds sustenance in this way is unknown, but He seems interested in consuming the energy of living beings whenever has the opportunity.


In the few times he is challenged, Yog-Sothoth defends himself in a stormy way. He can transport any target anywhere in the universe in the blink of an eye, removing him from his haughty presence. Whether it is the center of a star or the cold space vacuum, its victims are never seen again. Alternatively, when enraged, Yog-Sothoth can generate a powerful silver ray-like discharge that strikes everything within five meters in diameter. Those affected are disintegrated, their bodies turned to dust.

Although the Mythos literature contains many narratives involving the interaction between mortals and this Deity, it is possible that most of them are but fables. One in particular, which describes Moses releasing the entity from the interior of Mount Sinai, seems especially allegorical. If it serves as a warning, the most likely outcome for any bargaining attempt with this entity is complete and total obliteration.

Yog-Sothoth constitutes a principle of Cosmic Power, a regulating forces of reality and as such is far beyond our comprehension. To deal with Him is to court annihilation.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Yog-Sothoth - O Portão e a Chave além do Tempo e Espaço


Aquele que Espreita além dos Limites.

O Portão e a Chave.

O Abridor dos Caminhos.

São muitos os nomes de Yog-Sothoth, um dos Deuses Exteriores mais importantes e poderosos no Universo dos Mythos. Muito se fala a respeito da colossal influência de Azathoth, alçado ao posto de regente universal em sua Corte Mefítica, mas se o Sultão Demoníaco é o Caos encarnado, cabe a Yog-Sothoth a função de Depositário dos Conhecimentos e Bastião da Ordem.

É difícil medir a importância e alcance de Yog-Sothoth para o ordenamento cósmico. Talvez sem ele , o próprio universo como conhecemos não existiria e acabaria ruindo por completo. Ele é uma das entidades mais importantes da existência, o grande modulador da realidade e o mantenedor do status, pois é dito que Yog-Sothoth reúne em seu Ser os conceitos físicos de Tempo e Espaço, e que, sem ele, nem um, nem outro existiriam. Talvez em face de toda essa preponderância, a particular mitologia macabra conhecida como "Mythos de Cthulhu", pudesse ser melhor - ou ao menos mais corretamente, chamada de "Mythos de Yog-Sothoth".


Quando a faísca primordial foi deflagrada, e a onda de criação emanou do Caos Nuclear no Big Bang, uma das primeiras entidades a se formar foi Yog-Sothoth. Teóricos conjecturam se a consciência perdida de Azathoth não teria sido de alguma maneira absorvida por Yog-Sothoth, e se tal coisa aconteceu, se não seria ele um avatar do Caos Primordial. A verdade, ninguém sabe. 

Yog-Sothoh é contudo, o verbo que se fez poder.

O Necronomicon é o tomo esotérico mais confiável para compreender toda a extensão de sua existência, mas mesmo ele é ridiculamente incompleto para dissecar sua grandeza. Nenhuma obra lavrada por simples mortais poderia fazê-lo. Yog-Sothoth está muito além de qualquer tentativa de análise ou da compreensão de mentes frágeis. Os que tentaram investigar sua origem falharam dolorosamente, pois não cabe aos homens contemplar a face de tamanha entidade.

Ainda assim, vem da pena de Abdul Al-Hazred a tentativa mais louvável de espiar sob o véu de mistérios que recobre o Deus Exterior. O árabe louco o chama de "aquele que tudo sabe e tudo vê", reputando a ele os dons da Onipresença e Onisciência. Essas faculdades estão ligadas a capacidade de Yog-Sothoth de enxergar todos os planos e dimensões simultaneamente. "Seus olhos estão em todo canto, seus ouvidos em todo cosmos. Se um ruído for produzido ele ouvirá". Ele é uma espécie de Monitor cuja prerrogativa é assistir todos incidentes e ocorrências num infindável encadeamento de realidades. O menor dos incidentes, a mais sutil e ínfima das coisas não lhe passa desapercebida. Ele sabe, pois é sua prerrogativa saber.

Ele é o Zelador dos infinitos universos.


Essa finalidade tão importante fez com que incontáveis espécies buscassem Nele, através das eras, a fonte do conhecimento e de todas respostas universais. Os Fungos de Yuggoth  tem como "aquele além", embora raramente ofereçam a ele adoração.

O Grande Yog-Sothoth é reputado como uma espécie de Demiurgo, e como tal, procurado pelos que perseguem a derradeira verdade. Seus seguidores clamam por sua atenção, desejando um fragmento que seja da sua imensurável sabedoria. Alguns sábios teceram a partir dessa interação, parábolas repletas de doutrinas cabalísticas e filosóficas.

Patrono dos ascéticos e místicos, dos eremitas e cenobitas, ele também é o patrocinador de Feiticeiros que tentam alcançar limitado grau de controle sobre tempo e o espaço. Em mais de uma narrativa, comenta-se que Yog-Sothoth está disposto a partilhar de seus segredos com aqueles que a ele recorrem. É dito que o Deus Exterior não age de modo particularmente maligno ou perverso, embora, na prática, nenhuma das Entidades dos Mythos possa ser analisada sob a ótica simplista de bem e mal. O mais provável é que ele seja meramente indiferente, e como tal, não se importa em absoluto com a inferioridade dos outros seres. Contudo, aqueles que buscam interferir com as leis do espaço e tempo ou abusam da prerrogativa do Deus, acabam incorrendo na sua ira. E estes sofrem infortúnios inenarráveis.


Em tempos remotos, escolas e tradições místicas se formaram com o objetivo de perscrutar a sabedoria de Yog-Sothoth. Em Mu, na Hiperbórea e possivelmente na Cidade sem Nome, surgiram sociedades devotadas ao Deus, mas foi na mítica Atlântida que se formou o maior dos grupos empenhados em absorver sua sapiência. É interessante perceber que raramente as pessoas que se reuniam ao redor da entidade, formavam Cultos, como tende a ocorrer com outros deuses primevos do Mythos. Quando muito, em torno de Yog-Sothoth surgiam seitas, sem um caráter religioso determinante. Seus membros viam a si mesmos como acadêmicos dispostos a aprender, diferente dos sicofantas que se sujeitavam a humilhações e se satisfazem com migalhas.

Os filósofos da Atlântida, procuravam comungar com Yog-Sothoth, o que lhes rendeu um valioso arcabouço arcano. Alguns conjecturam inclusive que foi dessa interação que resultou toda herança mística da raça humana, legado que foi espalhado pelo mundo com a derrocada do Continente Perdido. Seguidores de outros deuses igualmente tidos como patronos da magia, como Nyarlathotep, Tsathoggua e Ubbo-Sathla, contestam essa noção.

É inegável, entretanto, a importância essencial de Yog-Sothoth na formulação de inúmeras magias e na criação de toda sorte de ritual. Vários feitiços carecem da invocação de seu nome e dependem de sua anuência para funcionarem. Digno de nota são os feitiços que envolvem manifestação e que dependem do Deus Exterior, já que é ele o responsável por abrir os caminhos, permitindo a criação de portais e o acesso às dimensões. Acredita-se que até mesmo outras divindades precisam se sujeitar à vontade de Yog-Sothoth se desejarem se deslocar através de distâncias e viajar pelo cosmos. Sem ele, girando as fechaduras da criação e escancarando as passagens, os próprios deuses ficariam confinados em seus limites espaciais. É prerrogativa Dele conceder o direito de passagem ou vedar o trânsito pelos seus domínios. "Mover sem sair do lugar, esse é o dom de Yog-Sothoth". Qualquer que seja o portão aberto, depende da Sua chancela, sem a qual, os caminhos se fechariam para sempre. Através dos umbrais vigiados por Yog-Sothoth só avançam aqueles que ele desejar.


Essa verdade é atestada pelo famoso trecho do Necronomicon:

"Yog-Sothoth conhece o Portão. Yog-Sothoth é o Portão. Yog-Sothoth é a Chave e Guardião do Portão. Passado, presente, futuro, todos são um em Yog-Sothoth. Ele sabe onde os Antigos atravessaram no passado, e onde Eles irromperão novamente. Sabe onde Eles pisaram os campos, e onde Eles ainda pisam, e porque ninguém pode contemplá-los enquanto pisam".

O nome do Deus Exterior também é parte do feitiço que permite trazer de volta à vida seres mortos. "Através de sua intercessão, mesmo a morte pode ser revertida". Conhecida como Ressurreição dos Sais Primordiais, esta magia blasfema, utilizada por confrarias de necromantes, garante certo domínio sob a morte. Empregando-a corretamente, o realizador é capaz de trazer "de volta do vazio" indivíduos cuja existência foi terminada. Da mesma maneira, o reverso da magia causa a rápida degradação física de quem foi originalmente reintegrado.  

Há rumores de que Yog-Sothoth seria inimigo mortal de Nodens e arqui-nêmesis dos Deuses Ancestrais. Algumas mitologias afirmam que os dois se enfrentariam desde os primórdios, como forças antagônicas determinadas a destruição mútua. E mais, seu enfrentamento daria ensejo a destruição do universo. Nem todos os estudiosos concordam com essa noção, apontando que Yog-Sothoth seria muito mais poderoso que o Deus do Abismo e todos os Deuses Anciões juntos. É possível que haja erros de interpretação ou que seguidores de Nodens tenham exagerado em seu papel nessa contenda cósmica.


Curiosamente enquanto outras divindades ganharam relevância entre os homens nos últimos milênios, a importância original de Yog-Sothoth foi esvanecendo. Cultos dedicados a Cthulhu, Shub-Nigurath, Hastur, às várias máscaras de Nyarlathotep e demais Grandes Antigos se tornaram muito mais difundidos, talvez por serem eles, mais acessíveis. Enquanto negociar com Yog-Sothoth demanda certo grau de discernimento e pedigree arcano, os demais se dispõem a conceder seus favores aos que simplesmente se põem em condição de servitude. De fato, são poucas as Sociedades humanas interessadas no Deus Exterior que se tornou preceptor de eremitas ou magos solitários. A exceção seria uma ordem de estudiosos no auge do Império Asteca e mais contemporaneamente a Ordem Hermética do Crepúsculo Prateado, sociedade esta dedicada a explorar as dádivas oferecidas pelo Deus Exterior.

Além de governar o Espaço, Yog-Sothoth é o indiscutível Senhor do Tempo.

As marés do Passado, Presente e Futuro fluem Dele e através Dele, podendo ser visitadas ao Seu bel prazer. Assim como é sua faculdade conceder passagem pelo Espaço, é de sua alçada reger o fluxo temporal, podendo garantir o tráfego daquele que julgar merecedor de tal feito. Diferente dos que transitam pelo espaço, os que pretendem viajar pelo tempo raramente contam com sua anuência. Ao que parece, Yog-Sothoth se ressente daqueles que tentam usá-lo para esse fim. 

Na forma de seu avatar Umr At-Tawil (ou Tawil at-Umr, O Prolongador da Vida), Yog-Sothoth se apresenta como o derradeiro porteiro que zela pela passagem para os Salões Além do Tempo, um lugar habitado por seres que não se sujeitam a noção temporal. Tal lugar só pode ser acessado com artefatos como a Chave de Prata que permite destravar essas misteriosas portas.


A despeito de sua importância cósmica, Yog-Sothoth pode ser atraído para a Terra  afim de responder ao chamado de indivíduos que conheçam os ditames corretos de invocação. Círculos de pedra no alto de morros ou grandes monólitos consagrados são necessários para a cerimônia. O Sacrifício de ao menos uma criatura consciente e a recitação de palavras de poder também se fazem necessárias. Há datas mais propícias para a realização do ritual, em especial o Lammas (primeiro de agosto).

Os complexos rituais geralmente incluem salvaguardas que impedem que a manifestação física do Deus deflagre efeitos indesejados que poderiam de outra forma ser catastróficos. Se tais providências não forem cumpridas adequadamente, o surgimento de Yog-Sothoth pode causar dano permanente no fluxo temporal e abrir rasgos irreparáveis no tecido da realidade. Há boatos que mais de um planeta foi devastado pela aparição repentina de Yog-Sothoth e que ao partir, nada restava desses mundos além de cinzas e esquecimento.

Mesmo com as devidas proteções, a invocação do Deus não constitui um acontecimento corriqueiro, deixando marcas permanentes nas imediações. Há relatos da sensação de "perda de tempo", de se experimentar um forte deja-vu e de ser dominado por toda sorte de sensações estranhas. Os seres vivos são afetados diretamente, alguns apresentam sinais inequívocos de ter envelhecido alguns anos, enquanto outros inexplicavelmente rejuvenescem. Da mesma maneira, pequenas rupturas dimensionais se abrem na localidade. As fronteiras entre as dimensões se tornam mais tênues, permitindo haver certo grau de interação entre os habitantes dos dois lados. Há relatos de que na exata localidade onde ele se fez presente, por anos à fio, será possível ouvir, perceber ou mesmo enxergar outros planos.


Nas ocasiões em que atendeu à invocação, o Deus Exterior o fez para cumprir propósitos pré-determinados. Em geral a invocação se dá para que ele compartilhe de seu conhecimento, ocasião em que inunda a mente das pessoas com as informações que deseja transmitir. Experiência que por vezes também pode ser devastadora já que nem todos estão preparados para obter esse tipo de saber.

Contudo, Yog-Sothoth também já foi invocado por outras razões. Em certa ocasião, ele foi trazido com o intuito de fertilizar uma mulher humana com sua semente. Nesse bizarro incidente ocorrido no vilarejo de Dunwich, o próprio Deus Exterior impregnou Lavinia Whateley que deu a luz a gêmeos nascidos com características únicas transmitidas pelo "pai". Não se sabe ao certo se esse caso foi isolado ou se o Deus foi convocado em outras ocasiões com o mesmo propósito blasfemo.

Fisicamente Yog-Sothoth assume a forma de um enorme aglomerado de globos iridescentes unidos por uma substância espumosa desconhecida de onde brotam tentáculos que se estendem e contraem constantemente. A massa pode se estender por uma área de quase 100 metros de comprimento, mas pode se tornar muito maior, espalhando-se por 800 metros ou mais. As centenas de globos emitem um brilho pulsante em tons de amarelo, branco e roxo. Essa luminosidade é filtrada como raios de luz passando através de um vidro opaco. Os globos embora pareçam estruturas gelatinosas não podem ser conceituados como algo sólido, tampouco gasoso. Eles provavelmente são constituídos de matéria alienígena que desafia estado físico conhecido e se alteram através das realidades, aparecendo e reaparecendo a todo momento. Alguns observadores afirmam que os globos refletem cenas do passado, presente e futuro e que observar por muito tempo essas estruturas revela segredos capazes de destroçar a sanidade humana. A substância aglutinante que envolve os globos tem um aspecto limoso que produz corrente elétrica e ocasiona uma forte carga estática.


O Deus Exterior flutua delicadamente no ar como um aglutinado de balões que se movem lentamente. Ele pode, no entanto, desaparecer de um ponto e se materializar em outro, cruzando distâncias incomensuráveis. Seus delicados tentáculos, lisos e ágeis, são usados para sondar os arredores, agarrar e manipular, embora raramente faça uso deles. A entidade não produz ruídos, mas tem um odor pungente de ozônio, zinco e magnésio.

Yog-Sothoth não se expressa de modo vocal, mas pode se comunicar através da "língua não falada", uma inserção telepática inserida diretamente na mente de seres conscientes. A experiência é dolorosa, causando uma sensação pavorosa a medida que o cérebro é invadido por uma entidade absolutamente alienígena. Fala-se de aneurismas e edemas causados por essa interação. A entidade é obviamente dotada de inteligência, determinação e vontade própria. De modo geral, Ele não parece se interessar por criaturas inferiores, ignorando-as solenemente, contudo pode ser atraído e responder a elas.

Ao ser invocado, Ele se mantém imóvel, flutuando sobre o círculo de pedra a medida que consome sacrifícios que lhe são oferecidos. Se estes não forem satisfatórios, Yog-Sothoth pode simplesmente retornar a sua realidade ou então consumir quem bem entender, como compensação. O toque dos tentáculos ou das esferas é horrivelmente prejudicial, causando envelhecimento, queimaduras e corrosão em todas formas de vida biológicas. Eles drenam a energia vital de suas vítimas deixando-as física e mentalmente mutiladas. Tal dano é permanente e incurável. Já o toque prolongado é invariavelmente fatal, matando em poucos segundos, deixando apenas uma casca vazia e ressequida. Não se sabe se o Deus encontra sustento dessa forma, mas ele parece interessado em consumir a energia de seres vivos sempre que tem a oportunidade.


Nas poucas vezes em que é desafiado, Yog-Sothoth se defende de modo tempestuoso. Ele pode transportar seu alvo para qualquer lugar no universo em um piscar de olhos, removendo-o de sua altiva presença. Seja para o centro incandescente de uma estrela ou para o gélido vácuo espacial, suas vítimas jamais são vistas novamente. Alternativamente, quando enfurecido, Yog-Sothoth pode gerar uma potente descarga elétrica semelhante a um raio prateado que fulmina tudo em uma área de cinco metros de diâmetro. Aqueles atingidos são desintegrados e seus corpos transformados em poeira.

Embora a literatura do Mythos contenha várias narrativas envolvendo a interação entre mortais e essa divindade, é possível que a maioria delas não passe de fábulas. Uma em especial, a que descreve Moisés libertando a entidade, tratada como Yahweh, do interior do Monte Sinai, parece especialmente alegórica. Se serve de aviso, o desfecho mais provável para qualquer tentativa de barganha com essa entidade é a completa e total obliteração.

Yog-Sothoth constitui um princípio de poder cósmico, uma das forças reguladoras da realidade e como tal está muito além de nossa compreensão. Tratar com Ele é cortejar o aniquilamento.